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3 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO COMO REFERENCIAL TEÓRICO

5.1 UM RECORTE NA REGIÃO DAS MISSÕES E FRONTEIRA OESTE EM

Considerando que a amostra geográfica escolhida pelo presente estudo destaca as políticas de atendimento ao Idoso no Âmbito da Assistência Social e Instituições de Longa Permanência da Região das Missões e Fronteira Oeste, apresenta-se, de forma sucinta, algumas características das referidas regiões.

Numa região entrecortada pelos rios Paraná e Uruguai, que inclui territórios do Rio Grande do Sul, Argentina, Paraguai e Uruguai, escondem-se os vestígios de um dos mais importantes - e desconhecidos - capítulos da história da América Latina. Um capítulo que começou em 1603, quando os padres jesuítas, a serviço de um amplo projeto de conversão espiritual dos povos indígenas da Bacia do Prata, fundaram a primeira redução jesuítico-guarani da região. Lá viveram milhares de índios guaranis catequizados, num sistema de cooperação social que combinava o solidarismo e a reciprocidade da cultura guarani às inovações técnicas trazidas da Europa (como a escrita, a imprensa e a metalurgia).

14 Escola de Saúde Pública RS. Disponível em: <http://www.esp.rs.gov.br>). Acesso em: 12 dez.

2009.

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Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social. Disponível em: <http://<http://www.stcas.rs. gov.br>. Acesso em: 28 nov. 2009.

O desenvolvimento e a expansão do projeto levaram à formação de 30 povoados do gênero na região. Durante 150 anos, eles formaram uma sociedade interligada que chegou a abrigar mais de 100 mil pessoas, entre guaranis e jesuítas, e que desenvolveu uma arquitetura, um planejamento urbano e um modo de vida considerados únicos em toda a História da humanidade. Disputas pelo controle desse território, envolvendo as Coroas, portuguesa e espanhola determinaram a decadência e a gradual dissolução das Missões jesuítico-guaranis. Nos locais onde elas floresceram, restam hoje apenas as ruínas de uma sociedade dizimada pela força colonialista e do derramamento de sangue indígena (CAMPOS, 2006).

Em 1983 as ruínas remanescentes das Missões foram declaradas Patrimônio Histórico da Humanidade, pela Unesco, formando hoje a base do chamado Circuito Internacional das Missões. Além das belezas arquitetônicas restantes, a região oferece ao viajante vários museus com importante acervo da arte sacra produzida pelos guaranis evangelizados, muita informação histórica, rios caudalosos e lindas paisagens modeladas pelo clima temperado. Ela também proporciona o contato com um povo e uma cultura única em todo o continente, formados a partir de uma combinação absolutamente singular entre os costumes do homem branco e dos povos guaranis (CAMPOS, 2006).

Principal polo de ligação entre a região missioneira e o resto do país, a cidade de Santo Ângelo é o marco zero para quem quer visitar o lado brasileiro das Missões. Já na estação rodoviária, o viajante encontra o gaúcho típico, vestindo suas botas, bombacha, boina e, não raro, segurando a cuia de chimarrão nas mãos (herança da cultura dos índios guaranis, que apresentaram a erva aos viajantes europeus). Santo Ângelo abriga atrativos como a Catedral Angelopolitana - imitação da Igreja de São Miguel Arcanjo -, museus e centros de cultura regional com informações sobre o período missioneiro, cachoeiras e uma agitada vida noturna para os padrões locais.

É na pacata São Miguel das Missões, no entanto, a menos de uma hora de ônibus de Santo Ângelo, que está o principal tesouro arqueológico missioneiro do Brasil: as ruínas de São Miguel Arcanjo, antiga capital dos Sete Povos das Missões (conjunto de reduções localizadas na margem leste do rio Uruguai). Todos os dias há pelo menos dois horários de ônibus entre as rodoviárias das duas cidades (CAMPOS, 2006).

Basicamente o que sobrou em pé foi a estrutura da igreja principal. Sua visão, no entanto, é de uma grandiosidade e beleza arquitetônica impressionantes. Próximo à catedral fica o Museu das Missões (projetado por Lúcio Costa - o criador da planta urbanística de Brasília) e abrigo de peças de arte sacra produzidas pelos habitantes das antigas reduções jesuítico-guaranis.

Figura 3 - Ruínas de São Miguel das Missões

Fonte: Corede Missões (2009).

Figura 4 - Ruínas de São Miguel das Missões Fonte: Corede Missões (2009).

