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Fatores influenciadores do escoamento de tronco Há registros de escoamento de tronco em uma grande amplitude

REFERÊ CIAS 171 APÊ DICE A – MEDIDAS E ESTIMATIVAS

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3. ESCOAMENTO DE TRONCO

2.3.1. Fatores influenciadores do escoamento de tronco Há registros de escoamento de tronco em uma grande amplitude

de valores, regidos por diversos fatores. Levia Jr. & Frost (2003) fizeram uma revisão sobre o que já se conhece das quantidades e mecanismos desse processo em diferentes regiões climáticas do globo. Esta seção é fundamentada na publicação de Levia Jr. & Frost (2003), exceto por inserções indicadas com a citação dos autores correspondentes.

Os registros de escoamento de tronco variam de 0,6 a 45 % da chuva incidente. Essa variabilidade se deve às diferenças climáticas, de condições meteorológicas e de composições florestais entre cada região. Mas dentro de cada região ecológica ainda existe variabilidade: em regiões tropicais, foram encontrados volumes de escoamento de tronco de 0,6 a 13,6% da chuva incidente; em regiões temperadas e áridas e semi áridas, a faixa de valores é de 0,9 a 20%, e de 0,8 a 45%, respectivamente. Possíveis responsáveis por essa variabilidade dentro das regiões ecológicas são: geometria e estrutura da copa; densidade de parcelas do estudo; presença ou ausência de epífitas; composição de espécies; variação da textura das cascas das árvores; características dos eventos de chuva. Portanto, além das diferentes regiões ecológicas, outros fatores influenciadores da geração de escoamento de tronco são principalmente: as condições meteorológicas (características da chuva e do vento), sazonalidade, características inter e intra específicas e estrutura da copa.

Sobre a influência das características da chuva na produção de escoamento de tronco, esse processo aumenta com a magnitude e diminui com a intensidade do evento de chuva. Como exceção, quando a condição meteorológica é quente e com vento, a intensidade e o tamanho das gotas são decisivos para a redução da evaporação, e o escoamento de tronco pode aumentar com a intensidade da chuva.

A influência da velocidade e direção do vento na produção de escoamento de tronco ainda não está completamente entendida. Há estudos que relatam que a chuva de vento cria na copa uma “sombra de chuva”, que determina a real área de interceptação pela copa. Ainda, o vento que incide persistentemente na vegetação movimenta a copa e a

água interceptada é redistribuída copa abaixo, com tamanhos de gota e ângulos aleatórios. Crockford & Richardson (2000) relataram que o ângulo da chuva com vento afeta significativamente a produção de escoamento de tronco; e Kuraji et al. (2001) observaram que a produção de escoamento de tronco aumenta com a velocidade do vento.

Sobre a sazonalidade, em florestas decíduas, a parcela da chuva que escoa pelos troncos é maior no inverno do que no verão. Em coníferas, as estações do ano parecem não influenciar essa proporção.

A variabilidade na geração de escoamento de tronco entre espécies é atribuída a diferenças na estrutura da copa, tais como a quantidade, geometria e área projetada dos galhos, ou a características do tronco, principalmente relativas à casca: porosidade, fisiologia e composição química, textura, capacidade de retenção de água e taxa de secagem. Por exemplo, o escoamento de tronco aumenta com a inclinação dos galhos, até um ponto crítico – quando a área da projeção vertical da copa passa a ser muito pequena e reduzir o escoamento. Crockford & Richardson (2000) mencionam o tamanho e angulação das folhas como um fator influenciador da geração do escoamento de tronco: folhas côncavas e com angulação acima da horizontal direcionam a água para o galho. Muitas espécies de eucalipto têm suas folhas praticamente verticais e, portanto, as folhas dessas espécies contribuem para o escoamento de tronco apenas quando gotejam sobre outro galho (CROCKFORD & RICHARDSON, 2000).

Além da variabilidade entre diferentes espécies, também há variações intra específicas na geração de escoamento de tronco. Ao medir escoamento de tronco em floresta temperada e em vegetação de clima semiárido, Návar (2011) encontrou variações do volume do escoamento de tronco não só entre espécies, mas também intra específicas. Entretanto, o único fenômeno já conhecido que explica essa variabilidade é que árvores mais velhas em geral produzem menos escoamento de tronco.

Sobre características estruturais da copa, já foram relatadas como influenciadores da produção de escoamento de tronco: a quantidade de galhos e a presença de aberturas na copa. Crockford & Richardson (2000) mencionaram o papel das obstruções ao fluxo, formando pontos de gotejamento. Em geral, o escoamento de tronco não parece ser proporcional à capacidade de armazenamento total da copa, devido ao armazenamento de água na casca dos troncos e também porque é gerado quase completamente na parte superior da copa, com exceção de chuva com vento.

Para avaliar a influência das características da vegetação no escoamento de tronco, alguns pesquisadores compararam os resultados desse processo com características frequentemente estimadas em inventários florestais. Black (19575, citado por HELVEY & PATRIC, 1965) não encontrou nenhuma relação forte entre o escoamento de tronco e diversas características da vegetação. Entretanto, Rutter (1963) encontrou correlação linear entre os volumes de escoamento de tronco e o quadrado do diâmetro à altura do peito (DAP). Oyarzún et al. (2011) encontraram alta correlação entre o escoamento de tronco e o DAP. Crockford & Richardson (1990) observaram uma correlação positiva entre o escoamento de tronco e área basal e comprimento do tronco, devido ao aumento do tamanho da copa com o aumento desses atributos.

Quanto à espacialidade, sabe se que a razão de afunilamento em florestas tropicais é da ordem de 7 a 112, i.e., o volume do escoamento de tronco supera em 7 a 112 vezes o volume de chuva esperado em um pluviômetro com a área de coleta igual à área basal das árvores. Em geral, a variabilidade espacial do escoamento de tronco é menor quanto maior a magnitude do evento de chuva.

Scatena (1989) observou que a presença de epífitas, lianas, e caules articulados na vegetação exerce influência no escoamento de tronco; a presença de epífitas reduz os volumes de escoamento de tronco, porque aumenta o total da área disponível para retenção de água.