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Fatores geo-ambientais não derivados do Modelo Numérico de Elevação

CAPÍTULO 2: ÁREA DE ESTUDO

3.5. Caraterização dos fatores de predisposição

3.5.2. Fatores geo-ambientais não derivados do Modelo Numérico de Elevação

A geologia é um dos fatores de predisposição mais importantes e mais utilizados na avaliação da suscetibilidade a movimentos de vertente (e.g. Clerici et al., 2010; Corominas et al., 2014), uma vez que o grau de estabilidade das vertentes é influenciado pelas caraterísticas físicas, mecânicas e hidrológicas das formações geológicas (Carrara et al., 1991; Pachauri et al., 1998; Dai et al., 2001).

Para a área de estudo estão disponíveis duas cartas geológicas produzidas com diferentes critérios, ambas na escala 1:50.000, uma elaborada por Zbyszewsky et al. (1958) e outra por Moore (1991). Zbyszewsky et al. (1958) basearam o seu levantamento geológico nos depósitos superficiais, enquanto Moore (1991) apresenta uma interpretação essencialmente geomorfológica das formas vulcânicas, muito sustentada por fotointerpretação e menos preocupada com os materiais superficiais. Neste trabalho optou-se por utilizar o documento mais recente (Moore, 1991) para a definição do fator de predisposição geologia (Figura 3.11).

Figura 3.11 – Geologia (GEO) da bacia hidrográfica da Ribeira Grande (ver legenda no quadro 3.10) e a localização dos movimentos de vertente do inventário (Grupo 1 e Grupo 2).

Para a definição deste fator de predisposição a informação vetorial foi convertida para unidades matriciais 5×5 m, de modo a manter a coerência espacial dos limites ortogonais da matriz final em relação aos restantes fatores de predisposição. Posteriormente, a geologia da área de estudo foi agrupada em 13 classes, tendo em consideração o tipo e a idade dos materiais (Quadro 3.10).

Os depósitos pomíticos (cinzas e lapilli pomítico) destacam-se consideravelmente das restantes formações, ao ocuparem 52,3% da área total. Esta classe é composta por depósitos friáveis de natureza pomítica com idade compreendida entre 30.000 e 100.000 anos. Em seguida, as escoadas lávicas, os domos e escoadas traquíticas ocupam, respetivamente, 12,8% e 11,4% da área de estudo. Estas duas formações são compostas por litologias originalmente mais coesivas que, por serem muito antigas, apresentam evidências de campo claras de meteorização física (fracturação intensa por influência biológica) e química (alteração de minerais e presença de argilas). Os depósitos piroclásticos (lapilli traquíticos) ocupam 9,4% da área de estudo e têm características semelhantes às da unidade geológica mais representativa da área de estudo (GEO 3). As restantes unidades geológicas têm individualmente pouca representatividade na área de estudo.

Quadro 3.10 - Frequências absolutas e relativas das unidades geológicas na área de estudo.

Sigla Classes Área (m²) Frequência

Relativa (%)

GEO 1

Domos e escoadas traquíticas

(Idade= 30.000 – 100.000 anos) 1.890.675 11,4 GEO

2

Depósitos de formação de caldeira

(Idade= 30.000 – 100.000 anos) 445.850 2,7 GEO

3

Depósitos pomíticos de natureza traquítica

(Idade= >200.000 anos B.P.) 8.647.300 52,3 GEO

4

Escoadas de lava pahohoe e aa

(Idade= 5.000 – 10.000 anos) 137.700 0,8 GEO 5 Depósitos de spatter (Idade= 5.000 – 10.000 anos) 42.025 0,3 GEO 6

