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Felisbela – Vice-Presidente de Empresa de Investigação 18 de Outubro de 2013 Caracterização do entrevistado

No documento Nome do autor: Paulo José Farias Rodrigues (páginas 62-69)

Apêndice F: Textos obtidos a partir das entrevistas em profundidade

Entrevista 6: Felisbela – Vice-Presidente de Empresa de Investigação 18 de Outubro de 2013 Caracterização do entrevistado

Nº de entrevistado: 6

Nome fictício: Felisbela Data entrevista: 18/10/2013

Género: Feminino

Idade: 42

Formação académica: Doutoramento em Medicina Função atual: Vice-Presidente

Antiguidade na função: Desde 2009- 4 anos

Q – Em termos de liderança, quais são os desafios que enfrentas?

R – Primeiro, que o ambiente seja propício ao bem-estar e que as pessoas se sintam estimuladas para trabalhar. No fundo, criar um ambiente que seja motivador para as pessoas irem com vontade de trabalhar. Diminuir atritos entre pessoas e, acima de tudo, compensar o mérito, o trabalho, o empenho, valorizar as pessoas que produzem bem, estar atenta às que produzem mal e estar atenta aos motivos por que produzem mal. Se for possível, dar-lhes condições para que produzam melhor. Se for por uma questão de preguiça, eu sou completamente intolerante com a preguiça. Nessa situação de preguiça crónica, mando a pessoa embora, tomo a decisão de não a querer como parte da equipa. A existência de uma pessoa desse tipo desmembra a equipa, desmembra o espírito, diminui a atividade porque perturba, é um ruído. Tento perceber qual o motivo dessa preguiça: porque não está estimulado; porque é um projeto que não está a correr bem; não tem condições; tem algum problema. Se for crónico tomo a decisão de mandar embora.

Q 20

R – Não, sou pouco hierárquica. Sou mais amiga do que chefe, no entanto, em algumas situações de tensão, tenho de tomar uma posição de força. Aí, explicito bem qual é o meu papel e o da pessoa. A imagem no dia-a-dia não me preocupa, quer seja a imagem física ou como eles pensam que eu sou. Sou natural, não me preocupo com o que visto, calço ou penteio. Ando descalça no laboratório, se necessário. Não me preocupo com o aspeto ou em criar uma plástica. Sou natural, sou o que sou. Não tenho problema em chorar à frente deles, ou rir muito, ou ter um ataque de fúria. Sou normal.

Q 21

R – Acho que o que mais valorizo é que devo ser natural, que não pareça nem eu me sinta superficial. A minha naturalidade é o que eles apreciam e eu também.

Q 1

R – Na comunicação verbal valorizo a sinceridade, naturalidade e serem diretos e claros, não havendo meias palavras ou entrelinhas. Gosto de situações pretas ou brancas e tento diminuir as cinzentas. Na CNV, gosto que olhem para mim diretamente nos olhos sem olharem para o chão, gosto de estar próxima, não gosto de estar de pé e eles sentados, gosto de estar na mesma posição. Gosto de perceber que o outro está comigo de uma forma confiável. Se eu sentir que a pessoa não é confiável (ao ver os olhos, mãos, pela posição como se senta, como evita), eu desisto dessa pessoa. Q 2

R – Aos dois. Acho que há o brilho do olhar que transmite empenho, a forma como coloca as mãos, a forma como a pessoa se projeta para a frente, quer dizer que a pessoa está contente, feliz. Também sou preocupada com a formalidade da experiência que a pessoa está a propor. O projeto tem de ter empenhamento mas não pode ter só isso. Tem de ter solidez científica, formalidade, timeline, uma série de coisas, portanto, preocupo-me com os dois aspetos: 70% à formalidade e 30% à não formal, não verbal, porque a parte não formal não ganha projetos. O empenhamento é muito importante mas não chega.

Q – Se pensarmos num processo de recrutamento…

R – Não ligo nenhuma ao que ele diz. As coisas invertem-se. Numa entrevista, eu ligo a como a pessoa entra, como se senta, como me olha, como vem vestida, às mãos, que livro traz, que carteira, como fala e depois, na entrevista, faço perguntas pouco formais. Por exemplo: onde vives, como vens para o instituto, a que horas gostas de entrar no emprego, onde vais almoçar, tens carro? Na entrevista dou mais importância à parte não formal e não verbal do que à verbal. Eu sei que há pessoas que preparam a entrevista e essas não me interessam. Eu dou mais importância à energia que a pessoa transmite, olho muito para as mãos, porque a pessoa tem de trabalhar no laboratório, logo não pode ter as unhas pintadas, tem de tê-las curtas, as mãos lavadas, um aspeto arrumado, organizado, um ar limpo e organizado. Pergunto se gosta de cozinhar, etc.

