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Fauna de foraminíferos e tecamebas bioindicando a variação de salinidade da área.

Significado Ambiental Espécies de Tecamebas Referências Indicadores de ambiente

7.22.2 Fauna de foraminíferos e tecamebas bioindicando a variação de salinidade da área.

Levando em consideração que os organismos habitam ambientes com características específicas em relação aos fatores abióticos e, devido a existência dos organismos vivos, foi possível sugerir a variação de salinidade para o momento da coleta no ambiente. Os dados interpolados estão relacionados com as espécies vivas presentes em cada amostra que formam os perfis.

Em cada amostra foram selecionadas espécies vivas, tanto de foraminíferos quanto de tecamebas, que foram consideradas autóctones. Essas mesmas espécies foram catalogadas de outros ambientes estuarinos onde haviam indicações de salinidade. Com uma média desses trabalhos foi possível indicar desta forma a possível salinidade para o ambiente no momento da coleta. Vale ressaltar que em outros ambientes ocorrem descargas fluviais, oscilações da maré e morfologia estuarina diferenciadas. Devido a esses fatos, é uma possível sugerir uma variação de salinidade e não uma confirnação da mesma. Para confirmação desta variação de salinidade, faz necessário que ocorrão concomitantemente as coletas de sedimentos de fundo e medições deste fator. Ficando claro desta forma que só ocorreu à utilização dos organismos, foraminíferos e tecamebas, para essa sugestão (bioindicação).

Desta interpolação de dados foram excluídos os foraminíferos plactônicos, por três fatores, i) não se apresentavam corados; ii) esses foram considerados espécies alóctones; iii) os espécimes apresentavam-se bastantes polidos (bioindicando transporte na área através da maré oceânica).

Conforme a distribuição dos foraminíferos e tecamebas, quanto à salinidade, subdivide o estuário em zonas ecológicas distintas (Fig. 37). Na primeira bem definida, formando uma ambiente mixohalino, onde pode ser encontrada uma grande variedade de foraminíferos calcários hialinos e tecamebas do gênero Difflugia e Centropyxis; Na segunda zona, ambiente oligohalino com aporte de água doce constante, onde pode ser encontrada uma diversificada fauna de tecamebas e foraminíferos adaptados a esse ambiente, que pode ser : calcários hialinos ou aglutinantes.

Vale ressaltar que no perfil # 5, houve uma diminuição do número de espécies de foraminíferos e um aumento considerável do número de espécies de tecamebas. A espécie

Cochliopodium pellucidum (presente no perfil # 5, amostra 113, espécie comum de ambiente

fluvial), apresenta reproduzindo-se (Estampa 8, Figs. 9, 9a, 9b, 9c e 9d), e todos os indivíduos estavam corados.

Fig. 47: Representação gráfica da distribuição dos organismos vivos, foraminíferos e tecamebas, inferindo as possíveis variações de salinidade ao longo dos perfis amostrados no momento da coleta.

8. DISCUSSÃO

Os dados obtidos sobre a quantificação total dos foraminíferos e tecamebas, em cada perfil, mostram que existem microambientes propício para o desenvolvimento desses protozoários. Nos perfis # 1, # 4, # 6 e # 8 apresentam representatividade significante de foraminíferos sugerindo adaptação para esta ordem. Contudo, em relação as tecamebas, a representatividade significante no ambiente estudado se localiza nos perfis # 4, # 5 e # 7. Desta forma pode ser inferido microambientes diferenciados para as duas biotas, existindo um único microambiente em comum, perfil # 4, onde as variáveis ambientais permitiram o desenvolvimento de ambas as ordens. Vale resaltar que em relação à presença das tecamebas, nos perfis supracitados, pode sugerir a constante presença do aporte de águas fluviais, já que se trata de organismos habitantes de ambiente oligohalino.

