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FAXINAL DOS RIBEIROS: TERRITÓRIO DE CONFLITOS, R-

No documento REGINALDO DE LIMA CORREIA (páginas 67-124)

As mudanças ocorridas causaram grandes transformações nos faxinais do estado do Paraná. No Faxinal dos Ribeiros essas transformações se deram com a chegada de uma série de novos sujeitos no território ao longo dos anos, causando grandes transformações nas territorialidades e na organização da comunidade. Assim apresentarmos essas transformações, os meios que a comunidade encontrou para resistir e r-existir criando novas geografias.

4.1- A Chegada dos agentes, conflitos e as transformações no Faxinal dos Ribeiros

A memória de alguns moradores de Faxinal dos Ribeiros é repleta de lembranças de uma época de fartura, quando a Floresta era preservada, com grande número de frutos silvestres, e os animais podiam ser criados livremente. Segundo eles, “quando tudo era comum” qualquer pessoa poderia chegar, construir sua casa e ali desenvolver suas atividades agrossilvipastoris sem mesmo possuir um alqueire de terra.

Mas atualmente, devido a uma série de mudanças ocorridas nos últimos anos, está fartura ficou ameaçada, principalmente com a chegada de outros sujeitos. Para melhor elucidar essa trama de sujeitos presentes no Faxinal dos Ribeiros, elaboramos uma Linha do tempo (Figura 09), para representar quem são e em qual período chegaram no faxinal.

4.1.1- Migrante e Imigrante

Esses sujeitos foram os primeiros que passaram a dividir o território com os caboclos faxinalenses, porém sem conflitos ou confrontos pois estes desenvolviam sistema parecido em Santa Catarina, sobretudo na Região do Contestado, de Palmas e do Sudoeste do Paraná e aqueles que relatam ser de outros países também adaptaram-se ao Sistema Faxinal.

Por isso, a “gente que vem de fora”, nem sempre é sinônimo de conflitos. Há caso de famílias que se adaptaram ao sistema faxinal, principalmente, aqueles que chegaram a mais de 60 anos no Faxinal dos Ribeiros se adaptando ao modo de viver e produzir. Identificamos que essas famílias vieram, principalmente, atraídas pela grande quantidade de terra existente, e pelas notícias de que ali “não havia ninguém”. Segundo os relatos, souberam destas terras por meio dos tropeiros que passavam pelos campos de Guarapuava e Palmas e, consequentemente, pelos campos dos municípios do Pinhão e Reserva.

FIGURA 09: Trajetória dos sujeitos no Faxinal dos Ribeiros desde o século XIX. ORG.: CORREIA, 2015.

4.1.2- Industria Zattar e a “gente de fora”

Foi a partir dos conflitos com a Industria Zattar instalada no Município do Pinhão na década de 1950 e, hoje, pelos conflitos com os novos atores no território [pessoas que adquiriram a terra, mas que não são de tradição faxinalense], vem se agravando a situação da comunidade, conforme nos apresenta o Senhor A.B.22:

A maioria não tinha terra e plantava, porque naquele tempo ninguém ligava em comprar, porque era comum. Fazia uma casa onde achava um lugar e daí era dono. Achava uma coxilha e lá fazia a casa, aquele lugar era dele. Criava o que queria, o que desse. Todo mundo criava, e criava muito bem, e tinha mataria [floresta] e o animal passava lá no inverno. Hoje, se não tiver uma aveia e não tiver um trato, já não cria, porque os terrenos são poucos, já tem que ter um trato. Não precisava tratar antes, a vaca criava, não precisa de trato. Só alguma vaca de leite, que ficava perto da casa. Os outros animais iam tudo pro mato, porque tinha bastante fruta no mato pro animal comer

O Sr. A.B, refere-se ao período anterior à intervenção da Indústria Zattar no faxinal, situação agravada após 1980, quando boa parte dos materiais madeireiros já tinham sido explorados e a empresa passou a fazer a transferência da posse da terra para outros agricultores que não tinham o conhecimento do Sistema Faxinal. Até aquele período, o modelo comunal era dominante. O que legitimava o uso da terra era a posse, ou seja, nem todos tinham título da propriedade. Este fato proporcionou a Industria Zattar o controle de grande parte das terras do Faxinal e, no contexto da política desenvolvimentista do estado, atraiu a marcha das serrarias para essa região, mudando o modo de vida local. Segundo o Senhor A.B.:

