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Fase 1 – 1960-1975

No documento antoniofernandodecastroalvesberaldo (páginas 94-102)

2. A Expansão do Ensino Superior no Brasil, 1960-2012

2.1 Evolução do Ensino Superior (1960-2000)

2.1.1 Fase 1 – 1960-1975

Em 1960, terminava o governo Juscelino Kubitschek (1902-1976) marcado por seu caráter desenvolvimentista – o mais significativo desta época é o Plano de Metas, com a construção de Brasília. Naquele ano (1960), foram criadas oito universidades federais: UFG, UFJF, UFPA, UFPB, UFSM, UFF, UFRN e UFSC. As instituições federais tinham 56% das matrículas - que não chegavam a 100 mil, em todo o país.

Em 31/01/1961, Jânio Quadros (1917-1992) assume a presidência, a que renuncia em 25 de agosto do mesmo ano, devido a “forças terríveis” que dificultavam seu governo, por si já desequilibrado e sem apoio político. Em setembro de 1961, assume João Goulart (1918 – 1976), que é deposto em abril de 1964 pelo golpe militar de março daquele ano. Entre 1961 e 1963, são fundadas mais 5 universidades federais: UFES, UFAL, UFAM, UnB, e UFRRJ. Em 1962, o número de matrículas sobe a mais de 100 mil, e o percentual de matrículas em instituições federais atinge seu máximo, 61,8%. (MEC, 2012)

De 1964 até 1985, a presidência é ocupada por militares. Entre 1969 e 1973 o país passou por um alto crescimento econômico, período conhecido como o “Milagre Brasileiro”. Foram fundadas, entre 1964 e 1975, as universidades UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), UFMA (Universidade Federal do Maranhão), UFS (Universidade Federal de Sergipe), UFPI (Universidade Federal do Piauí), UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), UFV (Universidade Federal de Viçosa), UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), FURG (Universidade Federal do Rio Grande), UFPEL (Universidade Federal de Pelotas), UFU (Universidade Federal de Uberlândia), UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), UFAC (Universidade Federal do Acre), UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), e UNIRIO (U Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). (MEC, 2012)

Em 1968, foi feita a Reforma Universitária, o evento mais importante desta Fase. Esta reforma deriva, principalmente, da insatisfação da sociedade com a estrutura do ensino superior na época – “a diferenciação institucional, sobretudo se considerarmos o tipo de dependência administrativa dos estabelecimentos (públicos, estaduais e federais e privados, laicos e religiosos) que estavam sendo criados.” (SAMPAIO, 1991, p. s.p.). Outros fatores devem ser considerados, como “o aumento da demanda pelo ensino superior e a não equivalência do crescimento das vagas na mesma proporção [que] vão aprofundar as tensões ...” (BARROS, 2007, p. s.p.). Há

que se considerar também a “crítica ao arcaísmo da estrutura universitária no Brasil (...) as experiências inovadoras do pré-64 no que se refere à organização universitária36; as propostas do movimento estudantil, com o objetivo de estabelecer um comparativo entre o resultado final do processo com estas propostas [sic]; autores e as equipes formadas com o objetivo de discutir as políticas referentes ao ensino superior no pós-64 (...)” (BARROS, 2007, p. s.p.).

No final da década de 50 esse modelo híbrido37, (...) um compromisso entre

concepções antagônicas de ensino superior, já dava sinais de tensão. Nos trinta anos que se seguiram à criação das primeiras universidades a sociedade mudou rapidamente e se ampliaram extraordinariamente os setores médios próprios de uma formação social industrial e urbana. As demandas dessas camadas em ascensão foram, inicialmente, pela ampliação do ensino público de grau médio. A satisfação dessa necessidade, ainda que limitada a setores relativamente restritos da sociedade, criou uma nova clientela pra o ensino superior. O desenvolvimento das burocracias estatais e das empresas de grande porte abriu um novo mercado de trabalho, disputado pelas classes médias. O diploma de ensino superior constituía uma garantia de acesso a esse mercado. Era a demanda por ensino, e até mesmo pelo diploma que impulsionava as demandas por transformações da década de 60. (SAMPAIO, 1991, p. s.p.), grifos do autor.

Não se pode esquecer, também, que 1968 foi um ano extremamente agitado, movimentado, em termos políticos, culturais e acadêmicos, não só no Brasil como nos EUA e na Europa. Nos EUA: (Guerra do Vietnã), e início da Ofensiva Tet, pela guerrilha vietnamita que invade a embaixada dos Estados Unidos em Saigon; primeira batalha em Saigon;o exército norte-americano executa 504 civis vietnamitas no conhecido Massacre de My Lai;o líder negro (e Prêmio Nobel da Paz de 1964), Martin Luther King é assassinado a tiros em Memphis, aos 39 anos de idade; Robert Kennedy, candidato a presidente, é assassinado a tiros no Hotel Ambassador em Los Angeles, Califórnia. Na Europa: universidades são ocupadas por estudantes na Espanha e na Itália, e, na Alemanha, é ocupado o consulado americano, e em Berlim, acontece a grande manifestação estudantil contra a guerra do Vietnã; estudantes atacam a embaixada americana em Londres; a “Revolução de Maio”(de 1968) é iniciada por estudantes da Universidade de Paris, e ocorre uma greve geral na França; tropas da União Soviética invadem a Tchecoslováquia em agosto, colocando fim à“Primavera de Praga”. (REIS, 2014, p. 13 a 21)

No Brasil: em 28 de março, o estudante Edson Luís é morto por policiais militares, na invasão do Restaurante Calabouço no centro do RJ; metalúrgicos de

36 Referência ao ITA e à UnB, cujos projetos administrativos e acadêmicos são “inovadores” até hoje. 37 Referência à dicotomia público e privado.

