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4. MÉTODO

4.3. Procedimentos de análise de dados

4.3.3. Fases da análise

Com o que foi dito se pode perceber que nesse estudo utiliza-se uma perspectiva metodológica qualitativa que privilegia dois níveis de análise – o microanalítico e o macroanalítico. Justifica-se o uso deste tipo de metodologia de análise, uma vez que, combinados, esses níveis de análise permitem: a) Dar ênfase especial aos processos mais do que aos produtos; b) identificar, descrever e analisar em detalhes (microanálise) o significado de um determinado fenômeno (discursivo e/ou interativo) em contextos socioculturais específicos; c) compreender a complexidade – e, acrescente-se, a variabilidade – dos fenômenos psicológicos (macroanálise), a partir da captura dos momentos em que o processo de transformação acontece (MEIRA, 1994; MACIEL, 2004).

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Segundo (KOCH, 2004, p. 132), os operadores argumentativos são marcas linguísticas da enunciação que indicam as relações de encadeamentos sucessivos de enunciados. Estes têm por função indicar (“mostrar”) a força argumentativa dos enunciados, a direção (sentido) para a qual apontam.

Juntamente à transcrição/pré-análise, observam-se os níveis acima, os quais correspondem a diferentes fases de análise. Cada uma dessas é brevemente descrita nas seções seguintes.

4.3.3.1. Fase I: Transcrição/pré-análise

Conforme considera LEMKE (1998), a transcrição de dados na pesquisa qualitativa corresponde já a uma pré-análise. Durante o processo de transcrição, no caso, das situações de avaliação pós-debate, a pesquisadora realiza já uma observação detalhada e minuciosa sobre as informações disponíveis nos vídeos. A atividade de transcrição permite e leva já a se estar atento tanto a elementos verbais como a informações não verbais que ajudam na compreensão holística do fenômeno observado no contexto de sala de aula. Para a melhor compreensão das situações transcritas, se empregaram convenções que ajudaram na reprodução dos detalhes verbais e não verbais – entonações, gestos, pausas, hesitações, silêncios e detalhes contextuais – da cada situação discursiva. Os sinais utilizados foram adaptados das convenções de transcrição desenvolvidas por JEFFERSON (citado em ATKINSON & HERITAGE, 1992)

Tabela 2: Sinais de transcrição

Sinal Descrição

Não identificado Aluno não identificado

“xxxxx” Citações literais ou leituras de textos ((xxxxx)) Comentários descritivos do transcritor LETRAS MAIÚSCULA Ênfase ou acento forte

(xxxxx) Hipótese do que se ouviu (incompreensível) Não se entende o que foi falado

? Interrogação

(00’:00”) Pausas

... Prolongamento do som (vogais/consonantes)

[ Falas simultâneas/sobreposições

00:00:00 Tempo transcorrido da aula

(...) Indica trechos suprimidos por limites de espaço

Fase II: Microanálise

Na fase da microanálise, se realizou a análise minuciosa dos critérios usados pelos alunos-alvo do estudo quando solicitados a avaliar a qualidade dos argumentos produzidos por seus pares (situações anteriormente descritas na seção que especifica o corpus da pesquisa). Todos os episódios de avaliação de argumentos identificados no corpus foram analisados. Para tal fim, se empregou inicialmente a tríade proposta por LEITÃO (2000) para identificação dos movimentos argumentativos ocorridos (argumento, contra-argumento,

resposta) a partir dos quais se fez a análise dos critérios usados na avaliação da qualidade da argumentação em questão. Para a análise desta última, tomou-se como referência central as concepções de força e solidez definidas por GOVIER (2010) a partir das noções de aceitabilidade, relevância e suficiência de argumentos18.

Apesar de o método de análise ter sido definido previamente, nesta fase foi necessário voltar sobre os fundamentos teóricos para garantir a clareza dos critérios para cada passo da análise; em consequência, e tomando como alvo de análise as situações de avaliação pós- debate, se começou o aperfeiçoamento do tipo de análise argumentativo que se estava buscando.

4.3.3.2. Fase II: Macroanálise

Com o segundo nível de análise, a macroanálise, se buscou observar as possíveis variações nas trajetórias de desenvolvimento do pensamento reflexivo de cada participante através da análise de se e como se transformariam os critérios por eles utilizados para avaliar a qualidade dos argumentos produzidos nos vários debates realizados ao longo do semestre acadêmico. Especial atenção foi posta na identificação de critérios avaliativos que eventualmente surgiam, no curso da disciplina, e permanecem estáveis ao longo do tempo de observação definido no estudo (duração da DIP). Considerou-se que a opção pela análise caso a caso, dos critérios de avaliação da qualidade dos argumentos usados pelos mesmos participantes, em diferentes ocasiões, permitiria identificar, em cada caso, possíveis transformações e ganhos desenvolvimentais no que diz respeito a este aspecto do raciocínio de cada participante. A análise de uma série de casos permitiria, por sua vez, observar possíveis variações nas trajetórias de desenvolvimento de diferentes indivíduos.

O poder explicativo da descrição básica de cada caso aumentará na medida em que o processo de comparação e contraste das diferentes trajetórias de uso de critérios de avaliação dos argumentos seja explorado o suficiente (PRZYBORSKI & SLUNECKO, 2009).

A noção de ‘trajetória’ adotada nesta pesquisa remete à variedade de percursos de experiências de vida, que em si mesmos podem evidenciar mudanças e comparações entre diferentes tipos de desenvolvimento e fim alcançado. Esta ideia de trajetórias de desenvolvimento incorpora o conceito de temporalidade – tempo irreversível –, e destaca a ação das pessoas sobre o curso de sua experiência pessoal em relação a um determinado fenômeno (SATO, WATANABE & OMI, 2007).

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Mesmo que o estudo aborde a noção de trajetória como recurso de análise para dar conta das possíveis transformações no uso de critérios de avaliação da qualidade dos argumentos, deve-se deixar claro que, no sentido metodológico a abordagem que aqui se propõe não responde ao uso do Modelo de Trajetória de Equifinalidade – TEM – proposto por SATO, YASUDA e KIDO (2004, citado em SATO, HIDAKA & FUKUDA, 2009).

O TEM é um recurso metodológico através do qual se pode observar o potencial e/ou realização de trajetórias tanto do passado como do futuro possível. Neste modelo se destaca a noção de ‘pontos de equifinalidade’, como sendo o componente que permanece estável no curso da vida do indivíduo como ser dinâmico e historicamente construído (SATO, YASUDA & KIDO, 2004, p. 226, citado em SATO, HIDAKA & FUKUDA, 2009). Desta forma, o mesmo estado final pode ser alcançado a partir de condições iniciais e caminhos diversos no curso do tempo, sendo o foco os eventos e/ou estados individuais (SATO, YASUDA, KIDO, ARAKAWA, MIZOGUCHI & VALSINER, 2006).