• Nenhum resultado encontrado

Fatores que ocasionam as dificuldades de aprendizagem

No documento patriciadesadiasdesouza (páginas 82-86)

2 DIAGNÓSTICO DA REPROVAÇÃO NO INSTITUTO FEDERAL DE

2.3 Fatores que ocasionam as dificuldades de aprendizagem

A dificuldade de aprendizagem está ligada ao processo de ensino em si. O aluno pode não conseguir compreender os conceitos devido a diferentes fatores, como: motivação pessoal, falta de conhecimento anterior que embase o novo aprendizado, pode estar envolvido em um conflito emocional que atrapalhe a concentração, pode possuir algum déficit cognitivo. Já no que tange o professor, a forma metodológica com que este aborda o conteúdo também influencia neste processo. O incentivo da família para que o discente estude em casa um determinado número de horas diárias também é necessário. O desequilíbrio de um destes fatores pode levar à dificuldade de aprendizagem. Há que se considerar neste processo o contexto socioeconômico do aluno também e outros fatores sociais que o discente não tem domínio.

Como o ensino médio é a etapa de conclusão da educação básica, nele o aluno vai aprofundar conteúdos inicialmente trabalhados no ensino fundamental e ao mesmo tempo o discente terá contato com disciplinas totalmente novas à sua vida acadêmica. Portanto, quando o aluno traz deficiências de ensino dos níveis

anteriores, as consequências são sentidas na última etapa da educação básica. Segundo Guerreiro (2012):

a reprovação no ensino médio depende também do aprendizado e da retenção no ensino fundamental. É necessário pensar pedagogicamente em como atender esse aluno com mais dificuldade, e não dizer que o jovem é "desse jeito mesmo" e que não há nada mais a fazer. "Isso significa pensar em como tratar esse aluno, como fazer a ponte entre o que sabe, o que não sabe e o que precisa saber" (GUERREIRO, 2012, p. 9).

A despeito de a educação escolar ir além do que pode ser testado em avaliações externas, os resultados insatisfatórios destas e suas implicações no ensino fundamental podem revelar algumas falhas educacionais. Jacomini (2009) tem uma contribuição sobre este tema.

Os resultados das avaliações realizadas pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica — SAEB — mostram que muitos alunos não estão se apropriando dos conhecimentos básicos ―ensinados‖ na escola. Acrescenta- se a isso o fato de a educação, como apropriação da cultura implicar em processos mais amplos e complexos que a aprendizagem de conhecimentos passíveis de serem verificados nesse tipo de avaliação. Dessa forma, pode-se supor que a qualidade da educação oferecida nas escolas brasileiras seja ainda pior do que as avaliações externas têm demonstrado (JACOMINI, 2009, p. 559).

No tocante aos fatores que colaboram para a baixa proficiência ou baixo desempenho escolar em avaliações externas há que se destacar a história familiar do discente relacionada à proficiência. Soares e Collares (2006) ressaltam que a proficiência é uma competência adquirida principalmente na escola, mas que a família influencia a atitude do aluno, além de desempenhar papel importante na escolha da escola do filho. Quando os pais se envolvem com a educação escolar dos filhos, atitudes positivas em relação à escola são mais frequentemente observadas. Tal atitude é diretamente proporcional ao capital cultural dos pais, o que também está relacionado com os recursos econômicos dos quais a família possui. Quando os pais dispõem de recursos para além de sua sobrevivência poderão disponibilizar aos filhos mais bens culturais e educacionais. Portanto, e ainda na visão de Soares e Collares (2006):

O atraso escolar é tomado como uma medida ainda que precária do desempenho prévio do aluno e é naturalmente influenciado pela estrutura da família e pelos seus recursos econômicos. A família conquista primeiro os recursos econômicos; a seguir, com as possibilidades geradas por esta

situação, algumas famílias adquirem bens culturais; tendo estas duas condições, dedicam tempo para acompanhar a vida escolar de seus filhos. Em particular, escolhem uma escola para seus filhos onde eles encontram colegas de famílias semelhantes. Além disso, refletindo o ambiente favorável da casa, os estudantes desenvolvem melhor atitude em relação à escola. Tudo isto resulta em maior proficiência em matemática. Por outro lado, os alunos defasados em sua trajetória escolar são filhos de famílias com recursos econômicos mais baixos e, além disso, por estar nesta situação, não recebem muita atenção de seus pais, conjugação de fatores que se reflete em graus ainda menores de desempenho (SOARES E COLLARES, 2006, p. 634-635).