Contagem, em Minas Gerais entram em greve por 10 dias, por reajuste salarial; o governador de São Paulo, Abreu Sodré é apedrejado em palanque na Praça da Sé por trabalhadores contra a ditadura militar; passeata de estudantes deixa 90 feridos após confronto com polícia de repressão da ditadura no Rio de Janeiro; atentado contra QG do II Exército de São Paulo mata o soldado Kosel Filho, em junho; há a “passeata dos 100 mil” pelas ruas do centro do Rio de Janeiro contra a violência do governo, e protestos se estendem por todo o país; o presidente Costa e Silva determina a proibição de manifestações; o “Comando de Caça aos Comunistas” (CCC) espanca o elenco da peça “Roda Viva” (Chico Buarque de Holanda) em São Paulo; a Assembleia Geral da CNBB (interior de SP) condena a falta de liberdade de expressão no Brasil; a sede da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, sofre atentado a bomba, em julho; o líder estudantil da UNB, Honestino Guimarães é preso dentro da universidade, após invasão das policias militar e federal em Brasília (agosto); em setembro o deputado Márcio Moreira Alves (MDB) faz discurso “ofensivo” contra o governo militar no Congresso criticando a proposta da AI-5; a Rua Maria Antônia, no Centro de São Paulo, onde se localizam as faculdades Mackenzie e de Ciências e Filosofia da USP, vira palco de um conflito entre estudantes anti ditadura e militares, dezenas ficam feridos; o capitão do exército dos Estados Unidos, Charles Chandler, acusado de ser agente da CIA é morto por guerrilheiros em São Paulo; reunião clandestina da UNE em Ibiúna, interior de SP, em outubro, acaba com a prisão de 720 estudantes; em 13 de Dezembro - AI-5 é editado pelo Congresso e sancionado pelo presidente Costa e Silva, fechando o Congresso Nacional, gerando o caos no país. (REIS, 2014, p. 13 a 21)

A Reforma Universitária, aplicada de 1969 em diante, é aprovada pelo governo federal.

Em termos quantitativos, o crescimento das matrículas nesta primeira fase cresce de menos de 100 mil e ultrapassa o milhão de matrículas, em 1975 (115%). Mesmo nestes 16 anos, há períodos de crescimento muito maior, como entre 1968- 1970 e 1971-1972. A tabela 26 mostra os quantitativos e o percentual da evolução:

(MEC, 2012)Tabela 26 Evolução das matrículas no Ensino Superior, por esfera administrativa (1960-1975)

Matrículas (x 1.000) % s/período % s/1960 % Públicas Ano Público Privado Total anterior

1960 51,9 41,3 93,2 55,7 1961 56,3 42,6 98,8 6,1 6,1 57,0 1962 64,0 43,3 107,3 8,5 15,1 59,7 1963 76,8 47,4 124,2 15,8 33,3 61,8 1964 87,7 54,7 142,4 14,6 52,8 61,6 1965 87,6 68,2 155,8 9,4 67,1 56,2 1966 98,4 81,7 180,1 15,6 93,2 54,7 1967 121,3 91,6 212,9 18,2 128,4 57,0 1968 153,8 124,5 278,3 30,7 198,6 55,3 1969 185,1 157,8 342,9 23,2 267,9 54,0 1970 210,6 214,9 425,5 24,1 356,5 49,5 1971 252,3 309,1 561,4 31,9 502,3 44,9 1972 278,4 410,0 688,4 22,6 638,6 40,4 1973 300,1 472,7 772,8 12,3 729,2 38,8 1974 341,0 596,6 937,6 21,3 906,0 36,4 1975 410,2 662,3 1.072,5 14,4 1.050,8 38,2

Fonte: (BARROS, 2007, p. s.p.), processados e acrescidos pelo autor.

Outro aspecto importante, além da evolução quantitativa, é a mudança da proporção entre matrículas nas instituições particulares e privadas, que ocorre em 1970. Esta proporção aumenta entre 1960 e 1964, mas começa a decrescer a partir deste ano, inverte-se em 1970 e continua a cair, até que em 1975 já está em 38,2% de matrículas em estabelecimentos públicos. A tabela 27 mostra esta evolução:

Tabela 27 Evolução do Ensino Superior: matrículas por esfera administrativa (1960-1975)

Período Matrículas % Público Privado % Público

1960-1964 565.993 9,1 336.722 229.271 59,5

1965-1969 1.169.953 18,9 646.162 523.791 55,2

1970-1975 4.458.198 72,0 1.792.619 2.665.579 40,2

Total 6.194.144 2.775.503 3.418.641 44,8

Fonte: (BARROS, 2007, p. s.p.), processado e acrescido pelo autor.

