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Não foram encontradas associações estatisticamente significantes (p <0,05) entre a colonização por MRSA e as variantes investigadas neste estudo. O valor de p para a variável idade foi 0,101 (Tabela 7). A frequência absoluta e relativa das demais variáveis qualitativas, tal como o valor de p, estão apresentadas abaixo (Tabela 8; Tabela 9).

Tabela 7 – Análise da existência de associação da variante idade como potencial fator de risco para a colonização por MRSA. Valor de p <0,05 para significância estatística (Teste de Mann-

Whitney)

Mediana da idade Valor de P

Ausência de MRSA 82

0,101

Presença de MRSA 71

Fonte: Autora

Tabela 8 – Características demográficas e hábitos pessoais como potenciais fatores de risco para colonização por MRSA. Valor de p <0,05 para significância estatística (Teste de Exato

de Fischer) Variável

Frequência absoluta (n) e frequência relativa (%) Ausência de MRSA Presença de MRSA Valor de

p Sexo Feminino 4 26,7% 3 20,0% 0,282 Masculino 7 46,7% 1 6,7% Etnia Branco 11 73,3% 3 20,0% 0,266 Pardo 0 0,0% 1 6,7% IMC

Abaixo do peso ou normopeso 7 46,7% 1 6,7%

0,282 Sobrepeso ou obesidade 4 26,7% 3 20,0% Escolaridade ≤ 8 anos 9 60,0% 3 20,0% 1,000 > 8 anos 2 13,3% 1 6,7% Tempo de instituição ≤ 5 anos 4 26,7% 4 26,7% 0,076 > 5 anos 7 46,7% 0 0,0%

Residir em outra ILPI

anteriormente Não 9 60,0% 3 20% 1,000 Sim 2 13,3% 1 6,7% Divisão do quarto Até 5 pessoas 7 46,7% 2 13,3% 1,000 Mais de 5 pessoas 4 26,7% 2 13,3% Banho diário Não 4 26,7% 0 0,0% 0,274 Sim 7 46,7% 4 26,7%

Troca de roupas diária

Não 6 40,0% 0 0,0% 0,103 Sim 5 33,3% 4 26,7% Tabagismo Não 7 46,7% 3 20,0% 1,000 Sim 4 26,7% 1 6,7% Etilismo Não 7 46,7% 4 26,7% 0,274 Sim 4 26,7% 0 0,0% Fonte: Autora

Tabela 9 - Condições de saúde e histórico médico como potenciais fatores de risco para colonização por MRSA. Valor de p <0,05 para significância estatística (Teste de Exato de

Fischer) Variável

Frequência absoluta (n) e frequencia relativa (%) Ausência de MRSA Presença de MRSA Valor de

p

Presença de doença crônica

Não 3 20,0% 0 0,0% 0,516 Sim 8 53,3% 4 26,7% Bronquite Não 9 60,0% 4 26,7% 1,000 Sim 2 13,3% 0 0,0%

Ins. Respiratória

Não 10 66,7% 4 26,7%

1,000

Sim 1 6,7% 0 0,0%

Ins. Vascular Periférica

Não 9 60,0% 3 20,0% 1,000 Sim 2 13,3% 1 6,7% Cardiopatia Não 8 53,3% 4 26,7% 0,516 Sim 3 20,0% 0 0% Doença desmielinizante Não 11 73,3% 3 20,0% 0,266 Sim 0 0,0% 1 6,7% Depressão Não 6 40,0% 2 13,3% 1,000 Sim 5 33,3% 2 13,3% Diabetes Não 10 66,7% 3 20,0% 0,476 Sim 1 6,7% 1 6,7% Hipertensão Não 4 26,7% 2 13,3% 1,000 Sim 7 46,7% 2 13,3% Osteoporose Não 10 66,7% 3 20,0% 0,476 Sim 1 6,7% 1 6,7% Parkinson Não 9 60,0% 3 20,0% 1,000 Sim 2 13,3% 1 6,7% Quimioterapia Não 10 66,7% 4 26,7% 1,000 Sim 1 6,7% 0 0,0%

Infecção nos últimos 12 meses

Sim 7 46,7% 4 26,7%

Tipo de infecção

Trato urinário ou

gastrointestinal 1 9,1% 2 18,2% 0,490

Trato respiratório ou pele 6 54,5% 2 18,2%

Antibioticoterapia últimos 12 meses Não 3 20,0% 0 0,0% 0,516 Sim 8 53,3% 4 26,7% Duração do tratamento 7 dias 5 41,7% 3 25,0% 1,000 Outro tempo 3 25,0% 1 8,3% Fonte: Autora

