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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.4 Fatores que afetam o desempenho de bovinos na cria e na recria

Em se tratando de sistema de produção de gado de corte, deve-se ter em mente as características que afetam o desempenho econômico e produtivo do rebanho.

Dentre essas características que causam maior impacto dentro dos sistemas de produção, tem-se as características inerentes aos fatores ligados a reprodução e de crescimento (CARVALHO, 2015).

Dentro do grupo das características reprodutivas, a distância genética entre as raças é um dos fatores que está altamente correlacionado com o aumento da produção na pecuária. De forma que, quanto maior for esta variabilidade entre as raças, melhor será as características produtivas da progênie obtidas mediante os cruzamentos (CARVALHO, 2018).

Ainda de acordo com Carvalho (2018), quando se utiliza os cruzamentos, tem-se como resultados a obtenção dos efeitos da heterotem-se, também conhecido por vigor híbrido, desta forma,

Sobre o ganho de peso, peso de carcaça, precocidade e outras características produtivas e, ainda sobre a carcaça, a heterose influenciará alguns de seus aspectos qualitativos, como acabamento, maciez e marmoreio (CARVALHO, 2018, p.13).

Dentro dos cruzamentos, quanto menor a herdabilidade maior será a heterose de determinada característica. Deve-se levar em consideração ao utilizar os cruzamentos visando maior produtividade que, atributos relacionados ao crescimento pós-desmama, como conversão alimentar ou composição de carcaça são de alta herdabilidade e, portanto, possuem baixo valor de heterose. Por outro lado, características como fertilidade, adaptabilidade assim como outros fatores ligados a reprodução possuem altos valores de heterose e baixa herdabilidade (CARVALHO, 2018).

Ao avaliar os resultados da progênie obtidos através dos cruzamentos entre touros Nelore, Aberdeen Angus e Brahman com vacas Nelore abatidos com idade

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média de 23 meses após 138 dias de confinamento, Sainz (2017), observou que os maiores pesos vivos e área de olho de lombo foram dos animais do cruzamento entre Angus x Nelore, seguidos por Brahman x Nelore e por fim, Nelore.

Ao observar o rendimento e gordura subcutânea, a progênie entre Angus x Nelore e Nelore tiveram valores estatisticamente diferentes, já a F1 Brahman x Nelore não foram observadas diferenças significativas quando comparada aos outros grupos nestas características (SAINZ, 2017).

Por fim, Maia (2018), ressalta que animais mestiços Angus x Nelore possuem uma maior espessura de gordura subcutânea bem como um menor diâmetro de fibra muscular esquelética.

Estas características de carcaça é que fazem com que o cruzamento entre Angus x Nelore seja atraente para o produtor como também para o consumidor, que por sua vez, busca uma carne de qualidade e saborosa.

Presente no grupo das características intrínsecas do crescimento, tem-se os ciclos produtivos do rebanho de corte, que de acordo com Willers (2017), são divididos em três ciclos, sendo eles:

O primeiro ciclo compreende a fase de cria, com a produção de bezerros ou garrotes que serão vendidos ou transferidos no desmame ou logo após o mesmo por volta dos 6 a 8 meses de idade;

O segundo ciclo é da recria, é a fase intermediária do processo produtivo de criação, neste período os bezerros ou garrotes serão os insumos e o novilho de tornará o produto final;

Por fim, têm-se o terceiro ciclo, a engorda, onde o novilho completará seu desenvolvimento até atingir a fase de boi gordo, onde terá condições para o abate.

Quando uma propriedade produtora de bovino de corte realiza as três fases exemplificadas acima, tal propriedade é considerada de ciclo completo, dentro da cadeia produtiva de carne bovina.

Dos três ciclos que compõem a criação de gado de corte, a fase de cria requer uma atenção maior, uma vez que é nessa fase que ocorre o desmame, onde bezerros são expostos a vários fatores estressantes, dentre eles, “a separação da mãe, acesso limitado ao úbere, privação de leite e mudanças em seu ambiente físico e social”

(SOUZA, 2020, p.2).

É nesta fase que os bezerros apresentam as mais altas taxas de ganho de peso, alcançando, em apenas sete a oito meses, até 45% do peso final de abate.

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Nesse contexto, ressalta-se a importância da oferta irrestrita de alimento de qualidade, bem como cuidados durante o processo de desmame, (OLIVEIRA FILHO, 2015).

Deve-se atentar para o fato que nesta fase ocorrem modificações dos mecanismos fisiológicos normais em bovinos, e o estresse pode levar a aumentos na suscetibilidade a doenças, níveis de cortisol plasmático e concentrações de proteínas de fase aguda, que se não contornada, influenciará negativamente as fases de recria e engorda (SOUZA, 2020).

Ainda de acordo com o autor:

O estresse promove alterações no metabolismo da glicose, pelo aumento da glicemia, devido à maior secreção do cortisol, que atua antagonicamente à insulina, diminuindo a entrada da glicose sanguínea nos tecidos periféricos (músculo e gordura), economizando-a para tecidos com elevada demanda (cérebro e fígado) (SOUZA, 2020, p.2).

Neste sentido, Enríquez (2011), ressalta que é necessário traçar estratégias que visem reduzir o sofrimento e as consequências negativas durante o desmame sobre o comportamento, desempenho e bem-estar.

De acordo com Oliveira Filho (2015), dentre as estratégias que podem ser utilizadas, tem-se o desmame lado a lado, esta técnica consiste em alocar por três dias as vacas em um pasto ao lado de seus bezerros, fazendo com que a separação seja menos estressante para ambos, consequentemente diminuindo as perdas produtivas

.

Outra alternativa amplamente utilizada é o contato prévio com o alimento sólido que será fornecido previamente ao desmame pode resultar na substituição gradual do leite por alimento sólido enquanto o animal ainda está em contato com a mãe, encorajando assim a independência da mãe o mais cedo possível (ENRÍQUEZ, 2011).

Assim, tem-se o sistema de creep-feeding que consiste em disponibilização de concentrado com elevado teor de energia e uma proteína de alto valor biológico, em cochos individuais, onde as vacas não possuem acesso (SENAR, 2018).

Este sistema, além de favorecer o contato com alimentos sólidos antes do desmame, reduz progressivamente a dependência nutricional e social dos bezerros (SOUZA, 2020).

Segundo o autor Romanzin et al (2018), em um estudo avaliando o efeito da suplementação no pós-desmame bem como suas consequências na fase de terminação, o mesmo relatou que animais alimentados com nível de suplementação 0,6% do peso vivo (PV) e mantidos em pasto com altura de 15 cm no pós-desmame,

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foi observado um ganho médio diário (GMD) igual a 0,66 kg/dia touro; animais alimentados com 0,3% do PV e mantidos em pasto de altura média de 25 cm, ganharam 0,45 kg/dia de touro, e animais alimentados sem suplementação, mas mantidos em pasto de alta altura, tiveram GMD igual a 0,22 kg/dia, (ROMANZIN, et al 2018).

Tais resultados ressaltam a importância da suplementação nas fases pré e pós-desmame, diminuindo as perdas produtivas durante essa fase.

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