A Região das Missões é composta por 26 municípios: Bossoroca, Caibaté, Cerro Largo, Dezesseis de Novembro, Entre-Ijuís, Eugênio de Castro, Garruchos,

Giruá, Guarani das Missões, Mato Queimado, Pirapó, Porto Xavier, Rolador, Roque Gonzales, Salvador das Missões, Santo Ângelo, Santo Antônio das Missões, São Borja, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões, São Nicolau, São Paulo das Missões, São Pedro do Butiá, Sete de Setembro, Ubiretama e Vitória das Missões.

Esses municípios são organizados por meio de uma associação denominada AMM16 - Associação dos Municípios das Missões - que realiza reuniões mensais dos

prefeitos, secretários e assistentes sociais para discussão de assuntos pertinentes à organização e administração dos municípios, segundo cronograma preestabelecido pela diretoria da associação. A pesquisadora aproveitou-se o espaço dessas reuniões para divulgar a presente pesquisa e estabelecer contato para envio dos questionários. Acordou-se que o resultado da pesquisa será apresentado em uma reunião da referida associação.

Figura 5 - Mapa da Região das Missões Fonte: Corede Missões (2009).

16 “Foi fundada em 20 de julho de 2001, possui sede em Cerro Largo. Seu objetivo é estimular e

promover o desenvolvimento econômico, social e cultural das localidades envolvidas, elaborando e executando projetos de interesse de todos, setor público, privado e comunidades”. Disponível: <http://rotamissoes.plugin.com.br>. Acesso em: 29 nov. 2006.

A Região das Missões compreende uma população total de 249.133 habitantes, com área de 12.844,6 km² e densidade demográfica de 19,4 hab/km². A taxa de analfabetismo é de 8,74%, e a expectativa de vida na região é de 72,18 anos. Vejamos a seguir a tabela da expectativa de vida nos municípios que fazem parte da Região das Missões.

Tabela 7 - Expectativa de Vida dos Idosos nos Municípios da Região das Missões (2009)

MUNICÍPIO EXPECTATIVA DE VIDA EM ANOS

Bossoroca 75,18 Caibaté 72,94 Cerro Largo 72,94 Dezesseis de Novembro 69,75 Entre-Ijuís 72,3 Eugênio de Castro 69,75 Garruchos 67,96 Giruá 69,75

Guarani das Missões 71,12

Mato Queimado Não têm dados

Pirapó 69,79

Porto Xavier 71,12

Rolador Não têm dados

Roque Gonzales 69,40

Salvador das Missões 74,45

Santo Ângelo 72,37

Santo Antônio das Missões 70,77

São Borja 72,35

São Luiz Gonzaga 73,36

São Miguel das Missões 70,30

São Nicolau 69,79

São Paulo das Missões 74,47

São Pedro do Butiá 72,94

Sete de Setembro 72,94

Ubiretama 74,77

Vitória das Missões 75,18

Fonte: Corede Missões (2009).

A Região da Fronteira oeste é composta por 12 municípios: Alegrete, Barra do Quaraí, Itacurubi, Itaqui, Maçambará, Manoel Viana, Quaraí, Rosário do Sul, Santa Margarida do Sul, Santana do Livramento, São Gabriel e Uruguaiana. A região se destaca por possuir o título de maior produção e área plantada de arroz no Estado. Possui também rios importantes da Bacia do Rio Uruguai, como o Rio Ibicuí, onde estão localizados os balneários: Praia das Areias Brancas em Rosário do Sul com 3 km de areias brancas e a Pérola do Rio Ibicuí, localizada em Manoel Viana. Os

municípios são filiados à Associação dos Municípios da Fronteira Oeste atualmente com sede em Uruguaiana (Amfro).

Além das belezas naturais, a Fronteira Oeste possui também muita história, pois foi com sua capital em Alegrete que a Revolução Farroupilha viveu dias decisivos e deu seus suspiros finais. Há também São Borja17 que é, sem contestação, o núcleo habitacional permanente mais antigo do território rio- grandense. Localiza-se na divisa com a Argentina uma das cidades gaúchas mais importantes da Fronteira Oeste: Uruguiana, que teve a ponte da integração erguida sobre o Rio Uruguai com cimento argentino e ferro brasileiro. É um símbolo da integração física entre os dois países. Representa uma mostra das dificuldades que os dois principais sócios do Mercosul tiveram, ao longo de sua história, nas relações bilaterais. A ponte, batizada de Agustín Pedro Justo-Getúlio Vargas, uma homenagem aos dois ex-presidentes que iniciaram as negociações em torno da obra, foi aberta ao tráfego em outubro de 1945. Sua inauguração oficial, no entanto, só ocorreu em 21 de maio de 1947. Em relação às fronteiras, Santana do Livramento é considerada exemplo, pois é conhecida como Fronteira da Paz, por ser administrada em paz com Rivera, pertencente ao Uruguai.18