Do total de 6,19 milhões de matrículas, 28% foram realizadas entre 1960 e 1969, quando a esfera pública ainda detinha 55% das matrículas. Entre 1970 e 1975 foram feitas 4,45 milhões de matrículas, em que a esfera pública fica reduzida a 40%. No acumulado do período, a esfera pública situou-se em 44,8%.

Outro aspecto a considerar é a mudança percentual das matrículas entre universidades e os estabelecimentos isolados (faculdades e centros). A tabela 28 mostra esta mudança:

Tabela 28 Matrículas em universidades e estabelecimentos isolados (1960-1975) Ano Universidades Estabelecimentos

Isolados Total % Universidades/ Total ES 1960 59.225 33.977 93.202 63,5 1961 69.098 29.794 98.892 69,9 1962 78.312 28.987 107.299 73,0 1963 80.646 43.568 124.214 64,9 1964 91.646 50.740 142.386 64,4 1965 97.902 57.879 155.781 62,8 1966 110.796 69.313 180.109 61,5 1967 135.515 82.584 218.099 62,1 1968 158.100 120.195 278.295 56,8 1969 193.482 153.352 346.834 55,8 1970 218.064 207.414 425.478 51,3 1971 271.387 290.010 561.397 48,3 1972 320.278 368.104 688.382 46,5 1973 337.888 434.912 772.800 43,7 1974 409.185 528.408 937.593 43,6

Fonte: (BARROS, 2007, p. s.p.), processado pelo autor.

As universidades concentram o maior número (e percentual) de matrículas em 1962. Depois deste ano, mesmo que o número de matrículas em universidades aumente, as matrículas em estabelecimentos isolados crescem de forma que a proporção é alterada, e acaba se invertendo em 1971: 48% em universidades e 52% em estabelecimentos isolados.

O Ensino Superior no Brasil, mais do que qualquer outro nível de ensino, localiza-se preferencialmente em cidades, sejam capitais ou cidades de médio porte. Isto se deve não só ao aspecto demográfico quanto a outros fatores, como os econômicos, os políticos e os culturais. Uma das principais finalidades de ter-se estabelecimentos deste nível de ensino, principalmente os privados, é a formação de profissionais. As cidades oferecem mais oportunidades no mercado de trabalho, e mesmo durante a graduação, recursos para os universitários, como habitação, locais para estágios, lazer e conhecimento de suas áreas de atuação. Assim, é necessário considerar que neste período (1960-1975) ocorre a mudança da população rural em urbana. A tabela 29 mostra essa mudança:

Tabela 29 População total, urbana e rural (1940-2010) Ano População

(milhões) % Urbana % Rural

População Urbana (milhões) 1940 41,2 31,2 68,8 12,9 1950 51,9 36,2 63,8 18,8 1960 70,1 44,7 55,3 31,3 1970 93,1 55,9 44,1 52,1 1980 119,0 67,6 32,4 80,4 1991 146,8 75,5 24,5 110,8 2000 169,8 81,2 18,8 137,8 2010 190,8 84,3 15,7 160,8 Fonte: (IBGE, 2012)

Então, segundo a tabela anterior, pode-se ver que o aumento da população urbana pode ser correlacionado com o número de matrículas, como mostra a figura seguinte:

Figura 6 Correlação entre o crescimento de matrículas no ES e a evolução percentual da população urbana

Fonte: Tabela 29, dados processados pelo autor.

E não apenas o crescimento demográfico das cidades, mas seus contornos sociais, culturais e de educação:

“Em 1960, o Brasil era ainda uma sociedade predominantemente rural, com altas taxas de mortalidade e de natalidade e perfil demográfico pré-moderno, tradicional. A população era jovem e, em sua maioria, analfabeta (...) O Brasil

y = 0,0699e0,0286x R² = 0,9089 0 1 2 3 4 5 6 7 8 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 140,0 160,0 180,0

era um país dividido não apenas entre uma minoria urbana moderna e uma maioria rural tradicional, mas também apresentava diferenças profundas por região, classe social e raça. (...) a elite respondia por uma parcela tão elevada da renda nacional que o Brasil era considerado, nessa época, um dos países mais desiguais do mundo. Os cidadãos mais ricos e com maior acesso à educação eram mais saudáveis e tinham maior expectativa de vida.” (KLEIN e LUNA, 2014, p. 41).

Além da migração rural-urbana, e da pressão social decorrente dela, outros aspectos são muito importantes na análise, como o “espírito” da época, traduzido pelas expressões “Ame-o ou deixe-o”, “Este é um país que vai pra frente”, ou “Noventa milhões em ação, pra frente Brasil”.

Na página seguinte, o quadro completo (linha do tempo) da criação das universidades federais:

No documento antoniofernandodecastroalvesberaldo (páginas 94-102)

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