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O grande crescimento da demanda por energia elétrica até 2050 no Brasil está evidenciado nos estudos governamentais e isto implicará em grandes investimentos. Entretanto, existem certos

fatores que poderiam adiar ou reduzir a urgência do atendimento desta futura demanda, caso o Governo Federal resolva incentivá-los. Alguns dos principais fatores são: a Eficiência Energética, a Geração Distribuída e a Smart Grid.

4.6.1 Eficiência Energética

A eficiência energética consiste em usar a energia elétrica com o melhor rendimento possível, reduzindo os desperdícios. As perdas energéticas no SEB chegam a cerca de 17%, segundo a EPE. De acordo com o Governo Federal, o principal programa do Brasil voltado para a eficientização energética é Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), criado em 1985, coordenado pelo MME e executado pela Centrais Elétricas Brasileiras (ELETROBRAS). Os resultados acumulados do PROCEL no período de 1986 a 2013 geraram uma economia total de 70,1 TWh. Com investimentos adequados em eficiência energética é possível economizar energia, reduzindo a demanda e adiando investimentos no SEB, pois haveria mais energia disponível oriunda da redução das perdas. O PROCEL também atua no incentivo às melhorias na eficiência energética de eletrodomésticos, fornecendo selos indicativos de consumo de eletricidade. Em termos de consumo residencial, os eletrodomésticos que mais consomem energia são: condicionadores-de-ar, chuveiros elétricos e ferros de passar roupa.

Apesar do PROCEL, o Governo Federal ainda não prioriza como deveria a eficiência energética no Brasil. Em 2014, o Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), publicou um estudo na qual chama a atenção de que, mesmo em meio a atual crise energética, o Brasil vive uma situação contraditória. O país aproveita menos de 30% de seu potencial de redução do consumo energético, mesmo tendo R$ 400 milhões em recursos disponíveis para o financiamento de projetos para economia de energia. São apontados como principais problemas: a necessidade de melhorar o fluxo de informações entre empresas e instituições financeiras e a dificuldade de destinar recursos próprios das empresas para projetos de eficiência energética.

Algumas indústrias têm investido em melhorias de eficiência energética nos últimos anos, principalmente objetivando redução de custos e superação das situações adversas de energia. Um exemplo é o uso de cogeração (produção simultânea de calor e eletricidade). Entretanto, segundo

Bermann et al. (2012), as indústria eletrointensivas (cimento, siderúrgica, ferro-ligas, não- ferrosos, química, papel e celulose), consomem muito, mas geram produtos de “baixo valor agregado” e, em grande parte, para exportação. Desta forma, cerca de 8% da energia elétrica brasileira é “exportada”, demonstrando falta de eficiência econômica e de políticas governamentais estratégicas para agregar maior valor à produção da indústria nacional.

De Gouvello (2010) sugere que o governo deveria adotar patamares de eficiência energética para os setores produtivos, com priorização de setores energo-intensivos e começando por segmentos mais ineficientes e de maior potencial de redução. Para tanto, a implementação destes patamares poderia viabilizar-se com acordos voluntários, e, em caso de não cumprimento das metas, posteriores multas ou punições. Bermann et al. (2012), comenta a necessidade de uma revisão das diretrizes adotadas pelo Governo Federal ao definir cenários futuros de demanda energética, uma vez que elas são basicamente feitas a partir de projeções de crescimento econômico medido pelo PIB e desconsideram questões essenciais como a eficiência energética e a destinação da energia.

4.6.2 Geração Distribuída

O Institito Nacional de Eficiência Energética (INEE, 2014) define Geração Distribuída (GD) como a geração elétrica realizada junto ou próxima do(s) consumidor(es) independente da potência, tecnologia e fonte de energia. A GD abrange: Cogeradores; Geradores que usam como fonte de energia resíduos combustíveis de processo; Geradores de emergência; Geradores para operação no horário de ponta; Painéis fotovoltaicos; Pequenos Aerogeradores; PCH's; entre outros. O conceito envolve, ainda, equipamentos de medida, controle e comando que articulam a operação dos geradores e o eventual controle de cargas (ligamento/desligamento) para que estas se adaptem à oferta/demanda de energia. As tecnologias de GD têm evoluído para incluir potências cada vez menores e é uma promissora tendência no mundo.

