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Fatores de risco para o conflito entre gatos

É a fase da vida de um animal em que todas as experiências externas podem ter uma enorme influência no seu comportamento futuro. Nos gatos começa por volta das 2 semanas de vida em que os gatinhos começam não só a ficar conscientes do que se passa à sua volta, mas também ocorre o desenvolvimento neural e a maior plasticidade aumenta a capacidade de aprender. Este período termina por volta das 7 semanas de vida, e todas as experiências a que o gatinho é exposto nesta fase, têm uma grande influência em moldar o seu comportamento futuro (Atkinson, 2018).

A fase de socialização é vista como uma “janela de oportunidade”, em que o gatinho é mais recetivo a conhecer diferentes estímulos, novas experiências, pessoas e animais, inclusive da mesma espécie (Horwitz & Pike, 2016). Traumas durante esta fase têm efeitos persistentes sobre o comportamento em adulto e que perduram ao longo da vida do animal (Seitz, 1959). Uma socialização limitada com outros da mesma espécie torna-os mais propensos a ter medos e ser, potencialmente, agressivos em relação a outros gatos, apresentando mais sinais de ansiedade quando convivem com outros mais tarde na vida. Quando as experiências são positivas durante este período sensível, geralmente parecem menos stressados e mais tolerantes à presença de outros congéneres quando adultos (Atkinson, 2018).

Os gatinhos dependem da interação com a progenitora e irmãos de ninhada para sobreviver e aprender diversas capacidades como aprender a caçar e formas de interação social, como comportamentos afiliativos e agonísticos. Quando retirados muito cedo da progenitora, apresentam alterações comportamentais, físicas e emocionais quando adultos. Maior ansiedade e receio em presença de estímulos novos e maior predisposição para agressividade (Ley, 2016). Quando criados por progenitoras experientes e desmamados numa idade mais avançada, desenvolvem menos problemas de comportamento (inibição de mordida e agressão relacionada

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com frustração), do que gatinhos desmamados precocemente ou criados por uma mãe inexperiente (Amat et al., 2016).

1.9.2 Familiaridade, género e idade

Segundo Bradshaw e Hall (1999), as relações sociais mais próximas são mais prováveis entre gatos da mesma ninhada (irmãos) que permanecem juntos, do que entre aqueles sem qualquer relação de parentesco que partilham a mesma casa. No entanto ainda não é óbvio, se este facto se deve simplesmente ao desenvolvimento destes laços durante o período de socialização, independentemente de existir familiaridade entre os indivíduos, ou se o grau de parentesco aumenta a probabilidade destas relações fortes (Atkinson, 2018). Os tutores terão maior probabilidade de comportamentos afiliativos entre os gatos se, em vez, de adotarem o segundo, mais tarde, adotarem ao mesmo tempo, dois irmãos da mesma ninhada, ou uma cria e a sua progenitora (Bradshaw & Hall, 1999; Curtis et al., 2003; Crowell-Davis et al., 2004).

A relação entre agressividade e género, varia de acordo com os diferentes estudos efetuados. Enquanto Lindell et al. (1997) descobriram que os machos tinham maior probabilidade de ser os agressores nos conflitos, direcionando de igual forma a agressividade para machos ou fêmeas; Barry e Crowell-Davis (1999) e Levine et al. (2005) não encontraram qualquer associação entre o género e o conflito entre gatos. Em relação à idade, Levine et al. (2005), não verificaram associação entre a idade do gato adotado e a ocorrência de agressividade.

1.9.3 Introdução de um novo gato em casa

A agressividade após introdução de um novo gato em casa é bastante comum (Levine et al., 2005). Muitos tutores assumem que os animais vão ficar satisfeitos por receber um novo companheiro, mas acabam por ficar frustrados quando começam a ocorrer agressões (Ramos, 2019). Como já foi referido, os gatos quando em vida livre, são capazes de viver em colónia, mas qualquer gato não familiar à mesma não é bem-vindo, e ocorrem tentativas para o afastar. Nesse sentido, quando introduzimos um gato numa casa onde já existe outro, é normal que o residente o veja como um intruso, e o conflito entre ambos é previsível. No entanto, quando o novo animal é ainda muito jovem, a sua aceitação no grupo é mais fácil entre os adultos (Ramos, 2019).

