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Plano de modificação ambiental

1.12 Prevenção e tratamento

1.12.1 Plano de modificação ambiental

1.12.1.1 Distribuição e disponibilidade de recursos

O conflito entre gatos, geralmente deve-se à competição de recursos importantes como comida, zonas de descanso ou caixas de areia (Atkinson, 2018). A modificação ambiental serve não só como tratamento, mas também como prevenção de conflito entre gatos. E tem como objetivo promover a dispersão dos gatos nas diferentes zonas da casa, diminuir a competição pelos recursos e aumentar a confiança em si mesmo através do controlo do ambiente (Ramos, 2019). O primeiro passo consiste em perceber o

número e a composição dos grupos sociais (Figura 10) de forma a distribuir os recursos com o intuito de estabelecer diferentes territórios dentro da habitação, permitindo que os gatos se mantenham mais isolados e a possibilidade de ocorrer encontros mais positivos sem terem que competir (Heath, 2016). Quando são forçados a partilhar o território com outros, há requisitos que devem estar assegurados, nomeadamente: acesso livre e imediato a recursos importantes quando necessário, assegurar privacidade e a

possibilidade de escapar ou evitar potenciais situações de stress (Heath, 2010).

A modificação ambiental centra-se na gestão da quantidade de recursos (comedouros e bebedouros, camas, arranhadores e caixas de areia), baseado no que é mais apropriado para os gatos, de acordo com a sua natureza, necessidades físicas e emocionais quando vivem em grupo e em espaços restritos (Ramos, 2019).

Figura 10.Definição dos grupos sociais (original).

Legenda: Nesta casa com 3 gatos, 2 deles (Noa e Leya) pertencem ao mesmo grupo social, e 1 deles é um elemento individual (Simon).

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Perceber a configuração da casa e distribuição dos recursos através de um esboço de uma planta é, como já foi referido, de extrema importância, para tentar perceber se é um ou um dos motivos para o conflito, e ter uma base de trabalho para poder aplicar os princípios de sectorização e descentralização de recursos. A descentralização consiste em distribuir os recursos em diferentes pontos da casa em locais apropriados, em vez de os concentrar em apenas uma zona. A sectorização do ambiente consiste em criar áreas específicas em casa, como por exemplo a zona de alimentação, a zona de eliminação e a zona de brincadeira sem as sobrepor, de certa forma reproduzindo a forma como os gatos ferais ocupam o território (Ramos, 2019) (Figura 11).

Durante o processo de tratamento é importante ter em consideração as limitações dos tutores para adquirir novos recursos e a flexibilidade que têm para alterar o ambiente em casa (Ramos, 2019), e pensar também que os gatos podem ser extremamente sensíveis a alterações no seu território e, dessa forma, todas as modificações devem ser feitas gradualmente, nunca alterando o que já existe, apenas acrescentando, e só depois alterar o já existente (I. Guerra, comunicação pessoal, Setembro 19, 2018).

Ao distribuir os recursos é preciso ter em conta algumas particularidades, nomeadamente, sempre que possível, seguir a regra N+1, sendo N o número de recursos equivalente ao número de gatos em casa (Westropp & Buffington, 2004). No caso dos comedouros, devem ser no mínimo mais um que o número de gatos, deve ser também adicionado um ou mais comedouros interativos, e devem estar distribuídos em diferentes zonas da casa, separados dos bebedouros, e da zona de lazer, descanso e eliminação. Na natureza por norma caçam e ingerem a presa longe de outros gatos e, dessa forma, é importante providenciar comedouros em número suficiente e posicionados de forma a que possam ver o que se passa à sua volta, evitando colocar em cantos da casa (Heath, 2010; Atkinson, 2018).

Os bebedouros, tal como os comedouros, devem ser vários, localizados em diferentes zonas e afastados dos restantes recursos. Os gatos têm pouca motivação inerente para ingerir água, visto que as suas presas lhes conferem grande parte do aporte hídrico que necessitam, sendo

Figura 11. Descentralização dos principais recursos é essencial para evitar o conflito, e conseguir zonas distintas no território de cada gato, sem as sobrepor

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importante fornecer vários pontos de água e inclusivamente fontes, no sentido de estimular a sua ingestão. Na natureza os gatos tendem a evitar pontos de água que estejam próximos da sua presa, e assim reduzir o risco de consumir água contaminada com urina, fezes, sangue ou vísceras (Heath, 2010).

As caixas de areia devem ser em número suficiente, ou seja, pelo menos uma por gato, colocadas em zonas calmas da casa, mas não em locais que não tenham saída e que, facilmente, o gato agressor possa bloquear o acesso. De preferência sem cobertura, pois pode dar origem a emboscadas, fazendo com que a vítima evite de a usar. As zonas de descanso também são recursos importantes, por isso, é essencial fornecer várias em diferentes zonas (Heath, 2010).

1.12.1.2 Enriquecimento ambiental

O termo “enriquecimento ambiental”, refere-se a alterações, modificações e outras intervenções efetuadas no meio ambiente com o objetivo de melhorar o bem-estar dos animais que aí vivem, fornecendo um ambiente adequado, com oportunidades de expressar o seu comportamento normal, evitando potenciais situações que provoquem medo ou stress (Rochlitz, 2005). Para além da dimensão mínima de espaço, a qualidade deste é mais importante que a quantidade. Devem haver estruturas verticais, como prateleiras, postes e plataformas que permitam aos gatos controlar o ambiente em volta, fornecendo sempre opções diferentes de entrada e saída das estruturas verticais, para evitar o bloqueio das mesmas por parte do gato agressor. Esconderijos são também importantes, como caixas de cartão ou túneis, sempre com pontos de entrada e saída diferentes. Estes podem ser, estrategicamente, colocados em zonas mais estreitas de acesso às divisões da casa, como corredores e portas, para que a vítima se possa refugiar e evitar o confronto com o gato agressor (Rochlitz, 2005; Ramos, 2019).

Zonas específicas onde os gatos possam arranhar, com diferentes tamanhos, texturas e posições, localizados em zonas de transição, por exemplo junto à porta da rua, ou perto da zona onde dormem, estimula os sentidos visuais e olfativos (Rochlitz, 2005). Arranhadores com altura acima da linha das janelas, com diferentes plataformas e zonas para dormir colocadas junto às mesmas, são ferramentas importantes no sentido de estimular os gatos a trepar, arranhar, observar o território e descansar.

Devem ser proporcionados diferentes tipos de brinquedos, que devem ser substituídos regularmente para dar um efeito de novidade. Os brinquedos devem ser escolhidos com o intuito de estimular o instinto predatório dos gatos, como canas de pesca com penas, ratos e bolas e sessões de brincadeira curtas e intensas devem ser introduzidas na sua rotina diária (Ellis et al., 2013). Os comedouros interativos são ferramentas importantes para o estímulo mental dos gatos, e o comportamento natural de caça, na medida em que, têm que se esforçar para conseguir

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o seu alimento, em vez de estar simplesmente disponível no comedouro (Ellis et al., 2013). Os gatos são curiosos por natureza, e nesse sentido devem ser estimuladas as suas capacidades exploratórias, através da introdução intermitente de objetos novos como caixas de cartão, sacos de papel entre outros (Rochlitz, 2005).