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CAPÍTULO 3 – FONTES DE INOVAÇÃO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS LOCAIS

3.2. O fenómeno da globalização

A par da reforma político-administrativa da organização estatal, o fenómeno da globalização também tem provocado mudanças no contexto institucional dos municípios, bem como nos padrões das políticas públicas locais. É, pois, importante clarificar a relação do fenómeno de globalização com a inovação na política pública local. A globalização é uma força condutora central por detrás das rápidas mudanças sociais, políticas e económicas que estão a remodelar as sociedades modernas e a ordem mundial, constituindo um novo impulso de responsabilidade daqueles que fazem o poder funcionar (Held et al., 1999). Ao nível local, a globalização é assim entendida como um processo que influencia as políticas públicas locais nas vertentes social, política e económica, tratando-se de um processo complexo e abrangente com impactos

4 Para mais informações consultar:

https://www.apambiente.pt/_zdata/Instrumentos/GestaoAmbiental/A21L/Guia%20Agenda%2021%20Loc al.pdf

sobre os territórios, impelindo a concorrência entre regiões e cidades, como fontes de promoção do desenvolvimento económico local. Face a este desiderato, os governantes locais não podem ignorar as dinâmicas de desenvolvimento económico provocadas pelas variações das conjunturas económicas e sociais mundiais, razão pela qual Barca et

al. (2012) consideram que qualquer debate que se queira fazer sobre políticas públicas locais deve “primeiro considerar os enormes impactos que as tendências da moderna globalização têm sobre os territórios” (p. 135).

Com o anseio de ganharem os desafios da modernidade e da globalização face ao aumento exponencial da circulação de informação e apreensão de conhecimentos generalistas e ainda do impulso em cada local se afirmar no contexto dos demais – tornar os territórios tecnologicamente evoluídos, competitivos, atraentes para os agentes económicos que neles operam, os decisores locais têm sentido necessidade de atualizar e renovar as suas formas de atuação (por exemplo, através do registo de propriedade industrial que identifique aquele município, nomeadamente o registo de uma marca com o intuito de se afirmar perante os demais municípios) - os municípios devem procurar soluções criativas, através da criação de novos serviços, novas formas de organização e melhoria de processos administrativos, facultando condições objetivas de competitividade aos seus territórios. Mas esta questão não se esgota na construção de novas infraestruturas públicas, enquanto evidências físicas, visíveis e palpáveis. Pretende-se, também, alcançar condições de mobilidade e pessoal qualificado, abertura e incentivo à inovação, “sobretudo estratégias de visibilidade e de promoção articulada de oportunidades, serviços e produtos que alimentem continuadamente a roda de desenvolvimento local” (Macedo e Sousa, 2006, p. 153).

Em termos estritamente políticos, a capacidade de fazer e o uso dessa capacidade é o fundamento do exercício do poder. Contudo, a preocupação das entidades públicas com o desenvolvimento homogéneo dos territórios que administram esbarra com as dinâmicas exógenas que escapam ao seu controlo, mas que influenciam as intervenções geradas em cada local. Daqui surge a necessidade de valorizar as cidades. Para isto os municípios, além da consciência política do desafio, têm de dar prevalência ao interesse público que na dimensão local se traduz na necessidade das cidades delinearem uma estratégia em relação aos produtos endógenos, onde pretendem ser líderes para, deste

modo, ganharem protagonismo. Deste ponto de vista, as mudanças sociais e tecnológicas das últimas décadas têm um impacto positivo nos modelos contemporâneos de gestão das políticas públicas municipais, constituindo uma oportunidade para a sublimação do poder local. Como qualquer outro produto, também as cidades e as regiões podem ser vendidas de acordo com as suas características (Veltz, 2000). Para as cidades poderem superar os desafios e se afirmarem num contexto de globalização têm que ser capazes de gerar inovação nas políticas a aplicar, com o objetivo de acumular qualidade de vida e sustentabilidade, economia e geração de riqueza, conhecimento e criatividade. O conceito de globalização sublinha o inter- relacionamento entre a transformação da economia e a inovação nas políticas públicas e evidencia a capacidade de resposta das áreas urbanas às novas necessidades e expetativas económicas e a competição entre a cidade que procuram distinguir e aproveitar o seu potencial territorial. A competição entre cidades obriga a que cada uma delas procure uma distinção no seu acervo histórico e patrimonial, que constitua uma vantagem competitiva em relação a outras. Este facto tem vindo a intensificar o processo de patrimonialização e a apresentação de candidaturas a projetos internacionais com projeção nacional e internacional, como forma de afirmação das cidades na dinâmica global.

Por sua vez, a dimensão local não se restringe aos limites de fronteira de um local específico mas, através de processos de participação em redes de relações supralocais, os municípios vão expandindo do nível regional para o nível global. Deste modo, a globalização, enquanto elemento que estabelece os campos de concorrência em que os municípios operacionalizam, leva à necessidade de se inovar nas políticas públicas locais. Assim, “Nas suas formas mais visíveis, estas transformações estão frequentemente associadas a inovações tecnológicas” (Campos e Canavezes, 2007, p. 16). Isto significa que é necessário articular a inovação nas políticas públicas com as características inerentes a cada local. Ou seja, os municípios promovem as suas especificidades a partir dos seus recursos identitários que constituem o seu capital territorial e a sua vantagem competitiva, contribuindo, desse modo, para uma efetiva criação de valor público. Dentro do vasto e variado sistema global, cada município segue, naturalmente, trajetórias específicas de desenvolvimento, pelo que são diversas

as vias que têm conduzido a reflexão socioeconómica a confrontar-se com a diversidade de contextos socioculturais nos quais a produção tem lugar.

Com efeito, atualmente, as abordagens políticas devem ter uma visão integrada, sistémica e multissetorial do desempenho económico de cada município, de modo a que possam ser identificados e aproveitados os pontos fortes e os ativos locais como forma de definir o conteúdo da atuação política local no mundo atual.