Tendo em vista a oscilação da maré, e os possíveis tipos de transporte pelos quais passam as testas de foraminíferos e tecamebas em direção à Baía, é que podemos inferir o índice alto de espécies acidentais tanto para foraminíferos como para tecamebas, 60% e 47% respectivamente. E tendo como provável causa para a presença de Miliolídeos e Globigerinas, isso devido ao fato de representantes destas subordens apresentarem testas mais robustas, o que permite que os mesmos resistam por mais tempo ao desgaste causado pelos processos de transportes. De acordo com Thomas & Schafer (1982) as testas mais robustas tendem a resistir com maior freqüência e por mais tempo ao desgaste, conseguindo assim uma distribuição mais ampla de que as formas frágeis.

Masselink et. al. (1999) e Anjo et. al. (2001), inferem que as testas, em bom estado de conservação e retrabalhada, sugerem que os sedimentos são transportados para a área do estuário a curta distância. Ainda segundo o primeiro autor, as concentrações altas de fragmentos de testas de foraminíferos aglutinantes em determinada área indicam fortes correntes. Fator confirmado pelos valores de correntes apresentados por Genz & Lessa (2002) na área amostrada e pelo alto índice de fragmentos de aglutinantes nos perfis # 1, # 4, # 6, # 7, # 8 e # 10. Martin & Liddell (1988) relatam

que as testas das espécies aglutinantes podem aumentar em quantidade em ambientes de baixa energia e de granulometria fina.

Segundo Closs (1962), às zonas com maiores correntes mostram faunas pobres, enquanto que as amostras de zonas protegidas pela topografia dos arredores, apresentam riqueza extraordinária de foraminíferos. Contudo, as tecamebas apresentam um padrão nítido de variação espacial de riqueza devido às diferenças do fluxo da corrente, ou seja, maiores em ambientes lóticos, e menores em ambientes lênticos (Bonecker et. al. 2000). Nas regiões deste ambiente onde o fluxo da corrente é maior ocorre uma boa representatividade desses organismos, haja vista esses resultados serem comumente encontrados em ambientes lóticos (Lansac-Töha et. al. 1997; Velho et. al. 1999), com maior velocidade de água, visto que esse grupo é associado ao sedimento, e o fluxo promove a ressuspenção do mesmo para a coluna de água, propiciando assim o bom desenvolvimento para as tecamebas devido a disponibilidade de alimento.

Nas amostragens realizadas, a baixa ocorrência de foraminíferos planctônicos deve-se, provavelmente, ao fato destas formas preferirem ambientes estenohalinos e com maiores profuntidade. Esses organismos apresentavam-se bastante polidos e por esse motivo foram considerados indivíduos alóctones. De acordo com Boltovskoy & Whight (1976) as assembléias de foraminíferos planctônicos aumentam em águas profundas e estenohalinos. Os poucos espécimes presentes na área devem ter sido transportados pelas correntes existentes.

A baixa representatividade de Textulariídeos pode está associada ao fato de que seus representantes normalmente não habitam ambientes de correntes fortes, provavelmente devido ao fato desses organismos apresentarem a necessidade de ambientes lênticos e com sedimentos finos para formação de suas testas. Segundo Duleba et. al. 1999a, quando as intensidades das correntes diminuem, não ocorre remobilização da matéria orgânica do fundo, permitindo o estabelecimento de condições ideais para o desenvolvimento de espécies aglutinantes, como é o caso dos Textulariídeos. Deste modo, essa família é mais freqüente em regiões costeiras onde as condições ambientais são favoráveis para o desenvolvimento das espécies que as compõem, destacando principalmente os fatores da hidrodinâmica local e a salinidade. Segundo Eichler et. al. 1996, os foraminíferos aglutinantes são relativamente mais abundantes em salinidade mais baixas, e diminuem em abundância relativa quando há um aumento de salinidade, características pouco tolerantes pelas formas calcárias. Contudo, em relação aos Textulariídeos, além da disponibilidade dos sedimentos e da hidrodinâmica, o fator salinidade parece ser preponderante, Leipnitz et al. 2001

fazem inferências que esse grupo desaparece quando ambiente sofre variação de mixohalino para oligohalino.

