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Por que fazemos tudo que fazemos? O que dá sentido para nossa vida? Para que serve viver? Independente do jeito que você pensa ser certo viver, das escolhas que faz, do que você faz com sua vida ou do que a sua vida faz com você, se tem algo que você realmente quer, que você espera ter na vida, é felicidade. É pouco provável que você encontre alguém que diga, sinceramente, que vive para encontrar tristeza, ou que simplesmente não está preocupado em ser feliz. Foi um filósofo chamado Aristóteles quem primeiro disse que, no fim das contas, tudo o que fazemos é com uma finalidade: a de encontrar felicidade.

Mas, o que é felicidade?

Há muitas respostas possíveis. Para a indústria farmacêutica, a felicidade é uma questão de equilíbrio das substâncias em nosso cérebro. Corrige-se a tristeza com

remédios, portanto. Para os gurus da autoestima e vendedores de princípios, a felicidade é uma fórmula: comprando um livro com dez passos básicos você aprende o que é e como ser feliz. Para muitas religiões, a felicidade é uma coisa que está depois desta vida. E para uma sociedade consumista, felicidade é possuir coisas, na esperança de que a admiração alheia lhe confira o sentido que as coisas não podem lhe dar... Todas essas são respostas fáceis e se você puder ser feliz com esse tipo de resposta, fazendo as escolhas que elas exigem e vivendo a vida que elas propõem, então não há mais nenhum problema.

Mas, se respostas tão fáceis dessem mesmo conta de proporcionar uma felicidade suficiente, certamente já teríamos extinguido do mundo a depressão e todos os parentes dela: o mau humor crônico, a melancolia exagerada, a chatice doentia dos mal resolvidos e o triste hábito que algumas pessoas têm de cuidar da vida alheia. Não parece ser este o caso. Então, aqui, a Filosofia talvez possa nos ajudar um pouco.

Tratar filosoficamente um problema é não se contentar com respostas fáceis, mas permitir-se pensar para além do que é tido como certo, do que é respondido corriqueiramente e aceito sem maiores reflexões. É por isso que na filosofia acabamos encontrando muito mais perguntas do que respostas. Mas assim, pelo menos, podemos nos livrar daquelas que não nos servem.

Por que é que não nos serve a resposta que diz que a vida feliz é a que consegue juntar mais coisas? Não é porque as coisas não tragam felicidade alguma quando enfim as possuímos, mas porque essa felicidade não é durável e também porque somos induzidos a um erro quando identificamos uma coisa, um lugar, ou até mesmo uma pessoa, com a felicidade: o erro de confundir uma causa com a própria coisa.

Parece difícil, mas não é. Imagine que em um dia insuportavelmente quente alguém lhe dê um picolé de limão. Você sentirá alegria em degustá-lo, principalmente se você gostar de picolés de limão. Nenhum problema há nisso. Mas se você passar a acreditar que picolé de limão é a felicidade, aí sim há um grande problema: uma coisa que em certo momento lhe proporcionou alguma alegria não é a própria felicidade. É provável que você rapidamente enjoe de picolés de limão e que, no inverno, você passe a acreditar que a felicidade, na verdade, está em tomar um bom chocolate quente: mas você apenas terá trocado uma coisa por outra.

Dessa forma, será necessário estar sempre em busca de outra coisa, enquanto a vida passa e a felicidade, que você desejaria que fosse duradoura, não consegue se estender para além de breves momentos alegres.

Epicuro, outro grande filósofo grego, percebeu que se acreditarmos que a felicidade está no fim de uma busca, em um ‘final feliz’, é provável que termine a vida

antes que chegue o dia em que nos consideremos de fato felizes. Felicidade é sentir-se feliz: eis uma resposta óbvia!

Mas é muito difícil sentir-se feliz se você sente que sempre falta alguma coisa. Os momentos realmente felizes são aqueles

que valem por eles mesmos, momentos em que sentimos que a vida vale a pena ser vivida, momentos que não são vividos em função de outros, momentos em que nos sentimos satisfeitos apenas por poder viver o momento que vivemos. É feliz quem aprende, apesar das dores que inevitavelmente a vida tem, a fazer suas escolhas e orientar sua vida de forma a ter tantos momentos assim quanto possível for. E como se aprende isso?!

Infelizmente, não existe uma fórmula. E é exatamente porque não existe uma fórmula que sirva para todo mundo que esta é uma questão filosófica. Da mesma forma que ninguém além de você mesmo pode fazer suas escolhas, ninguém poderá filosofar por você. As respostas fáceis sobre como proceder para encontrar a felicidade não lhe servem porque você precisa da resposta que apenas você mesmo pode se dar, e não é possível encontrá-la sem observar e refletir sobre a própria vida...

Nos livros que os filósofos escrevem, aprendemos a pensar sobre questões de que ainda não havíamos nos dado conta, mas de nada lhe servirão se você não se dispuser a filosofar. Claro que pensar sobre si mesmo, refletir sobre suas ações e sentimentos, aprender a viver e conviver de um jeito que seja melhor e mais feliz não é fácil e não se termina

da noite para o dia. Mas, se você não começar, ninguém vai começar por você: porque ninguém pode ser feliz por você!

No começo deste texto a pergunta era ‘o que é

felicidade?’, agora a pergunta é: ‘o que é felicidade para você?!’

Aliás, usei tantas vezes o pronome ‘você’ para deixar bem claro que a felicidade é uma busca muito pessoal. Pensar filosoficamente sobre este problema certamente lhe trará muito mais dúvidas do que certezas. Mas talvez as incertezas lhe digam muito mais sobre a vida do que as supostas respostas certas.E já que a vida não vem com manual de instruções: por que você mesmo não escreve o seu?!

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