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SUJEITO GLORIFICADO

5. SEQÜÊNCIA: TOLTA À CASA DO CAPITÃO

5.2. O Laboratório

5.3.2. O Fazer-Crer

O fazer-crer constitui uma dasformasde manipulação e está ligada ao crer ou não-crer: no nosso conto Mendonça tenta persuadir Amaral de queedo tado de uma inteligência inigualavel no âmbito humano. O fazer-crer do des tinador (Mendonça) implica no fazer interpretativo do destinatário.

A persuasão do capitao pode ser remetida ao plano pragmatico (pia no das açoes) e ao plano cognitivo (plano das ideias). No plano pragmático situam-se a revelação de Augusta como mulher sintética (seqüência 3) e a transformação do carvão em diamante (seqüência 5).

No primeiro caso o sujeito Amaral não presencia a execução da ex periência que deu origem a Augusta, mas ve o capitao tirar-lhe os olhos e a palpa-os com a mao. Usa, portanto, os sentidos visual e táti1 para confirmar o que o capitao lhe diz:

mim, palpe.-oò, diga-me. òe. jã viu obtia tão peA^eÃXa". Ue. qíimcÁR 3)

A transformação do carvão em diamante ocorre de modo similar, com a diferença de que nesta o sujeito Amaral presencia a experiência.

"E e.{?Xivame.ntz txouxz um diamante, na palma da mão, peA^eÃtUÂ&imo e. da meJLkoti ãgua". (óeqlíência 5)

Estas demonstraçoes do capitão Mendonça têm por objetivo impressio nar Amaral e levá-lo a crer na sua superioridade.

"— Afiinal, dÍÁí>z Mzndonça, o douutofi ha.de.ac.oA_

tuma/i-Ae. aoò me.uò tnabalhoA ... e. acAe.dütaAa e.ntao ...”.

Ao destinatário Amaral cabe emitir um juízo epistêmico (crer ou não-crer) nos enunciados submetidos a sua apreciação.

A modalização epistêmica exige que haja um contrato fiduciário en tre destinador-manipulador e destinatário-sujeito. Neste presume-se que o des tinador esteja sendo sincero em seu discurso e que o destinatário, através do seu fazer interpretativo, receba o discurso do destinador como uma verdade in contestável, supõe, portanto, confiança entre ambas as partes (um dizer ver dadeiro por parte do destinador e um crer verdadeiro por parte do destinata rio).

Sabemos, também, que para a manipulaçao ser eficiente é necessário que destinador e destinatario compartilhem do mesmo sistema de valores, no ca so e necessário que Mendonça e Amaral acreditem na ciência e na eficiência dos métodos científicos.

Mendonça cre na ciência e na própria capacidade e sabedoria.

Amaral revela-se un homem de seu século, lembremos que estamos no século XIX sob a influência do cientificismo positivista.

"Con{e6So que., apesaA da minha cufUo6Áxlade.de homem de. dêncJjOL divicUja a minha atenção entAe a quhnl ca do pai e as gAaças da { il h a ". ~

Compartilhado o mesmo sistema de valores, crença na ciência, odes tinatário-sujeito deverá, partindo da manifestação (parecer ou não-parecer), chegar a imanência (ser ou não-ser). Desta forma ao emitir un juízo positi vo sobre o fazer-crer do destinador o destinatário está acreditando que opa recer corresponde ao ser :

"— Jã cAelo. Não posso negaA a evidencia; quem tem nazão e o senhoA; o Aesto do mundo não s a b e na da".

Lançando a apreciaçao do destinatário ao fazer-crer do destinador no quadrado semi ótico temos:

certeza improbabilidade

(não-crer-não-ser) (não-crer-ser)

(GREIMAS & aXJRTÉS, s/d, p. 151) As linhas pontilhadas indicam o caminho que percorre o fazer inter pretativo do destinatario-sujeito que parte da incerteza (nao-crer-ser), pas sa ã probabilidade (não-crer-nao-ser), chegando a certeza (crer-ser).

5.3.3. Ás Suspensões

Vimos no início desta seqüência que Augusta cria una situação de suspense ao dizer ao pai que tem izn pedido para fazer e, ao nao revelar o conteúdo deste pedido, cria a suspensão.

Neste segynento, que ora estudamos, nos confrontamos comduas situa ções que remetem a suspensão. A primeira está relacionada a suspensão já es tudada e diz respeito ao pedido que Augusta tem a fazer para o pai e que con tinua a manter em segredo.

£ veJidadz! Não me duA&tete. que. tínhcu> dz pzdÁjL-mz uma c o á j>cl?

SÃjn; meu, agofia e. ta/idz, amanha".

Novamente Augusta esquiva-se de mencionar o conteúdo do pedido. Se passou desapercebido ao enunciatário a primeira suspensão, sua reincidência por certo será notada, pois a própria repetição pode ser considerada um in dice.

A outra suspensão pode ser percebida no dialogo entre Amaral eMen donça onde este último revela ter descoberto o "meio de criar gênios".

Há aqui uma série de pormenores que procedem a ancoragem do texto: "livro árabe do século decimo-sexto", "livro in-folio", "impresso com carac teres árabes feitos com tinta vermelha". Estes elementos têm por função a tar o discurso ã realidade e dar respaldo ã descoberta do capitao.

A suspensão é criada pelo jogo da temporal idade: expoe-se um acon tecimento enigmático de tal maneira que cria uma relação futuro-presente, ou seja, o futuro fica implicito no presente, obrigando o leitor a percorrer to

da a narrativa para resolver o enigjna apresentado no presente. Assim, o lei tor vê-se obrigado a prosseguir a leitura para desvendar o conteúdo do pedi_ do de Augusta, então perceberá que o pedido e a descoberta do capitão estao relacionadas e mencionadas com antecedência, dão o rimo da narrativa, isto é, antecedem e preparam para a operação que tem por finalidade transformar Amaral em gênio.

5.3.4. A Manipulação

Há neste final de seqüência novamente a manipulação exercida por Augusta com o objetivo de fazer Amaral retornar no dia seguinte, dia da ope ração.

A manipulação ocorre através da figura da sedução e pode ser senti_ da no tom de voz e no pedido de Augusta.

"AuguAta com voz A u p i Ácante e teAna. cLcó-òe-me:

— l/em ,a m a n h ã ?

Venho".

Assim manipulado o destinatario-sujeito Anaral ja encontra-se mo dalizado com o dever-fazer (retomar a casa do capitao), adquirido pela pro messa que faz a moça de retornar. E modalizado com o querer-fazer que lhe e

transmitido pela sedução da "voz suplicante e terna" da moça.

Destinador- Destinatário- modalidades manipulador -sujeito dever-fazer Augusta e Amaral querer-fazer (figura da sedução)

5

"Mo d m óegulntz Ae.ce.bi. um biZheXe. do cap-Ltão Htndonça, Logo de, manha.

"Gtiande. noticiai Tuata-òe. da noAAa feLicldade., da t>ua, da minha e. da de. Auguòta. Venha à noite. òem fal ta".

ORGANIZAÇÃO INTERNA DA SEQÜÊNCIA 6

Delimitada pela disjunção temporal: "no dia seguinte", "logo de ma nhã"epelas disjunções espacial e actorial, uma vez que, pela comparação com a seqüência anterior, deduzimos que Amaral está só e em sua casa. Esta seqtisn cia distingue-se também pelo tamanho, é a menor de todas sendo que a maior

é a terceira seqüência.