Por que não faz tantos anos que foi dividido os terrenos aqui, pois só tinha uma escritura aqui nos Ribeiro que era comum. Não posso afirmar bem, mais foi em 1973/74 que os agrimensores vieram medir as áreas. Pediram quem tinha a escritura, daí quem tinha eles mediram o terreno, só que quase ninguém tinha escritura. Daí o que sobrou era tudo do Zattar, talvez tenha mais gente que possa explicar isso melhor. Só sei que no final o Zattar tinha mais terreno em cima daqueles terrenos. Está viva na memória da comunidade, os anos de confronto entre ela e a Industria Zattar (que geralmente é chamada pela comunidade local como “o Zattar”), principalmente, as mudanças que impôs a localidade, como a divisão dos lotes, as

22 Entrevista realizada em 12.05.2014, na residência do Sr. A.B, o qual reside na comunidade desde sua infância, chegou na década de 1950, vindo de outro faxinal nas proximidades.

imposições sempre garantidas pela presença dos seguranças armados (jagunços), a mudança no modo de produção, a expropriação de suas terras, e os anos de lutas contra a madeireira, bem como o enfraquecimento da mesma e a chegada dos novos sujeitos nessa trama, por eles nominados como “gente de fora” [agricultores também, porém, com uma concepção cultural, econômica e ambiental diferente a do caboclo faxinalense]. Conforme, o Sr. A.C.23:

A mudança aqui foi de 1985 pra cá, que foi dividido e daí ficou aquelas áreas do Zattar. O Zattar colocou gente para cuidar daquelas áreas, um pessoal armado que vinham, e espantavam quem estavam nos terrenos e com agressão. Depois o Zattar começou a vender as terras, vendeu pra gente de fora, pessoal que não era no nosso estilo, eles vieram para fazer plantio, nem polícia tinha naquela época, hoje qualquer arvorezinha derrubada vai preso. Naquela época não tinha fiscalização, derrubava o Pinheiro, a Imbuia e os caminhões saiam com o sol quente. Esse povo de fora começou a destocar, foram destocando e fazendo lavoura, e hoje está tudo mudado, hoje a maior parte é agricultura. O criame [criação] terminou, quem cria tem que ter meio fechado.

É interessante notar que o faxinalense tem como marco do início do processo de transformação no seu modo de vida, ou seja, de resistência no Sistema Faxinal, tendo como propulsores desse processo a Industria Zattar e, depois a “gente de fora”, que chegou na comunidade também em decorrência da Industria. Essas pessoas que compraram as terras da Industria Zattar, tentaram implantar um modo de produção diferente daquele dos faxinalenses, porém, muitos tiveram dificuldades em se manter nas terras. Aqueles que se adaptaram ao modo de vida faxinalense permanecem até hoje, os demais seguiram a chamada “marcha para o oeste” e, hoje, encontram-se nos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Depois deles, outros chegaram, e, aos poucos, foram mudando o uso da terra.

4.1.3- Assentados INCRA

Na década de 1990, foi criado no Faxinal dos Ribeiros o Assentamento de Reforma Agraria Quinhão 1G, inserindo no território, outros sujeitos sociais, estranhos à cultura faxinalense.

Muitos desses se adaptaram parcialmente, englobando as práticas de extração da Erva-Mate e do Pinhão, ao modo faxinalense, mas não entendem o princípio do uso

comunal da terra, que não descarta a propriedade privada. Estes, via de regra, defendem o discurso que “cada um tem sua terra, e faz nela o que quer”24.

Porém, é importante lembrar que vários faxinalenses que já estavam nestas terras foram assentados oficialmente por meio deste processo, pois até então, eram tidos como posseiros. Ou seja, já viviam nessas terras, o INCRA apenas os documentou como assentados. Esse assentamento se deu sobre as já citadas áreas documentadas pela Industria Zattar.

Podemos afirmar que os maiores conflitos se deram com a Industria Zattar, os quais, praticamente encerraram-se com o fim das suas atividades. Hoje os conflitos estão se intensificando com os “novos moradores”, principalmente, os que chegaram nos últimos 7 anos, e que em nada, se adaptaram ao modo de vida faxinalense.