Analisando – se a fauna encontrada ao nível de subordens observamos a ocorrência de foraminíferos das subordens Rotaliina (49%), Trochaminnina (21%), Haplophragriina (19%), Textulariina (5%), Lagenina (2%), Milioliina (0,48%), Globigerina (0,18%). Dentre estas subordens, a subordem Rotaliina predominou nos perfis # 3, # 4, # 5, # 6, # 7, # 8, # 9 e # 10, seguidas pelas subordens Trochamminina e Haplophragrinna.

Os dados obtidos sobre os parâmetros texturais do sedimento mostram que a distribuição dos sedimentos na área esta fortemente correlacionada à hidrodinâmica do ambiente (Carvalho 2000; Gomes 2002). Ocorre uma predominância no local de sedimentos fluviais devido a influência do Rio Paraguaçu que também influência diretamente na variação da salinidade.

Quanto a granulometria dos sedimentos, a fração cascalho é encontrada em pontos isolados, indicando microambiente de alta energia apresentando desta forma ambientes lóticos, que propiciam o desesnvolvimento das tecamebas.

A fração areia média, predominante em toda a área de estudo, não evidencia qualquer padrão característico de distribuição. A dominância desta pode ser explicada pela forte atuação de processos hidrodinâmicos, uma vez que se trata de um ambiente com oscilação diária da maré. Exceções são feitas às zonas com batimetria próxima a zero, onde é praticamente nula a ação das correntes.

A fração lama, assim como a fração areia, não mostra nenhum padrão de distribuição. Sua ocorrência com teores bastante elevados em algumas amostras, e sua constituição predominantemente de material biogênico pode ser explicada pelo fato das amostragens terem sido efetuadas muito próximas a ambientes de mangue, uma zona que apresenta inúmeros canais, com batimetria variada, que servem de armadilha para o sedimento lamoso, impedindo que o mesmo seja levado pelas correntes atuantes na área.

Utilizando uma análise comparativa entre as características sedimentológicas acima citada, e a fauna de foraminíferos presente na área, pode-se notar que as relações destes organismos com o sedimento são fortes. No entanto, analisando-se a distribuição espacial da fauna estudada, percebe-

se que a heterogeneidade faunística é muito maior que as alterações encontradas nos sedimentos, as quais variaram preferencialmente entre areia e sedimento com teores mistos de areia e lama. Correlacionando, através do r de Pearson, a distribuição granulométrica e a dos organismos foi possível observar que a ocorrência e distribuição dos foraminíferos e tecamebas, na Baía de Iguape, não estam correlacionados com as frações granulométricas. Acredita-se, portanto, que as características granulométricas e composicionais do substrato exerçam certa influência na distribuição das populações, como também já relatado por alguns autores (Boltovskoy & Wright 1976; Kitazato 1988; Murray 1991). Contudo, possivelmente, existem outras variáveis ambientais que ajudam a justificar a distribuição observada para a fauna nesta área. Provavelmente a salinidade e pH das águas encontram-se de forma preponderantes entre estas variáveis, associadas as correntes presentes no ambiente.

Entretanto, é evidente a relação mantida entre determinadas espécies especificas abundantes, na área de estudo, com à textura do sedimento. Estas observações puderam ser confirmadas com a análise da quantificação dos espécimens evidenciando uma forte relação com a analise de classificação para os parâmetros sedimentológicos. Ambientes onde ocorre o aumento da fração cascalho, concomitantemente, há uma diminuição no número de foraminíferos. No entanto em ambientes onde ocorre a elevação da fração granulométrica lama ocorre um aumento destes organismos. Assim, as principais relações estabelecidas entre estas espécies de foraminíferos e o sedimento foram:

• Espécies mais abundantes em sedimentos lamosos: Ammonia parkinsoniana, Ammonia

tépida e Bolivina striatula.

