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Fatores facilitadores e dificultadores do atendimento

2. A EDUCAÇÃO HOSPITALAR/DOMICILIAR NO BRASIL: DESCRIÇÃO E

2.3 Análise dos resultados

2.3.4 Fatores facilitadores e dificultadores do atendimento

Pode-se observar nesta pesquisa que os fatores facilitadores do atendimento escolar especializado estão relacionados à integração com a família dos alunos, à capacitação da equipe e ao apoio da administração ao serviço.

Com relação à integração dos professores com a família, destaca-se o relato de E3:

Olha os facilitadores é aquilo que eu te falo a gente tem o contato direto com a família. Que hoje é muito comum as famílias estarem ausentes da escola. Não existe muito espaço entre família e escola porque é assim mesmo, é muito comum as famílias não frequentarem a escola, não procurar e, quando você faz o atendimento domiciliar você está lá dentro das casas. Então, assim, você está conversando diretamente com a família sobre o aluno (E3).

Já a entrevistada E2 enfatiza a formação da equipe e o apoio da administração da SE/JF como fatores facilitadores do trabalho desenvolvido:

[...] o maior ponto facilitador é a equipe de trabalho, é a proficiência da equipe de trabalho [...] O apoio da administração pra esse trabalho, os estudos, os seminários, os grupos de estudos, as reuniões pedagógicas (E2).

Como fatores dificultadores foram citados a diversidade de recursos existentes no domicílio da criança o que contribui para sua dispersão durante o processo de ensino-aprendizagem, o fato de o atendimento escolar especializado ser uma experiência nova para o professor e a questão da violência na sociedade que gera sentimento de medo no educador quando necessita fazer o atendimento domiciliar.

Com relação à variedade de recursos que dificultam a atuação do professor, a entrevistada E3 cita que:

[...] é esse número de recursos que ele tem na casa dele que é a televisão, é a música, é o aparelho de som, é o rádio. Então às vezes você tem que falar: “olha mãe vamos fazer o seguinte? Num pode ligar a televisão, não pode deixar ele ligar a televisão agora. Agora é hora da aula, sabe?” (E3).

O fato de ser um atendimento novo é observado na fala de E2 como um dificultador do trabalho. Também em seu relato vê-se a importância da formação continuada do professor e a necessidade deste se propor a aprender a todo o momento a partir da reflexão de sua prática profissional:

[...] porque são experiências novas. Eu me sinto aprendendo, muitas vezes eu não sei se é o caminho certo, eu tenho que tá sempre retornando. Às vezes o que eu preparo não é o que é adequado pra aquele momento e eu tenho que ter essa humildade de desaprender a todo o momento, eu mais aprendo do que ensino! Toda a minha prática tá sendo construída mais no ato de desaprender do que de ensinar e eu tive que ter essa humildade acadêmica. Buscar na humildade acadêmica porque eu achei que era fácil ensinar, era fácil trabalhar e quando você vê pessoas com dores, pessoas com alucinações, pessoas que muitas vezes são isoladas com contenção mecânica porque agrediu todo um grupo de saúde você tem que ir lá, enfrentar e dizer pra ele: você pode! Você é visto pela gente. Eu estou aqui, tem pessoas que olham pra você, você faz parte dessa sociedade. É a grande dificuldade! É aprender a ter essa humildade de desaprender pra construir o trabalho (E2).

Outro fator dificultador citado foi a questão da violência da sociedade o que causa temor ao professor quando precisa realizar um atendimento domiciliar, conforme citado por E3:

[...] é que você tá indo numa casa que você não conhece ninguém. Você não conhece a cultura daquela família, você não conhece os

valores. Então, às vezes, assim, a gente vive numa sociedade muito violenta, às vezes, isso é um problema pra gente. Você fica pensando “onde é que estou”? A gente sabe que a Secretaria tem todo um comprometimento, uma preocupação com nós que vamos nas casas. Quando vê que não dá pra gente ir eles trazem pro atendimento no NEACE, pra um espaço público do município, mas assim, essa dúvida, porque, às vezes, são bairros, assim, em lugares muito perigosos mesmos. Então isso pra mim é um dificultador mesmo. Dá um pouquinho de receio (E3).

Nota-se com estes resultados a importância da comunicação entre os atores envolvidos com o atendimento escolar hospitalar (pais, escolas, Secretaria de Educação, hospitais) para a efetivação deste tipo de atendimento escolar em ambiente hospitalar.

Por meio desta pesquisa foi possível perceber que há uma falha nesse processo de comunicação. No caso da comunicação entre as famílias e as escolas destaca-se a importância de parceria com o Programa Saúde da Família (PSF), segundo Castro e Regattieri (2009) a fim de favorecer a detecção precoce das ausências dos alunos.

Da mesma forma, a formação dos docentes para atuarem nas CHs foi citada como fator que contribui para o melhor desenvolvimento do trabalho. Verificou-se que não há essa formação para os profissionais que atuam na rede municipal de ensino em Juiz de Fora.

Outra questão identificada foi o desconhecimento da população sobre seus direitos enquanto cidadãos, o que pode interferir na procura pelo atendimento escolar hospitalar. Nesse sentido vemos a proposta dos integrantes do projeto Hora de Aprender: Acompanhamento pedagógico às Crianças Internadas e a seus Acompanhantes nas Enfermarias de Pediatria do HU/UFJF de uma cartilha com orientações aos pais e acompanhantes das crianças hospitalizadas sobre seus direitos, que pode ser um instrumento para esclarecimento da população.

Apesar do atendimento escolar domiciliar não ser o foco desta dissertação, observa-se que os fatores facilitadores, relacionados a esta modalidade de ensino, como a integração com a família dos alunos, a capacitação da equipe e o apoio da administração ao serviço, também podem contribuir para o desenvolvimento do atendimento escolar hospitalar.

Nesse sentido propõe-se, no capítulo seguinte, a implantação de CHs em Juiz de Fora utilizando-se de estratégias que possam contribuir para solucionar ou

minimizar os problemas encontrados nesta pesquisa como por exemplo o processo de comunicação, a formação dos docentes, o desconhecimento pela sociedade sobre seus direitos.

A elaboração desta proposta de intervenção levou em consideração o trabalho já desenvolvido pela SE/JF, as possibilidades de parcerias com o Conselho Tutelar, o Programa Saúde da Família e outras instituições (hospitais, universidades, organizações não governamentais ou filantrópicas) que desenvolvem práticas de educação escolar às crianças e adolescentes hospitalizados ou em processo de doença.

3. PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DE CLASSES HOSPITALARES NO MUNICÍPIO

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