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FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A BAIXA CAPACIDADE INOVADORA DOS EMPREENDIMENTOS NO BRASIL E

REPÚBLICA TCHECA Resultados principais

5.5 FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A BAIXA CAPACIDADE INOVADORA DOS EMPREENDIMENTOS NO BRASIL E

AÇÕES ALTERNATIVAS DE ESTÍMULOS À INOVAÇÃO

Podemos destacar três principais fatores que contribuem para a baixa capacidade inovadora dos empreendimentos criados no Brasil: o contexto socioeconômico, a estrutura do mercado e o sistema nacional de inovação. O primeiro fator é característico dos negócios nascentes em um contexto econômico e social de alta taxa de desemprego e de baixo nível de renda, característico das economias emergentes. A quase totalidade dos

empreendedores inicia suas atividades sem a preocupação com o aprendizado tecnológico e com o processo de inovação. O empreendedor por necessidade cria negócios na busca de gerar trabalho e renda, principalmente para o si próprio, passando a margem da necessidade de lançar novos produtos, com novas tecnologias. Esses negócios seguem uma trajetória “investimento – produção – inovação”, sendo que a inovação nesse estágio refere-se

basicamente à montagem de um sistema técnico-físico, ou seja, à aquisição de máquinas e equipamentos, bem como a definição do ambiente de operação. Em um negócio em estágio inicial, o conhecimento tácito e o acúmulo de capacidade tecnológica do empreendedor e de sua equipe encontram-se em uma fase inicial do processo de aprendizagem, além de os gerentes e

administradores terem pouca experiência adquirida. As rotinas organizacionais e gerenciais, os procedimentos, os processos e os fluxos de produção também se encontram em fase de implementação e desenvolvimento. Portanto, quando se fala em inovação de negócios iniciais, fala-se na capacidade de esses negócios operarem novos processos de produção, implementarem sistemas organizacionais e desenvolverem projetos de engenharia.

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No Brasil são raras e recentes as experiências de negócios que nascem seguindo a seqüência “inovação – investimento - produção”. Esses empreendimentos são gerados, normalmente, a partir de incubadoras tecnológicas ou de redes de cooperação entre universidades e negócios estabelecidos.

Toda a constatação apresentada anteriormente é confirmada pelos dados apresentados no GEM, que mostram que grande parte dos negócios

desenvolvidos já é conhecida pelo mercado e se concentra no setor de serviços orientados ao consumidor. Ademais, como a maioria dos empreendedores iniciou seus negócios por necessidade, esse perfil revela a maior dificuldade do empreendedor de ser inovador.

A pesquisa ainda aponta o perfil desses empreendedores, que em termos qualitativos, são muito semelhantes, quer por tipo de produto (conhecido ou não), quer por grau de competitividade (alta ou baixa concorrência). Um dos aspectos interessantes a ser destacado é a média de escolaridade. Para os empreendedores iniciais, a média é de 5 a 11 anos, sendo mais elevada para os empreendedores já estabelecidos, com média de mais de 11 anos de estudo (o que equivale a ir além do ensino médio). Esse dado mostra que a maior concorrência entre os negócios demanda pessoas mais capacitadas para manterem seus negócios no mercado, evidência constatada pelo maior nível de escolaridade dos empreendedores com mais tempo de atuação de mercado. Por outro lado, com mais escolaridade, os empreendedores seriam mais inovadores por, a princípio, serem mais críticos e, possivelmente, mais sensíveis à necessidade de desenvolvimento tecnológico.

O segundo fator refere-se à estrutura do mercado na qual se inserem os empreendimentos que nascem em função da necessidade ou oportunidade. Esses negócios utilizam tecnologias disponíveis e produzem produtos e serviços conhecidos e com muitos concorrentes no mercado. No Brasil, a grande maioria dos empreendimentos produz para o mercado local ou regional e o produto compete por meio de preço e não pela diferenciação e qualidade do produto. Portanto, os negócios iniciais, também pela via da estrutura de mercado, são pouco inovadores.