Q – Vocês fazem avaliações de desempenho?

R – Mais ou menos. As pessoas têm de cumprir objetivos. Temos reuniões onde as pessoas têm de fazer a apresentação dos seus resultados.

Q – Mas aí és mais formal…

R – Sim, já conheço a pessoa, aí sou formal, só ligo ao desempenho. Q- 4

R – Sim, como se sentam. Estão tensas ou relaxadas? Eu própria identifico sinais e desmonto “porque é que estás nervosa?”. Eu tento tirar que tipo de contexto social e cultural trazem a partir da forma

como se apresentam. Pergunto muito o que estão disponíveis para fazer e há pessoas que são muito

overwhelmed mas há respostas que são rapidamente percetíveis como verdadeiras porque a pessoa

transporta com ela uma energia não verdadeira, uma montagem. Nisso sou picuinhas a desmontar a consistência entre o que se diz e o que se sente. Se só se diz, rapidamente torna-se plástico, não vai resistir. Também é muito importante pensar se aquela pessoa vai ou não destoar do grupo ou é um elemento que seja sinérgico. Há um contexto onde a pessoa tem de ser integrada. Eu não preciso de dez génios, eu preciso de dez pessoas que tornem um grupo genial porque dez génios podem não fazer um grupo.

Q- 5

R – Falo alto, coloco a voz, falar baixo não é bom. Tenho uma posição com segurança preocupada em demonstrar que não estou de ombros descaídos ou com um ar deprimido. Tento dar uma imagem mas para mim isso é natural, não faço nenhum esforço de energia, tenho de transmitir energia. Faço isso com gestos, gesticulo muito. Acompanho o que digo com gestos, com o olhar, com a posição. Se for preciso ando, salto, não tenho problema em ter uma imagem formal. Não tenho, nem preciso dela. Tenho esse privilégio, já não preciso de uma imagem formal. Posso saltar, rir, abrir os braços, fazer gestos, tudo o que me apetecer. Nas reuniões eu não tenho nenhum problema em interromper, não concordar, zangar-me. Tenho consciência de que, em termos profissionais, sou uma pessoa que usa o momento. As pessoas têm receio de mim, por exemplo, em relação aos mais novos, quando entro no laboratório, eu faço barulho porque sei que a minha entrada vai causar algum impacto. Eu não entro no laboratório de mansinho porque podem estar a dizer mal de mim, é natural os trabalhadores dizerem mal do chefe. Eu até costumo dizer que se tiverem de dizer mal de alguém que seja de mim, não digam mal uns dos outros. Faço barulho para que não sejam surpreendidos. Às vezes chego e eles estão todos jutos e eu digo “Então? O chá e as torradas, meninos?” e eles sentem-se mal. Eu sei que causo impacto, até pelo meu tamanho, a forma como anda, enérgica, não ando devagarinho, falo alto, eles têm receio de mim. Transmito essa força de forma enérgica, não é para transmitir medo mas sim energia, consistência e eles saberem que estarei ali para o que precisarem, mesmo não me apetecendo. É um papel que represento. Porém, quando estou triste não tenho muito problema de chorar à frente deles. Eu acho que o facto de se ser humano é importante, saberem que tenho os meus momentos. Sou amiga deles, confio neles como eles confiam em mim. Do ponto de vista pessoal, eu abro-me com alguns elementos da minha equipa, são meus amigos e nunca usaram isso, sempre foram muito corretos, nunca usaram essa relação em seu benefício, eu seria intolerante com isso.

Q7

R- Acho que tenho uma boa comunicação não verbal. Se tivesse de mudar alguma coisa era talvez não ter tantos momentos emotivos com eles, principalmente com os mais frágeis. Talvez se sintam perturbados de eu, às vezes, mostrar as minhas fragilidades e não saberem o que fazer, como lidar comigo. Mas eu acho que tenho um grupo fabuloso em termos de energia e cooperação e como para mim cooperação é darmos uns aos outros o que temos em falta, então eu acho que nisso somos muito simbióticos e, portanto, não mudava o grupo em nada. Com os pares sou diferente. Com os pares fora do instituto. No instituto sabem como sou, há uma relação pouco hierárquica com todos. Com o meu chefe há uma relação tipo filha, não preciso de uma comunicação não verbal para ele

saber o que estou a sentir e temos uma relação muito próxima. Com os pares fora do instituto, monto uma máscara. Sou uma mulher forte, enérgica e insensível, séria e fria, competitiva.

