• Nenhum resultado encontrado

Feminicídios domésticos, segundo municípios brasileiros, total de 2009 as

4.3 Feminicídios sexuais

A violência sexual causa mortes de mulheres e também de homens em todas as idades. Devido ao silêncio do Estado e da sociedade sobre a letalidade da violência sexual ela passa despercebida, especialmente ceifando vidas de meninas, meninos e jovens mulheres.

O feminicídio sexual é aquele em que a própria violência sexual foi a causa da morte. A seguir se apresentam dados referentes à morte por violência sexual de mulheres, mas também se demonstra a mortalidade masculina por esta causa, buscando assinalar que a violência sexual também faz vítimas masculinas, especialmente de meninos e jovens, embora em número muito menor que para as mulheres. O Sistema de Informação de Mortalidade notificou 24 óbitos masculinos por meio de agressão de tipo sexual, no período de 2009 a 2014, 6 destes casos ocorreram contra meninos de 0 a 14 anos, 15 óbitos de jovens de 15 a 49 anos e 3 casos de adultos mais velhos e idosos com 50 anos ou mais. Entre as possíveis suposições sobre estas ocorrências podem ser indicados os contextos do incesto e violência intrafamiliar no grupo dos meninos e adolescentes, além da violência contra população LGBT. Neste caso, pode-se levantar a possibilidade de vítimas documentadas como sexo biológico masculino, embora possuam a identidade de gênero feminina. Porém são apenas suposições que não podem ser comprovadas com o tipo documento.33

A tabela 22 apresenta além do número capturado em cada ano por grupo de idade, as variedades de registro do óbito. Ficam evidentes as diferenças entre as fontes de informação, até porque cada base tem por objetivo capturar um registro específico. Esperava-se que ao menos os dados dos registros do SINAN e SIH fossem compatíveis por serem registros de mortes hospitalares, mas capturaram de maneira diferente o fenômeno. A base SINAN registrou mais casos de óbitos masculinos por agressão violência sexual que o SIM e o SIH, provavelmente pela especificidade do documento que é capturar violência sexual e doméstica. De qualquer forma o fato reforça a tese de que cada documento produz sua própria estatística.

33

O SINAN incluiu a variável “identidade de gênero” em sua ficha de notificação da violência sexual e doméstica no ano de 2014, pela brevidade da inclusão não foi possível analisar a variável para o escopo da tese.

A tese registra que houve 24 casos de mortes masculinas causadas por agressão sexual, registradas pelo documento mais importante dos estudos da mortalidade a Declaração de Óbito. O SINAN registrou 34 casos, sendo a maior parte deles entre crianças e adolescentes de 0 a 14 anos.

O pareamento dos dados do SINAN com o sim geraria pesquisa interessante sobre como os 10 óbitos foram classificados pela cid10, provavelmente como “intenção não identificada”.

Grupo Idade Base Tipo 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Total

SIM Total 0 0 3 0 1 2 6

SIM Local hospital 0 0 3 0 0 1 4

SIH Evolução óbitos 1 0 0 0 0 0 1

SINAN Evolução óbitos 0 3 5 7 7 3 25

Total 1 4 1 5 4 0 15

Local hospital 0 4 0 3 0 0 7

SIH Evolução óbitos 1 0 3 1 0 0 5

SINAN Evolução óbitos 1 1 1 1 1 0 5

Total 0 0 0 3 0 0 3

Local hospital 0 0 0 0 0 0 0

SIH Evolução óbitos 1 1 1 0 0 0 3

SINAN Evolução óbitos 1 1 0 1 0 1 4

Tabela 22 comparativa óbitos masculinos por agressão sexual (Y05 ou Evolução óbito por violência e agressão sexual), por grupo de idade, Brasil, 2009 a 2014. Nº absolutos

0 a 14 anos

15 a 49 anos SIM

50 anos e mais SIM

Fonte: Ministério da Saúde – SIM/SIH/SINAN (SUS).