6 DISCUSSÃO

Este é o primeiro estudo a respeito da colonização por S. aureus e MRSA em uma população idosa institucionalizada do Estado de Santa Catarina e dos fatores de risco associados a essa colonização. O envelhecimento populacional traz consigo a necessidade de estudos para melhor atender as demandas de uma sociedade envelhecida. Com a projeção de crescimento da população idosa nas próximas décadas no Brasil (IBGE, 2018), nossas perspectivas são de aumento no número de ILPIs e no percentual de idosos institucionalizados no futuro. Por isso, ressaltamos a importância epidemiológica de estudos como esse, pois além da alta taxa de fragilidades associada a essa população (CARNEIRO et al., 2017), o envelhecimento biológico acarreta a diminuição geral das funções imunológicas (PFISTER; HERNDLER-BRANDSTETTER; GRUBECK-LOEBENSTEIN, 2006). A colonização por S. aureus é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de infecções por esta bactéria e a resistência a antimicrobianos tem grande relevância na morbidade e mortalidade em pacientes idosos (ZHANG et al., 2015).

Neste estudo, a taxa de idosos colonizados por S. aureus em algum momento ao longo das coletas foi de 60% (9/15). Essa taxa é bastante alta em comparação ao reportado por estudos publicados nos últimos cinco anos para a prevalência da colonização por S. aureus em ILPIs. Uma particularidade deste estudo, que o difere dos demais, foi a realização de múltiplas coletas (3) com intervalos determinados (34 dias) entre as mesmas. As coletas combinadas provavelmente resultaram em nossa alta taxa de colonização, pois permitiram detectar também as colonizações intermitentes (28,5%). De modo geral, em estudos de prevalência a coleta é pontual, ou seja, realizada em apenas uma ocasião, logo os dados reportados dizem respeito apenas aos indivíduos colonizados naquele momento, sem considerar a dinâmica envolvida na colonização. Desse modo, comparações da taxa resultante deste estudo com os dados reportados por estudos pontuais seriam inconsistentes. Por isso, afim de que fosse possível realizar comparações com os dados disponíveis acerca do tema na literatura mundial e do Brasil (SILVEIRA et al., 2018), reportados por estudos realizados com uma única coleta, reportamos também a média das três coletas que resultou em uma taxa de colonização por S. aureus de 37,3%. O único estudo publicado e realizado no Brasil contemplando a prevalência de S. aureus em ILPIs, contou com a participação de 300 idosos de nove instituições da cidade de Bauru (SP) e apresentou uma taxa de colonização por S. aureus de 17,7% (SILVEIRA et al., 2018). Em outro estudo, realizado na China, país em

desenvolvimento assim como o Brasil, participaram 491 residentes de sete ILPIs sendo reportada uma taxa de 18,3% de colonização nasal por S. aureus (ZHANG et al., 2015). Em comparação com esses dois dados, nossos resultados apresentaram uma alta prevalência de colonização por S. aureus, porém, diferente dos demais, nosso estudo apresenta como principais limitações o fato de ter sido realizado um uma única instituição e com um baixo número de participantes. Apesar dessas diferenças em relação aos dados de outro estudo brasileiro (SILVEIRA et al., 2018), nossa taxa de detecção está bem próxima ao reportado por outros realizado em ILPI na Alemanha, com 146 participantes (31,5% de colonização) e na Polônia, com 60 participantes (35,7% de colonização) (DRAYß et al., 2019; KASELA; GRZEGORCZYK; MALM, 2019). Além disso, nossa taxa de detecção se encontra no limite de colonização nasal estabelecida para a população geral, que pode variar de 30 a 40% (BECKER et al., 2017; KRISMER et al., 2017; TONG et al., 2015).