• Espécies mais abundantes em sedimentos arenosos: Ammotium salsum (areia muito fina) e

Miliammina fusca (areia média e fina).

Por sua vez, a abundância da fauna bentônica de foraminíferos reflete a sua capacidade de viver em diferentes condições. Os foraminíferos e tecamebas podem viver tanto entre os grãos de sedimentos como aderidos a substrato como algas e fragmentos de outros organismos (Murray 1991; Kitazato 1988; Fujita & Hallock 1999). Segundo Lynts (1962) apud Boltovskoy (1964), o tipo de sedimento é para alguns foraminíferos um fator de grande importância.

O tipo do substrato e a energia física do ambiente (marés e correntes) desempenham um importante papel na composição das assembléias. Os sedimentos areia fina lamosa possibilitam uma assembléia de espécies, infaunal e epifaunal com larga amplitude de morfologia, enquanto os sedimentos de ambientes de alta energia, areia grossa com conchas e cascalhos favorecem os foraminíferos e tecamebas epifaunais fixos e presos. Talvez o sedimento seja o substrato mais comum para os foraminíferos e tecamebas. Porém eles também podem viver sobre superfícies firmes tais como testas, conchas, rochas e/ou vegetais, são as formas epifaunais; enquanto aqueles que vivem dentro dos sedimentos são infaunais. De acordo com Murray (1991) existe aquele que pode ter mais de um modo de vida, como é o caso do gênero oportunista, de águas rasas,

Elphidium, que pode ser encontrado vivendo infaunal ou epifaunalmente livre ou aderido ao

substrato. Esse gênero foi encontrado vivo (protoplasma corado) em quase todos os perfis analisados.

Segundo Hohenegger et. al. (1993) a microdistribuição horizontal e vertical de foraminíferos são muito especifícas das espécies e depende do suprimento alimentar e disponibilidade de oxigênio, enquanto outros parâmetros, tais como tamanho de grãos, salinidade e pH são de importância subordinada. Baseados nas análises de distribuição vertical da fauna de foraminíferos no sedimento, Hohonegger et. al. (1993) sugerem o modo de vida de algumas espécies em epifaunais, semi-infaunais e infaunais. Entre as espécies descritas por esses autores e aquelas encontradas nesse trabalho destacam-se Miliolinella subrotunda, considerada exclusivamente epifaunal e de preferência alimenta-se de diatomáceas (organismos abundantes no ambiente) em adição a detritos orgânicos e bactérias. A espécie Bolivina striatula é considerada de hábito semi- infaunal a infaunal raso (pouco abaixo da superfície do sedimento). Essa espécie vivendo semi- infaunalmente pode orientar sua testa obliquamente à interface sedimento-água, com abertura livre na superfície do sedimento para conseguir alimento em suspensão. Esses autores constataram, ainda, modo de vida exclusivamente infaunal, para os gêneros, Reophax e Elphidium e modo semi- infaunal a infaunal para Ammonia tépida. Essas afirmações (Hohenegger et. al. 1993) conferem quase na sua totalidade com aquelas apresentadas por Murray (1991). Porém, segundo esse autor o gênero Elphidium pode apresentar mais de um modo de vida, sendo infaunal, ou epifaunal sobre o sedimento ou vegetação, enquanto Bolivina é aceita como de hábito infaunal e detritivora.

Segundo Murray (1991), alguns gêneros podem ser classificados quanto ao modo de vida, tipo de substrato e/ou preferência alimentar: Ammonia, Bolivina, Fursenkoina e Ammotium são considerados infaunais de sedimentos areias finas e lamosas de baixa energia e normalmente

detritivoros. O gênero Bigenerina é epifaunal de ambiente de baixa energia (Murray 1991). Porém, Andrade (1997) salienta a presença deste gênero, com percentuais significantes, em sedimentos, de areia grossa a média em locais de alta energia.

