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4.3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.3.4 Fator de Bioacumulação, Fator de Acumulação Biota-Sedimento e Razão Água-Sedimento

Os valores do Fator de Bioacumulação (FBA), variaram entre 2,14 a 444 para SE0.1 1,09 a 329 para SE0.2 e 0,07 a 334 para SE0.3. Os valores do Fator de Acumulação Biota-Sedimento (FABS) variou entre 1,06 a 4,29 para SE0.1, 0,67 a 5,8 para SE0.2 e 0,49 a 10,2 para SE0.3. Os valores da Razão água/sedimento (Ra/s) variaram de 14,7 a 203 para SE0.1, 26,1 a 821 para SE0.2, 39,7 a 1431 para

SE0.3 (Figura 4.8).

Os valores encontrados nos experimentos demonstraram uma tendência acumulativa crescente desses contaminantes, isto pode ser percebido pelo aumento do FBA até o 21º dia para todos os experimentos (Figura 4.8). A biodisponibilidade do contaminante na água pode ser um fator importante na bioacumulação de HPAs nos organismos, sendo a principal fonte de contaminação por HPAs paras as ostras.

Para SE0.1, após o 21º dia, há uma diminuição do FBA. Essa pode ter sido ocasionada pela eliminação desses contaminantes pela ostra, resultado da difusão passiva e termodinâmica dos organismos para o meio externo e das vias enzimáticas (metabolização) acarretando em uma diminuição desse fator (MOORE et al., 1989; BAUSSANT et al., 2010). Isto também pode ser relacionado à menor concentração do contaminante nesse sistema, e consequentemente, sua menor biodisponibilidade. Para SE0.2 e SE0.3 foi observada uma relação crescente desse fator, o que evidencia que enquanto houver uma alta concentração de HPAs biodisponíveis, as ostras tendem a bioacumular em tecido. Para SE0.3, experimento com maior concentração de óleo, notou-se uma estagnação a partir do 21º dia, demostrando que uma faixa máxima dos valores do FBA possíveis para essa espécie é entre 300 e 450, em relação a HPAs totais.

Os valores encontrados para os FABS (Figura 4.8) foram baixos quando comparados aos valores encontrados por Cacciatore et al. (2018), no nordeste da Itália. Essas menores concentrações encontradas mostram que não houve uma relação importante entre a acumulação de HPAs pela biota a partir do sedimento,

38 principalmente porque a maior concentração biodisponível de HPAs estava presente na coluna d’água. Em SE0.1, o valor de FABS diminuiu a partir do 7º dia, para SE0.2 ele aumentou até o 14º dia, diminuindo na sequência. Para SE0.3, ele aumentou até o 21º dia, decaindo posteriormente. Isso é explicado pela dinâmica na concentração em ambas as matrizes em função do contaminante. Maiores concentrações na biota e menores no sedimento nesses respectivos dias, em relação ao processo de bioacumulação e deposição dos HPAs na matriz sedimentar, foram determinantes para os picos nos dias 7, 14 e 21 nos respectivos sistemas.

Através da Ra/s (Figura 4.8) observa-se a transferência de HPAs entre as

matrizes, acontecendo de forma geral da água para o sedimento (p < 0,05), principalmente para SE0.1 e SE0.3 a partir do dia 14 e SE0.2 a partir do dia 21. A transferência de compostos em água para a matriz sedimentar é explicada pela adsorção dos HPAs à fase orgânica presente nesta matriz, como a matéria orgânica (ZEMANEK et al. 1997).

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39 Figura 4.8 - Valores dos Fatores de Bioacumulação (FBA), Fatores de Acumulação Biota-Sedimento (FABS) e Razão água-sedimento (Ra/s) para os

experimentos com 0,1 mg L -1 (SE0.1), 0,2 mg L-1 (SE0.2) e 0,3 mg L-1 (SE0.3) de óleo, ao longo dos 35 dias de experimento. Valores calculados em relação aos Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos totais (HPAs totais).

SE0.1 SE0.2 SE0.3

2,14 96,9 444 91,68 0,00 500,00 7 14 21 35

FBA

1,09 9,65 329 0,00 200,00 400,00 7 14 21

FBA

0,07 158 325 334 0,00 200,00 400,00 7 14 21 35

FBA

4,29 1,06 1,56 1,84 0,00 2,00 4,00 6,00 7 14 21 35

FABS

0,67 5,80 2,08 0,00 10,00 7 14 21

FABS

0,49 7,30 10,2 3,62 0,00 20,00 7 14 21 35

FABS

203 17,3 14,7 25,1 0 200 400 7 14 21 35

R

a/s 543 821 26,1 0 500 1000 7 14 21

R

a/s 1431 109 46,2 39,7 0 1000 2000 7 14 21 35

R

a/s

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40 Os fatores de bioacumulação (FBA) também foram calculados para 14 HPAs (Acenaftileno, Acenafteno, Fluoreno, Fenantreno, Antraceno, Fluoranteno, Pireno, Benzo[a]antraceno, Criseno, Benzo[k]fluoranteno, Benzo[a]pireno, Indeno[1,2,3- cd]pireno, Dibenzo[a,h]antraceno e Benzo[ghi]Perileno) (Eq. 4.2) normalizados pelo lipídio de acordo com os tempos do experimento (7, 14, 21 e 35 dias) (APÊNDICE A, tabela A8). A análise de componentes principais (PCA) aplicada a estas razões mostrou que os dois fatores principais (F1 e F2) podem explicar 81,2 % da variação dos dados analíticos, com F1 explicando 61,1% variância dos dados e F2, 20,1% (Figura 4.9).

