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4 Apresentação e análise dos resultados

4.2. Caso 2 – Comercialização via intermediários: Orgânicos in Bo

4.2.3. Fatores que facilitam a comercialização

Certificação

A certificação é fundamental para a regularização da produção e do comércio dos alimentos orgânicos. Conforme mencionado no site do Planeta Orgânico, para atestar e garantir a qualidade do produto orgânico, existem três diferentes maneiras: certificação por auditoria, sistema participativo de garantia e controle social.

A sócia da Orgânico in Box (E7) enxerga a certificação como uma condição para o mercado de alimentos orgânicos. Ela menciona que o produtor podia apenas vender direto ao consumidor final, mas após a obrigatoriedade da certificação, o mercado expandiu e permitiu a venda de alimentos orgânicos em pontos de comercialização, como feiras, mercados e lojas.

O produtor (E9) cita que, dentre todos os mecanismos em conformidade com a lei de produção orgânica, a certificação participativa é a que possui um custo inferior, quando comparada às demais. Ele explica que o sistema funciona com vistorias periódicas, em que os membros do grupo fiscalizam as outras propriedades. Caso algum integrante infrinja uma regra, todos devem relatar à

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ABIO para que a instituição tome alguma atitude. Caso contrário, quando um membro é condenado e os outros não relatam a infração, todos os demais tornam- se coniventes e são punidos. Ele acredita que quando esses grupos são bem formados, a fiscalização é efetiva e o índice de fraude é pequeno, o que evita o corporativismo, situação na qual um membro evitaria prejudicar o outro.

Para o fornecedor (E8), a certificação participativa é fundamental, necessária e importante, pois o mercado de orgânicos precisa ser controlado e regularizado. Ele acredita que, por meio dos grupos formados no SPG, exista uma troca de experiências intensa e os agricultores se tornam responsáveis pela garantia dos produtos alheios e nos grupos ainda surgem oportunidades de negócios.

Já o produtor (E10), por sua vez, afirma que é certificado pela ABIO e que acha interessante a adoção da certificação para garantir credibilidade ao produto, mas enxerga a instituição ABIO ineficiente quanto à inspeção e às visitas.

Um custo que deveria ser menor comparado com as certificadoras...ele está hoje em torno de 70% do preço anual de uma certificadora de auditoria. Não manda ninguém auditar, não manda nenhum funcionário da ABIO fazer as vistorias, não presta consultoria, eu entendo que é um pouco caro. Eu entendo que por ser participativo, que de fato a instituição ABIO faz muito pouco pela certificação. (E10)

Mesmo sendo certificado pela instituição, ele relata o descontentamento com a organização e reclama sobre a falta de suporte, segundo ele:

Ela (ABIO) poderia ser uma centralizadora de produção, poder organizar demandas com mercados e restaurantes, e ela não faz esse papel. Para ser bem

sincero eu estou bem, insatisfeito com a ABIO. Eu estou satisfeito com o contato

com outros produtores, mas, a ABIO, como instituição, estou bastante insatisfeito, porque ela não dá nenhum suporte técnico e suporte de venda. (E10)

(E10) também afirma que o sistema participativo é mais eficaz que o sistema de auditoria porque cria uma rede entre os produtores, que se monitoram constantemente durante os encontros enquanto. Por outro lado,na auditoria, os auditores realizam visitas anuais. Ele relata que conheceu muitos produtores durante os grupos, o que é benéfico, pois os associados trocam experiências, conhecem fornecedores de insumos, comercializam os produtos dos outros membros e realizam mutirões por vontade própria para auxiliarem uns aos outros.

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Essas práticas reforçam os laços criados entre os membros e facilitam a fiscalização.

Com o sistema participativo, os produtores seguem algumas normas que são definidas pelo MAPA. A ABIO analisa e adapta as diretrizes e questiona aos agricultores sobre o método produtivo, a plantação e como ela é feita e os tipos de técnicas que são adotadas. Bimestralmente existem visitas e reuniões com outros produtores do seu grupo para que ocorram fiscalizações e discussões.

Durante a entrevista com (E10), ele também comentou que tanto o sistema participativo de garantia como a auditoria são mecanismos que podem ser burlados, devido à periodicidade das visitas. Ele afirma que, para a efetividade de ambos os sistemas, é necessário ter confiança entre os membros e que os próprios agricultores se organizam e realizam diversas atividades que não são obrigatórias. “A gente discute muito isso: porque vou ter um selo se trabalho na confiança?”

Custos e Preço

A sócia da Orgânicos in Box(E7) menciona que a falta de um comprador garantido faz com que o produtor de alimentos orgânicos não tenha escala de produção, o que torna os produtos orgânicos mais caros.

Ela afirma que a visibilidade dos alimentos orgânicos no Rio foi ocasionada pelas feiras e que, mesmo assim, o preço de referência da empresa não é baseado nisso. Ela afirma que o preço do feirante não é constituído por meiodo preço de custo de produção e relata que falta gestão por parte dos produtores. Para melhorar nesse aspecto, ela sugere a utilização de aplicativos de acompanhamento de gerenciamento de tarefas, como: quantidade de sementes utilizadas; tempo entre o plantio e a colheita; e quantidade de adubo utilizado. Quando foi perguntadas e o preço dos produtos vendidos no delivery são baseados na feira, ela respondeu que não.

Quando o produtor e fornecedor da Orgânicos in Box (E9) foi indagado sobre a precificação de seus produtos, ele respondeu que o preço de venda é baseado em práticas de mercado e práticas de custo de produção (que envolve o plantio, a manutenção, a colheita, o manuseio e o custo de entrega). Durante a

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conversa, ele exemplifica que, dependendo da região geográfica que ele entrega no Rio, o preço de venda do aipim varia devido ao baixo consumo de alimentos orgânicos na Baixada Fluminense, mas que apesar disso, os supermercados inseriram alguns alimentos na oferta de produtos. “Se você for num mercado da Barra da Tijuca, um Guanabara da vida, você vai ver que menos de 1kilograma de aipim descascado e embalado a vácuo orgânico custa R$19,00 o kilograma”. Na Baixada, “Esse mesmo material estaria sendo vendido por R$12,00”. Ele afirma que os mercados possuem a característica de remarcar, no mínimo, 100% da mercadoria.

Ademais, o mesmo produtor analisa a população brasileira e afirma que o preço dos alimentos orgânicos é um problema para 70% da população. Porém, essas famílias podem consumir gradativamente esses produtos, através de pequenas mudanças e escolhas mais saudáveis. Para os 30%, o preço não é um fator que impeça o consumo dessa categoria de alimentos.

Na perspectiva do consumo, a cliente de alimentos orgânicos (E11) menciona que além do preço, as questões relacionadas à rotina familiar também são uma barreira porque seus familiares consomem alimentos derivados da agricultura tradicional e ela é a única que valoriza alimentos livres de agrotóxicos. “Acaba dificultando um pouco porque eu que tenho que ir (comprar). Não é uma coisa tão comum dentro do meu ambiente.”

4.2.4 Estratégias Competitivas e Colaborativas usadas pelos