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2. ANTECEDENTES: A REGIÃO E A IMIGRAÇÃO ALEMÃ

6.1 Fatores Ecônomicos: nasce a indústria santacruzense

Embora a transformação das relações de produção em relações capitalistas encontrasse grande repercussão na área industrial, este fato não alterou significativamente as relações de produção no setor agrícola, que apesar da introdução de novas tecnologias como a secagem do fumo em estufas, do uso de sementes selecionadas e de fertilizantes químicos, manteve-se no mesmo sistema, utilizando-se da mão-de-obra familiar e do cultivo em pequenas propriedades.

Com a chegada da companhia inglesa British American Tobacco, alguns dos antigos estabelecimentos locais, já em dificuldades ocasionadas pela Primeira Guerra Mundial, e temendo a concorrência da poderosa empresa recém instalada, reorganizaram-se em moldes capitalistas, fundando em 28 de dezembro de 1918 um novo empreendimento, denominado de Companhia de Fumos Santa Cruz1, contando com beneficiamento de fumo e produção de cigarros. A especialização resultante

da instalação destas empresas no município, gerou consequentemente uma exigência cada vez maior na qualidade dos fumos produzidos, contribuindo

1 Para a criação da Companhia de Fumos Santa Cruz reuniram-se as seguintes empresas:

Irmãos Schütz, Lindolfo Grawunder, Schilling e Cia., João Nicolau Kliemann, Adolfo Iserhard e José Etges Filho & Cia. Com exceção de Irmãos Schutz que fabricava cigarros, as demais empresas trabalhavam com fumo em folha e desfiados. (Krause, 1991, p.88).

também para um relacionamento intenso com os mercados nacional e internacional, conforme atesta reportagem da Revista Máscara, de Porto Alegre, no ano de 1928 (apud Vogt, 1997, p.114):

“Para a produção de seus produtos, a

‘Companhia’, aproveita, os melhores tipos de fumos apresentados pelos agricultores do município de Santa Cruz, sendo que muitos destes, plantam, tipos de fumos selecionados pela “Companhia” e por conta da mesma (…). Importando tão somente, tipos de fumos especiais, de alto custo e que não vingam em clima como o nosso, recebe-os diretamente da China, Turquia, Havana, Cuba, Sumatra, Bórneo, etc.

Utilizando-se desses fumos, juntamente com os nossos, para fabricação de certas e determinadas misturas dos excelentes produtos apresentados (…).”

Tornando-se um processo de crescimento constante, as relações capitalistas na produção fumageira transformaram Santa Cruz, já nas primeiras décadas deste século, em referência quanto ao desenvolvimento econômico do Estado. Contudo, desde cedo também, os produtores rurais, base de todo o sistema, foram atrelados às grandes empresas através do sistema integrado de produção, iniciando a partir de 1918, vinculando a venda do produto à empresa financiadora, através do fornecimento de insumos agrícolas e assistência técnica.

A década de 20 caracterizou-se pela grande prosperidade econômica, impulsionada pela diversificação industrial, proporcionada pela substituição dos produtos importados devido as restrições provocadas pela Primeira Guerra Mundial. Neste aspecto, segundo Silveira (1997, p. 55):

“A economia de Santa Cruz, em especial a industria, saiu favorecida , na medida em que pode contar com o capital anteriormente acumulado pelo comércio, com mão-de-obra relativamente especializada, e usufruir das oportunidades que o mercado interno lhe oferecia.”

No ramo fumageiro foram fundadas ainda na cidade a empresa Henning e Cia. (1918), transformada em 1948 na Companhia de Fumos Sinimbu, Kliemann e Cia. (1921), Tabacos Tatsch (1937), Companhia Sudan de Tabacos (1940), empresa esta de capital paulista, além de outras de menor porte ou localizadas no interior do Município (Vogt, 1997, p.116).

Empreendimentos de outros ramos também foram implementados, tais como a Cervejaria Polar, em 1921; a fábrica de caramelos e chocolates Sulina, de Ammon, Hennes e Söhnle em 1923; a fábrica de artefatos de borracha Mercur, em 1924; a refinaria de banha de A. Evers e Cia. Ltda., em 1925; o Frigorífico Excelsior, de Baumhardt Irmãos em 1940, entre outros (Krause, 1991, p.89). Para dar suporte e agilidade às transações comerciais e financeiras, além da Caixa Santacruzense, existente desde 1904, foram instaladas outras instituições bancárias, como o Banco da Província em 1917, e o Banco Pelotense em 1922. Já a Associação

Comercial e Industrial local, à época denominada Praça de Comércio de Santa Cruz, foi criada em Janeiro de 1918 (Martin, 1987, p.3).

O início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, ocasionou um aumento considerável no consumo de cigarros em todo o mundo (Vogt, 1997, p. 121), situação esta que estimulou a produção de fumo em Santa Cruz, favorecendo a economia local como um todo. Contudo, a euforia causada pelos excelentes preços pagos pelo tabaco à época, levou a um acúmulo de excedentes do produto ao final da década de 40. A situação econômica do pós-guerra, restringindo as exportações para os países europeus, e o saturamento do mercado nacional, resultou em grandes dificuldades de comercialização, assinalando o início de um período de crise no setor fumageiro que se prolongaria por quase 20 anos (Vogt, 1997, p.122). Apesar dos obstáculos enfrentados a partir de então, o tabaco continuou nos anos 50 como o principal suporte da economia do município, tendo como maior consumidor o próprio mercado nacional. Neste período, a maioria das empresas fumageiras ainda permanecia de propriedade de investidores locais, conforme comprova a tabela a seguir:

Quadro 6 – Santa Cruz do Sul: Indústrias Fumageiras final dos anos 50, outros ramos industriais como: fabricação de produtos alimentares (259 estabelecimentos), transformação de minerais não metálicos (62 estabelecimentos), beneficiamento de madeira (72 estabelecimentos), fabricação de bebidas (30 estabelecimentos) e metalurgia (15 estabelecimentos) (Fontoura, 1956, p.21). Nos anos 60, a economia santacruzense, e especialmente o setor voltado ao tabaco, ingressou em uma fase de grandes transformações, fruto de resoluções adotadas pelo governo e da própria situação econômica nacional, conforme explica Silveira (1997, p.70)

“No âmbito nacional a política anti-inflacionária adotada pelo governo federal, de 1962 a 1967 – que tinha como principal fundamento a diminuição do consumo, através da restrição do crédito às empresas e, do arrocho salarial – levou a fumicultura, e por conseqüência a indústria industrias sérias dificuldades, resultando em prejuízos generalizados, levando a limitação das áreas cultivadas e à descapitalização das empresas fumageiras locais. Neste ambiente, altamente desfavorável à indústria nacional é que se processou a internacionalização do setor, intensificada a partir de 1965, com a implantação progressiva de um modelo organizacional de contornos claramente monopolistas.