Q – Episódios em que a CNV tenha tido impacto com o teu grupo, com a chefia

R- Houve um aspeto muito trágico. Houve uma pessoa que construiu resultados que não existiam, fez uma fraude e eu detetei porque sou muito detalhada na análise em termos de encontrar sinais que não batem certo e dei-lhe a oportunidade de ele me dizer o que se tinha passado, tentar fazer com ele uma reconstrução do que tinha feito para acabar o doutoramento. Pela CNV, os olhos, como se movia, como se escusava, como me mentia, eu percebi que não era possível dar-lhe essa oportunidade. Estive com ele quase o dia inteiro para ele medir a força que eu tinha de ele achar que eu não era capaz. Eu estive desde as 8h da noite até às 6h da manhã a ver coisas, a conversar e essa CNV foi feita pela resistência. No fim, percebi que ele não tinha capacidade para voltar atrás, para dizer o que se tinha passado, no dia seguinte despedi-o sem dó nem piedade. Ele não assumiu, foi dizendo algumas coisas mas não a tempo e com a pressa suficiente no tempo que eu achei que deveria ser dado. Eu tive uma CNV com ele que foi a minha capacidade de resistir ao cansaço. Eu estive desde as 20h até às 6h e ele percebeu que eu sou uma mulher que não sou fácil de dominar. Depois, a minha CNV foi feita com o meu grupo que estava atento à forma como eu iria resolver a questão e a CNV com eles foi “O P. já não trabalha aqui” e não precisei de dizer mais nada. O tempo, a resistência, a resiliência, medimos forças pelo olhar “ou me dizes agora ou não te dou mais oportunidades”. O tempo é também uma forma não verbal de comunicar.

Q16

R- Consistência e a solidez. Q- Estilo pessoal

É muito importante. Alguém cinzento não tem capacidade para ser líder. Tem de ter carisma, um

outfit qualquer, pode ser grande ou pequeno, pode ser bonito ou bonita, não tem de ser um

estereótipo mas tem de ser qualquer coisa, assumido. Se for de plástico, quebra-se. Se for real, mantém-se.

Q- Comportamentos observáveis

R- Olhar direto, firme, sem medo, a posição da pessoa, isso é importante. Q- Características físicas

R- Não acho isso importante (alto, magro, gordo) mas acho que tem de ter alguns aspetos, carisma, porque há líderes muitíssimo carismáticos mas são baixos, não sei explicar mas tem de bater certo, tem de ter algum sabor, um sentido, haver qualquer coisa percetível.

Q 19

R- Normal, sou simpática. Não tenho sentido de humor mas acho que o cinismo dá oportunidades que os não cínicos não atingem. Tem algum sentido ser cínico, perceber, “ir brincar com aquilo”, mesmo do ponto de vista intelectual, saber contornar e saber ser cínico, isso dá liderança ou poder.

Poder é diferente de liderança mas para obter poder é preciso ser cínico. Eu sou líder mas não quero o poder.

Q- Quadro características físicas

R- Acho que se deve ser elegante nos gestos, não se pode ser um burgesso. Outros aspetos além destes: tem de se ser alinhado e limpo, não se pode ser um sabujo, nem estar suado.

Q- 8

R- Uma vez por semana Q- 9

R- Verbal porque são reuniões formais, discussão de resultados. Q- Na CNV que cuidados tens?

R- Quero que apresentem de forma organizada, que sejam diretos, explícitos, falem alto, que não estejam com rodeios, fazendo as coisas de forma impressiva.

Q- Como te sentas?

R- Não há lugares marcados. Sento-me sempre na fila da frente. Q- Quando falas com eles, levantas-te?

R- Não, falo de uma forma que seja eu a falar e não a minha sombra.

Q- As reuniões são um ritual, uma atividade muito importante no exercício da liderança?

R- Sim, mas não me preocupo com o sítio onde me sento. Nunca me sento na fila da frente, sento-me próxima de uma mesa, trago papel e caneta para poder escrever e pensar e, normalmente, sou que eu abro e fecho a reunião. Falo sempre alto, não falo a pedir desculpa.

Q 10

R- Vou para o jardim e aí discuto o problema porque é um ambiente informal, sem tensão. Quando se tem de discutir problemas como a pessoa não se estar a sentir bem, ou eu própria não me sentir bem com alguém, normalmente escolho locais que não são nada profissionais. O jardim é um espaço aberto porque apanhamos ar, fumamos, podemos sentar nas escadas. Preocupo-me muito em que que a pessoa se sente no chão de pernas cruzadas. Esse ambiente é mais propício à sinceridade. Para discutir resultados, vamos para uma mesa, para a entrada do laboratório porque aí já é profissional, é dentro. Para discutir resultados nunca o faço fora. Para discutir questiúnculas, nunca discuto dentro.

