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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.5 Sobre os Fatores

4.5.3 Fator 3: Relações com o Mercado

O Fator 3, conforme se observa na Tabela 27, é integrado pelas variáveis 12 e 14, que apresentaram cargas fatoriais bastante próximas, quais sejam 0,773 e 0,825, respectivamente, produzindo uma estrutura bem definida e boa representação do comportamento das variáveis, conforme mencionam Hair et al. (2009) e Pasquali (2010).

Tabela 27: Fator 3 - Relações com o Mercado FATOR 3: RELAÇÕES COM O MERCADO

Variável Carga Fatorial

14.Nas relações comerciais, a aquisição de produtos identificados como “ecológicos”, “ambientais” ou “sustentáveis” estimulam práticas focadas em reduzir impactos ao meio ambiente.

0,825

12.No mercado fornecedor, há grande quantidade de empresas que ofertam bens e serviços contemplando critérios ambientais em seus produtos.

0,773

As variáveis do Fator 3, denominado de “Relações com o Mercado”, esboçam a assimilação dos agentes públicos acerca do engajamento do setor privado em atendimento às diretrizes direcionadas à aquisição de produtos identificados como “ecológicos”, “ambientais” ou “sustentáveis” nas transações comerciais, bem como estímulo à redução de impactos ao meio ambiente.

Nesse contexto, Fonseca (2013) apresenta que as licitações sustentáveis estimulam os fornecedores a produzirem de um modo mais limpo e causando menor impacto ambiental e que estas ações são cada vez mais comuns e necessárias para amenizar o impasse entre desenvolvimento e meio ambiente, pois elas incentivam a instituição de um padrão de produção sustentável. A autora destaca, em sua pesquisa, que os resultados mostram que o mercado de produtos e serviços sustentáveis, ainda, não está

110 totalmente preparado para atender as demandas do setor público por compras sustentáveis, mas está em processo de adequação.

Acerca do relacionamento do setor estatal junto ao mercado fornecedor, Brammer e Walker (2011) detalham, em seu modelo, que a terceira influência nas compras sustentáveis no setor público diz respeito à disponibilidade de bens e serviços produzidos e desempenhados de forma sustentável.

Em relação às compras públicas, Gelderman et al. (2006) afirmam, em seus estudos sobre as diretivas europeias, que a percepção dos compradores públicos sobre a disponibilidade do fornecedor para agir legalmente afeta o cumprimento das regras normativas. Os autores reforçam, também, que a falta de conhecimento entre potenciais fornecedores foi mencionada como uma possível explicação para o cumprimento limitado dessas diretivas europeias sobre inovações nas licitações públicas.

Delmonico et al. (2018) descrevem como “Aspectos Mercadológicos” as variáveis relacionadas à inexistência de fornecedores de itens mais sustentáveis ou falta de conhecimento sobre a existência desses fornecedores, bem como a falta de insumos e/ou itens mais sustentáveis disponíveis para aquisição no mercado, se referindo, portanto, à oferta de produtos que integram um conjunto nas relações comerciais, especificamente de bens sustentáveis.

Fonseca (2013) descreve também que, no âmbito do setor privado, percebe-se que para se construir um mercado baseado na produção de bens e serviços sustentáveis é de fundamental importância ampliar as relações entre o próprio setor privado e o setor público. Entende a autora que caberia ao setor público o papel de sinalizar para onde o mercado deve se direcionar, por meio de diversos instrumentos, entre os quais, as Contratações Públicas Sustentáveis. A autora reforça ainda que, como grande comprador, o setor público tem poder de incentivar inovações tecnológicas em produtos e serviços ofertados pelo setor privado, sendo primordial, portanto, que o governo demonstre sua intenção em adquirir produtos e serviços sustentáveis, incluindo as linhas de produtos, descritivos e quantidades, a fim de despertar o interesse das empresas em atender as demandas do poder público.