4.1.4-Garimpeiros e “novos Moradores”

Os “novos moradores” são aqueles que chegaram mais recentemente no Faxinal dos Ribeiros e em nada se adaptaram ao Sistema Faxinal, vieram da Região de Laranjeiras do Sul-PR e compraram as terras no Faxinal a um baixo custo, pois a mesma encontravam-se documentada em nome da Industria e, via de regra, estão penhoradas, com o objetivo de mecanizá-las e transformar a floresta nativa em campos de soja, ou pastagens para a atividade leiteira.

A venda da terra ocorre por meio do madeireiro ou, como popularmente conhecido entre os faxinalenses como garimpeiro de madeira, que pode ser uma pessoa da própria comunidade ou de fora, que têm por objetivo a retirada das madeiras nobres da Floresta, e após o seu esgotamento (principalmente do Pinheiro e da Imbuia) vendem as terras de modo irregular para terceiros, que, geralmente, são estranhos e alheios ao Sistema Faxinal.

Esses novos moradores vem de outros Municípios como Guaraniaçu e Laranjeiras do Sul e trazem consigo uma outra lógica e ideologia, totalmente diferente, seja na produção, na cultura e na relação com o ambiente (Figura 10). Enquanto o uso do território pelo faxinalense é organizado com base na floresta e na criação de animais à

24 Entrevista realizada com Sr. A.D., no dia 12 junho 2014, este residente em Faxinal dos Ribeiros desde 1996, vindo do norte do Paraná, e, de lá, trouxe a concepção da propriedade privada da terra.

solta, estes se organizam baseados na monocultura da soja, na utilização de maquinários agrícolas, da integração direta com o mercado através da produção e venda do leite. Para eles a floresta não exerce nenhuma importância e é vista, muitas vezes, como empecilho. Com relação as criações, os poucos animais existentes são mantidos em confinamento.

FIGURA 10: Vista de uma propriedade dos “novos moradores”. FONTE: CORREIA, Trabalho de Campo 2014.

O novo morador tende a considerar-se como moderno em, oposição ao Sistema Faxinal, entendido por eles como atrasado. Com esses, os conflitos ocorrem em virtude dos animais. Geralmente, os porcos invadem as plantações de soja e as áreas de pastagem mecanizadas e como represália, estes matam, confinam ou maltratam os animais, e, com isso, induzem o faxinalense a cercá-los, já que precisa evitar os prejuízos.

Outro conflito se dá em relação às atividades de apicultura desenvolvida pelos faxinalenses na floresta. Os novos moradores veem as abelhas como um perigo para o rebanho leiteiro e, consequentemente, pedem aos faxinalenses a remoção das caixas25 de apicultura que estão perto das cercas de divisa. Como o faxinalense, assim como, outros sujeitos do campo, desenvolveu uma cultura baseada na “política da boa vizinhança”, já que as relações devem ser desenvolvidas levando em consideração que, em algum momento, ele poderá precisar do auxílio do vizinho e, portanto, é importante evitar o conflito. Esta concepção, leva-o a retirar as caixas da apicultura.

25 Para a atividade de apicultura o faxinalense instala em meio a mata caixotes de madeira com o intuito

Existem também, casos de terrenos que são arrendados (alugados) para agricultores “de fora”, que também não(re)conhecem o Faxinal e, nem mesmo moram na comunidade. Estes, com interesse de amedrontar o faxinalense, propagam o discurso que irão matar as criações e, além disso, se os animais entrarem nas plantações os faxinalenses terão que arcar com os prejuízos. Muitos casos desta natureza chegam a justiça, seja por denúncia do arrendatário ou do faxinalense.

Quando isto acontece, os faxinalenses recorrem a lei municipal (Lei 1354/200726) que reconhece os faxinais no Município. Porém, observamos que, da última vez em que aconteceu esse tipo de conflito, o então promotor de justiça, recém chegado ao Município, não tendo conhecimento da lei municipal, deu causa ganha ao arrendatário e mandou o faxinalense fechar os animais, gerando grande medo e receio.

Depois disso, alguns faxinalenses fecharam seus animais ou até mesmo os venderam, temendo represálias ou novos conflitos. Observa-se aqui, uma certa criminalização das atividades faxinalenses, por parte do Poder Público e do arrendatário, que tentar impor-se a comunidade, sem prévio conhecimento da lei municipal existente que reconhece os faxinais, contribuindo para mudanças nas territorialidades dos faxinlenses.

