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Fatores determinantes de deficiências de controles internos

2.4. Controles Internos

2.4.3. Fatores determinantes de deficiências de controles internos

Segundo a Estrutura Integrada do COSO, um sistema de controle interno eficaz exige

mais do que a estrita observância a políticas e procedimentos, necessitando, sim, o uso de

julgamento quanto à suficiência e eficácia do sistema de controle interno da organização

(COSO, 2013). Tal julgamento é realizado pela administração e pela estrutura de governança

da firma, que precisam do julgamento para selecionar, desenvolver e distribuir os controles por

toda a entidade.

Entretanto, a própria Estrutura Integrada reconhece que mesmo que um sistema de

controle interno seja eficaz, ele pode apresentar falhas, visto que pode não ser capaz de “evitar

julgamentos errôneos ou más decisões, ou ainda, eventos externos que impeçam a organização

de atingir suas metas operacionais” (COSO, 2013, p. 12). Tal constatação vai ao encontro do

colocado por Dantas et al:

“espera-se que uma entidade com controle interno adequado conquiste seus objetivos

estratégicos e operacionais regularmente. Entretanto, poderá ocorrer um evento

incontrolável, um erro ou um incidente. (...) Nesse sentido, é preciso evitar que se crie

o pressuposto de que instrumentos como governança corporativa e controles internos

tenham ‘poderes mágicos’”. (Dantas, Rodrigues, Marcelino, & Lustosa, 2010)

Nesse contexto, alguns estudos anteriores demonstram que as fraquezas materiais de

controles internos podem estar ligadas a diferentes variáveis relacionadas à empresa, conforme

exposto a seguir.

Doyle, Ge e McVay (2005) examinaram os determinantes de deficiências de controle

interno e seu efeito sobre ganhos de qualidade. Os achados do estudo evidenciaram que as

fraquezas materiais no controle interno são mais prováveis em empresas menores, menos

lucrativas, que operam em um ambiente mais complexo, que passaram por um processo rápido

de crescimento ou por algum tipo de reestruturação. A pesquisa também evidencia que

empresas com deficiências materiais no controle interno têm uma qualidade de lucro menor,

sendo que o controle interno é um dos aspectos fundamentais para a qualidade dos lucros.

Ge e McVay (2005) constataram que as empresas que divulgaram deficiências materiais

tendem a ser menores, ter operações mais complexas e serem menos lucrativas, bem como são

auditadas com maior frequência por uma grande firma de auditoria. Também, Bryan e Lilien

(2005) descobriram que as empresas com fraquezas materiais são, em média, menores e com

pior desempenho do que suas contrapartes correspondentes do setor, assim como que as

empresas com fraquezas materiais, em média, têm betas mais altos, sugerindo um desconto

maior pelo mercado para essas empresas.

Zhang, Zhou e Zhou (2007) investigaram a relação entre a qualidade da comissão de

auditoria e a independência do auditor com a divulgação de fraqueza material de controle após

a promulgação da SOX. Os resultados indicam uma relação entre a qualidade do comitê de

auditoria, a independência do auditor e os pontos fracos do controle interno. Desta forma, é

mais provável que empresas sejam identificadas com uma fraqueza no controle interno em caso

de seus comitês de auditoria possuírem menos conhecimento financeiro ou, mais

especificamente, terem menos experiência em contabilidade financeira e em financeira não

contábil. Ademais, também são mais propensas a serem identificadas com uma fraqueza no

controle interno, na hipótese de existência de auditores mais independentes, existindo uma

maior probabilidade de reporte de fraquezas no controle interno em períodos de mudança de

auditoria externa.

O trabalho de Doyle, Ge e McVay (2007) evidenciou que as empresas que apresentam

fraquezas materiais de controles internos tendem a ser: menores, mais jovens, financeiramente

mais fracas, mais complexas, que crescem rapidamente ou que passam por reestruturações.

Ademais, o trabalho também identificou que as empresas com problemas de controle mais

sérios são menores, mais jovens e mais fracas financeiramente, enquanto as empresas com

problemas menos sérios de controles são financeiramente saudáveis, mas têm operações

complexas, diversificadas e que mudam rapidamente.

Dhaliwal et al (2011) testaram a relação entre a mudança no custo da dívida de uma

empresa e a divulgação de uma fraqueza material em um relatório inicial da Seção 404. Foi

descoberto que, em média, o spread de crédito de uma empresa em sua dívida negociada

publicamente aumenta marginalmente ao se se realizar a divulgação uma fraqueza material,

sugerindo um potencial aumento do custo da dívida.

Rice e Weber (2012) demonstram que a probabilidade de relatar os pontos fracos

existentes no sistema de controles internos está negativamente associada às necessidades de

capital externo, ao tamanho da empresa, às taxas de não auditoria e à presença de uma grande

firma de auditoria. O mesmo trabalho aponta que essa probabilidade está positivamente

associada a dificuldades financeiras, esforço do auditor, fraquezas e reformulações de controle

previamente relatadas e recentes mudanças de auditor e de administração.

O trabalho de Pereira (2016) sugere que o tamanho da empresa de auditoria, o tamanho

da empresa e o retorno sobre o ativo influenciam de forma negativa a ocorrência de fraquezas

materiais. Ao passo que empresas com estratégias de negócios consideradas arrojadas, situadas

em países cuja cultura apresenta elevado grau de distância hierárquica e com melhores índices

de liquidez são mais propensas à ocorrência de fraquezas materiais.

Em uma diferente abordagem das deficiências de controles internos, Defond & Lennox

(2017) identificaram que há uma relação entre maiores taxas de inspeções pelo PCAOB e o

aumento da emissão de opiniões adversas de controle interno pelos auditores externos. Ou seja,

inspeções do PCAOB podem melhorar a qualidade das auditorias de controle interno, levando

os auditores a corrigir deficiências em suas auditorias de controles internos.

Cheng, Felix e Indjejikian (2018) apontam que empresas têm menor probabilidade de

relatar uma fraqueza material de controle interno se um de seus membros do comitê de auditoria

estiver concorrentemente no conselho de uma empresa que divulgou uma fraqueza material

dentro do três anos anteriores. Os autores concluíram que essas evidências sugerem que as

experiências anteriores do diretor fora da empresa influenciam o trabalho dos comitês de

auditoria dentro da empresa, difundindo insights importantes e servindo como um catalisador

para melhorias nas práticas de controle interno e de relatórios financeiros de uma empresa,

sendo o contrário também uma possibilidade.

Por fim, evidencia-se na Tabela 2 um resumo com os principais determinantes de

deficiências de controles internos levantados na literatura exposta.

Tabela 2

Principais determinantes de deficiências de controles de internos

8

Variável: Estudos anteriores:

Tamanho da Empresa Ge e McVay (2005), Bryan e Lilien (2005), Doyle, Ge

e McVay (2007), Rice e Weber (2012), Pereira (2016)

Antiguidade da Empresa Ge e McVay (2005), Doyle, Ge e McVay (2007),

Chernobai e Yasuda (2013)

Saúde Financeira Ge e McVay (2005), Doyle, Ge e McVay (2007),

Pereira (2016)

Complexidade dos Relatórios Financeiros Ge e McVay (2005), Doyle, Ge e McVay (2007)

Perfil do Auditor Externo Martinez (2001), Ge e McVay (2005), Braunbeck

(2010) , Pereira (2016)

Estratégia de Negócios Miles e Snow (1978), Pereira (2016)

Qualidade da Governança Corporativa Zhang, Zhou e Zhou (2007), Cheng, Felix e

Indjejikian (2018)

Fonte: Elaboração própria