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Fase de fim de vida, demolição e desmantelamento

No documento KELLY ALONSO COSTA (páginas 112-118)

3.2 CICLO DE VIDA DE UMA EDIFICAÇÃO

3.2.5 Fase de fim de vida, demolição e desmantelamento

O final da vida da construção ou da fase de desmobilização inclui todas as atividades no local de desmontagem ou demolição (geração de entulhos e ruídos), o transporte de materiais de construção descartados, recuperação e transporte de materiais de construção para um local de reciclagem e/ou aterro sanitário.

A etapa de demolição ou desmantelamento tem recebido um maior destaque nos últimos anos, dada aos estudos que avaliam os muitos impactos que os resíduos da construção (construção e manutenção) e demolição (fim de vida) gerados exercem sobre o ambiente. Atualmente, na literatura, esses resíduos também são conhecidos como RCD, ou seja, resíduos da construção e demolição.

Outros impactos gerados resultam de consumos de energia e queima de combustíveis associados à operação de maquinaria, bem como vibrações, ruídos e emissões de material particulado aquando do acto da demolição (HENRIQUES, 2008).

Os volumes dos resíduos e dos impactos gerados nessa fase podem variar conforme o tipo de demolição definida. No Brasil, existem três tipos gerais para demolição: manual, mecânica e expansão.

A demolição manual é realizada por alavanca manual com ferramentas:

martelo, cinzel e marreta. A demolição mecânica é efetuada totalmente por máquinas não portáveis. A demolição mecânica pode ser executada por tração (tratores de pequeno porte), compressão (tratores, pás mecânicas e retroescavadeiras), queda de massa suspensa (bola de aço pendurada) e por máquinas hidráulicas. A demolição por expansão mais utilizada é por explosivos que ainda se divide em subtipos: telescópio (estruturas leves e ocas), derrube (o valor da relação altura x base é alto), implosão (mais utilizada para casos gerais) e colapso progressivo (edifícios contíguos ou com extenso comprimento).

Após a demolição, se faz a triagem de materiais para seleção e classificação dos resíduos para as possíveis destinações como reuso, recilagem e etc.

Segundo Degani (2007), valorizar a fração de resíduos reaproveitável consiste em re-introduzir os resíduos gerados, na sua totalidade ou parcialmente, de volta ao mercado. Existe uma classificação para revalorização do material conforme as finalidades:

• Reuso: mesma utilização da primeira aplicação;

• Reutilização: uso diferente da primeira aplicação;

• Reciclagem: Re-introdução direta do material em seu próprio ciclo de produção, substituindo total ou parcialmente a matéria prima nova;

• Regeneração: repor ao resíduo as suas características originais que permitam a sua utilização em substituição a uma matéria prima nova;

• Revalorização energética (por incineração): recuperação das calorias por combustão;

• Revalorização orgânica (ou compostagem): fermentação dos resíduos orgânicos e minerais.

Conforme Beiriz (2010), a ausência, ou até mesmo ineficiência, de políticas públicas que contemplem os resíduos sólidos urbanos tem contribuído para o agravamento dos problemas urbanos e propiciado contaminação ambiental. Dentro dessa esfera, vale ressaltar a existência de um mercado informal na coleta e disposição dos resíduos de construção. As pessoas que fazem parte desse mercado, geralmente, possuem baixo nível educacional e não conhecem os impactos ambientais e os riscos inerentes a essa atividade.

Um exemplo de graves conseqüências dessas atividades informais é o acidente radioativo em Goiânia, em 1987. Um equipamento deixado no hospital foi encontrado por catadores de um ferro velho do local, que entenderam tratar-se de sucata num desmantelamento da edificação. O equipamento foi desmontado e repassado para terceiros, gerando um rastro de contaminação com o Césio-137, o qual afetou seriamente a saúde de centenas de pessoas.

Geralmente os resíduos de construção e demolição possuem composição variável. A geração depende muito do projeto do empreendimento e das tecnologias utilizadas.

Particularmente os resíduos de construção e demolição, não estavam subordinados a nenhuma legislação, até a Resolução nº. 307 do CONAMA, em 2002, que exige ações necessárias e responsabilidades dos geradores dos resíduos para destinação e reciclagem. A resolução estabelece, ainda, que os grandes geradores tenham como objetivo principal a não geração de resíduos e,

posteriormente, a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final adequada (TESSARO et al, 2012).

Os resíduos da construção civil devem ser classificados, segundo efeito dessa resolução e conforme a Resolução do Conama no 431, em Resíduos Classe A, B, C ou D, detalhado na Tabela 9.

Tabela 9. – Classificação dos resíduos conforme as resoluções do CONAMA nº 307 e nº 431.

Fonte: BRASIL (2002, 2011).

