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2.4 Decisão em grupo

2.4.1 Fatores relevantes no estudo da decisão em grupo

Brodbeck et al. (2007) afirmam que, essencialmente, há duas perspectivas pelas quais a decisão grupal é melhor do que a individual. A primeira é que os grupos identificam e integram diferentes pontos de vista, sendo que esta função representativa e integradora traz resultados benéficos ao processo decisório. A outra refere-se ao fato de os grupos serem vistos como um meio para a combinação e integração de diferentes conhecimentos, idéias e perspectivas, gerando decisões e inovações de alta qualidade.

Assim, nota-se que o processo decisório em grupo é bem mais complexo do que o individual, dado que apresenta um maior número de pessoas responsáveis pela seleção da alternativa julgada “correta”. Desta forma, de acordo com Bosman, Hennig-Schmidt, van Winden (2006) alguns fatores específicos devem ser levados em consideração quando se

estuda este processo, sendo que os autores destacam os oito mais abordados na literatura da psicologia e da economia:

1. O problema de decisão - Segundo McGrath (1984) há quatro processos gerais de problemas de decisão, associados a oito tipos de tarefas que o grupo executa, representados por cada um dos quadrantes na Figura 03: (I) geração de alternativas, no qual são enquadradas tarefas de geração de planos (1) e idéias (2); (II) escolha de alternativas, que engloba a resolução de problemas com apenas uma resposta correta (3) e tarefas de tomada de decisão (4); (III) negociação, que abrange resolução de conflitos de ponto de vista (5) e de interesse (6); e (IV) execução, relacionado à resolução de conflitos de poder (7) e (8) à execução de tarefas de desempenho. Os quatro quadrantes não atuam isoladamente, estando bastante correlacionados. Cada uma das oito tarefas relaciona-se, naturalmente e de uma forma muito estreita, com as tarefas que se encontram próximas.

Figura 03 - Tipologia de tarefas em grupo Fonte: Adaptado de McGrath, 1984

Essa tipologia desenvolve-se segundo dois eixos: um na horizontal, que aponta para a dimensão cognitiva/comportamental, e outra na vertical, que define as tarefas em termos de conflito/colaboração.

2. A estrutura de decisão – Para Bosman, Hennig-Schmidt, van Winden (2006) esse fator está relacionado à forma de tomada de decisão, se os indivíduos decidem privativamente dentro de normas do grupo ou reúnem-se para tomar uma decisão conjunta.

3. A natureza dos outros decisores (grupos ou indivíduos) – De acordo com Bornstein (2003) há três casos a se considerar no processo de decisão de grupos quando se analisa a relação entre grupos e decisores: a) não cooperativos, onde é impossível de se encontrar um acordo ou uma ligação entre os decisores e/ou grupos, sendo que cada grupo (intergrupos) ou indivíduo (intragrupo) toma a sua decisão independentemente dos outros; b) semi- cooperativos, no qual os membros de um grupo podem tomar uma decisão relacionada à de outro grupo/indivíduo; e c) cooperativos, todos os membros (ou grupos) criam estratégias coletivas.

4. O tamanho do grupo – Rahim e Bonoma (1979) ressaltam a importância do tamanho do grupo. Para eles, quanto mais cresce o grupo, maior é o potencial de conflito. De modo geral, Davis (1973) afirma que à medida que aumenta o tamanho do grupo, são liberadas forças opostas, algumas das quais favorecem a produção do grupo, enquanto outras a dificultam. O autor recorda um estudo de Gibb (1951), o qual observou grupos que iam de “um” a 96 indivíduos, e verificou que o número de soluções apresentadas a uma tarefa de solução de problemas era uma função negativamente acelerada do tamanho. Ressalta ainda que “embora o grupo imediatamente maior apresentasse mais idéias do que o anterior, o aumento da produtividade era progressivamente menor com cada aumento de tamanho” (p. 77). Zander (1979) corrobora, afirmando que a maiorias das pesquisas que investigam o tamanho dos grupos têm encontrado que a performance do grupo tende a piorar, em uma tarefa, conforme aumenta o número de membros. Isso acontece, acrescenta o autor, devido ao fato de que em grupos grandes cada membro sente-se menos responsável pelo resultado final da decisão, não utilizando todo o seu potencial para ajudar na resolução da tarefa.

5. O meio de comunicação utilizado entre os decisores – Essa característica possui similaridade com a dimensão de Distância Temporal (Figura 2) apresentada por Jarke (1986). O autor discorre que as decisões podem ser tomadas face-a-face ou com intermédio de correspondência eletrônica ou convencional. Muitas vezes, as reuniões organizacionais tradicionais não são tão eficientes como deveriam, sugerindo que a tecnologia pode contribuir para sanar alguns problemas detectados, como o de a maioria dos membros não participar da reunião e o poder da palavra ficar com uma minoria, monopolizando decisões e prejudicando a escolha da melhor solução (NUNAMAKER et al., 1991).

