• Nenhum resultado encontrado

Farmácia Clínica, Farmacovigilância e Farmacocinética 1 Farmácia Clínica

Capítulo II – Relatório de estágio em Farmácia Hospitalar

6. Farmácia Clínica, Farmacovigilância e Farmacocinética 1 Farmácia Clínica

A farmácia clínica marca a transição da intervenção farmacêutica focada no medicamento para uma intervenção baseada no utente e na melhor forma de lhe prestar os cuidados farmacêuticos, evitando problemas relacionados com os medicamentos (PRM) e reações adversas medicamentosas (RAM) [2].

O farmacêutico deve ser integrado em equipas multidisciplinares de acompanhamento do utente, permitindo assim a abrangência de todas as vertentes do tratamento [2]. Nos hospitais, devido ao fácil acesso aos dados clínicos dos utentes e à proximidade entre o médico e o farmacêutico, favorece-se a farmácia clínica.

No CHMT, o farmacêutico realiza várias intervenções das quais se podem destacar: fomentar a utilização do FTI, controlar o uso de antibióticos, acompanhar visitas médicas, fornecer informações relativas aos medicamentos tanto a utentes como a outros profissionais de saúde, monitorizar determinados medicamentos de elevado custo e riscos para os utentes (biológicos e antirretrovirais), colaborar na realização de protocolos terapêuticos e intervir na terapêutica do utente, fomentando esquemas terapêuticos racionais e que comportem os menores riscos possíveis.

6.1.1. Informação sobre medicamentos

Os SFH prestam informações, de índole técnico, tanto a profissionais de saúde do CHMT como aos utentes.

A informação fornecida pelos SFH pode ser classificada em ativa ou passiva. Esta última consiste em questões colocadas pelos profissionais de saúde, as quais são registadas num impresso interno próprio e respondidas em tempo útil, ficando uma cópia desse impresso arquivada nos SFH. Contudo, existem algumas situações em que a resposta pode ser antecipada de imediato por telefone, mas posteriormente é preenchido o impresso. Para responder à questão colocada, recorre-se exclusivamente a fontes de informação científica de referência, as quais são mencionadas na própria resposta [8].

Por outro lado, a informação ativa é realizada pelos SFH de forma voluntária e abrange a informação fornecida tanto a profissionais de saúde como aos utentes. Neste tipo de informação são abordados aspetos relacionados com a administração da terapêutica como posologia, dosagem e advertências para possíveis efeitos adversos que possam aparecer e a quem se deve recorrer quando estes surgirem [8].

Considero indispensável toda a informação (verbal e escrita) cedida pelo farmacêutico aos utentes no ambulatório, pois para além do valor da explicação, a interação com o utente aparenta torná-lo mais predisposto a seguir os conselhos dados.

6.1.2. Acompanhamento de visitas médicas

No CHMT, o farmacêutico participa nas visitas médicas em vários SC, aproximando assim os diversos profissionais de saúde (médicos, farmacêuticos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais), nas quais se debate o caso clínico de cada utente. Uma vez que o farmacêutico é considerado o profissional do medicamento, este participa ativamente na análise e adequação da terapêutica medicamentosa a cada utente.

Tive oportunidade de assistir a duas visitas médicas completamente diferentes, uma ao SC de Urologia e outra ao SC de Psiquiatria. A grande diferença entre as duas visitas médicas deve- se ao facto da visita médica do SC de Urologia ter sido feita à “cabeceira do doente”, enquanto a do SC de Psiquiatria decorreu numa sala de reuniões do próprio serviço, não estando presente o utente.

6.1.3. Seguimento farmacoterapêutico

No CHMT, o seguimento farmacoterapêutico é feito tanto aos utentes internados como aos utentes em regime de ambulatório em documentos próprios para esse fim.

No ambulatório realiza-se a monitorização da utilização dos medicamentos, tendo em atenção as interações, as reações alérgicas e principalmente a adesão à terapêutica [11]. No documento de seguimento farmacoterapêutico do utente em ambulatório são registados os medicamentos dispensados e respetivas quantidades e a data da dispensa, permitindo assim de modo fácil perceber qual a adesão à terapêutica de cada utente.

O seguimento farmacoterapêutico dos utentes internados é feito pelo farmacêutico responsável pelo respetivo SC, sendo preenchida uma tabela de seguimento farmacoterapêutico aquando da validação das prescrições médicas.

No estágio pude observar o seguimento farmacêutico aos dois públicos-alvo, tendo colaborado no preenchimento do documento de seguimento farmacêutico dos utentes em regime de ambulatório.

6.2. Farmacovigilância

O SNF é regulamentado pelo Decreto-Lei n.⁰ 176/2006, de 30 de agosto, sendo o seu acompanhamento, coordenação e aplicação da responsabilidade do INFARMED [2, 22]. Todos os profissionais de saúde integram a estrutura do SNF, sendo sua responsabilidade o envio de informação sobre RAM [2]. Neste campo, o farmacêutico pode ter um papel fundamental, pois contacta com todos os medicamentos utilizados a nível hospitalar e tem conhecimentos de quais são as terapias mais agressivas e mais propensas a causar RAM.

Através dos perfis farmacoterapêuticos dos utentes, os farmacêuticos conseguem prevenir ou detetar RAM, uma vez que avaliam a adequação da prescrição, a duplicação de fármacos e as características do utente.

Todas as RAM e suspeitas de RAM devem ser registadas através do preenchimento, pelo médico, farmacêutico ou enfermeiro, da ficha de notificação de reações adversas do SNF, a

qual é enviada para os SFH. Os SFH introduzem as informações relativas à RAM numa base de dados geral de farmacovigilância do CHMT e arquivam uma cópia da ficha. Os SFH devem ainda informar a Direção Clínica através de nota interna e a Comissão de Humanização e Qualidade dos Serviços (CHQS) do CHMT, informar o titular de AIM do medicamento que no caso dos AUE são os consignatários. No caso de uma RAM grave deve ser também informada a Comissão de Ética (CE) do CHMT através de nota interna [23].

A notificação deve ser rapidamente enviada, pelos SFH, para o INFARMED através do formulário online disponível no Portal RAM ou em papel (Anexo 15) por correio ou fax [2, 23].

6.3. Farmacocinética

A farmacocinética pretende individualizar a terapêutica medicamentosa através da monitorização das concentrações séricas dos fármacos com margem terapêutica estreita. Essa monitorização permite administrar ao utente apenas a dose efetivamente necessária de um determinado medicamento, evitando-se assim a sobredosagem ou subdosagem e os problemas clínicos daí resultantes [2].

Existem alguns medicamentos em que a farmacocinética se torna particularmente importante, como é o caso dos medicamentos com margem terapêutica estreita ou cuja cinética seja muito variável [2].

Os farmacêuticos, com base nos dados clínicos do utente (altura, peso, clearance renal e patologia) e nos resultados das análises séricas dos fármacos, calculam os parâmetros farmacocinéticos do utente (volume de distribuição, clearance do fármaco, tempo de semivida). Tendo em conta esses parâmetros, são realizados os ajustes necessários à terapêutica. Esta área encontra-se em preparação nos SFH do CHMT, e com arranque previsível para o próximo ano.