• Nenhum resultado encontrado

Fazem parte da vida consagrada: a) a Vida Monástica vida de clausura, de oração, jejuns e vigílias; é confiada aos cuidados de um bispo

b) a Ordem das Viigens, Eremitas e Viúvas - consagradas pelo bispo diocesano c) os Institutos dedicados à contemplação - separados do mundo, no silêncio e solidão

d) a Vida Religiosa Apostólica - faz profissão pública dos conselhos evangélicos, por meio de votos perpétuos e) os Institutos Seculares - vivem a consagração a Deus no mundo

f) as Sociedades de Vida Apostólica - sem votos religiosos, com vida fraterna comum. (Cf. Código de

Direito Canônico, cânones: 613,603, 607, 710, 731.)

52 Mesmo superando mais de um milhão de membros, a vida consagrada é uma opção de vida assumida por uma minoria no conjunto da Igreja. Segundo as estatísticas de 1992, há na Igreja 1673 institutos e congregações. Deste número, 1423 são de mulheres e 250 de homens. A vida consagrada (leigas/os) e sacerdotes consagrados representam apenas 0,12% do total dos católicos. Destes 0,12%, a maioria absoluta é formada por Irmãs e Irmãos (que não pertencem ao clero), ou seja 82,2% de todos os consagrados são leigas e leigos e deste percentual, 72% são formados por mulheres.

pedras angulares da consagração religiosa, passavam de geração em geração sem mudanças ou alterações substanciais. Princípios não se discutiam e nem se contestavam. Simplesmente se obedeciam, se intemalizavam e se viviam com entusiasmo institucional muito sério. No século XVI, a reforma das ordens antigas repercute também nas formas de colocar-se diante das novas questões sociais nos inícios da Idade Moderna.

Concomitantemente a este movimento de reforma há também um surto de novas fundações que, em geral, se situam nas novas fronteiras que a modernidade abre para o mundo e para a Igreja. As novas fundações põem em evidência que trazem consigo um carisma que orienta as atividades para responder a uma necessidade surgida dentro de um determinado contexto sócio-eclesial e orientada, em geral, à missão apostólica nos vários campos da atividade humana. Um desses contextos e campos são as novas fronteiras constituídas pelo chamado mundo novo que compreendia as novas terras descobertas pela Espanha e Portugal53.

A ocupação das novas terras obedecia a um plano das Coroas. O plano incluía a propagação da fé cristã, o projeto sagrado que trouxe ao Novo Mundo os primeiros missionários religiosos.

Se a idéia e compreensão de Igreja vivida pelo clero ultramontano da Igreja romanizada de ser ela a portadora da verdade desde sempre estabelecida e claramente definida devia ser aplicada a todo mundo católico, com maior razão e radicalidade o devia ser aos que se dispunham a viver a chamada vida religiosa. Dela se exigia perfeição .

53 DE FREITAS, Carmelita Maria. Inserção: novo modo de ser da vida religiosa. RJ. Publicações da CRB, 1989, p. 19.

Mas afinal, o que é vida consagrada feminina, mais comumente conhecida por vida religiosa? Esta vocação guardará algum mito? Esconderá alguma magia? Algum segredo? Será a religiosa uma pessoa cuja vida é totalmente inspirada pela fé, dedicada aos programas de religião e com a qual só se trata de assuntos de Deus e de Igreja? Ou será ela uma mulher igual a tantas outras que não buscaram a vida religiosa? Terão elas sonhos, alegrias, frustrações, tentações? Como e de que é tecido o cotidiano da religiosa? Que elementos constituem a vida consagrada?

Ao tratarmos de vida religiosa, em geral corremos o risco de pensar apenas numa abstração e falarmos dela quase como que de algo sagrado, de acesso dificultado por visões um tanto herméticas quando não mitificadas. A vida religiosa não é uma idéia ou um conceito. Não é um mundo em si que cai do céu misteriosamente sobre o caminho dos homens. Nem produto celestial, coisa santa e intocável vivida fora da história. É uma realidade que se constrói e continuamente é construída no caminho eclesial. Na dimensão da fé ela é um sinal. Mas sinal humano, formado por religiosos e religiosas e constitui-se de um conjunto de práticas vividas no contexto de Igreja, no presente caso, da Igreja Católica. Está situada historicamente na sociedade e nunca dissociada do chão da cotidianidade e realidade humanas. A vida religiosa são homens e mulheres como todos os homens e mulheres, limitados por espaço e tempo. Os religiosos, as religiosas não são ‘almas’ consagradas. São seres corpóreos, pessoas humanas que vivem o encontro e o desencontro, o encanto e o desencanto, as dores e os consolos, as fadigas e a exultação da vida comunitária e fraterna. Orientados por cosmovisões e idéias, vivem convicções próprias que os levam a posições e decisões grupais e pessoais de acordo com o projeto

comum de vida de cada instituto, congregação ou ordem, balizada pelo carisma54, pautada pela autocompreensão à qual se subordina. Representa

“ organização hierarquizada, ritualizada, que submete a

uma mesma disciplina todos aqueles que reúne, unindo-os na busca de um mesmo desígnio, permitindo-lhes reconhecerem-se em torno dos mesmos símbolos e em uma mesma liturgia ”55.

Mesmo com metas claras que apontam para valores perenes, mesmo com desejos “puros” de perfeição, são pessoas constituídas do barro da terra. Mesmo copiando sua forma de vida do evangelho de Jesus Cristo, não conseguem isentá-la dos mecanismos humanos do poder e podem reproduzir nos conventos as mesmas dinâmicas do sistema dominante. É importante lembrar que “ser freira” não é uma profissão. É uma forma de vida.

Segundo o discurso religioso, a vida consagrada se constitui fundamentalmente de três elementos: experiência de Deus, vida comunitária e missão apostólica. Estes três elementos, nos diferentes momentos da história da Igreja, encontraram motivações concretas também diferentes e que podem ser compreendidas e explicitadas através das mediações históricas. O que mais claramente configurou a identidade desta forma de vida sempre foi a profissão dos chamados votos de pobreza, obediência e castidade56 que apontam para três centros fundamentais da vida humana, para três valores arquétipos, as

54 Carisma - força que inspira e chave que explica a originalidade da experiência e da prática dos conselhos