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3. METODOLOGIA

3.2 FASE 1

A CONSTRUÇÃO DE DADOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS – a proposta de Internet Surveys

A Internet possibilita uma relevante maneira de acesso ao conhecimento científico. Em meados dos anos 1990, devido o advento da World Wide Web (www), a internet passou também a ser usada de maneira crescente como uma importante estratégia para coleta de dados em pesquisas acadêmicas (MANFREDA; VEHOVAR, 2008). Nesse sentido, diferentes ferramentas de coleta têm sido usadas no contexto online, tais como: - Internet Surveys (Google Docs® e SurveyMonkey®); - Ambientes Virtuais de Aprendizado; - Etnografias virtuais, entre outras.

Para esta pesquisa foi adotada o tipo Internet Surveys que é bastante utilizada e refere-se a estudos realizados na web por meio de questionários auto aplicáveis e que os participantes respondem sem a presença do pesquisador, sendo as respostas automaticamente armazenadas em um servidor (MANFREDA; VEHOVAR, 2008).

A pesquisa Internet Surveys produz, especialmente, descrições quantitativas de uma determinada população sobre as suas características e perfil de suas ações (FREITAS et al., 2000). Além disso, a Internet Surveys permite a interação entre o pesquisador e os participantes para sanar dúvidas e discutir sobre o estudo realizado (MANFREDA; VEHOVAR, 2008).

No contexto da pesquisa em terapia ocupacional, o uso da Internet Surveys é uma prática recente e presente em investigações sobre o papel da terapia ocupacional na APS do Canadá (DONNELLY et al., 2016), sobre a prática de terapeutas ocupacionais em cidades norueguesas em relação à avaliação de pessoas com deficiência (STIGEN et al., 2017); e sobre as percepções dos terapeutas ocupacionais dinamarqueses sobre a Prática Centrada no Cliente (LARSEN et al., 2018).

No caso desta pesquisa, os dados quantitativos e qualitativos foram coletados por meio de uma pesquisa do tipo Internet Surveys (MANFREDA; VEHOVAR, 2008), com base em um questionário online via Google Docs®.

Participantes da Fase 1

Os participantes da pesquisa Internet Surveys foram 105 terapeutas ocupacionais que atuam em equipes da APS. Dados do Departamento de Atenção Básica (DAB) do Ministério da Saúde, de 2016, registraram nesse ano a presença de 789 terapeutas ocupacionais nos serviços de APS no Brasil (BRASIL, 2016), conforme descrito no Quadro 1.

Quadro 1. Nº de Terapeutas Ocupacionais na APS

TIPO DE EQUIPE Nº DE TO NA APS

Unidade Básica de Saúde (UBS) 2

Estratégia de Saúde da Família (ESF) 28

Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) 699

Atendimento Domiciliar (AD) 23

Consultório na Rua (CnR) 18

Atenção Básica Prisional (ABP)/ ABP – com saúde mental

19

TOTAL 789

Fonte: DAB (2016)

O cálculo amostral foi realizado a partir desse número total de 789 terapeutas ocupacionais. Aplicou-se um intervalo de confiança de 95% e um poder de 80% para o quantitativo dos participantes. Após esse cálculo amostral foi encontrado um número de amostra ideal mínima de 86 participantes. Ao término da coleta de dados da pesquisa Internet Surveys, a amostra final correspondeu a 105 participantes. Esses participantes estão caracterizados na Tabela X, no capítulo de Resultados da Fase 1.

Os critérios de inclusão para a amostra foram: - ser terapeuta ocupacional; - trabalhar na APS há pelo menos seis meses; e critérios de exclusão: terapeutas ocupacionais que não tivessem vínculo empregatício na APS e que estivessem afastados do trabalho por motivo de doença, licença maternidade ou férias e impossibilitados de acessar a internet para responder o questionário online.

Período e local de realização da Fase 1

A Fase 1 iniciou em novembro de 2017 e finalizou em fevereiro de 2018, quando se alcançou um número superior ao cálculo amostral estabelecido.

