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Luiza Mondini foi a Catequista que substituiu Maria Avosani, como superiora quando da morte dessa 218 HEINZEN, Daniel Homilia proferida dia l 8 de janeiro de 1998 na missa comemorativa do Jubileu de

OBJETO: PACIÊNCIA NO TRABALHO

A CONGREGAÇÃO DAS IRMAS CATEQUISTAS FRANCISCANAS

11. Luiza Mondini foi a Catequista que substituiu Maria Avosani, como superiora quando da morte dessa 218 HEINZEN, Daniel Homilia proferida dia l 8 de janeiro de 1998 na missa comemorativa do Jubileu de

Mas, se a limpeza da imagem se fez a seu preço, uma área houve em que o Concilio encontrou as Catequistas sumamente disponíveis, a área da atuação apostólica.

Habituadas a trabalhar em comunhão com a Igreja e, por isso mesmo, no desejo de uma rápida integração no chamado Plano de Pastoral de Conjunto da CNBB, de 1965279, com facilidade assumiram toda a diversificada pastoral proposta pelo novo plano, diversificação esta que foi acrescentando cada vez mais novas pastorais com novas atividades, a que elas foram aderindo a ponto de correrem o perigo de perder de vista o que lhes era específico, mais talvez pela pressa de atualização do que, firmando-se no carisma, compreender que era necessário integrar o novo no que lhes é perene, a educação e a catequese, compreendida agora, aquela como formação integral da pessoa cidadã e esta como educação permanente da fé.

Em conseqüência disso, o cotidiano da Catequista, vivido no estilo bem inserido, sim, mas com consciência um tanto ingênua e sem compreensão da problemática social, passou de uma vivência relativamente tranqüila a outra mais agitada, dispersiva, para não dizer ativista e desejosa de atender e responder a todos e tudo. Parece que o Concílio deixou as Catequistas um pouco atordoadas. Afinal, o que queria a Igreja se ela, a Catequista, já estava vivendo o modo que parecia ser o solicitado? Não estava ela mergulhada por inteira na realidade? É verdade. Mas sua presença nas comunidades nem sempre era crítica. Sua ação nem sempre conscientizadora e mais que isso, libertadora e transformadora. O Concílio - e mais ainda Medellin e Puebla - vem despertar a Catequista e qualificar a inserção dela porque ela se torna mais consciente: seus olhos mais abertos e ouvidos mais atentos, seus horizontes mais amplos que os contornos do lugarejo e

279. 1.° Plano de Pastoral de Conjunto. Foi aprovado na 6® Assembléia Geral da CNBB, realizada em Roma, onde os bispos se encontravam para a última sessão do Concílio.

comunidade onde vivia e trabalhava. Após o Concílio os mecanismos que a inferiorizava, humilhava, constrangia, como andar de tamancos, usar avental, trabalhar na horta e na roça, tratar de animais, cuidar da casa, se juntar ao povo, passou a ser “brio” para elas.

“...epassamos a amar isso. A assumir como marca nossa, sermos na verdade a irmã do povo, lutando para ajudar na solução dos seus problemas e transformação da sociedade e não só promovê-lo pela educação e

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catequese

Assim, a Catequista aprofunda, após o Concílio Vaticano II, um modo de ser inserido que já trilhava desde os tempos da fundação; um modo de ser intrínseco ao ser Catequista e que lhe cabe ainda preservar e aculturar.

Desse tempo, trago algumas lembranças que ficarão para sempre como memória de experiência vivida entre esperanças e tensões. Deixo aqui registradas algumas como testemunho pessoal de um evento que sacudiu a Igreja, considerada mais firme que a rocha.

Logo depois da morte de Pio XII, a eleição de João XXIII e o anúncio de que seria feito um Concílio na Igreja, foi assunto que, embora não trouxesse alterações imediatas na cotidianidade da Catequista, o interesse pelo evento foi sentido. Afinal, eram passados quase cem anos desde o último Concílio, o Vaticano I (1869-1870). Junto com o sabor da novidade que o Concílio prometia, estavam presentes os temores e a ansiosa expectativa do povo de Deus e das Catequistas também.

O Concílio se realizou. Quando o Concílio terminou, a VR tinha recebido uma tarefa, atualizar-se. Com esta finalidade fez-se na congregação o Capítulo Geral Especial, em três etapas, iniciando em 1968. Na época eu trabalhava em Rondonópolis, MT. Fui convidada para participar das sessões capitulares. Era a irmã mais jovem da Assembléia.

Certamente um dos trabalhos mais insanos foi elaborar o novo texto das Constituições Gerais, mas o mais polêmico girou em tomo da organização estrutural da Congregação.

Outro ponto polêmico foi a volta ao traje civil. O fundador queria as Catequistas vestidas “iguais às mulheres do povo”. Mas as Catequistas, em 1929 haviam trocado as vestes civis por hábito religioso. Era coisa secundária mas se tomou ‘quente’ nos debates. Interessante é

que não se remontava, para a volta ao traje civil ao desejo do fundador. Isto não era trazido ao debate. O que fundamentava o desejo eram as solicitações da modernidade. O capítulo votou a favor e voltamos ao traje civil. Não sem sofrimento para muitas, para as quais os hábito já fazia parte da identidade

E na praxis cotidiana? O que atualizar se a Irmã Catequista vivia no interior onde o povo muitas vezes era mais tradicional que elas? Dom Gregorio Warmeling, então bispo de Joinville, dizia que a Igreja precisava de homens e mulheres do século XX, pessoas que acompanhassem o progresso do mundo e não de quem cultivasse os cochichos das sacristias. Ele queria as Catequistas atualizadas. E muitas irmãs começaram a participar de cursos sobre liturgia, catequese, sacramentos. Lembro-me que participei de um curso sobre o sacramento da confissão. Na época já haviam sido introduzidas as novas normas sobre o jejum eucarístico281. Discutia-se então no grupo se a missa seria antes ou após o café da tarde (por causa o tempo regulamentar). Sem talvez pensar muito eu perguntei ao sacerdote que diferença faria comungar o Corpo do Senhor antes ou depois da bolacha maria. Ele olhou para mim e depois para o grupo e falou: “Com essas cabeças, a Igreja precisa mesmo mudar”. Foi um tempo exigente mas dinâmico, onde se começou a fazer forte apelo à responsabilidade pessoal.

Na verdade, o Concílio nos abriu mais os olhos. Período de intensa ebulição onde a novidade assustava mas atraía; onde havia sobras de criatividade e falta de bom senso; onde dúvidas e perplexidades andavam ao lado de esperanças e otimismo.

Certamente para mim o fato mais significativo nesse tempo foi a superiora geral ter solicitado minha volta de Mato Grosso para Santa Catarina e mais que isto, que eu deixasse a escola para assumir o serviço da secretaria geral. Deixar o contato diário com alunos, professores, comunidade e me dedicar a um serviço burocrático foi muito exigente. Aqui o Concílio foi difícil para mim mas não em questões de “aggiornamento”. O Concílio foi, sim, uma bênção em todas as dimensões. O novo serviço, me colocou em contato com todas as irmãs da congregação, me fez viajar pelo país de Norte a Sul, conhecer a realidade onde viviam e atuavam e compreender ainda mais que a renovação era necessária.

É claro que muitas outras coisas poderia registrar como memória pessoal vivida nesse tempo. Mas considero estas suficientes para assegurar a participação efetiva na dinâmica que o Concílio imprimiu a vida religiosa e a toda Igreja.

281 . Por jejum eucarístico se compreendia o tempo que devia separar a última refeição da hora de comungar. 158