Bala et al. (2008) expressam que as barreiras para os fornecedores referem-se à grande duração dos contratos públicos, à falta de mecanismos para verificar o cumprimento dos requisitos verdes constantes nos contratos públicos e à posição reativa das empresas contratadas. Os autores destacam, por conseguinte, que as soluções apresentadas são reduzir a duração dos contratos públicos, monitorar as cláusulas

111 contratuais e utilizar ferramentas para convencer os fornecedores a colaborar com o processo de compras verdes.

No quadro estatístico da Tabela 8, observa-se que a variável 12 apresentou Média 2,73, Mediana 2,00 e Moda 2,00, representando uma das maiores parcelas de discordância entre os agentes públicos, sendo que, de acordo com a escala Likert, o nível avaliativo 2 representa a percepção “Discordo Parcialmente”. Dessa forma, infere-se que o setor público reconhece que o mercado fornecedor de bens e serviços não contempla, em sua maioria, produtos elaborados em observância a critérios ambientais, resultando em possível obstrução aos avanços de políticas relacionadas às contratações governamentais com viés ambiental.

Ainda em referência aos efeitos ocasionados pelas relações comerciais, em especial quanto ao fornecimento e aquisição de produtos identificados como “ecológicos”, “ambientais” ou “sustentáveis”, importante observar que a grande parcela dos agentes públicos reconhece que a transação comercial de tais produtos incentiva práticas direcionadas à redução de impactos ambientais.

Costa et al. (2017) denominam, em seus estudos, de “Benefícios Ambientais” as variáveis que relacionam a contribuição da prática de compras sustentáveis à redução de impactos ambientais.

A Administração Pública deve atentar ainda para a oportunidade de minoração de impactos ambientais que reside na gradual ampliação, a todos os fabricantes de produtos que contenham substâncias altamente poluentes, das exigências relacionadas à logística reversa, já aplicada a pilhas e baterias elétricas e pneus, transferindo-se aos fornecedores a responsabilidade, ao fim do ciclo de vida útil dos bens, recolhê-los e reaproveitá-los ou descartá-los de forma segura e adequada, por meio de procedimentos que não apresentem risco aos seres vivos e ao meio ambiente (COELHO, 2014).

Nesse interim, importante observar também que a rotulagem ecológica tem como foco a redução de impactos ambientais, conforme destacam Bleda e Valente (2009).

Para tanto, Taufique et al. (2014) expressam que os rótulos ecológicos representam um tipo de instrumento de política ambiental com ênfase no papel da informação sobre os impactos ambientais associados à produção, distribuição, consumo e/ou eliminação de um produto.

O objetivo dos rótulos ecológicos para reduzir os impactos negativos ambientais das atividades ambientais é perseguido em duas rotas conceituais, que envolvem dois tipos diferentes de ganhos ambientais: um ganho mais estático ou de curto prazo, e um

112 prazo mais longo ou mais dinâmico. A curto prazo, espera-se que os rótulos ecológicos reduzam o impacto ambiental, reduzindo as vendas de produtos altamente poluentes em favor de produtos menos nocivos ao meio ambiente. A longo prazo, os rótulos ecológicos podem estimular os produtores a direcionar suas pesquisas e esforços inovadores para tecnologias mais limpas (BLEDA E VALENTE, 2009).

Assim, observa-se a sensibilidade dos agentes públicos em considerar que a transação comercial de produtos elaborados em obediências aos ditames ambientais e/ou sustentáveis e a rotulagem ambiental, conforme consta na literatura, representam, até certo ponto, medida mitigadora, vez que proporcionam a redução de impactos ao meio ambiente.

Entretanto, no quesito relacionado ao conhecimento acerca do mercado fornecedor de bens e serviços que contemplam critérios ambientais em seus produtos, observa-se um distanciamento entre os setores público e privado naquilo que concerne à disponibilidade desses produtos. Dessa forma, o estreitamento entre esses setores poderá ser salutar para o sucesso das aquisições governamentais com a inserção de critérios ambientais.

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