A agressão envolvendo a introdução de novos indivíduos pode ser devido à falta de familiaridade de sons e cheiros, ou a possível ameaça aos recursos existentes, a redefinição da ocupação do espaço, a densidade ou a combinação de vários fatores (Ramos, 2019).

No estudo realizado por Levine et al. (2005), grande parte dos tutores reportaram a existência de conflito quando um novo gato foi introduzido em casa e em metade destes casos, os gatos foram apresentados, colocando-os imediatamente juntos. Foi afirmado por 35% dos tutores

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inquiridos, que o conflito ainda subsistia após 2 a 12 meses da introdução. O estudo concluiu também que, há maior probabilidade de o conflito persistir no tempo, quando ocorre agressão inicial durante a introdução. Foi também observado que a reação do gato residente ao novo membro foi de defesa, possivelmente por medo, e que a personalidade individual de cada um, influencia a forma como reagem à situação.

1.9.4 Densidade populacional, ambiente e recursos

Os gatos de vida livre têm a possibilidade de se dispersarem ou agruparem, de acordo com as relações de parentesco entre eles e com a disponibilidade de recursos. E uma importante diferença entre viver livremente ou dentro de casa, é que os padrões de movimento em ambientes fechados são restritos pelo ambiente físico, e gatos que não pertençam ao mesmo grupo social, podem não ter a opção de se evitarem ou manterem uma distância adequada como seria de esperar em ambientes externos ou sem restrição (Pachel, 2014).

Segundo o estudo efetuado por Bernstein e Strack (1996), a densidade populacional de gatos dentro de casa e a distribuição dos recursos, influencia a forma como os utilizam e se distribuem no espaço. Os machos apresentaram um território maior que as fêmeas, e os gatinhos muito jovens eram os únicos que utilizavam uma maior área, no entanto, à medida que cresceram, o espaço que utilizavam foi diminuindo, e no final eram aqueles que apresentavam o menor território. As áreas mais utilizadas, eram aquelas onde se encontravam os principais recursos. Apesar das zonas de circulação de cada gato se sobreporem, eles tendiam a distribuir-se ao longo dessas zonas, e tinham locais favoritos onde passavam grande parte do seu tempo, e que aprendiam a utilizar em diferentes alturas do dia (Bernstein & Strack, 1996).

Muitos gatos entram em conflito se o ambiente em que vivem não responde às suas necessidades (Ellis et al., 2013). Ocorre competição de recursos, como locais de descanso ou pontos de alimentação, e os gatos mais territoriais podem bloquear o acesso a estes (Amat et al., 2016). Quando em vida livre, são os próprios gatos que procuram estes recursos, ao contrário dos que vivem em casa, em que são os tutores que lhes fornecem os mesmos (Pachel, 2014). E, muitos tutores, não estão sensibilizados para as necessidades básicas ambientais dos felinos e, principalmente, numa casa com mais do que um gato, é de extrema importância que todos tenham fácil acesso aos recursos.

Fornecer vários recursos, em locais distintos da casa, permite aos gatos ter fácil acesso aos mesmos e assim ter a sensação de controlo sobre o território (Ellis et al., 2013). Estes recursos incluem, pontos de alimentação, água, caixas de areia, zonas de descanso, esconderijos e estruturas elevadas, aumentando o espaço vertical em casa, permitindo aos gatos monitorizar o seu ambiente. Quando são colocados em diferentes divisões da casa, cada gato pode utilizá-las

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individualmente e assim evitar o confronto com os outros da casa, minimizando a competição, o medo, a ameaça e o stress (Ellis et al., 2013).

1.10 Consequências geradas pelo conflito entre gatos