A Região da Fronteira Oeste tem uma população total de 549.331 habitantes (5,39% do total do Rio Grande do Sul), dos quais 89,28% (490.424 habitantes) residem nas áreas urbanas e 10,72% (58.907 habitantes) nas áreas rurais. A região apresentou no período de 1996 a 2000 taxa de crescimento demográfico anual de 0,90% ao ano, inferior à média do Estado (1,39%). Os que apresentam as menores taxas de crescimento são Rosário do Sul (0,08%), Alegrete (0,54%) e São Borja (0,63%). Existem, no entanto, municípios com taxas mais altas que a média do Estado como: Manoel Viana (3,66%), Barra do Quarai (2,64%) e Santana do Livramento (1,48%). Cabe ainda salientar que os municípios de Uruguaiana e Santana do Livramento concentram, juntos, 35,56% da população da região.19

Na rede urbana da Região da Fronteira Oeste destaca-se Uruguaiana, a maior cidade da região, e também Santana do Livramento. A rede é constituída por mais seis cidades médias e quatro pequenas, emancipadas mais recentemente. Na

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O município de São Borja está filiado à Associação dos Municípios das Missões, porém geograficamente e em termos de informações, é indicado como município da Fronteira Oeste.

18 A expectativa de vida nos municípios da Região da Fronteira Oeste. Disponível em:

<http://b.daterraamfro. sites.uol.com.br/amfro.htm>. Acesso em: 2 dez. 2009.

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A expectativa de vida nos municípios da Região da Fronteira Oeste. Disponível em: <http://b.daterraamfro.sites.uol. com.br/amfro.htm>. Acesso em: 2 dez. 2009.

região estão localizadas seis aglomerações internacionais; três estão situadas junto a fronteira com a República Argentina: São Borja - Santo Tomé; Itaqui - General Alvear e La Cruz; Uruguaiana - Paso de Los Libres; duas com a República Oriental do Uruguai: Quaraí - Artigas e Santana do Livramento - Rivera e uma junto ao Uruguai e a Argentina: Barra do Quaraí - Bela Unión - Monte Caseros.20

Foi empregado para descrever a qualidade de vida da população desta região, o índice Social Municipal Ampliado (Isma), calculado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE-RS), que permite estabelecer uma hierarquia entre os municípios e as regiões no período de 1991-1996. Resulta da média ponderada dos indicadores renda, saúde, educação e condições de domicílio e saneamento, e varia de 0 a 1. Analisando o Isma da Região da Fronteira Oeste (0,47), pode-se observar que este índice decai no período de 1991-1996, encontrando-se em 16º lugar na comparação com as outras regiões, abaixo da média estadual (0,51). O indicador saúde (0,41) melhora no período, mas continua baixo, mesmo ficando acima da média do Estado e em 15º lugar entre as 22 regiões. O indicador educação, o melhor situado, cresce no período citado e põe a região em 10º lugar. O indicador renda decresce nos seis anos analisados, ficando a região em 14º lugar, no mesmo patamar da média estadual. A situação de Moradia e Saneamento (0,61), embora fique abaixo da média estadual (0,65), é bastante boa, situando a região em quinto lugar, abaixo da região Central e Sul.21

Ao longo da década de 90 a região manteve sua participação na produção do Estado, situando-se, em 1998, no patamar de 4,2% do produto total do Rio Grande do Sul. Neste ano, o produto da região somou R$ 2,96 bilhões e o produto Interno Bruto por habitante atingiu R$ 5.495,00, ficando abaixo da média estadual, que foi de R$ 7.186. Examinando-se o comportamento dos setores produtivos, constata-se que a agropecuária tem participado com a mais importante contribuição da região para o Estado, com o aporte de 8,9% do produto estadual no setor. A parcela da indústria regional corresponde a 1,9%, a do comércio a 3,5% e a dos outros serviços, a 4,9% dos correspondentes produtos setoriais do Estado. Observando-se a estrutura produtiva interna da região, ou seja, a contribuição de cada setor para a produção total da Fronteira Oeste, verifica-se que coube aos serviços a parcela de

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A expectativa de vida nos municípios da Região da Fronteira Oeste. Disponível em: <http://b.daterraamfro.sites.uol. com.br/amfro.htm>. Acesso em: 2 dez. 2009.

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A expectativa de vida nos municípios da Região da Fronteira Oeste. Disponível em: <http://b.daterraamfro.sites.uol. com.br/amfro.htm>. Acesso em: 2 dez. 2009.