O padrão (status) de colonização nasal encontrado nesse estudo foi 28,5% dos indivíduos colonizados persistentemente e 28,5% colonizados intermitentemente. Taxa de colonização nasal permanente aproximada (20%) foi reportado por Stark et al. (2013) em ILPIs na Suécia. No presente estudo, 43% dos idosos foram classificados como não portadores, resultado que está próximo ao também encontrado (49%) por Stark et al. (2013). As taxas de colonização nasal persistente e intermitente e de não portadores reportadas nesse estudo estão próximas ao comumente esperado para a colonização nasal que é de aproximadamente 20% de indivíduos colonizados persistentemente, 30% intermitentemente, enquanto 50% são classificados como não portadores (WERTHEIM et al., 2008). A identificação de portadores persistentes é importante, haja vista que indivíduos colonizados persistentemente parecem apresentar maior risco em relação ao desenvolvimento de infecções, que são, na maioria dos casos, relacionadas à autoinfecção por S. aureus que estão colonizando as narinas do indivíduo (VAN BELKUM et al., 2009; WERTHEIM et al., 2008). ILPIs possuem características sociais e interativas típicas de instituições para idosos, como o compartilhamento de refeições, recreações, instalações terapêuticas e áreas comuns de convivência, que facilitam a disseminação de doenças. Além disso, ILPIs abrigam uma população naturalmente mais propensa a desenvolver infecções devido à senescência imune relacionada ao envelhecimento, multimorbidades e dependência de cuidadores em razão de condições de déficits cognitivos e funcionais, entre outros (DUMYATI et al., 2017). Além disso, carreadores persistentes podem transmitir a outros residentes ou para qualquer pessoa com o qual tenha contato, inclusive funcionários e visitantes. Portanto, o conhecimento e

controle dos portadores de S. aureus colonizados persistentemente são de grande relevância para evitar a disseminação e a infecção por S. aureus nessas instituições.

Em relação à prevalência de MRSA, a taxa de colonização entre os idosos participantes foi de 26,7% (4/15) e a média das três coletas resultou em uma taxa de 11,7%. A taxa de MRSA relatada no presente estudo é semelhante ao reportado para residentes de ILPIs em Galway (Irlanda), onde 17 dos 64 participantes (27%) foram positivos para MRSA, resultado obtido com a realização de coletas nasais a cada três meses por um ano (HARRISON et al., 2016). Estudo recente realizado com idosos residentes em ILPIs na China detectou uma prevalência de colonização por MRSA de 22,1% em coleta nasal realizada uma única vez. A coleta combinada de swab nasal e swab axilar neste estudo chinês elevou a taxa para 30,1% (CHENG et al., 2018). No Brasil, Silveira e colaboradores (2018) relataram uma taxa de 3,7% de MRSA em ILPIs de Bauru (SP). Apesar das diferenças no número amostral entre os dois estudos, é importante salientar que as taxas de MRSA em ILPIs variam amplamente em todo o mundo. Além disso, também podem variar significativamente entre as instituições dentro de um mesmo estudo. Em Hamburgo (Alemanha), a prevalência global de MRSA foi de 5,5% entre idosos residentes de ILPIs. No entanto, este mesmo trabalho reportou que as taxas de MRSA entre as instituições participantes não foram uniformes, variando de 0 até 11,9% (PETERS et al., 2017). Outros estudos recentes vêm evidenciando grande variação na prevalência de MRSA em ILPIs. Em 2019, Latour e colaboradores relataram a detecção de 9% de MRSA em idosos institucionalizados na Bélgica. Em 2016, Mckinnell e colaboradores reportaram uma alta taxa de colonização por MRSA de 26% entre residentes de ILPIs na Califórnia (Estados Unidos). O mesmo grupo, em estudo realizando coletas combinadas em diferentes sítios, relatou que 41% dos idosos estavam colonizados por MRSA. A coleta em diferentes sítios contribuiu para a maior detecção dos portadores (MCKINNELL et al., 2019).

Apesar da alta taxa de detecção de MRSA reportadas nesse estudo, ainda é necessário considerar que essas taxas possam estar subestimadas visto que, apesar de termos realizado três coletas com intervalos regulares, o que contribuiu para a detecção de um maior número de indivíduos colonizados, um único sítio foi amostrado (fossas nasais). As fossas nasais são consideradas o local onde mais comumente S. aureus é encontrado (POLLITT et al., 2018), no entanto, a colonização também pode ser detectada com relativa frequência em outros locais como orofaringe, pele, axilas, virilha e região perianal (SAKR et al., 2018). Trato gastrointestinal e vagina também têm sido reportados (KATES et al., 2018; PIERSON

et al., 2018). Estudo realizado com indivíduos da comunidade, de Los Angeles e Chicago (EUA), relatou aumento de 48% de detecção de S. aureus e 51% de MRSA, quando além da cultura de amostra nasal avaliou-se também a colonização de orofaringe e região inguinal (MILLER et al., 2012). Diversos outros estudos demonstram que a coleta combinada em dois ou mais sítios resultam em significativa elevação das taxas de prevalência de S. aureus e/ou MRSA (AAMOT et al., 2018; ALBRECHT et al., 2015; EELLS et al., 2015).