Os dados foram coletados com 105 terapeutas ocupacionais das cinco regiões do Brasil, por meio de um questionário online autoaplicável e semiestruturado - O Questionário de Terapeutas Ocupacionais da Atenção Primária à Saúde (QTO-APS) – APÊNDICE II, disponibilizado via rede mundial de computadores.

Instrumento para coleta de dados da Fase 1

O QTO – APS, autoaplicável e semiestruturado, foi elaborado para este estudo, pelo próprio pesquisador que tem experiência de prática, ensino e pesquisa em APS. A construção desse instrumento seguiu quatro etapas: 1) consulta à lista de procedimentos específicos para a APS do e-SUS; 2) - consulta aos parâmetros de assistência terapêutica ocupacional em Atenção Primária do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO - Brasil); 3) consulta à literatura científica, em livros e periódicos da área, sobre as práticas de terapia ocupacional na APS no Brasil; 4) análise e validação por 10 terapeutas ocupacionais (especialistas e pesquisadores) com expertise na área em saúde pública e APS para eventuais sugestões como também a sua aplicação em caráter piloto com três terapeutas ocupacionais de APS. Esses procedimentos atestaram sua aplicabilidade e validação de conteúdo.

O QTO-APS foi disponibilizado na rede mundial de computadores, tendo sido compartilhada em Redes Sociais por meio do aplicativo Google Docs®. Esse recurso se fez necessário para melhor operacionalização e maior adesão das(os) terapeutas ocupacionais brasileiros que atuam na APS.

O QTO-APS contém 54 questões para registro de respostas por meio de frequências numéricas e descrições dos participantes. O instrumento possui os seguintes objetivos: a) caracterizar os profissionais, os serviços de APS e as populações atendidas; b) indicar (sim ou não) para a realização de uma lista de 60 ações – que se referem ao plano individual, familiar e coletivo; às ações específicas da categoria profissional ou de base interprofissional; e, de integração com as redes de saúde, territorial e intersetorial; c) identificar a orientação teórica e técnica das ações de terapia ocupacional na APS no processo de avaliação de necessidades e demandas, na intervenção e na continuidade do cuidado na APS; d) caracterizar a formação em APS; e) descrever pactuação da gestão para a realização das ações; f) identificar a interface da prática com os atributos essenciais e derivados de APS; g) compreender as dúvidas, os limites, os desafios e os

potências das ações de terapeutas ocupacionais na APS; h) analisar as prioridades de pesquisa de terapia ocupacional na APS.

Procedimentos para a coleta de dados da Fase 1

Para realizar a coleta de dados da Internet Surveys foram necessários cinco procedimentos, que estão descritos de forma resumida logo abaixo:

1) Mapeamento do número de terapeutas ocupacionais da APS, em 2016, por meio do Departamento de Atenção Básica (DAB) do Ministério da Saúde; 2) Construção do questionário online (QTO-APS), com análise e validação por

(especialistas e pesquisadores) e aplicação em caráter piloto; 3) Revisão e organização final do QTO-APS;

4) Aplicação do QTO-APS via Google Docs® aos participantes. Esse questionário foi disponibilizado em grupos de terapia ocupacional em redes sociais e aplicativos de mensagens na rede mundial de computadores, em e- mails de profissionais da área via Conselhos Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO) e no site da Rede HumanizaSUS;

5) Para ter acesso ao questionário, primeiramente eram apresentadas informações da pesquisa, tais como: objetivos, metodologia e garantia de confidencialidade e possibilidade de interrupção da participação voluntária. Após esses esclarecimentos, a(o) participante era direcionada(o) a realizar o download do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e acionar o botão para escolher participar ou não do estudo. Caso a(o) profissional não aceitasse, visualizaria uma mensagem de agradecimento. Ao aceitar, a (o) participante ingressava no aplicativo Google Docs® para responder ao questionário e ao finalizar o preenchimento, a(o) participante poderia escolher a opção de receber os dados em seu endereço eletrônico. A coleta foi finalizada com 105 terapeutas ocupacionais, número superior ao cálculo amostral, estabelecido em 86 participantes.