47% do produto em 1998. No período de 1990 a 1998, o setor serviços apresentou um aumento de cerca de 21% na estrutura produtiva regional. Em compensação, a indústria e o comércio apresentaram decréscimo em sua participação no produto regional 8,5%.22

A Fronteira Oeste absorveu, em 1999, cerca de 3,3% dos empregos formais do Estado. No período de 1989-1997, possuía entre 3,6 e 3,2%, com o maior número absoluto de vagas, cerca de 65 mil, registrado em 1989. Em termos de distribuição do emprego, é de se destacar a capacidade de absorção do setor serviços que empregava, nesse ano, cerca de 40% dos trabalhadores. Os subsetores que mais absorveram empregados foram a Administração Pública, os serviços de alojamento, alimentação, reparos e manutenção, e os serviços médicos, odontológicos e veterinários. Ao comércio corresponderam outros 26%, com destaque para o Comércio Varejista. No setor secundário, a indústria de transformação empregava cerca de 9,5% e a construção civil outros 2%. A agropecuária da região empregava 22,5% da mão de obra com vínculo formal. É necessário ressaltar que esses dados se referem exclusivamente ao mercado formal de trabalho, ou seja, aos empregos registrados no Ministério do Trabalho e Emprego. Assim sendo, todos os empregos informais não são considerados nestas estatísticas, restringindo, em parte, as generalizações feitas com tais informações. Na estrutura fundiária da Região da Fronteira Oeste predominam, em área (72,35%), as grandes propriedades, que resentam um número pequeno de estabelecimentos (10,22%). As propriedades que possuem área entre 50 e 500 hectares (39,59 %) ocupam 25,14% da área total agropecuária; e pequenas propriedades possuem uma participação significativa com 44,19% dos estabelecimentos, ocupando uma pequena área rural.23

22 A expectativa de vida nos municípios da Região da Fronteira Oeste. Disponível em:

<http://b.daterraamfro.sites.uol. com.br/amfro.htm>. Acesso em: 2 dez. 2009.

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A expectativa de vida nos municípios da Região da Fronteira Oeste. Disponível em: <http://b.daterraamfro.sites.uol. com.br/amfro.htm>. Acesso em: 2 dez. 2009.

Figura 6 - Mapa da Região das Missões Fonte: Corede Fronteira Oeste (2009).

A expectativa de vida nos municípios da Região da Fronteira Oeste é, em média, de 71 anos, inferior à expectativa de vida da Região das Missões, 72,18 anos. Vejamos a expectativa de vida em cada município da região da Fronteira Oeste:

Tabela 8 - Expectativa de Vida dos Idosos nos Municípios da Região da Fronteira Oeste (2009)

MUNICÍPIO EXPECTATIVA DE VIDA

Alegrete 70,22 Barra do Quarai 72,08 Itacurubi 73,83 Itaqui 76,34 Maçambará 67,96 Manoel Viana 70,22 Quaraí 72,48 Rosário do Sul 70,49

Santa Margarida do Sul Não têm dados

Santana do Livramento 72,17

São Gabriel 72,17

Uruguaiana 70,22

Fonte: COREDE Fronteira Oeste (2009).

Embora o Estado apresente programas voltados ao atendimento dos idosos, é importante lembrar que muitos ainda não se expandiram para todas as regiões do Estado, havendo a ausência destes em muitas delas, onde há demanda por esses serviços de importante consideração. Os idosos analfabetos ou acamados têm enfrentado dificuldades de acesso aos programas. É mais do que evidente que, na maioria das vezes, acabam participando desses projetos apenas os idosos saudáveis,

que possuem uma noção mais ampla de seus direitos, dado suas condições físicas, econômicas e sociais, que os deixam numa posição mais favorável na influência das tomadas de decisão. O que se pretende é alcançar a inserção de todos os idosos, respeitando, evidentemente, suas capacidades e limitações.

Ambas as regiões apresentam um número significativo de percentual de idosos, assim como perspectiva de vida elevada; por esse motivo, considerou-se apropriada a realização do presente estudo nesta região de abrangência. A maioria dos municípios centraliza suas atividades em torno da agricultura, o que frequentemente os sujeita a crises instaladas por questões climáticas - chuvas, secas, etc. -. A região apresenta grandes propriedades com a minoria de população. Desta forma, a concentração de rende é elevada, o desemprego torna-se crescente e as políticas de atendimento à população concentram suas atividades em questões de necessidades básicas. No que diz respeito às políticas voltadas ao atendimento do idoso no âmbito da Assistência Social, o item que segue apresenta os resultados obtidos por meio dos questionários respondidos pelas Secretarias Municipais de Assistência Social das referidas regiões.

5.2 ATENDIMENTO SOCIOASSISTENCIAL E CONTROLE SOCIAL NA REGIÃO DAS