Na tabela 23, sobre o caso feminino, os óbitos foram mais numerosos e não devem ser interpretados como fatos isolados, mas como causa elucidativa do impacto da opressão de gênero contra mulheres, sobretudo pelos significados da violação sexual contra mulheres e sua relação com a tortura e controle do corpo feminino.

O Sistema de Informação de Mortalidade registrou 91 óbitos femininos por agressão sexual de 2009 a 2014, o Sistema de Informações Hospitalares registrou três evoluções para óbitos de suas internações por agressão sexual, o SINAN registrou 152 ocorrências de evolução óbito de suas notificações de agressão sexual.

Como pode ser observado existe diferença de quantidade de óbitos por agressão sexual capturada nas diferentes bases analisadas também para o caso feminino. Mais uma vez o SINAN foi o documento que capturou mais óbitos femininos por agressão sexual, por já ter como proposta a captura da violência sexual. O SIM registrou 91 feminicídios sexuais, houve uma concentração nas vítimas menores de 14 anos (44 óbitos), seguido pelas vítimas de 15 a 49 anos (38 óbitos), e em seguida as de 50 anos e mais (18 óbitos), no período estudado. Foi a base que menos registrou feminicídios

sexuais, total de três casos. Entre os 152 óbitos registrados pelo SINAN houve também diferença quanto à concentração etária, apresentando mais vítimas de 15 a 49 anos, 73 casos, enquanto o grupo de 0 a 14 anos somaram 61 casos, ao contrário do dado apresentado pelo SIM, que registrou maior concentração dos casos no grupo etário de 0 a 14 anos.

Tabela 23.

Grupo Idade Base Tipo 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Total

SIM Total 7 4 5 12 13 3 44

SIM Local hospital 4 1 1 5 4 1 16

SIH Evolução óbitos 0 0 0 0 0 0 0

SINAN Evolução óbitos 4 5 7 15 18 12 61

SIM Total 2 9 6 6 10 5 38

SIM Local hospital 0 4 0 2 4 1 11

SIH Evolução óbitos 1 1 0 1 0 0 3

SINAN Evolução óbitos 2 8 7 13 30 13 73

SIM Total 1 2 1 3 2 0 9

SIM Local hospital 0 0 1 3 2 0 6

SIH Evolução óbitos 0 0 0 0 0 0 0

SINAN Evolução óbitos 0 2 4 6 4 2 18

Tabela comparativa feminicídios sexuais (Y05 ou Evolução óbito por violência e agressão sexual), por grupo de idade, Brasil, 2009 a 2014. Nº absolutos

0 a 14 anos

15 a 49 anos

50 anos e mais

Fonte: Ministério da Saúde – SIM/SIH/SINAN (SUS).

O Mapa 3 a seguir apresenta a distribuição dos óbitos femininos por agressão sexual, feminicídios sexuais, nos municípios brasileiros. Pode-se notar que o fenômeno afetou alguns municípios específicos e que há uma grande concentração de casos na região Sudeste do país. No mapa os municípios com manchas mais escuras são respectivamente Rio de Janeiro, com 12 óbitos, e São Paulo com 10 casos. A maioria dos municípios assinalados eram municípios capitais, mas assim como os outros mapas aqui apresentados sofrem a influencia da sua relação direta com a concentração da população feminina e também com a maior cobertura para registros de óbitos e melhor classificação das causas básicas de óbito, o que pode levar aos equívocos de leitura.

O objetivo de produzir estes mapas é muito mais de ilustrar a dispersão do fenômeno no território nacional segundo a menor categoria espacial disponível nos bancos de dados em saúde de livre acesso, que no caso são os municípios, do que produzir a pretensão de reproduzir a realidade espacial destes óbitos que sofrem as diversas influências mencionadas, tomam-se os mapas como ilustrativos e não representativos.

MAPA 3. Distribuição em números absolutos dos feminicídios sexuais segundo

Documentos relacionados