Os conflitos de ordem ambiental também são mencionados pelos faxinalenses, principalmente, com sentimento de revolta. Isto porque, os órgãos de proteção ambiental do Estado, sobretudo, a Polícia Ambiental (Força Verde) e o IAP (Instituto Ambiental do Paraná), por muitas vezes, fazem “vistas grossas” ao desmatamento no faxinal realizado pelos garimpeiros, novos moradores e/ou arrendatários que estão implementando a agricultura mecanizada na região.

Os faxinalenses afirmam que estes derrubam enormes áreas de florestas com espécies protegidas por lei, como o Pinheiro e, que, muitas vezes, mesmo quando a Polícia Ambiental vem até o local não tomam atitude e, quando estes retornam a sua base, a devastação continua, não restando uma árvore em pé na área de desmate.

Já o Faxinalense, quando tenta pedir a autorização para derrubada de uma árvore para melhoria de sua residência, não consegue. Para retirada de qualquer espécie da área florestal é necessário o licenciamento do IAP, neste caso, o órgão autoriza a retirada de

26 A Lei 1354/2007, reconhece os acordos “comunitários” dos povos faxinalenses do Município, perante o autoreconhecimento destas comunidades, e garante o uso das terras de forma comum e no artigo 4º menciona-se que as terras do criador em comum que forem transferidas para novos proprietários deverão permanecer disponíveis em atenção as formas tradicionais de uso.

apenas algumas espécies, mas não das madeiras de lei, como o Pinheiro e a Imbuia. Porém, quando se verifica que o Pinheiro pode causar dano a propriedade, por exemplo, esta autorização é liberada.

Mas na prática, o que se verifica é que a lei é para todos/todas, mas sua aplicação se restringe aqueles que não dispõe de recursos para se defender perante o Estado. O tratamento desigual tem um efeito extremamente negativo. Seja pelo desmatamento clandestino, que reduz a cobertura florestal, seja porque ao invés de educação a sociedade para a preservação dos remanescentes, passa ideia de que tendo posses e apoio jurídico a criminalização é relativizada ou mesmo nula.

Desta forma, muitas vezes o faxinalense faz a retirada clandestina, de apenas uma árvore, mas, geralmente, são autuados pela Policia Ambiental. Conforme, a Senhora A.E., no dia 25/05/2014):

A gente não pode tirar uma madeira aí para arrumar uma cerca, trocar uma tábua na parede, que a Força Verde vem para aplicar multa. Isso é muito engraçado, por que aqueles que derrubam vários alqueires de Imbuia e Pinheiro eles nem ligam, só passam com o avião por cima e fazem de conta que não viram. Mas, a gente! Se derrubar um Pinheiro que está quase caindo em cima da casa, eles veem e levam a gente preso se duvidar. A mesma coisa com os banhados e a cabeceira de água que deveriam ser protegidos, olha o que aqueles novos moradores fizeram, derrubaram tudo na propriedade, até os pés de Erva-mate! E fizeram drenagem nos banhados e na cabeceira da água e estão plantando soja bem sossegado, com um monte de veneno. E a Força Verde, nunca veio incomodar eles.

O mesmo não acontece com os chamados “garimpeiros” de madeira, que entraram nas áreas documentas pela Industria Zattar e retiraram enormes cargas de madeira, sem nenhum impedimento por parte dos órgãos de proteção ambiental. Aproveitando-se da falência da indústria para a exploração da floresta, esses sujeitos reivindicam esses territórios para si, indignando os faxinalenses que há mais de quarenta anos lutam pela titulação da terra, sem êxito. Eles abrem mão de vários interesses para preservar a floresta, mas os “novos” chegam e destroem tudo. Neste sentido, o faxinalense carrega consigo o instinto de “guardião da floresta”, levando-o a denunciar a pratica de desmatamento clandestino aos órgãos ambientais, mesmo duvidando do retorno destes para averiguação dos fatos.

A transferência de posse da terra, significa perda de território, já que a venda tem sido cada vez mais comum para as pessoas de outras regiões, que derrubam a floresta e implantam os monocultivos.

Mas quando os faxinalenses são questionados sobre a sua não adesão ao modo de produção “dos de fora”, já que os resultados são praticamente imediatos (com lucros e bens), em sua grande maioria, respondem: os “novos moradores” já chegam com recursos e investem pesado”, já o faxinalense não dispõe de meios para investimentos, além disso não é o estilo de vida deles, sempre sobreviveram a base do extrativismo e de atividades relacionadas a floresta e a agricultura. Eles acreditam que a floresta garantirá a permanência deles no campo.