Análise de dados da Fase 1

Ao término da coleta, os dados obtidos com o questionário online - QTO-APS foram armazenados por meio do Google Docs®. Os dados quantitativos foram tabulados para o tratamento estatístico e estatística descritiva e os dados qualitativos organizados para análise temática.

Análise de Dados (Quantitativa) da Fase 1

Número de práticas e associações estatísticas

A partir das respostas dos terapeutas ocupacionais às 60 práticas do questionário, descritas na Tabela X (no capítulo de resultados), foram geradas pontuações específicas, considerando-se os valores em medianas de cada uma das práticas atribuídas aos profissionais, que serão apresentadas em tabelas durante a descrição dos resultados do estudo4. Dessa forma, com base nessas pontuações os participantes foram divididos em dois grupos:

 Grupo 1 – participantes com número de práticas predominantes (valores iguais e acima da mediana encontrada);

 Grupo 2 – participantes com número de práticas em desenvolvimento (valores abaixo da mediana encontrada).

Essas classificações reportadas aos Grupos 1 e 2 foram estabelecidas com base nas 60 ações elencadas e por meio de um consenso entre o pesquisador e a assessoria estatística envolvidos no estudo. Dessa forma, essa foi considerada a melhor opção de análise frente ao objetivo e ao caráter descritivo e exploratório da pesquisa.

As análises de associações foram realizadas entre o número de práticas e os perfis profissionais (sociodemográfico e acadêmico-profissional), como também a distribuição desses terapeutas ocupacionais em serviços de APS no país. Para essas

4 Esta opção teve como referência diversos estudos epidemiológicos que atribuíram valores arbitrários em suas análises (CALHEIROS et al., 2018; CAVALCANTE NETO et al., 2016; SILVA; CAVALCANTE NETO, 2015), e contaram com o reconhecimento de que os possíveis vieses de análise fossem minimizados com a utilização das medianas.

associações aplicou-se o qui-quadrado com nível de significância de 5% para comparação entre os grupos (número de práticas predominantes versus número de práticas em desenvolvimento) com cada uma das variáveis de caracterização investigadas.

As opções de respostas dessas variáveis foram categorizadas e sempre que possível dicotomizadas, considerando a distribuição das frequências em cada opção de resposta. Quando possível, foi realizado o cálculo da razão de chances (odds ratio: OR) com intervalo de confiança de 95%, considerando o número de práticas realizadas como variável dependente e as variáveis de características dos participantes como variáveis independentes do estudo. Todas as análises foram realizadas no pacote estatístico SPSS versão 24.0 para Windows.

Sistematização de dados sobre as características das práticas, o contexto de trabalho e a orientação das práticas pelos atributos de APS

Os dados quantitativos sobre as características das práticas, do contexto da APS e sobre a orientação teórica e técnica das práticas de terapia ocupacional na APS pelos atributos essenciais e derivados de APS foram tratados por meio da estatística descritiva, agrupados e sistematizados em Tabela e Gráfico.

Análise de Dados (Qualitativa) da Fase 1

Os dados qualitativos do QTO-APS foram organizados e tratados por meio da análise temática de Braun e Clarke (2006), obedecendo os seguintes procedimentos estabelecidos pelas autoras:

I. Organização dos dados; II. Leitura e releitura do material; III. Codificação inicial de dados;

IV. Agrupamento dos códigos em temas relevantes; V. Definição e nomeação de temas;

Após a análise, os dados foram sistematizados em três categorias empíricas (construídas à posteriori):

a) Práticas específicas da terapia ocupacional na APS;

b) Orientação teórica e técnica das práticas de terapeutas ocupacionais na APS;

c) Dúvidas, limites, desafios e potências da prática da terapia ocupacional na APS.

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