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10 Percentual de feirantes que têm apoio para trabalhar na feira em

4.4 A feira livre e a agricultura familiar

A agricultura familiar é uma forma de produção em que o núcleo de decisões, gerência, trabalho e capital é controlado pela família. A família trabalha diretamente na terra, podendo ter o auxílio de terceiros. Deve ainda a mão-de-obra familiar utilizada no estabelecimento ser superior à contratada. É o sistema predominante no mundo, com 4,5 milhões de estabelecimentos agrícolas no Brasil (80% do total nacional), metade deles encontrando-se no Nordeste. A agricultura familiar detém 20% das terras e 10,1% do Produto Interno Bruto nacional; dela, dependem cerca de 13,8 milhões de pessoas, trabalhando em 108 milhões de hectares; ela é responsável ainda por 30% da produção agrícola nacional, contribuindo com 60% dos produtos básicos da dieta do brasileiro (feijão, arroz, milho, frutas, verduras, hortaliças, mandioca e pequenos animais) (EMBRAPA, 2007; GUANZIROLI et al, 2001; MDA, 2007).

O Brasil tem 4.928 municípios com menos de 50 mil habitantes, e neles é fundamental o papel da agricultura familiar, que é responsável por inúmeros empregos no comércio e nos serviços prestados nesses municípios. O aumento da renda da agricultura familiar, à medida em que se integra mais ao mercado, pode ter importante impacto também na economia dos pequenos municípios (EMBRAPA, 2007).

No Brasil, a maioria dos agricultores familiares tem baixo nível de escolaridade e diversifica suas culturas para minimizar seus custos, aumentar a renda e aproveitar oportunidades de oferta ambiental e disponibilidade de mão-de-obra. É exatamente por essa diversificação que a agricultura familiar traz benefícios socioeconômicos e ambientais (EMBRAPA, 2007).

O conceito de agricultura familiar é relativamente recente no Brasil, tem não mais que quinze anos; anteriormente, era conhecida (de forma até preconceituosa) por “pequena produção”, “pequena agricultura”, “pequeno agricultor”, “agricultura de baixa renda” ou “de subsistência”, pois as populações que dela dependiam, em sua maioria, eram marcadas pela pobreza, vivendo e produzindo em terras arrendadas, utilizando conhecimentos puramente empíricos, não formais; essas populações também careciam de políticas públicas e sofriam com a

burocracia em conseguir financiamentos oficiais8. O estabelecimento familiar é, ao mesmo tempo, uma unidade de produção e de consumo (ABRAMOVAY, 1992 apud DENARDI, 2001).

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) é a primeira política pública diferenciada em favor dos agricultores familiares brasileiros. Foi o programa que massificou o acesso ao crédito de custeio para os agricultores familiares, ainda que, na opinião de Denardi (2001), o aumento quantitativo não tenha sido acompanhado de avanços qualitativos, já que o Pronaf, àquela época, financiava apenas o custeio de tecnologias convencionais para produtos convencionais, faltando o crédito para investimento e mudanças nos sistemas de produção.

O mais popular dos tipos de PRONAF é o B, que é uma linha de microcrédito, criada em 10 de agosto de 2000, voltada para produção e para geração de renda das famílias de agricultores de mais baixa renda no meio rural. A linha financia famílias com renda bruta anual familiar de até R$ 4 mil, podendo ser 70% da renda provenientes de outras atividades, além daquelas praticadas no estabelecimento rural (MDA, 2007).

Deve-se ressaltar que os recursos financiados via PRONAF não podem ser encarados como transferências governamentais: apesar de o valor financiado ser relativamente baixo, existe uma relação contratual entre o tomador e o financiador que envolve pagamento de juros, o que vai de encontro à inexistência de contraprestação pecuniária específica, que caracteriza os programas governamentais de transferência de renda.

Entre as transferências, estão o Programa Bolsa Família, lançado em outubro de 2003, pagando benefícios que variavam de R$ 45 a 95/mês para famílias de baixa renda (dependendo da sua renda mensal e número de filhos menores de 15 anos), e as aposentadorias, cuja universalização, a partir de 1988, e regulamentação, a partir de 1992, ampliaram a cobertura para os idosos e inválidos no meio rural, equipararam homens e mulheres, reduziram o limite de idade para solicitação do benefício e fixaram o piso de pagamento em um salário mínimo.

8 No entanto, vale ressaltar que existem várias categorias de agricultura familiar, desde a de subsistência, pouco

Apesar da oneração fiscal e do vício distributivo, a previdência social é importante, porque cumpre a função de proteção social, revalorizando pessoas de idade, viabilizando a produção familiar no meio rural e funcionando como seguro agrícola. Sem ela, haveria o risco de aumento da migração rural-urbana, empobrecimento dos pequenos municípios (dependentes das transferências constitucionais9 para dinamizar suas economias), queda na qualidade de vida na área rural, bem como deterioração dos indicadores de saúde entre idosos e seus parentes no campo, que vivem no mesmo domicílio e são beneficiários indiretos do sistema. A economia fiscal gerada pela eliminação de grande parte da cobertura da previdência à população rural poderia acabar sendo mais que perdida pelos maiores gastos que ocorreriam com saúde, estrutura urbana, assistência social e outros programas de combate à miséria rural e urbana (DELGADO ; CARDOSO JR., 1999; DELGADO, 2003; SCHWARZER, 2000).

Com o PRONAF, a previdência social rural é uma importante política pública destinada à agricultura familiar, já que as aposentadorias e pensões mensais beneficiam mais de cinco milhões de pessoas na zona rural, ainda que nem todos residam fora dos centros urbanos (DENARDI, 2001). Os impactos socioeconômicos da previdência rural são muito expressivos: a renda domiciliar das famílias amparadas pelo seguro previdenciário rural está, em média, 16% acima da renda domiciliar de famílias sem acesso aos benefícios do INSS (DELGADO ; CARDOSO JR., 2000 apud DENARDI, 2001)

RIBEIRO et al. (2007) concluem que parte do dinamismo das feiras livres vem exatamente da aposentadoria, que influencia o movimento das feiras de três formas: a) garantindo a estabilidade da renda das famílias rurais, o que confere segurança à produção; b) formando mercado para os produtos das feiras livres dos municípios, pois aposentados e pensionistas são bons compradores, regulares e confiáveis; e c) estimulando a atividade econômica e expandindo o emprego na sede do município, por meio do aparecimento de novos consumidores urbanos que se abastecem na feira livre.

9 Entre elas, está o FPM (Fundo de Participação dos Municípios), criado pela Constituição de 1988, oriundo de

22,5% dos impostos de renda e sobre produtos industrializados, divididos em 10% para as capitais, 86,4% para os demais municípios do interior e 3,6% para os municípios do interior com mais de 142 mil habitantes. A distribuição do FPM é baseada nos coeficientes de participação divulgados pelo Tribunal de Contas da União, elaborados a partir dos dados populacionais anuais levantados pelo IBGE. Logo após a instituição do FPM, houve uma onda de criação