Por fim, o terceiro fator apontado por este estudo é o incipiente sistema nacional de inovação, que não cria um ambiente propício ao acúmulo de competências e ao aprendizado tecnológico interativo. O sistema de inovação brasileiro

Empreendedorismo no Brasil . 2006

predominantes as relações de cooperação entre empresas na busca de novos mercados, o desenvolvimento tecnológico, o desenvolvimento de fornecedores e a resolução de problemas organizacionais. Os empreendimentos iniciais não têm economias de escala, escopo nem poder de negociação para enfrentar as turbulências do mercado e as exigências impostas pela competição

internacional. As ações cooperativas entre pequenos empreendedores podem superar a fragilidade do pequeno capital e criar as condições para o

enfrentamento conjunto no mercado.

Também é recente e tortuoso o caminho da cooperação entre universidades e empresas. Atualmente verifica-se uma aproximação entre estes dois agentes. A Lei da Inovação recentemente aprovada coloca-se como um instrumento regulador para fortalecer a cooperação entre esses agentes, mediante a formação de empreendedores e da produção conjunta de novos conhecimentos e tecnologias. A referida Lei é ainda muito recente e seus efeitos iniciais ainda são muito tímidos, uma vez que enfrenta o obstáculo de romper com valores culturais, ideológicos e éticos relacionados a esta parceria.

Além do estímulo à formação de redes entre empresas e destas com as universidades para o fortalecimento dos sistemas de inovação, outras políticas públicas e instrumentos vêm sendo adotados, tais como: regulamentação da Lei de Patentes e Combate a Pirataria, difusão e acesso às tecnologias de

informação por parte dos negócios iniciais, estímulo a incubadoras de empresas e à incubação de negócios de base tecnológica e instrumentos e fontes de financiamento ao empreendedorismo e à inovação.

Apesar do esforço no sentido de estruturar um sistema de inovação que crie um ambiente propício ao desenvolvimento tecnológico e ao desenvolvimento de capacidade de aprendizado das empresas, a eficácia destes instrumentos tem sido muito pequena, principalmente no que se refere ao desenvolvimento do empreendedorismo inovador no Brasil.

Um dos fatores que tem atrasado o desenvolvimento do sistema de inovação é a crise financeira do Estado brasileiro com implicações para a redução de recursos para financiamento da inovação. Além de poucos e descontínuos, os recursos financeiros, tanto para investimentos em estruturas físicas quanto para aspectos gerenciais, não possuem focos definidos de ação que possibilitem, de maneira equilibrada, gerar sinergias e criar uma trajetória de aprendizado consistente entre os empreendimentos iniciais.

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Outro obstáculo é que os diferentes programas de estímulo ao

empreendedorismo nem sempre estão focados no mesmo público, nem sempre têm os mesmos objetivos e nem sempre são consistentes entre si. Esta falta de planejamento e integração entre os programas gera desperdícios, desestímulo e pouca eficácia.

Uma forma de integrar e potencializar os resultados dos programas de apoio ao empreendedorismo pode ser a sua vinculação a diversos projetos de

desenvolvimento regional e local. O Programa dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) tem sido alvo das políticas de desenvolvimento dos governos Federal, estaduais e municipais. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), junto com o Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos FINEP – e do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), vêm priorizando as ações de fortalecimento dos APLs. O Programa de Desenvolvimento de

Empreendimentos Inovadores e o Programa de Desenvolvimento de APLs, se focados dentro do mesmo objetivo, podem tornar-se muito mais eficientes tanto para o desenvolvimento de comunidades locais como para o estímulo a

Empreendedorismo no Brasil . 2006

Neste tópico são analisadas as percepções dos empreendedores e dos especialistas brasileiros quanto às condições que favorecem e dificultam seus negócios. Também se compara a percepção dos especialistas brasileiros com a dos especialistas de outros países quanto a tais condições. Por fim, avalia-se o papel das políticas e dos programas de apoio em alguns aspectos mencionados como importantes para o empreendedorismo no contexto social, político e econômico nacional.

6.1 CONDIÇÕES QUE FAVORECEM E DIFICULTAM