Figura 4.9. Análise de Componentes Principais (PCA, à esquerda) e Análise Hierárquica de Agrupamentos (ACH, à direita) dos FBA relativos a 14 HPAs estudados nos sistemas experimentais com 0,1 mg L -1 (SE0.1), 0,2 mg L-1 (SE0.2), 0,3 mg L-1 (SE0.3), e sem adição de óleo (SEC) ao longo dos 35 dias de experimento (7, 14, 21 e 35 dias). SE0.2/dia 35 não analisada, pois houve processo de eutrofização no aquário, sendo este descartado. Com ACF = Acenaftileno, ACE = Acenafteno, FLU = Fluoreno, FEN = Fenantreno, ANT = Antraceno, FLT = Fluoranteno, PI = Pireno, BaA = Benzo[a]Antraceno, CRI - Criseno, BkF = Benzo[k]Fluoranteno, BaP = Benzo[a]Pireno, IND = Indeno[1,2,3cd]Pireno, DBA = Dibenzo[a,h]Antraceno, BgP = Benzo[ghi]Perileno.

Elaboração: A autora, 2019.

Os sistemas experimentais apresentaram maiores correlações para os fatores de bioacumulação (FBA lipídico) nos dias 21 e 35, o que mostra o alto potencial biomonitor dessa espécie, devido à capacidade de demonstrar ao longo do tempo a

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41 acumulação de HPAs (AGUIERRE-RUBÍ et al., 2018) e de aumentar de forma progressiva a incorporação do contaminante.

SE0.1 e SE0.3 apresentaram maiores correlações de FBA para ACF, FLU, FEN, ANT, FLT, PI, CRI, BkF, BgP, BaA e ACE (ao 21º e 35º dias), SE0.2 apresentou maiores correlações para DBA, BaP e IND (ao 21º dia). De forma geral, é possível observar que o BaA e ACE são os HPAs com menos potencial de bioacumulação pelas ostras em relação aos demais. Em valores absolutos (APÊNDICE A, tabela A8), BaA, BaP, DBA e CRI, HPAs, que tem log KOW > 5, obtiveram valores altos do

FAB entre os dias 21 e 35 dias, como observado na PCA. Para os HPAs com log KOW < 5 apenas o Fluoranteno mostra valores expressivos.

FABs para BaA foram estudados por Yakan et al. (2011) para Mytillus galloprovincialis, com resultados entre 16 e 2745. Esses foram superiores aos encontrados neste estudo (APÊNDICE, Tabela A8). Esses autores chegaram à conclusão que o BaA pode atingir níveis elevados em tecidos de bivalves e que a constante de taxa de absorção de BaA é maior que a constante da taxa de depuração, evidenciando o potencial de bioacumulação de BaA e permanência deste composto no tecido do bivalve. Choy et al. (2007) realizaram estudos em Crassostrea gigas sobre a bioacumulação de Benzo[a]Pireno (BaP), aromático com alto potencial carcinogênico (ALEGBELEYE et al. 2017), mostrando que durante 28 dias a acumulação desse composto acontecia de forma linear. Entretanto, este composto também foi eliminado, mesmo que em taxas pequenas. É possível observar esse comportamento principalmente no SE0.1, onde houve a acumulação máxima de BaP em 21 dias e é observada uma diminuição nessa concentração em 35 dias (APÊNDICE A, Tabela A8).

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42 4.4 CONCLUSÃO

A espécie Crassostera rhizophorae é uma boa descritora de contaminação em curto prazo. A bioacumulação de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos aconteceu de forma eficiente para todos os sistemas experimentais. A biodisponibilidade de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos para bioacumulação nas ostras teve como principal matriz de captação a fase aquosa, não tendo a matriz sedimentar influência significativa nesse processo. Os Fatores de Bioacumulação demostraram maiores valores ao 21 e 35º dias, o que permite afirmar o alto potencial biomonitor dessa espécie. O Fator de Acumulação Biota-Sedimento apresentou-se em valores baixos, indicando a baixa influência na contaminação de por Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos advindos desta matriz. A Razão água/sedimento mostrou que existiu uma transferência do contaminante da coluna d’água para o sedimento. De forma geral, após diminuição da biodisponibilidade do contaminante em água, processos fisiológicos e metabólicos ocorreram nos organismos, provocando uma eliminação dos compostos.

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5. CONCENTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE HIDROCARBONETOS

POLICÍCLICOS AROMÁTICOS EM OSTRAS DA BAHIA DE TODOS OS SANTOS

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