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4.6 Fases da pesquisa

4.6.1 Fase 1: desenvolvimento conceitual e metodológico

A primeira fase da pesquisa corresponde ao desenvolvimento conceitual e metodológico. Conforme descrito no item 4.1, na pesquisa bibliográfica, foram feitos estudos sobre vantagem competitiva, cadeia de valor, terceirização, redes interorganizacionais, governança interorganizacional, conhecimento organizacional, gestão do conhecimento e práticas da gestão do conhecimento. Em seguida, fez-se a análise conceitual, procurando identificar dentre as informações obtidas os elementos conceituais que mais poderiam auxiliar nesta pesquisa e suas respectivas definições operacionais. Segundo Bridgman (1927), um conceito não possui qualquer significado comunicável até que se saiba como ele será utilizado em uma aplicação ou situação específica. Assim, a intenção não foi propor novos conceitos, mas atribuir um significado comunicável aos elementos conceituais para facilitar a elaboração dos roteiros de entrevista, orientar a condução do trabalho de campo e a consequente discussão dos resultados. Com isso, tentou-se remover ambiguidades de tal forma que todas as pessoas envolvidas na pesquisa tenham o mesmo entendimento sobre o que está sendo investigado. Segue, portanto, a descrição das principais definições operacionais adotadas para esta pesquisa, desenvolvidas com base nas abordagens teóricas apresentada nos capítulos 2 e 3:

Figura 9 - Fases da Pesquisa Fonte: Elaboração do autor

• rede de valor terceirizada − antes de entrar nas peculiaridades que envolvem a rede de valor terceirizada, é interessante ressaltar que o posicionamento que se assumiu nesta pesquisa

61 está distante de uma posição ortodoxa, fundamentalista, de obcecada defesa da terceirização. Não é interesse deste trabalho afirmar, de modo algum, qual das vias — se a da terceirização ou da verticalização — tem o poder de dar relevo ao valor percebido pelo cliente, por exemplo. O cerne desta tese está em observar a terceirização como prática da gestão que constituiu elemento de realidade das organizações e que requer cautela e novos formatos.

Essa realidade é apoiada, além das constatações empíricas, nas questões apontadas por alguns autores (QUINN, 1999a; KAKABADSE; KAKABADSE, 2003; GOTTFREDSON; PURYEAR; PHILLIPS, 2005; JIANG; QURESHI, 2006; GOTTSCHALK, 2006; BOER; GAYTAN; ARROYO, 2006; SOUZA; DÁVILLA; DONADEL, 2008; BROWN; WILSON, 2008), ao destacarem que a terceirização está avançando sobre as atividades que constituem a cadeia de valor, uma vez que as empresas iniciaram este processo repassando para terceiros apenas atividades que não possuem impacto direto no produto final (conhecidas como atividades-meio, não essenciais ou de apoio) e, mais tarde, também passaram a terceirizar atividades diretamente relacionadas ao processo produtivo empresarial.

Sendo assim, a relação estabelecida para este estudo é que, ao terceirizar várias atividades da cadeia de valor, a empresa começa a gerenciar não mais uma cadeia de valor como pensada inicialmente por Michael Porter (em que as atividades eram desenvolvidas pela empresa central), mas sim uma rede de valor que, neste caso, passa a ser constituída pelas empresas terceiras que vão realizar atividades antes executadas internamente pela empresa contratante. • mecanismos de coordenação − sendo o conceito de redes a alternativa quanto à forma de se organizar a produção de bens e serviços, é necessário identificar os mecanismos utilizados para coordenar e conduzir o funcionamento de uma organização em rede. Portanto, os mecanismos de coordenação referem-se à capacidade de gerenciamento por parte da empresa central, ou seja, as regras de funcionamento e procedimentos a serem observados por todas as empresas terceirizadas da rede de valor.

• práticas da gestão do conhecimento − são práticas organizacionais orientadas para criação, disseminação e uso do conhecimento. Nesta pesquisa, são interpretadas como qualquer ação executada regularmente e que permite as organizações promover a interação das pessoas, com os processos organizacionais e as tecnologias disponíveis. Para isso, as organizações podem utilizar tecnologias ou podem ter uma abordagem informal em gestão do conhecimento. • conectividade − refere-se à capacidade de a distribuidora possibilitar a interação e a comunicação sem ruídos dos indivíduos, grupos e empresas ao longo da rede de valor terceirizada. Essa interação poderá ser realizada mediante contato face a face ou com uso das TICs − tecnologias da informação e comunicação.

• coerência − está relacionada com a agregação de interesses semelhantes entre a distribuidora e as empresas terceirizadas, permitindo a definição de objetivos comuns entre as partes. A existência de coerência na relação entre a distribuidora e as empresas terceirizadas é fundamental para o funcionamento e a competitividade da rede, e está diretamente associada ao estabelecimento de confiança.

Considerando a abrangência de suas definições operacionais e a praticidade da verificação empírica, essa combinação entre os elementos conceituais − mecanismos de coordenação, práticas da gestão

do conhecimento, conectividade e coerência − será utilizada para compreender o funcionamento e a competitividade de uma rede de valor terceirizada.

Por conseguinte, a identificação desses elementos conceituais possibilitou um refinamento da pergunta e dos objetivos de pesquisa, resultando na compilação de seis pressupostos.

De acordo com Yin (2005), tais pressupostos de pesquisa apontam para aquilo que o pesquisador realmente deverá estudar. Dessa forma, conforme pode ser observado no quadro 6, cada pressuposto está relacionado a um objetivo específico, que, por sua vez, se relaciona com um elemento conceitual, que deverá ser examinado na parte empírica desta tese.

Elementos Conceituais Objetivos Específicos Pressupostos

Rede de Valor Terceirizada Identificar as atividades terceirizadas na cadeia de valor.

A terceirização vai além das atividades de apoio, passando a incluir atividades de caráter técnico e comercial.

Mecanismos de Coordenação

Identificar os mecanismos de coordenação da rede de valor terceirizada.

Os mecanismos de coordenação determinam o funcionamento e a competitividade da rede de valor terceirizada.

Práticas da Gestão do Conhecimento

Identificar as práticas da gestão do conhecimento e verificar a congruência com os mecanismos de coordenação. As práticas da gestão do conhecimento suportam os mecanismos de coordenação. Conectividade Analisar a interação da distribuidora com as empresas terceirizadas.

A implementação e amplitude das práticas da gestão do conhecimento suportam a conectividade.

Coerência

Verificar o estabelecimento de objetivos comuns entre a distribuidora e as empresas terceirizadas.

A implementação e amplitude das práticas da gestão do conhecimento suportam o estabelecimento de objetivos comuns entre a distribuidora e as terceirizadas.

Quadro 6 - Desenvolvimento Conceitual Fonte: Elaboração do autor

Ainda nesta fase, foram realizadas a classificação da pesquisa (detalhada no item 4.1) e a definição dos casos a serem investigados (identificados nos item 4.4) e dos critérios de seleção dos informantes (definidos no item 4.5).