Muitos faxinalenses, por meio da Articulação Puxirão, entendem que para poder permanecer na terra é necessário a construção de políticas públicas que garantem esta permanência, e que impeçam a substituição da floresta por outros sistemas. Com o conhecimento da experiência em outros Faxinais na região, transformados em ARESUR, foi levantada na comunidade a proposta com a finalidade de tentar garantir a permanência do Faxinal e do faxinalense. Porém essa proposta gerou uma série de conflitos que merecem ser aprofundado.

4.2- Conflitos em torno da criação da ARESUR em Faxinal dos Ribeiros

O Faxinal dos Ribeiros, como vimos até aqui, passou nos últimos anos por processos que devastaram grande parte da floresta, entre estes podemos citar: a extração de madeiras nobres pela Industria Zattar (Imbuias e Pinheiros), o processo de desmatamento para implantação de lavouras, a extração da madeira para produção do carvão vegetal e, mais recentemente, o retorno da exploração da madeira por “garimpeiros” e o aumento do desmatamento para a expansão do agronegócio.

Porém, observa-se grandes áreas bastante preservadas e que, geralmente, correspondem aos mangueirões comunitários ou familiares, ou seja, a recriação do sistema faxinal em territórios diferenciados tem condicionado a manutenção da floresta.

Isso não se limita apenas ao Faxinal dos Ribeiros. Esse panorama de conservação ambiental (principalmente de pinheiros), juntamente com a identidade da tradição dos povos faxinalenses, proporcionou ao Estado, por meio da luta destes povos, a criação das Áreas Especiais de Uso Regulamentado- ARESUR. Estas têm como objetivo, manter as características ecológicas das florestas com Araucárias e preservar a cultura dos povos tradicionais a elas integrado.

As ARESUR, foram criadas em 1997, com o objetivo de proteger os territórios e os recursos naturais necessários para a manutenção do modo de vida faxinalense,

reconhecendo a importância das comunidades faxinalenses para a preservação dos recursos naturais". Em 2014, existiam 28 faxinais cadastrados como ARESUR no estado.

No município do Pinhão, foram criadas as ARESUR dos Faxinal Bom Retiro e do Faxinal São Roquinho, [no início do ano de 2014], mas, no Faxinal dos Ribeiros não criou-se um consenso entre os moradores para aderir a mesma. Isso tem gerado uma série de conflitos na comunidade. A ideia foi apresentada a população por meio da Articulação Puxirão. Como já mencionado a Articulação Puxirão é um movimento organizacional dos faxinalenses criado no ano de 2006, que traz em sua pauta de reivindicação o acesso a seus direitos territoriais resultantes de sua identidade étnica (Hauresko, 2012). Em entrevista com Senhor Hamilton Jose da Silva (coordenador da Articulação Puxirão e também faxinalense)27 este afirmou ser a favor da criação da ARESUR no Faxinal Ribeiros, pois esta não alteraria praticamente nada daquilo que a população já está habituada a fazer, suas práticas e costumes.

Em defesa da ARESUR argumenta que sua criação traria os seguintes benefícios: O repasse do ICMS ecológico seria de 100%, garantido através da Lei Municipal (1354/2007), tendo por objetivo realizar projetos que tenham como meta o desenvolvimento da comunidade, através do melhoramento dos equipamentos de uso coletivo (tratores, batedores, arados, resfriadores), sementeiras, manejo de matrizes de erva-mate, calcários, vacinas, materiais para manutenção das cercas e preservação ambiental.

A lei 1354/2007 garante que através do autoreconhecimento das comunidades do Sistema Faxinal, que os acordos comunitários devem ser respeitados a fim de preservar o modo de vida desses povos.

Porém, observamos inúmeros interesses envolvidos neste processo, sejam eles ideológicos, políticos e de natureza pessoal, que deixaram várias dúvidas a comunidade. A principal delas, é que grande parte dos faxinalenses não sabe o que é uma ARESUR, e, muitas vezes, acabam gerando algumas confusões, muitas delas ouvidas nesta pesquisa.

“A ARESUR seria deixar tudo num só como antigamente, tirar as cercas, como

era antigamente, fazer o que o Zattar fez, tomar os terrenos” (A.G., entrevista realizada em 12/07/2014). Vemos que muitos associam a criação de uma ARESUR, com a

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