Este fato permite inferir a existência de uma relação entre os sedimentos finos e a diversidade, observada nesta área, devido à presença do gênero supra citado e ser bastante reprtesentativo nas amostras com percentual de sedimentos finos, ocorrendo também redução da diversidade quando havia um percentual da fração cascalho. Ferreira (1977) sugere uma certa relação entre a granulometria e a expressão quantitativa e qualitativa dos foraminíferos, ressaltando a existência de uma fauna empobrecida nas amostras de granulometria mais grossa, uma vez que este tipo de sedimento, diferente de sedimento mais fino, retém muito menos matéria orgânica. Fato que pode ser confirmado a partir da análise dos perfis com menor diversidade. Estes perfis, em geral, são caracterizados pelo predomínio de sedimentos arenosos com variações significantes teores de cascalho.

Através da realização de um levantamento bibliográfico, Boltovskoy (1963) encontrou registros de observações que demonstram uma dependência entre o substrato e a fauna de foraminíferos. A partir destes dados, o autor pôde compilar uma série de informações, dentre as quais pode ser citada, a preferência dos Miliolídeos por fundos arenosos. Contudo segundo Murray (1973) a pouca freqüência ou até ausência desta subordem Miliolina, embora o ambiente tenha um predomínio de areia, indica um ambiente confinado e oligohalino. A subordem Miliolina está sempre presente em entradas de estuários onde a turbulência é alta, estando associada com os gêneros Ammonia e Elphidium (Nichols 1974). Contudo, o semi-confinamento da área em questão (Carvalho 2000), explica a pouca freqüência dos Miliolideos.

Em estuários, a transição horizontal entre águas continentais e marinhas é gradual, devido à continuidade do habitat aquático. Em estuários de meso a macromaré, entretanto, as condições dos micro-ambientes mudam drasticamente durante oscilação da maré e as variações sazonais. Nestes micro-ambientes, bioindicatores podem ser usados para fornecer informações das condições médias físico - químicas que influência a distribuição da biota (Debenay et. al. 2003). Vários organismos são usados com este propósito, mas eles geralmente são usados independentemente, sem resultados combinados obtido por cada um deles. Entre eles, foraminíferos e as tecamebas podem ser usados como indicadores de mudanças ambientais associadas com elevação vertical (Scott and Medioli, 1980, 1986; Gehrels, 1994; Nydick et al., 1995; Hippensteel et al., 2002; Haslett et al., 2001),

transição longitudinal (Debenay 1990, review in Debenay et al., 2000) ou uma combinação da distribuição vertical e longitudinal (Hayward and Hollis, 1994) associado com a influência do salinidade (De Rijk, 1995). Eles também podem ser usados para uma comparação entre diferentes áreas (review in Murray, 1973; Scott et al., 1990; Debenay et al., 1996).

A distribuição dos foraminíferos e tecamebas é condicionada por diversos fatores interrelacionados. Porém, em alguns casos, um fator pode ser mais importante que os outros. Portanto, variações em qualquer um destes fatores implicam em modificações nas associações de foraminíferos, quer seja na variação de densidade dos organismos, no tamanho ou na morfologia das suas testas. A documentada sensibilidade dos foraminíferos e tecamebas às condições ambientais, sugere que estes organismos são capazes de fornecer dados para examinar uma mudança ambiental recente, registrada nos sedimentos costeiros, provocada tanto por mudanças naturais, como por ações antrópicas (Williams,1995).

O uso das espécies indicadoras, os efeitos das modificações ambientais também podem ser discutidos através dos descritores biológicos. Estes constituem índices ou caracteres particulares de cada grupo que refletem as respostas estruturais ou funcionais de suas populações ou comunidades.