Conforme o avanço das pesquisas e tecnologias, as resoluções são atualizadas com os processos de reciclagem disponíveis. Por exemplo, CONAMA nº 431, de 24.05.2011, que altera o Art.3º da Resolução nº 307/2002, do CONAMA, estabelecendo nova classificação para o gesso na Classe “B” – resíduos recicláveis para outras destinações.

O artigo dez da Resolução CONAMA (CONAMA 307, 2002) classifica os vários tipos de resíduos da construção civil além de estabelecer diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, os entulhos os destinos dos resíduos de construção civil pelas suas respectivas classes.

Os resíduos de classe A deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura.

Os resíduos de classe B deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura.

Os resíduos de classe C são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso. Deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas.

Os resíduos de classe D são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde.

Para que um resíduo tenha destino adequado, é necessário que ele seja classificado de acordo com as especificações técnicas conforme as normas brasileiras. A NBR 10.004 – Classificação de resíduos (ABNT, 2004) classifica os resíduos em três classes:

a) Classe I – perigosos: aqueles que, em função de suas características intrínsecas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade, apresentam riscos à saúde pública por meio do aumento da mortalidade ou da morbidade, ou ainda provocam efeitos adversos ao meio ambiente quando manuseados ou dispostos de forma inadequada.

b) Classe II A – não-inertes: resíduos que podem apresentar características de combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, com possibilidade de acarretar riscos à saúde ou ao meio ambiente, não se enquadrando nas classificações dos outros resíduos.

c) Classe II B – inertes: aqueles que, por suas características intrínsecas, não oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente, e que, quando amostrados de forma representativa, segundo a norma NBR 10.007, (ABNT, 2004) e submetidos a um contato estático ou dinâmico com água destilada ou deionizada, à temperatura

ambiente, conforme teste de solubilização segundo a norma NBR 10.006, (ABNT, 2004) não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água, conforme listagem n.º 8 (Anexo G da NBR 10004, ABNT, 2004), excetuando-se os padrões de aspecto, cor, turbidez e sabor.

Essa classificação baseia-se na presença de certas substâncias perigosas, relacionadas na norma, e em testes laboratoriais complementares, nos quais vários parâmetros químicos são analisados nos extratos lixiviados e solubilizados dos resíduos.

O processo de reciclagem também necessita de atenção por gerar impactos, como o consumo de energia e recursos. A busca por soluções que integrem o reuso, a reciclagem e a logística reversa visa adequar a fase final do ciclo de vida de uma construção dentro dos parâmetros de sustentabilidade.

As atividades de reciclagem podem fazer parte de todas as etapas da vida de um edifício, visando os parâmetros de sustentabilidade. Durante a fase de produção de material, muitos produtos de construção e montagens podem conter conteúdo reciclado e devem ser contabilizados no cálculo dos impactos. Muitos resíduos produzidos durante a construção também podem ser reciclados. Durante a manutenção, os materiais substituídos podem ser reutilizáveis ou direcionar novas opções de materiais com as mesmas funções, porém suas composições causam menor impacto.

Nos últimos doze anos, como decorrência da Política Nacional de Saneamento e mais recentemente da Política Nacional de Resíduos Sólidos, os municípios brasileiros receberam investimentos do governo federal para implantação de usinas de reciclagem de resíduos sólidos. Contudo, das 52 usinas aprovadas para construção, 10 estão desativadas, 30 estão operando, 5 estão paralisadas e 7 estão instalando.

Uma usina básica para a reciclagem de resíduos de construção e demolição é constituída por: alimentador vibratório, britadores, transportadores de correia e peneira classifcatória (os quais devem ser dimensionados ao volume a ser processado), e, caso seja necessário, equipamento para lavagem dos agregados

reciclados. A implantação de uma usina básica, com equipamentos novos, fica em torno de R$ 1 milhão para um processamento a partir de 50 toneladas por hora, incluindo infraestrutura de construção civil. Utilizando equipamentos usados, o valor pode cair para R$ 600 mil e uma usina de última geração, com tecnologia importada, pode chegar a R$ 3 milhões (Visão Ambiental, 2009).

Com práticas construtivas mais sustentáveis e atividades de reciclagem ao longo do uso de uma edificação, o volume de resíduos poderia ser minimizado no fim de vida, reduzindo os custos de implantação e operação de usinas, haja vista os investimentos necessários para uma estrutura básica.

Conforme Bayer et al (2010), durante a fase de demolição, que representa a maior parte dos resíduos produzidos na vida de um edifício, a maioria dos resíduos de construção pode ser reutilizada ou reciclada. As atividades de reciclagem nesta fase podem trazer resultados de grande redução no impacto global de uma edificação. A integração das tecnologias atuais no setor de reciclagem pode resultar em uma melhor avaliação de impacto ambiental, numa destinação, que pode ser um aterro ou a incineração, comparando com as distâncias de transporte para as diferentes opções, considerando o consumo de combustível fóssil, fuligem e possíveis emissões.

No documento KELLY ALONSO COSTA (páginas 112-118)