Em 17 de abril de 2012, a ANEEL editou a Resolução Normativa Nº 482 que regulamentou as condições gerais para o acesso de microgeração (até 100,0 kW) e de minigeração (de 100,0 kW até 1.000,0 kW) distribuídas aos sistemas de distribuição de energia elétrica, o sistema de compensação de energia elétrica entre outros elementos. Ou seja, foi criado um mecanismo de

sistema de medição líquida do fluxo de eletricidade (Net metering) para viabilizar a GD em residências, comércios e indústrias que queiram instalar sistemas próprios de geração de eletricidade ligada a rede elétrica das concessionárias distribuidoras brasileiras. Uma vez implantado este tipo de GD, ao final do mês, a energia gerada é abatida da conta de energia cobrada pela distribuidora. Em caso de haver mais geração do que consumo de energia, a distribuidora daria créditos futuros ou remuneraria este fornecimento de energia. Este processo só é viável por meio de um equipamento mais moderno de medição de energia, capaz de contabilizar bidirecionalmente o fluxo da eletricidade, ou por meio da instalação de dois medidores, na qual um medirá o fluxo de entrada e o outro o fluxo de saída da eletricidade.

Entretanto, ainda existem fatores dificultadores para a popularização do mercado de GD residencial, pois os equipamentos e serviços de instalação ainda são muito caros para as pessoas em geral, não existem linhas específicas de financiamentos ou estímulos governamentais atrantes de tarifas feed-in, o retorno do investimento é relativamente demorado e há incidência de ICMS sobre o net metering como se fosse uma operação comercial convencional. Cruz (2015) comenta que a GD encontra-se num estágio inicial de desenvolvimento no Brasil, mas tem um enorme potencial e necessita de ações e políticas epecíficas para se desenvolver.

Em abril de 2015, o Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ, 2015) editou o Convênio 16/15 para o ICMS incidente sobre a geração elétrica para minigeração e microgeração, permitindo que os Estados que desejem incentivar a energia solar possam conceder isenções ao cidadão autogerador de energia. Alguns estudos governamentais (EPE, 2014h) apontam um potencial fotovoltaico residencial de 287,5 TWh/Ano e de 32,8 GW médios no Brasil. Considerando que o consumo residencial foi de 124,9 TWh em 2013, a razão entre o potencial fotovoltaico e o consumo residencial deste ano seria da ordem de 230%. Desta forma, teoricamente, a GD teria condições de suprir plenamente a carga residencial e ainda gerar um excedente de 130% para a rede elétrica, caso fosse possível utilizar 100% dos telhados brasileiros. Isto indica um grande potencial mercadológico que, se for desenvolvido, poderia adiar ou reduzir parcialmente a necessidade de grandes investimentos em geração centralizada de energia para o SIN.

Segundo dados da ANEEL de 2014, mesmo depois da Resolução Nº 482/2012, somente 290 residências em todo o Brasil tiveram sua microgeração via painéis solares oficialmente

conectada à rede de energia, enquanto que, na microgeração eólica, o número de residências conectadas não chegou a 20. Outros estudos (EPE, 2014h e EPE, 2014i) apontam, por exemplo, que o mercado potencial de GD da fonte fotovoltaica atingirá uma efetiva viabilidade econômica somente entre 2021 e 2022, com o custo médio igualando-se a tarifa real média no valor entorno de R$ 450,00/MWh. Para 2050, a EPE (2014d) estima que até 13% da demanda residencial possa ser abastecida via GD solar. Entretanto, novas mudanças na legislação, aumentos tarifários, linhas específicas de financiamento e barateamento dos equipamentos possivelmente anteciparão a viabilidade econômica da GD, contribuido para sua popularização e um uso ainda maior até 2050.

4.6.3 Smart Grid

Outro aspecto estudado no Brasil e no Mundo é o conceito de redes inteligentes (Smart Grids), que eficientiza e racionaliza significativamente um sistema elétrico. De acordo com Galo (2014), uma rede inteligente supera em muito um sistema elétrico de potência convencional, pois reune tecnologias de telecomunicações, informações e automação por meio de vários dispositivos e sensores adicionais e medidores elétricos de duas vias.

No Brasil, os sistemas elétricos de potência, como um todo, estão defasados tecnologicamente, mas o SIN está mais avançado em termos de smart grid nas áreas de geração e de transmissão do que na área de distribuição da energia elétrica. A implantação de smart grid no Brasil provavelmente será “modularizada” por causa dos custos elevados e da aprendizagem tecnológica. Há necessidade de métodos adequados para definição de áreas prioritárias para implantação de projetos de smart grid. Até 2014, havia cerca de 180 projetos-piloto no Brasil envolvendo 63 empresas distribuidoras para avaliação de medidores eletrônicos. Dentre estes, segundo Moreira (2014), 4 projetos mais arrojados estão focados no conceito mais abrangente de cidades inteligentes (smart cities).