Em geral, no Brasil, as taxas de MRSA isolados em ambiente hospitalar e ambulatorial, estão em torno de 29% (JONES et al., 2013; SILVEIRA et al., 2015). O Estado de Santa Catarina parece diferir substancialmente das demais regiões do país por apresentar taxas baixas, que variam de 4 a 8% de MRSA oriundos de amostras de infecção, pelo menos na região de Florianópolis e Blumenau, de acordo com um único estudo publicado por Silveira e colaboradores em 2015. Assim, embora a detecção de MRSA nesse presente estudo fosse esperada devido às condições de contato próximo entre os residentes e as demais características frequentemente encontradas em uma população idosa institucionalizada (tal como alto índice de morbidades, percentual de infecções elevado, utilização de antimicrobianos e uma menor proporção de cuidadores/enfermeiros por indivíduo quando comparado a um ambiente hospitalar; JUMP et al., 2018), esperava-se encontrar uma taxa de detecção menor para MRSA na instituição catarinense quando comparada a outras regiões brasileiras. No entanto, não dispomos de dados epidemiológicos brasileiros randomizados que permitam investigações e comparações mais precisas, principalmente com relação à população idosa.

Embora nenhum dos idosos participantes do estudo tenha sido internado em instituição de saúde nos últimos 12 meses, está bem documentado que hospitais podem ser uma via de disseminação de microrganismos para a comunidade e ILPIs (HSU et al., 2019). Harrison e colaboradores (2016) demonstraram, em dois contextos geográficos diferentes (Irlanda e Reino Unido), que os isolados MRSA em ILPIs estavam intimamente relacionados a isolados hospitalares de MRSA. Portanto, é possível que internações hospitalares de residentes não participantes do estudo estejam alimentando a taxa de MRSA nessa instituição, pela aquisição de MRSA do ambiente hospitalar e posterior disseminação. A possibilidade de estar ocorrendo transmissão horizontal também deve ser levada em consideração, visto que estudos revelaram que indivíduos que residem nos mesmos domicílios tendem a transportar e transmitir linhagens geneticamente semelhantes em suas narinas (HARRISON et al., 2016; SAKR et al., 2018). De todo modo, em razão de não termos realizado análises filogenéticas

das amostras, não foi possível identificar se nossos dados refletem uma situação de surto e qual a rota de transmissão dentro da instituição e para fora desta.

A comparação da taxa de prevalência de S. aureus e MRSA em ILPIs é dificultada devido aos resultados divergentes apresentados na literatura, que podem ser atribuídos à metodologia aplicada na coleta das amostras, à política de controle de microrganismos de cada região ou instituição, e principalmente às características culturais e específicas de cada instituição e seus residentes, que podem ser muito variáveis.

A taxa de utilização de antimicrobianos entre os idosos participantes desse estudo foi alta, o que pode estar contribuindo para a resistência antimicrobiana. Dentre 15 idosos, 12 (80%) fizeram o uso de antimicrobianos nos últimos 12 meses. A taxa de utilização de antimicrobianos em ILPIs geralmente é alta e motivo de preocupação (DANEMAN et al., 2015; NGUYEN; TUNNEY; HUGHES, 2019). Sugere-se que cerca de 70-75% dos idosos residentes por seis meses ou mais em instituições utilizarão ao menos um antimicrobiano nesse período (CRNICH et al., 2015; JUMP et al., 2018). Estima-se que quase metade dos antimicrobianos é prescrito desnecessariamente ou por um período maior do que o necessário (CRNICH et al., 2015). Em uma metanálise, Costelloe e colaboradores (2010) apontaram que quanto maior o tempo de tratamento com antimicrobianos ao qual o paciente foi exposto na atenção primária, maior é a probabilidade de serem isoladas bactérias resistentes. Além disso, foram relatadas taxas altas de prescrição de antimicrobianos de amplo espectro em ILPIs (NGUYEN; TUNNEY; HUGHES, 2019). Esse cenário aumenta substancialmente a chance de idosos residentes em ILPIs desenvolverem infecções subsequentes ao uso do antimicrobiano, além de uma maior probabilidade de desenvolvimento de resistência antimicrobiana entre os residentes (CRNICH et al., 2015).

