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3 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO COMO REFERENCIAL TEÓRICO

3.4 FEMINIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO

Dentre os aspectos que envolvem o processo de envelhecimento mundial, torna-se importante fazer referência à feminização da velhice, sendo “uma manifestação de gênero do processo de transição de gênero que acompanha o envelhecimento populacional em curso em todo país” (NERI, 2007, p. 50). As mulheres apresentam maior expectativa de vida conforme a condição socioeconômica de cada país. A explicação para a feminização da velhice ou o superávit feminino nas idades mais avançadas, está vinculada à questão da mortalidade diferencial por sexo, crescimento do número de mulheres idosas economicamente ativas, maior número de lares chefiados por mulheres idosas, redução da mortalidade materna, diminuição na taxa de natalidade e melhoria no padrão de vida das mulheres maduras.

Os principais fatores protetores do envelhecimento masculino em comparação com o feminino são os seguintes: 1) os homens são geralmente casados e, dessa forma, têm maior probabilidade de serem cuidados; 2) têm status mais alto do que as mulheres; 3) desfrutam de níveis de renda e de escolaridade geralmente mais alto do que as mulheres; 4) são menos rejeitados por causa da perda de beleza e juventude; 5) têm autoimagem mais positiva; 6) têm menos doenças crônicas e incapacidade; 7) são mais satisfeitos com a vida e têm uma percepção de saúde mais positiva (NERI, 2007, p. 61).

Outros fatores podem ainda ser indicados na ocorrência da feminização da velhice. As mortes violentas, que atingem, sobretudo, os homens são apontados como determinantes dessa defasagem, e também tabagismo, consumo de álcool, dieta rica em gorduras, hipertensão precoce e doenças decorrentes do trabalho. Outra razão é a queda da mortalidade materna, propiciada pelos avanços e por uma maior distribuição de recursos oferecidos pela área médica. Entre os idosos prevalece um elevado contingente de viúvas, as quais contrastam com a alta proporção de homens casados. Dentre as razões para isto, estão em primeiro lugar, a maior longevidade feminina; em segundo lugar ocorrem fatos ligados a normas culturais e sociais que prevalecem nos países, as quais levam os homens a se casarem com mulheres mais jovens.

As características das mudanças variam de acordo com o pertencimento das mulheres a diferentes classes sociais [...] hoje existe muito mais flexibilidade do que no passado em relação a assuntos como a época de constituir família, ter filhos e número de filhos, as relações dos jovens com os pais e com os parentes mais velhos, as relações dos avós com os netos, a indumentária, o lazer, a educação, o trabalho, o comportamento sexual e a liberdade da mulher decidir por si. A libertação do jugo da procriação, do cuidado com os filhos e com a casa e, às vezes, do jugo do marido é apontada como um ganho da “nova velhice” feminina, com mais liberdade, auto-afirmação, autovalorização, atividade e participação social fora de casa do que no passado (NERI, 2007, p. 48-9).

Prevê-se que até 2025 a razão de sexo por idade e por região do mundo mudará de forma intensa, apresentando a seguinte configuração.

Tabela 4 - Número de homens por 100 mulheres

Região 64-69 anos 70-74 anos 75-79 anos Acima de 80

África 89 88 86 83 Américas 85 79 72 58 Mediterrâneo 102 100 98 95 Europa 79 65 55 42 Sudeste da Ásia 95 94 93 105 Pacífico Ocidental 97 86 75 57 Fonte: Neri (2007, p. 52).

As mulheres idosas têm apresentado maior capacidade de decisão, pois são mais acessíveis em assimilar novos valores em relação ao processo de envelhecimento, por serem mais envolvidas com a família, assumindo um papel de intimidade maior com os filhos, diferentemente do papel de provedor por muito tempo assumido pelos homens. As mulheres idosas, contudo, estão mais suscetíveis ao isolamento, carência, abandono, violência, principalmente as que se encontram em situação de vulnerabilidade social. No Brasil, a esperança de vida ao nascer de homens era de 58,3 anos e, em 1996, de 63,2 anos. A esperança de vida aos 60 anos entre os homens saltou de 14,2 em 1980 para 16,3 em 1996. A das mulheres passou de 17,6 em 1980 para 20,4 anos em 1996 (NERI, 2007). A questão da feminilização da velhice pode ser observada na tabela a seguir.

Tabela 5 - Razão de sexo das pessoas de 60, 65 e 70 anos ou mais, segundo as Grandes Regiões, Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas (2007)

Razão de sexo das pessoas de 60, 65 e 70 anos ou mais

Grandes Regiões, Unidades da Federação

e Regiões Metropolitanas 60 anos ou mais 65 anos ou mais 70 anos ou mais Brasil 79,5 76,7 72,5 Norte 91,5 92,0 85,8 Nordeste 80,7 79,4 76,7 Sudeste 76,1 73,5 69,0 Sul 79,9 73,7 67,3 Paraná 82,8 78,1 75,3

Região Metropolitana de Curitiba 69,7 67,9 67,2

Santa Catarina 82,3 75,1 67,5

Rio Grande do Sul 76,7 70,0 61,9

Região Metropolitana de Porto Alegre 69,4 63,0 56,6

Centro-Oeste 92,5 88,7 90,1

Nota: Razão entre homens e mulheres em uma dada população expressa no número de homens para cada 100 mulheres.

Nota-se que no Brasil a maior razão entre homens e mulheres concentra-se na faixa dos 70 anos. Já em termos de região a maior razão está na faixa de 70 anos e se concentra na região metropolitana de Porto Alegre. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2006, as mulheres correspondiam a 52,3% da população brasileira que reside na zona urbana e a 47% daquela que vive na zona rural. As mulheres são maioria entre os idosos brasileiros de 60 anos ou mais. Há uma razão de 62 homens para cada 100 mulheres. Torna-se importante ressaltar que:

Mesmo que a velhice não seja universalmente feminina, ela possui forte componente de gênero. A maioria das idosas brasileiras de hoje não teve trabalho remunerado durante sua vida adulta. Além disso, embora vivam mais do que os homens, passam por um período maior de debilitação física antes da morte do que eles. Por outro lado são elas que participam, mais do que os homens, de atividades extradomésticas, de organizações e movimentos de mulheres [...] assumem, progressivamente, o papel de chefes de família e de provedoras (CAMARANO; KANSO; MELLO, 2004, p. 30).

Esses índices interferem nas políticas sociais de atendimento aos idosos que não devem somente estar ligadas a questões burocráticas, voluntariado e focalização de atendimentos, mas sim em enfretamento, estratégias de resistência a questões de pobreza, baixa escolaridade e educação de má qualidade, que influenciam toda sua sobrevivência. Neri (2007, p. 62) aponta algumas soluções que podem beneficiar os idosos no geral, mas principalmente as mulheres: oferecimento de apoio material e instrumental informativo às mulheres e às famílias de cuidadores, formação de recursos humanos em vários âmbitos para atender às necessidades biológicas e psicológicas dos idosos, garantia de acesso universal dos idosos e suas famílias, melhorias na qualidade dos serviços de saúde a idosos e a suas famílias, investimento no atendimento ao idoso por meio do Programa Saúde da Família, aumento regular na rede de atendimento a idosos, entre elas centros-dia, ambulatórios, hospitais e Instituições de Longa Permanência e reajuste nas aposentadorias e pensões pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social.