Com relação aos fatores determinantes do desempenho, como verificado anteriormente, estes podem ser afetados por causas externas à escola, portanto, é preciso que os profissionais da escola tenham como concepção o princípio de que todos são capazes de aprender. De acordo com Tavares Júnior et al (2012), os fatores que influenciam no desempenho não são totalmente acadêmicos e nem apenas de domínio cognitivo. Um argumento favorável a tal constatação é que às formas de avaliação pode faltar fidedignidade. As estratégias de avaliação têm uma importância significativa dentro da escola. Nelas são definidos os critérios, o que pode refletir em um resultado de promoção ou retenção. Portanto, quando se observa falta de clareza em sua estruturação, isto é algo que influencia diretamente no desempenho discente e que deve ser objeto de atenção da equipe gestora. Barbosa (2011) ressalta em sua pesquisa com escolas de nível fundamental que a insistência em dar trabalhos individuais aos alunos durante a aula piora o desempenho nos testes aplicados nas áreas de matemática e linguagem. Para a matemática, a utilização de problemas concretos melhora o desempenho. Além disso, o incentivo a trabalhos em grupo apresenta resultados positivos. A escola utiliza com bastante frequência a prática do exame, que segundo Esteban (2013) não é capaz de entender os conhecimentos que o aluno utilizou para dar as respostas. O exame ou prova acaba sendo uma verificação de presença ou ausência de determinados conhecimentos adquiridos pelo aluno. Portanto, as práticas avaliativas precisam avançar e serem o mais variadas possível.

A política de progressão continuada ou parcial é uma das propostas que tem como objetivo principal a não fragmentação do processo de ensino-aprendizagem, ou seja, a adoção de práticas pedagógicas contínuas, progressivamente construídas, o que pode contribuir para a aprendizagem e minimizar as reprovações.

Segundo Jacomini (2009), ao contrário do que pensa o senso comum, a adoção da progressão continuada não diminui a qualidade da educação escolar. O que ocorre é que a não reprovação revela quem aprende e quem não aprende, portanto, a queda na qualidade pode se dar devido a um ensino sem os atributos necessários à aprendizagem e não pela implantação da progressão continuada ou falta da reprovação. No entanto, a autora alerta para os devidos cuidados com a implantação da política de ciclos:

Os ciclos só podem ser efetivamente implementados se houver uma mudança estrutural na escola, tanto em relação às condições materiais de funcionamento quanto em relação às concepções educacionais que subsidiam a ação dos educadores (JACOMINI, 2009, p. 564).

A história da organização escolar brasileira se deu em séries com presença da reprovação anual e a consequente homogeneização intelectual dos alunos e a uniformização de conteúdos, disciplinas e experiências de aprendizagem. Em virtude disso, a reprovação foi sendo aceita como algo naturalizado e até como uma segunda chance dentro do processo de aprendizagem. Segundo Jacomini (2009), no momento em que a educação passa a ser considerada como direito e o Estado passa a agir em favor da escolarização da população, faz-se necessário promover a universalização através da construção de uma escola baseada em um paradigma da inclusão social e não mais da exclusão através da repetência e evasão.

Dentro do contexto de inclusão social e de escola democrática, há que se pensar em práticas menos excludentes e a organização por ciclos (progressão continuada) ou a progressão parcial (dependências) responde com maior eficiência a esta nova realidade. Segundo Jacomini (2009), a seriação respondia com sucesso à concepção de educação como privilégio, que não é mais aceita neste momento histórico de reconhecimento da mesma enquanto direito fundamental do homem. A educação se tornou requisito básico para o acesso a um conjunto de bens sociais e por isso não pode ser concedida a apenas uma parcela da população, especialmente quando se verifica que muitos dos fatores que influenciam no baixo rendimento dos alunos não são passíveis de controle por estes sujeitos e suas famílias. Tavares Júnior et al (2012) corroboram com a ideia de que a repetência não melhora o desempenho do aluno e nem reduz as diferenças entre os discentes em sala de aula.

No documento patriciadesadiasdesouza (páginas 82-86)