Q 12

R- Temos uma avaliação anual que é formal em que o aluno de doutoramento diz se está satisfeito com o supervisor ou se deteta algumas falhas importantes. Escreve-as e o supervisor faz o mesmo exercício em relação ao aluno de doutoramento. Essas folhas são comparadas. Eu faço mais uma

avaliação contínua sem pensar nela, das pessoas, da forma como se empenham experimentalmente, como resolvem problemas, como se empenham no trabalho, como respondem a desafios. O desempenho aqui traduz-se na produção de papers, pelas experiências que faz, se avança ou não avança. O objetivo é científico.

Q-Quadro de perceções

R- O bigode já é algo ultrapassado e com o cabelo comprido, lembra-me um ar desalinhado mas se for um bigode aparado e cabelo amarrado, já não me preocupa. Não pode é ter um ar seboso, que é repugnante.

Q- Porque é que foste mais detalhada em relação aos homens?

R- Porque eu imagino as mulheres com o cabelo lavado, seja curto, comprido ou médio e um homem de cabelo comprido parece um motoqueiro, com o cabelo comprido gorduroso, pouco lavado, até um pouco careca, o que dá um ar seboso.

Q 15

R- Não, nada, não quero saber. Podem ir quase de pijama, já os conheço, já fiz essa seleção e já não são esses aspetos que valorizo. São aspetos de competência, dinamismo, conhecimento. O aspeto deixa de influenciar.

Q 23

R- Eu tenho uma memória de elefante, sei onde tenho tudo. Não preciso de me organizar em termos formais, na secretária, nas gavetas, no computador para saber onde tenho tudo. A minha cabeça é muito organizada, o meu ambiente talvez não reflita completamente a minha cabeça. Eu tenho uma mesa e um computador relativamente desorganizados, tenho umas gavetas péssimas mas se eu precisar de um documento, sei onde está e o que quero.

Q- Não atribuis, portanto, grande importância à organização como imagem…

R- Atribuo em relação aos meus alunos, eu quero que eles tenham tudo muito organizado, porque não conheço a cabeça deles. Eu quero conhecer os ficheiros deles porque não sou capaz de entrar na cabeça deles. Comigo já não estou tão preocupada porque conheço a minha cabeça.

Q 26

R- Gostava de ter mais sentido de humor, é algo que não tenho, sou uma incapaz em termos de sentido de humor, de resto, acho que comunico bem.

Q 28 R- O humor.

Q- Consegues pensar na influência da CNV na liderança? R- Acho que é importantíssima.

R- Não. A maioria não tem. Preocupam-se em criar uma imagem muitas vezes plástica, baseada numa farda que a pessoa acha que põe, um fato, camisa, gravata, salto alto ou colar de pérolas, e passa a ser considerada uma pessoa com alguma importância. Baseia-se muito no aspeto exterior mas eu acho que é muito mais a forma como nos expressamos, com garra, solidez, energia, alegria. No fundo, é projetarmos na nossa comunicação, não tendo medo de sermos nós com naturalidade. Q- Se houvesse um modelo como os de liderança, para obter líderes mais eficazes, se houvesse um modelo de CNV no sentido das pessoas poderem ser mais eficazes na comunicação, ex. introduzir entusiasmo quando é necessário ser mais entusiasmado…

R- Queres um líder? Barack Obama.

Q- Se houvesse um modelo que ensinasse a ser melhor líder como resultado de uma melhor utilização da CNV, isso seria importante?

R- Eu acho que o Obama utiliza a CNV de forma magistral, porque tem um aspeto pouco formal embora seja um líder mundial, mas é um homem alinhado, cuidado, que sabe andar, colocar os pés, tem sentido de humor, sorri, usa o olhar, gesticula. Não há nenhum político português assim. O pior político português é o Cavaco Silva. É estático, parece um cabide, sem expressão no olhar, tem uma gravata sempre igual, embora haja pessoas que pensem que isso traduz segurança. Eu acho que dá sinal de rigidez, pouca visão, o tom é sempre o mesmo. Eu já estive na política e eles diziam que eu tinha um problema, tudo aquilo que sentia expressava no olhar mas eu acho que isso é que faz o agarrar das pessoas. O Obama não tem esse problema, ele joga com essa ginástica pessoal.

Q- Se houvesse possibilidade de difundir um modelo de CNV que pudesse ser transmitido às pessoas, nas organizações, para que comunicassem tão bem como o Obama, isso era bom?

R- Sim, era maravilhoso mas seria preciso ser natural, consistente, sólido, saber o que está a dizer e não ter medo de arriscar. Ter visão.

Q- Mesmo sabendo que estamos a usar um modelo? R- Sim.

Entrevista 7: Gil - Diretor Geral, Empresa de Consultoria Agroalimentar- 18 de Outubro de 2013.

No documento Nome do autor: Paulo José Farias Rodrigues (páginas 62-69)