No total, 11 entre os 15 (73,3%) participantes relataram ter desenvolvido algum tipo de infecção nos últimos 12 meses, sendo a infecção do trato respiratório a mais frequente (36,4%). Entre as doenças crônicas, a bronquite foi descrita para dois (13,3%) participantes. Existem mudanças que ocorrem no trato respiratório em decorrência do envelhecimento e prejudicam os mecanismos de defesa do hospedeiro como diminuição do reflexo de tosse e vômito, redução da força muscular respiratória e diminuição da depuração mucociliar, que facilitam a infecção do trato respiratório (JUMP et al., 2018). A pneumonia e a bronquite, infecções do trato respiratório inferior, são uma das principais causas de morbimortalidade entre idosos (JUMP et al., 2018). Em humanos, é provável que a pneumonia adquirida na comunidade decorra da aspiração de bactérias colonizadoras nasais (GROUSD, RICH E

ALCORN, 2019). Sabemos que a colonização por S. aureus é um fator de risco para a infecção. Em indivíduos com colonização nasal ou orofaríngea por S. aureus, internados em uma unidade de terapia intensiva, foi relatado um risco 15 vezes maior para o desenvolvimento de pneumonia estafilocócica (PALING et al., 2017). Além disso, nos últimos anos, S. aureus vem emergindo como patógeno em pneumonias adquiridas na comunidade, sendo estas geralmente graves e exigindo cuidados médicos intensos em até 81% dos casos (GROUSD, RICH E ALCORN, 2019). S. aureus, além de ser o patógeno primário causador da pneumonia, ainda pode se oportunizar de uma infecção viral existente causando uma pneumonia secundária, que é potencializada devido aos danos teciduais induzidos pela infecção viral (DEINHARDT-EMMER et al., 2019; GROUSD, RICH E ALCORN, 2019).

Recentemente, alguns potenciais fatores de risco para a colonização por S. aureus e MRSA em idosos residentes em ILPIs foram relatados, tais como hospitalização prévia, uso de macrolídeos, de betalactâmicos e de cloranfenicol, infecção cutânea, dispositivos médicos como cateteres, entre outros fatores (BATINA; CRNICH; DÖPFER, 2017; GU et al., 2016; PÉREZ-ESLAVA et al., 2019; PETERS et al., 2017). No Brasil, Silveira e colaboradores (2018) relataram como potencial fator de risco para colonização de S. aureus e MRSA em ILPI, a idade e internação hospitalar recente. No entanto, o presente estudo não mostrou diferenças estatisticamente significantes (p < 0,05) entre os portadores e não portadores de S. aureus ou MRSA para nenhuma das variáveis avaliadas. Em nosso estudo, a relação entre internação hospitalar recente e a colonização não pode ser testada, pois entre os participantes, nenhum relatou internação nos últimos doze meses. É possível que a falta do estabelecimento dos potenciais fatores de risco para a colonização por MSSA ou MRSA entre os participantes da ILPI deste estudo esteja associada ao baixo número amostral e também à homogeneidade das características dos residentes participantes, visto que estes apresentam hábitos de vida muito similares.

Devido à alta taxa de colonização de S. aureus e MRSA reportadas para a instituição em estudo, que estão associadas ao aumento do risco de disseminação e do desenvolvimento de infecções, recomendamos que sejam adotadas medidas de controle e prevenção de infecções na Instituição. Controlar a transmissão de S. aureus e MRSA em ILPIs é um desafio, pois medidas de precaução de contato como isolamento, aplicada em hospitais e outras instituições de assistência à saúde, são menos viáveis, uma vez que as ILPIs assumem a função de lar para os idosos, portanto buscam ser um ambiente familiar para os moradores, estimulando a interação e o convívio entre os residentes (PINELES et al., 2017). No entanto,

