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2.3 FATORES LIMITANTES E PERSPECTIVAS DO MODELO AGRÍCOLA BRASILEIRO

SISTEMA AGROINDUSTRIAL

2.3 FATORES LIMITANTES E PERSPECTIVAS DO MODELO AGRÍCOLA BRASILEIRO

Presentemente, as principais questões que se colocam no sentido de perspectivas de longo prazo para a continuação do modelo agrícola implantado no Brasil são as seguintes:

• Quais os custos do aumento previsto de produção por meio da incorporação de novas terras?

• Serão constantes, decrescentes ou crescentes?

• N a questão da sustentabilidade, a deterioração da capacidade produtiva será compensada pelos avanços da tecnologia?

• Quais serão os fatores limitantes?

Para responder a esses questionamentos é importante resgatar o que escreveu Carson (1962), há quase quatro décadas. Já naquela época, a autora mencionava que os inseticidas (herbicidas, fungicidas, pesticidas, etc.) criados para controlar determinadas pragas, não raramente, causavam o aumento de imunidade de determinas espécies àqueles venenos. Já os pássaros, os peixes, as vacas e as pessoas eram envenenados pela penetração do inseticida nos ecossistemas. Assim, de acordo com a autora, toneladas de pesticidas que vêm sendo pulverizados nas grandes lavouras e lixiviados para os corpos de água fatalmente provocarão no seu percurso envenenamentos e mortes, alterando o ciclo biológico da terra. Nesta direção, Pauli (1998), se utiliza de uma metáfora para mostrar os efeitos dos agroquímicos ao meio ambiente. O autor diz que quando o produtor usa os pesticidas ele mata o bandido, mas

tam bém os mocinhos, ou seja, para eliminar determinadas pragas, as tecnologias modernas recomendam o uso de produtos químicos que, não raro, provocam o desaparecimento de outras espécies que poderiam se converter em predadores naturais daquelas pragas nocivas à cultura em questão.

Lovelock (1991), salienta que os seres humanos deveriam sempre recordar uma verdade fisiológica, segundo a qual, o veneno consiste na dose, e moderar a utilização de determinados perigos é vital para a saúde de Gaia17. O mesmo autor, adverte que'a Terra está doente e que a ignorância científica acerca do planeta é ainda profunda, o que dificulta a busca de soluções para os problemas, principalmente aqueles relacionados ao meio ambiente.

Para Serres (1991), o que está em risco é a Terra em sua totalidade e os homens no seu conjunto. A busca de soluções para uma relação mais harmoniosa entre os seres humanos e a Terra deve, necessariamente, considerar estratégias que conduzam a uma forma de produção sustentável. Nesse aspecto, a agricultura poderá desempenhar o papel que definirá qual caminho será seguido.

De um lado, aparecem as tecnologias modernas ou de precisão, que induzem cada vez mais a um comprometimento dos ecossistemas. Como exemplo, constata-se o crescimento do uso de sementes geneticamente modificadas (os transgênicos), apesar das conseqüências futuras resultantes do seu uso serem ainda incertas. Por outro lado, as tecnologias que sugerem uma agricultura mais sustentável, voltada para uma produção compatível com as ofertas ambientais, ainda são restritas e somente serão viáveis, conforme recomenda a Agenda 21, 2000, se houver uma articulação de todos os setores da sociedade.

Atualmente, o lado mais forte desse embate tecnológico - que pode, nos próximos anos, definir o futuro do planeta - é o da utilização das tecnologias de precisão. Para se alterar este status quo são necessários muitos argumentos e estatísticas, ou talvez, a combinação de um acontecimento catastrófico, de dimensões globais.

Furtado (1998) argumenta que a modificação do perfil de distribuição de renda será tanto mais difícil quanto mais avançada for a globalização. Para o autor, a política econômica

l7Gaia, para Lovelock é a moderna expressão do superorganismo de Hutton, a Terra vista com o um sistema fisiológico único, uma entidade que se encontra viva pelo menos na medida em que tal, como em outros organismos vivos, nos quais a química e temperatura são auto regulados de forma que mantenha um estado favorável à vida (Lovelock, 1979).

brasileira deveria adotar, como objetivo estratégico, o crescimento do mercado interno, o que significa privilegiar os interesses da população. Talvez, como menciona o autor, o movimento em busca de terra e dignidade seja a única força social com capacidade de questionar a divisão e o tradicional uso da terra, no sentido de promover a formação de uma sociedade rural mais estruturada, que poderá enfrentar as poderosas organizações comerciais. Furtado, op. cit., adverte que o crescimento econômico deve ser visto como um meio de aumentar o bem-estar da população e de reduzir o grau de miséria.

Provavelmente, a humanidade se encontra em uma daquelas esquinas civilizatórias enunciadas por Buarque (1995). Para o autor, a evolução da espécie humana civilizada aconteceu por determinadas opções da sociedade, que vem decidindo qual o caminho a seguir. Essas opções conduzem a desdobramentos imprevisíveis. As Fotos 01, 02 e 03 ilustram as possibilidades de escolha que a geração do final do século XX tem em relação à forma de usar os recursos naturais para a produção de alimentos. Porém, do ponto de vista da eficiência econômica, é possível inferir, ainda que por algum tempo, um crescimento do setor com custos (econômicos) não ascendentes, ao contrário dos custos ambientais e sociais. A sustentabilidade econômica requer uma atividade competitiva, o que se encaixa perfeitamente ao perfil historicamente produtivista do país.

Faz-se necessária uma abordagem inovadora e criativa para as principais questões que envolvem produção e preservação dos recursos. Estamos em uma fase de transição, tanto de paradigmas, como de desenvolvimento humano. Para a agricultura, sugere-se alternativas - mesmo que com tênues diferenças em relação ao modelo em vigor - como plantio direto (sem utilização de pesticidas) e irrigação (gerenciamento de bacias), além da associação pecuária e lavoura, que podem favorecer futuros manejos orgânicos no solo, criando as diversidades necessárias em direção a um sistema mais sustentável. Adicionalmente, cabe destacar a importância de se valorizar a criatividade de agricultores que contemplam a escolha de produtos com preços competitivos direcionados a mercados específicos, como é o caso dos agricultores orgânicos. Acrescenta-se que as respostas às decisões de natureza política, definem as estratégias a serem seguidas no processo de desenvolvimento do país. Cabe ressaltar, que na natureza, diversidade é sinônimo de estabilidade, uma das propriedades da sustentabilidade. Assim, práticas agrícolas como rotação de culturas, multicultivos agrosilvopastoris e métodos orgânicos e minerais de produção caminham no sentido de se criar uma nova ordem, bem mais próxima das Içjs ecológicas de sustentabilidade.

F O T O 01 - D o is m o d e lo s de produção a g r íc o la . A parte su p e rio r da fo to rep resen ta um a fa z e n d a

o n d e o m o d e lo d e agricu ltu ra

in ten siva é p raticad o. N a parte

inferior, p e q u e n a p ro p rie d a d e,

co n d u zid a n o s m o ld e s da

agricultura fam iliar.

F O T O 02 - M o d e lo a g ríco la

in te n siv o . A v e g e ta ç ã o n ativa d o C errado d eu lu gar a e x te n sa área d e m o n o cu ltu ra , n e s te c a s o , de soja - P A D /D F

F O T O 03 - A gricu ltu ra fam iliar. A s a tiv id a d e s sã o d ese n v o lv id a s p e lo s m em b ros da fam ília. O uso d e tração anim al ain da é com u m e, d e m o d o geral, p reserva-se parte da v e g e ta ç ã o nativa.