Depósitos piroclásticos de natureza traquítica

(Idade= 10.000 – 30.000 anos) 1.580.475 9,6 GEO

7

Domos e escoadas traquíticas com uma escoada lávica

de tristanito (Idade= 30.000 – 100.000 anos) 2.109.250 12,8 GEO

8

Domos e escoadas do Pico de Bodes 1º

(Idade= 30.000 – 100.000 anos) 225.025 1,4 GEO

9

Escoadas de lava pahohoe e aa – Basaltos híbridos

(Idade= 30.000 – 10.000 anos) 50.250 0,3 GEO

10

Escoadas de natureza traquítica

(Idade= 3.000 – 5.000 anos) 610.325 3,7 GEO

11

Escoadas de lava pahohoe e aa – Basaltos híbridos

(Idade= 3.000 – 5.000 anos) 139.100 0,8 GEO

12

Cones monogenéticos de escórias e spatter

(Idade= 5.000 – 10.000 anos) 207.900 1,3 GEO

13

Escoadas de lava pahohoe e aa

(Idade= 5.000 – 10.000 anos) 434.825 2,6

Total 16.520.700 100

3.3.2.2. Uso e ocupação do solo

A carta de usos do solo é frequentemente utilizada nos estudos vocacionados para o ordenamento do território, e também, para a análise da suscetibilidade à ocorrência de movimentos de vertente, pela influência que pode ter nas condições hidrológicas e na resistência dos solos (Poli e Sterlacchini, 2007). No entanto, trata-se de uma das variáveis que, à escala humana, apresenta maior propensão para sofrer alterações mais significativas.

No âmbito deste estudo foi utilizada a Carta de Ocupação do Solo da Região Autónoma dos Açores (SRAM, 2007) publicada na escala 1:30.000, para a definição do fator de predisposição uso do solo. Foram consideradas 7 classes e a informação vetorial foi convertida para unidades matriciais 5×5 m, de modo, a manter a coerência espacial dos limites ortogonais da matriz final em relação aos restantes fatores de predisposição (Figura 3.12).

Figura 3.12 – Uso e ocupação do solo (USO) da bacia hidrográfica da Ribeira Grande e a localização dos movimentos de vertente do inventário (Grupo 1 e Grupo 2).

O quadro 3.11 mostra que a vegetação natural é a classe predominante, ocupando 35,9% da área de estudo. Esta classe encontra-se, normalmente, associada às zonas mais altas, acima dos 500 m de altitude, e com declives muito elevados. É composta fundamentalmente por vegetação com caraterísticas arbustivas, como é o caso das espécies endémicas, o cedro do mato (Juniperus brevifolia), a urze (Erica azorica), a uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum), o azevinho (Ilex perado), o louro (Laurus azorica) e o folhado (Viburnum subcordatum), e como como principal espécie exótica encontra-se a cletra (Clethra arborea) (Marques, 2013).

A classe de floresta (29,7%) ocorre sobretudo nas vertentes declivosas de vales muito encaixados que, por não serem propícias ao desenvolvimento urbano, às pastagens ou ao cultivo, são utilizadas para a plantação de árvores de crescimento rápido, fundamentalmente criptomérias (Cryptomeria Japonica) (Marques, 2013).

As pastagens representam 16,2% da área de estudo e encontram-se tipicamente abaixo dos 600 m de altitude e em áreas com declive inferior a 25º.

As áreas agrícolas correspondem a 13,3% da área total, sendo ocupadas por pomares e terrenos de cultivo sazonal com milho e batata, na sua grande maioria.

As áreas descobertas constituem 2,5% da área total, podendo ser definidas como áreas desprovidas de qualquer tipo de vegetação. Estas áreas localizam-se em arribas bastante escarpadas e com comando elevado, sendo que a erosão marinha e a reincidência de movimentos de vertente são fenómenos que não permitem o desenvolvimento de coberto vegetal.

Por fim, as áreas urbanas correspondem a 2,0% da área desta bacia hidrográfica, e estão associadas ao núcleo urbano na cidade da Ribeira Grande. Próximo das áreas urbanas existem zonas industriais que ocupam 0,31% da área total.

Quadro 3.11 - Frequências absolutas e relativas das classes de uso e ocupação do solo (USO) na área de estudo.

Sigla Classes Área (m²) Frequência relativa

USO 1 Urbano 331.600 2,0

USO 2 Agrícola 2.203.325 13,3 USO 3 Vegetação Natural 5.928.875 35,9 USO 4 Pastagem 2.679.300 16,2 USO 5 Florestal 4.916.975 29,8 USO 6 Áreas Descobertas 409.325 2,5 USO 7 Industrial 51.300 0,3

Total 16.520.700 100