outras medidas podem ser adotadas para diminuir a disseminação, por meio de estratégias que visem diminuir a prevalência de S. aureus e MRSA na instituição, como a triagem de residentes colonizados, descolonização ou redução da carga bacteriana. Embora a mupirocina seja atualmente a opção mais estudada e eficiente na descolonização nasal (SEPTIMUS, 2019), inclusive sendo aplicada com sucesso na diminuição da taxa de prevalência de MRSA entre residentes de ILPI (BERGEN et al., 2015; SCHORA et al., 2014), estudos vêm demonstrando que o uso disseminado de mupirocina por longos períodos aumentou a taxa de isolados resistentes a esse antibiótico, não sendo recomendado seu uso rotineiramente (DADASHI et al., 2019; SEPTIMUS, 2019). Portanto, alternativas não antibióticas devem ser pensadas, como a utilização de antisséptico nasal a base de álcool, que reduz a carga bacteriana de S. aureus (SEPTIMUS, 2019; STEED et al., 2014), diminuindo os riscos de autoinfecção e transmissão. Além disso, antissépticos a base de álcool atualmente não possuem mecanismos conhecidos que contribuam para a resistência microbiana (CHRISTIE et al., 2020). Por esse motivo, seu uso em indivíduos colonizados pode ser uma alternativa para utilização em instituições de cuidados prolongados como ILPIs. Porém, mais estudos são necessários para avaliar o impacto da utilização deste produto de forma rotineira (STEED et al., 2014). A combinação das estratégias citadas anteriormente (triagem e descolonização ou redução da carga bacteriana direcionada aos idosos colonizados) e maiores cuidados com a limpeza do ambiente, podem contribuir para reduzir a transmissão de S. aureus em ILPIs. Peterson e colaboradores (2017) demonstraram que essas estratégias resultaram em diminuição de infecções por MRSA entre os residentes de ILPIs, sem a necessidade de isolamento. A implantação de um protocolo de higiene das mãos para residentes, cuidadores e profissionais em contato direto com os residentes também é importante, visto que os profissionais da saúde são importantes na disseminação desses microrganismos (BERGEN et al., 2015). Estudos que avaliaram a transmissão de MRSA para vestimentas e luvas de cuidadores e profissionais da área da saúde que trabalhavam em ILPI, demostraram que a contaminação das luvas foi superior à das vestimentas e ocorreu após atividades corriqueiramente realizadas por esses profissionais em lares de idosos, como vestir, realizar a higiene, troca de roupa de cama, auxílio para uso do banheiro, entre outros, demonstrando que as mãos tem um papel importante na disseminação de MRSA dentro dessas instituições (PINELES et al., 2017; ROGHMANN et al., 2015). Devido à configuração de “casa compartilhada” de instituições de longa permanência para idosos e sabendo que a transmissão de S. aureus e MRSA pode ocorrer também por contato direto com objetos contaminados

(LOPEZ et al., 2014), a limpeza aprimorada de superfícies nessas instituições é importante para reduzir a disseminação (CHEATHAM et al., 2019). Foram coletadas amostras de superfícies de ILPIS em Ohio tendo sido reportado 20,1% de prevalência de MRSA e 8,5% de MSSA. As áreas que eram tocadas com maior frequência por enfermeiros apresentaram maior taxa de contaminação, como teclados, pastas e carrinhos de enfermagem. Outras áreas de contaminação frequente foram apoio de braço de cadeiras de rodas utilizada no transporte de residentes, barras paralelas para apoio de caminhada e equipamentos de exercícios manuais na sala de fisioterapia, entre outros (CHEATHAM et al., 2019). Diversos estudos avaliaram a eficácia de produtos de limpeza e desinfetantes de superfície na diminuição de patógenos, relatando que a limpeza e desinfecção diminuem a contaminação bacteriana ambiental e, por conseguinte, contribuem para redução das infecções relacionadas ao ambiente de saúde (LEI; JONES; LI, 2017; LOPEZ et al., 2014; RUTALA et al., 2018).

Em relação aos fatores limitantes deste estudo, consideramos como um dos principais o baixo número de amostras de uma única instituição, devido à baixa taxa de participação (26,8%; 15/56) por parte dos residentes do Lar de Idosos Irmão Erasto. Em sua maioria (73,2%; 41/56), os idosos dessa instituição são tutelados devido a condições de demência ou outras doenças igualmente incapacitantes, não sendo recomendada a participação dos mesmos neste tipo de pesquisa. Apesar de o número amostral de 15 participantes ter sido considerado representativo estatisticamente, não é possível concluir com precisão que a taxa de colonização será a mesma considerando toda a população residente no local. Além disso, trata-se de um estudo não randomizado, pois não foi possível aferir a prevalência de S. aureus

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