As respostas estruturais são observadas quando as modificações ambientais têm efeitos sobre as organizações das comunidades, promovendo um desequilíbrio entre as espécies alóctones e as espécies autóctones (Wilson & Jeffrey 1994). Quando uma determinada mudança ocorre (seja ela natural e/ou induzida), um organismo tende a se adaptar ao seu novo habitat. Se o grau de adaptação requerido for maior que sua capacidade, este morre ou migra, cedendo lugar às espécies mais resistentes. No caso das zonas estuarinas, embora as populações apresentam-se fisiológica e morfologicamente adaptadas às oscilações nos fatores abióticos naturais, muitas delas não resistem a somatória de estresses (natural e/ou induzido), o que leva, em geral, a uma reestruturação das comunidades (Wilson & Jeffrey 1994). Tal comportamento permite que o grau de impactação de um determinado ambiente seja avaliado em função das alterações observadas em suas relações faunísticas. Estas últimas, por sua vez, podem ser expressas através dos índices ecológicos.

As respostas funcionais expressam-se através de alterações nas taxas fisiológicas ou na anatomia dos indivíduos, os quais podem levar a anomalias na alimentação, respiração, crescimento, reprodução ou na sua forma externa. Ao contrario das respostas estruturais, estas são estudadas considerando cada individuo em particular e não mais o conjunto de fatores que

descrevem suas populações. Vários exemplos são citados por Hellawall (1996) para ilustar casos de respostas funcionais dos organismos como decorrência de mudanças nas condições ambientais. Todavia, o próprio autor chama a atenção para as dificuldades envolvidas neste tipo de abordagem. É importante ter em mente que uma é estabelecer que um individuo difere do padrão normal de sua população e outra é deduzir a causa deste desvio. Embora de suma importância nas pesquisas acadêmicas, outra desvantagem deste tipo de abordagem em pesquisas de avaliação ambiental é a dificuldade em quantificar tais anomalias.

De 3249 testas de foraminíferos identificados nos perfis do sistema estuarino estudado, 348 foram consideradas como malformadas, representando 10,71% da população dos indivíduos totais identificados. Vale resaltar que nos perfis # 1, # 6, # 8 e # 10 foram encontrados os maiores índices de espécies malformadas. Tal resultado já era esperado em função do aumento da instabilidade ambiental da área (oscilação diária da maré), conforme discutido por Boltovskoy et. al. (1991), Geslin et. al. (1998), Yanko et. al. (1999). Todavia, no caso desta pesquisa, a área amostrada, além dos fatores naturais típicos das áreas de transição, estão sujeitas a alterações na descarga fluvial, devido ao barramento de Pedra do Cavalo. Assim, é natural se acreditar que as porcentagens de malformações, nesta área, sejam o resultado da somatória de fatores.

Apesar das dificuldades em avaliar se o número médio de anomalias morfológicas ocorrentes na Baía de Iguape. Os resultados são significativamente maiores que as porcentagens descritas em outros locais. Contudo, os resultados presentes nesta pesquisa, em termos médios, não apresentam valores mais elevados que os esperados para ambientes costeiros (sejam eles impactados ou não). Entre as publicações com estimativas numéricas das malformações que ocorrem na população total de foraminíferos podem ser encontrados valores entre 1 e 30%, predominando, no entanto, as porcentagens inferiores a 10% (Lidz 1995; Seiglie 1975; Alve 1991; Yanko et. al. 1994; Bonetti 2000). Estes três últimos trabalhos foram realizados em locais poluídos por metais pesados. No primeiro (Alve 1991) foi encontrado entre 3% a 5% de testas malformadas na população total. No segundo (Yanko et. al. 1994), as porcentagens de anomalias variaram entre 2 a 3%. No terceiro (Bonetti 2000), as porcentagens de anomalias variaram entre 9% a 13,9%. Características também presentes na Baía de Iguape. Segundo Mestrinho (1998), a área em questão, é um reservatório de

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