6. Tipos de membros de grupo – A diversidade dos grupos de trabalho deve introduzir diferenças no conhecimento, perícia e perspectivas, que podem contribuir para que o trabalho do grupo tenha alta qualidade e soluções mais criativas e inovadoras (van KNIPPENBERG e SCHIPPERS, 2007). Adicionalmente, os grupos de trabalho agem de maneira menos

acelerada quando são homogêneos do que quando são mais diversos, entretanto os membros são mais satisfeitos e atraídos para o grupo quando ele é homogêneo. Christensen e Fjermestad (1997) apontam que a heterogeneidade do grupo aumenta a criatividade, pois a quantidade de informações trocadas é acrescida, bem como as perspectivas consideradas. Porém, grupos heterogêneos podem ter um tempo maior para decisão, devido ao aumento da probabilidade de haver conflitos entre os membros do grupo, o que diminui o consenso em relação a uma solução. Sobre a composição dos grupos, Keer, MacCoun e Kramer (1996) afirmam que grupos homogêneos e heterogêneos, freqüentemente, diferencia-se pelos traços de personalidade ou características demográficas. Entretanto, esses autores utilizam no seu estudo (1996) a distinção através da exposição dos indivíduos a determinadas informações pré-estabelecidas. Assim, àqueles grupos em que todos os membros foram expostos as mesmas informações são considerados homogêneos, enquanto os outros, que receberam diferentes quantidades de informações foram taxados como heterogêneos.

7. Distribuição dos indivíduos no grupos – Davis (1973) afirma que a forma como as pessoas estão dispostas no grupo altera a performance do mesmo. Segundo ele, pessoas que têm posições relativamente centrais tendem a aparecer como as que tomam as decisões e, de um modo geral, são reconhecidas pelo grupo como líder. Sumariamente, a centralidade da estrutura do grupo influencia não apenas na sua produção, mas também no processo social e na reação pessoal. Shaw (1964 apud Davis, 1973) comprova que a independência dos indivíduos é maior quando estão dispostos de maneira descentralizada, ou seja, não há um indivíduo localizado centralmente ao grupo, qualquer que seja a tarefa. Quando colocado em uma posição central, o indivíduo sente-se mais satisfeitos, entretanto, a satisfação global é maior em grupos descentralizados. Já no que concerne a eficiência do grupo, essa é maior nos centralizados quando executam tarefas simples, e nos descentralizados quando a tarefa for complexa.

8. A regra de decisão usada pelo grupo – Bosman, Hennig-Schmidt, van Winden (2006) salientam que é extremamente importante conhecer a regra que os grupos utilizam para chegar à decisão. Os autores salientam a regra da maioria (consenso) e da unanimidade. Nemeth (1977) afirma que se comparados grupos que devem alcançar a unanimidade com aqueles que têm de obter consenso entre a maioria, observa-se, nos primeiros, mais conflito entre os participantes, muitas mudanças de opinião, longo tempo para encontrar uma conclusão e mais confiança na exatidão dos veredictos. Essas regras implicam em uma gama de processos de influência social, a partir da simples conformidade até uma completa persuasão para a

aceitação de uma proposta feita por algum membro do grupo (KEER, MACCOUN e KRAMER, 1996).

A Figura 04 ilustra os fatores relevantes no estudo da decisão em grupo, com base em Bosman, Hennig-Schmidt, van Winden (2006).

Figura 04 - Fatores relevantes no estudo da decisão em grupo

Fonte: Elaborado pela autora com base em Bosman, Hennig-Schmidt, van Winden (2006)

Bosman, Hennig-Schmidt, van Winden (2006) salientam que além desses fatores ainda podem haver outros, visto que a tomada de decisão em grupo é um processo bastante complexo. Conforme afirmam os próprios autores, a decisão em grupo é fundamentalmente distinta da individual, visto que nela, por exemplo, deve-se lidar com o conflito de interesses para que se chegue ao resultado desejável.

Outro aspecto relacionado à decisão em grupo é o compartilhamento de informações. Nas reuniões organizacionais, por exemplo, participam pessoas de diversos departamentos, a fim de possibilitar que todo o grupo tenha acesso a diferentes fontes de informações para tomar decisões e estabelecer estratégias (BAZERMAN e CHUGH, 2006). Entretanto, a maioria dos grupos tem limites cognitivos para compartilhar a informação, sendo freqüente que os gestores discutam assuntos comumente conhecidos, falhando ao não dividir informações que não são de conhecimento geral. Cognitivamente, os executivos não vislumbram a importância de compartilhar sua informação própria e falham ao não buscar a informação particular dos colegas. O estudo deste fenômeno foi inicialmente desenvolvido por Garold Stasser e alguns colegas, e recebeu o nome de “hidden profile”.

Indivíduo

Grupo

O problema de decisão A estrutura de decisão Natureza dos decisores

Tamanho do grupo

Meio de comunicação Tipos de membros Distribuição dos indivíduos Regra de decisão Indivíduo Indivíduo Indivíduo Indivíduo Decisão Tarefa Indivíduo Grupo O problema de decisão A estrutura de decisão Natureza dos decisores

Tamanho do grupo

Meio de comunicação Tipos de membros Distribuição dos indivíduos Regra de decisão Indivíduo Indivíduo Indivíduo Indivíduo Decisão Tarefa Indivíduo Grupo O problema de decisão A estrutura de decisão Natureza dos decisores

Tamanho do grupo

Meio de comunicação Tipos de membros Distribuição dos indivíduos Regra de decisão Indivíduo Indivíduo Indivíduo Indivíduo Decisão Tarefa