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2.3 GESTÃO DE RISCOS EM TALUDADES

2.3.4 Movimentos de Massa e Fatores Condicionantes

2.3.4.2 Fatores Condicionantes dos Movimentos de Massa

Os fatores envolvidos na instabilidade das encostas são bem conhecidos atualmente. Como explica Terzaghi (1950), estes fatores podem ser divididos em fatores internos e fatores externos:

 Externos: são devidas a ações externas que alteram o estado de tensão atuante sobre o maciço, sejam eles antrópicos ou naturais. Esta alteração resulta num acréscimo das tensões cisalhantes que igualando ou superando a resistência intrínseca do solo leva o maciço a condição de ruptura, como o aumento da inclinação do talude, a deposição de material ao longo da crista do talude, erosão por vento e/ou chuva e até mesmo efeitos sísmicos, entre outros.  Internos: são fatores intrínsecos ou naturais do talude, que atuam reduzindo a resistência ao cisalhamento do solo, sem ferir o seu aspecto geométrico visível, como o aumento da pressão na água intersticial e o decréscimo da coesão, intemperismo, entre outros.

Segundo Varnes (1978) as causas básicas da instabilidade de vertentes, inclusive dos escorregamentos, são bem conhecidas. O que se procura sempre é alcançar, por

meio do entendimento dos processos envolvidos, respostas às questões: por que ocorrem os escorregamentos, quando, onde e quais são seus mecanismos, permitindo a predição da suscetibilidade.

Conforme descrito na ABNT NBR 11682:1991 - Estabilidade de Taludes, os principais processos indutores de instabilidade são os erosivos e de liquefação dos solos. Os processos mais comuns que envolvem liquefação são: transporte de materiais viscosos, deslocamento de solos saturados, e remoção das capas de solo residual, situadas no topo de encostas íngremes.

Os fatores condicionantes dos escorregamentos correspondem principalmente aos elementos do meio físico e, secundariamente, do meio biótico, os quais contribuem para o desencadeamento do processo. Os movimentos de massa podem ser desencadeados por agentes distintos, denominados de agentes predisponentes ao meio natural, e agentes efetivos. Contudo, a ação humana exerce importante influencia favorecendo a ocorrência de processos ou minimizando seus efeitos (GUIDICINI; NIEBLE, 1984).

Costa (2005) explica que há muitas variáveis envolvidas na instabilidade de taludes naturais e artificiais, tais como: materiais, clima, geologia, velocidade e extensão da ruptura. IG (2009) comenta que o movimento de massa é parte integrante do processo evolutivo geomorfológico natural das regiões serranas. Quando a ocupação humana utiliza áreas inseridas nesta dinâmica, dispensando o planejamento do solo e da boa prática de Engenharia, se configuram as condições para que ocorram tragédias humanas.

Guidicini e Niebli (1984) definiram os condicionantes dos processos de movimentos de massa como causas e agentes. Dentre os agentes, os pesquisadores fizeram distinção entre agentes predisponentes e efetivos preparatórios e imediatos, e subdividiram as causas em internas, externas e intermediárias, apresentados na figura 11. Rodrigues Carvalho (2015) comenta, como exemplo, que a água é um agente, no entanto, a causa que lhe está associada depende de como ela atua, podendo traduzir-

se por erosão, diminuição da coesão, aumento do peso dos terrenos, aumento das pressões intersticiais, entre outros.

Figura 11 – Agentes e causas dos escorregamentos e processos correlatos

Fonte: Adaptado de Gudicini e Nieble (1984).

Ainda de acordo com os pesquisadores, os agentes predisponentes referem-se ao conjunto de condições geológicas, topográficas e ambientais da área onde se desenvolve o movimento de massa. São, portanto, as condições naturais dadas pelas características intrínsecas dos materiais, sem a ação do homem. Já os agentes efetivos são aqueles diretamente responsáveis pelo desencadeamento do movimento de massa, incluindo-se a ação humana. Podem se tratar também de agentes efetivos imediatos como: chuva intensa, erosão, terremotos, ondas, vento, interferência do homem etc. Podem ser agentes efetivos preparatórios como: pluviosidade, erosão

pela água ou vento, oscilação de nível dos lagos e marés e do lençol freático, ação de animais e ação humana como desmatamento, entre outros.

Tominaga et al. (2015) afirmam que a pluviosidade é um agente condicionante nos escorregamentos. Além disso, citam a pesquisa de Tatizana et al. (1987), em que estabeleceram uma correlação numérica entre a chuva acumulada ocasionando a saturação do solo e as precipitações horarias que provocam os escorregamentos. Os pesquisadores consideraram que as chuvas acumuladas em quatro dias seriam as mais efetivas na preparação do terreno ao processo de escorregamento, devido à redução da resistência ao cisalhamento e aumento das forças solicitantes. Para Tavares et al. (2004), a maior parte das ocorrências de movimentos de massa, em torno de 70%, foi registrada com chuva acumulada igual ou superior a 120 mm em 72 horas.

Nas regiões tropicais as estações chuvosas, especialmente as precipitações intensas, são um grande desencadeador de movimentos de massa, que algumas vezes são catastróficos. Na bibliografia existe um vasto material indicando que um importante agente deflagrador da instabilidade de encostas é, sem dúvida, a ação humana. Muitos autores definem que o agente antrópico é um importante modificador da dinâmica natural do relevo, sendo que um grande número de escorregamentos está associado a cortes para a construção de moradias precárias em encostas íngremes, IG (2009).

De acordo com Carvalho (1991), os principais problemas de estabilidade de taludes que impactam a malha rodoviária do estado de São Paulo são a erosão, a desagregação superficial, o escorregamento em corte, o escorregamento em aterro, o recalque em aterro, a queda de blocos e o rolamento de blocos. Foram, ainda, identificadas suas formas de ocorrência, bem como seus principais causadores. A classificação encontra-se na figura 12.

Figura 12 – Principais problemas de estabilidade em taludes em rodovias do Estado de São Paulo

Fonte: Modificado de Carvalho (1991).

Fazendo um paralelo para ferrovias, os problemas enfrentados são basicamente os mesmos, em boa parte, consequentes da elaboração equivocada de projetos de terraplenagem (concebidos em concordância com diagnósticos deficientes ou, por erros em seu desenvolvimento), da execução inadequada do projeto (por vezes, devido à falta de fiscalização in loco da obra) e também da adoção de rotinas

insuficientes de manutenção/conservação das faces e drenagens dos taludes. O cenário se agrava quando esses fatores se encontram associados a condições climáticas que favorecem os processos de instabilização (NETTO, 2016).

Alves (2012), em estudo apresentado sobre monitoramento de encostas na malha ferroviária da empresa MRS, aborda que a causa principal de falhas de infraestrutura por deslizamento de terras ao longo da ferrovia estudada se deu por ausência ou inadequação dos sistemas de drenagem, bem como a falta de manutenção destes.