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Os Fatores de Ordem Estrutural

No documento O POTENCIAL DO MAR PORTUGUÊS (páginas 151-154)

A TRANSFORMAÇÃO DO POTENCIAL ESTRATÉGICO

5. OS FATORES DE TRANSFORMAÇÃO DO POTENCIAL ESTRATÉGICO EM PODER NACIONAL NO ÂMBITO

5.2 Os Fatores de Ordem Estrutural

a) A gestão integrada dos assuntos do mar

Na atualidade, temos uma política pública para a regulação da pesca, outra para os transportes marítimos, outra para a náutica de recreio, outra para o ambiente, outra para a investigação científica, e assim sucessivamente. Estamos perante um modelo de governação setorial, com processos de tomada de decisão hierarquizados verticalmente, sendo preciso passar para estruturas

de decisão horizontais, em que exista uma dissociação entre políticas e tutelas públicas.

Por este motivo defendemos a ideia estratégica de adotar um modelo de governação integrada dos assuntos do mar, assente no desenvolvimento de políticas marítimas integradas que potenciem a exploração sustentada dos recursos naturais do mar, e que permitam minimizar as vulnerabilidades e evitar as ameaças82. Só desta forma será possível minorar a degradação ambiental

normalmente associada à exploração económica dos recursos marinhos. No entanto, os assuntos marítimos são de tal modo abrangentes que dificilmente todas as políticas do mar poderão estar concentradas numa só tutela ou num só ministério, não querendo isto dizer que não defendamos a existência de um Ministério do Mar. Quer isto dizer, isso sim, que a necessidade de articular as políticas marítimas com as restantes áreas de atividade deverá conduzir ao desenvolvimento de políticas integradas, que permitam, por exemplo, a articulação entre os transportes marítimos e os transportes terrestres (Cunha, 2011, pp. 53-58).

Para a coordenação de todos os assuntos do mar foi criada a CIAM, que deverá funcionar como um elemento agregador das diversas políticas setoriais, de modo a adotar uma política pública para o mar, transversal às várias tutelas.

A função executiva de apoio à CIAM incumbe à DGPM, que tem por missão acompanhar o desenvolvimento da Estratégia Nacional para o Mar, fazer recomendações no âmbito da política nacional do mar a ser prosseguida, ordenar o espaço marítimo, acompanhar o desenvolvimento da Política Marítima Integrada da UE e promover a cooperação nacional e internacional no respeitante aos assuntos do mar.

O modelo de governação deve privilegiar a clusterização económica e do conhecimento, para além de procurar simplificar e agilizar o licenciamento das atividades económicas ligadas ao mar, como forma de estimular o investimento nesta área.

Caso, conforme preconizado na Estratégia Nacional para o Mar 2013- -2020, consigamos alterar o paradigma de governação que tem sido seguido, estamos a atuar ao nível da estratégica nacional. A influência que este fator vai exercer nos outros elementos do Poder, creditam-no como um motor de transformação do potencial estratégico do mar nacional em Poder Nacional.

82 Cfr. anexo D.

b) O ordenamento do espaço marítimo

A visão da gestão integrada dos assuntos do mar traz consigo a necessidade de se promover o ordenamento do espaço marítimo, linha de ação que recomendamos como forma de fomentar o desenvolvimento económico e a exploração sustentada dos recursos marinhos. Procuramos, assim, usar as potencialidades para evitar as ameaças ou transformá-las em oportunidades83.

O mar deve ser encarado como um vetor de desenvolvimento que suporta diferentes usos e atividades, nomeadamente, entre outros, o transporte marítimo, o turismo, a construção e reparação naval, a náutica de recreio, a aquicultura, e a exploração de energias renováveis. Deste modo, é fundamental a existência de um plano de ordenamento que permita fazer face aos problemas resultantes das crescentes e concorrentes utilizações do espaço marítimo.

A nível nacional, os desenvolvimentos mais recentes no domínio do ordenamento do espaço marítimo, resultam da necessidade de consolidação do ordenamento jurídico estabelecido pela CNUDM, da extensão da Rede Natura 2000 ao meio marinho, do dever de salvaguardar os interesses nacionais em termos de recursos vivos marinhos, dos desenvolvimentos ao nível dos sistemas de vigilância e controlo da navegação, e do interesse em criar regimes de acesso aos recursos ainda não explorados.

A Estratégia Nacional para o Mar 2006-2016 identificava o planeamento e ordenamento espacial marítimo como um dos seus três pilares estratégicos. Para dar sequência a este desiderato, em dezembro de 2008, a CIAM incumbiu uma equipa multidisciplinar de iniciar os trabalhos conducentes à edificação de um Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo84. Na sequência destes

trabalhos, foram reconhecidos os usos e atividades, existentes e potenciais, que decorrem no espaço marítimo nacional.

Por sua vez, também a Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020 identifica o ordenamento do espaço marítimo nacional e a compatibilização das diferentes atividades que nele podem decorrer, como uma das ações fundamentais para a sua execução e para a criação das condições necessárias para o crescimento da economia do mar e a melhoria ambiental e social.

Nestas circunstâncias, a entrada em vigor da Lei de Bases do Ordenamento e da Gestão do Espaço Marítimo Nacional será um importante contributo para o incremento da economia do mar, na medida em que visa criar um quadro jurídico de compatibilização entre usos e atividades concorrentes. Espera-se,

83 Cfr. anexo D.

deste modo, alcançar um melhor e maior aproveitamento económico do meio marinho, promover a coordenação das ações entre as entidades públicas e privadas, e minimizar os impactos das atividades humanas no oceano (EMEPC, 2014, p. 38).

No âmbito do aproveitamento dos recursos naturais marinhos, devemos ver o ordenamento do espaço marítimo como uma oportunidade para reestruturar as estruturas logísticas existentes, de modo a que estas se tornem, simultaneamente, em polos de apoio à prospeção e exploração dos recursos dos fundos oceânicos, e à promoção do escoamento dos produtos provenientes desses mesmos fundos.

Assim, é necessário proceder a uma reestruturação e a uma especialização da rede portuária nacional, pois neste momento os portos nacionais apenas concorrem entre si, não existindo um único que seja servido por uma linha de caminho-de-ferro que projete, de forma eficiente, a mercadoria para fora do país. Estamos a falar de questões estratégicas que é necessário resolver, se quisermos ter a pretensão de colocar os nossos produtos no espaço europeu, surgindo, assim, o ordenamento do espaço marítimo como um fator propiciador da transformação.

Um bom Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo confere credibilidade ao Estado costeiro, acautela o acesso aos recursos, facilita a vigilância e o controlo do espaço, e desincentiva ambições de potenciais intrusos, com todas as vantagens que daí podem advir para a gestão deste espaço e dos seus recursos.

No documento O POTENCIAL DO MAR PORTUGUÊS (páginas 151-154)

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