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CAPÍTULO 5 – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

5.2. Técnicas de recolha de dados

De acordo com Ponte (2002), a recolha de dados na investigação de cariz qualitativo, como a que aqui se apresenta, pode recair sobre técnicas variadas. O mesmo autor vem complementar Hamel (1997), na medida em que acrescenta que considerando a variedade de instrumentos e técnicas de recolha de dados possibilitada pelo estudo de caso, a referida recolha depende da natureza do estudo e tem como finalidade proporcionar o cruzamento de ângulos do estudo.

Na presente investigação considerou-se pertinente recorrer a uma abordagem multimetodológica, utilizando-se como técnicas de recolha de dados a observação não participante, a análise documental e a entrevista. A preferência por estas técnicas diferenciadas é justificada por permitirem a triangulação dos dados.

A triangulação dos dados consiste em combinar dois ou mais métodos de recolha de dados numa mesma pesquisa para que se possa obter como resultado final o retrato

mais fidedigno da realidade, isto é, uma compreensão mais completa do fenómeno a analisar. A racionalidade desta estratégia reside no facto de se poder atingir o melhor de cada um dos métodos de recolha de dados, pois os pontos fracos de um dos métodos podem ser compensados pelos outros métodos, pelo que a combinação de métodos permite que se ultrapasse as deficiências de cada um dos métodos (Denzin, 1970, citado por Merrian,1998).

5.2.1. Observação não participante

Segundo Ludke e André (1986), a observação é um dos instrumentos básicos para a recolha de dados na investigação qualitativa. Na verdade, é uma técnica de recolha de dados, utilizando os sentidos, de forma a obter informação de determinados aspetos da realidade. O investigador contacta diretamente com a realidade, ajudando-o a identificar e a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam o seu comportamento. A observação pode ser participante ou não participante, e estruturada ou não estruturada. Esta técnica tem como vantagem o facto de permitir chegar mais perto da “perspectiva dos sujeitos” e a experiência direta ser melhor para verificar as ocorrências (Ludke e André, 1986).

Em virtude do seu teor naturalista, a observação não é dirigida por um guião de observação rígido. Contudo, é dada especial atenção aos comportamentos e interações à medida que o Projeto CEV 2015 foi acontecendo, os quais foram presenciados pela investigadora, na qualidade de colaboradora da CMRM. A investigadora assumiu o papel de observadora não participante, pois não teve intervenções nas interações estabelecidas no projeto. Porém, é digno de nota, o facto de ter assistido ao início, ao decurso e ao pós do Projeto CEV 2015. Os dados recolhidos através da observação não participante implicaram necessariamente o registo através de notas de campo que contemplam as informações retiradas pela investigadora.

5.2.2. Análise documental

De forma complementar à observação não participante recorreu-se à análise documental. A informação recolhida através da análise documental permite

contextualizar o caso em apreço, acrescentar informação àquela já existente ou até mesmo validar informação recolhida através de outras fontes; sendo, por isso, uma técnica de recolha de informação necessária em qualquer investigação.

De acordo com Coutinho et al. (2009), a análise documental divide-se em dois tipos: a análise de documentos oficiais e a análise de documentos pessoais. Os documentos oficiais são considerados excelentes fontes de informação e, por estes, entende-se legislação, registos de avaliação, ofícios, registos de organismos públicos, entre outros. Quanto aos documentos pessoais, os autores consideram que estes não são muito usados na metodologia de estudo de caso, contudo os mesmos afirmam que estes podem ser importantes no que respeita à recolha biográfica narrativa.

Esta técnica de investigação apresenta algumas vantagens, como a de adquirir uma perspetiva mais abrangente sobre o estudo em causa, ao permitir obter dados de diferente natureza para que se possa proceder a comparações com os dados obtidos através das outras técnicas de recolha de dados utilizadas. Na presente investigação, pode-se afirmar que a técnica de análise documental foi usada com o intuito de aceder a informações que permitiram obter uma perspetiva temporal do Projeto CEV 2015. Como fontes foram selecionados os seguintes documentos:

- Dossier de Candidatura de Reguengos de Monsaraz a CEV 2015. Neste documento constam as atividades realizadas no período da candidatura, as atividades programadas para a CEV 2015, as atividades promocionais a decorrer durante a vigência da CEV 2015, as fontes de financiamento do projeto, informações sobre os acessos e transportes, os alojamentos, a restauração e o artesanato. Este documento contém três anexos: Anexo I – Cartas de Apoio; Anexo II – Guia Oficial de Turismo e Mapas Turísticos do Concelho; e, Anexo III – Livro de Apresentação da Bienal Cultural “Monsaraz Museu Aberto 2014”;

- Memória Descritiva e Justificativa da Candidatura Reguengos de Monsaraz – CEV 2015|CVP: Este documento serviu de base à candidatura, Reguengos de Monsaraz – CEV 2015|CVP, tendo por base os documentos Uma Estratégia de Especialização Inteligente para o Alentejo, da Comissão Coordenadora e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA) e o Documento Estratégico Turismo do Alentejo 2014-2020, da Visão, Prioridades, Estratégias e Eixos de Intervenção, da Entidade Regional de

Turismo (ERT), e pretende, fundamentalmente, reforçar a importância da estratégia da vitivinicultura no panorama das economias locais, regionais e nacionais. Deste documento consta a fundamentação e os objetivos da candidatura Reguengos de Monsaraz – CEV 2015|CVP, a caraterização da operação, o enquadramento territorial e económico do concelho de Reguengos de Monsaraz, a referência aos recursos técnicos, físicos, financeiros e humanos necessários para a realização da operação e capacidade para os assegurar; a referência ao caráter inovador e/ou ser baseado em boas práticas, a pertinência da sua realização, os indicadores de realização, os indicadores de resultado, o impacto económico-social, ambiental e na igualdade de oportunidades, aos parceiros e aos tipos de parcerias, tendo por base o Projeto CEV 2015 e numa linha de continuidade do mesmo;

- Balanço da CEV 2015: Este documento apresenta algumas notas para o balanço do Projeto CEV 2015, designadamente refere o número de atividades nacionais e internacionais, a presença em feiras nacionais e internacionais, as audiências de programas de televisão, as representações diplomáticas, as reportagens nacionais e internacionais realizadas ao longo do ano de 2015, bem como alguns depoimentos dos parceiros do Projeto CEV 2015.

5.2.3. Entrevista

De modo a obter informações e a recolher dados que não seriam possíveis apenas através da observação e da análise documental, bem como a aprofundar os dados recolhidos através das referidas técnicas de investigação, realizou-se uma entrevista ao Senhor Presidente da CMRM, José Calixto, que pelas funções que exerce e o contato regular mantido ao longo do tempo de implementação, decurso e após este projeto em condições privilegiadas de esclarecer se e de que forma o Projeto CEV 2015 constituiu uma inovação na política pública em Reguengos de Monsaraz.

A entrevista é um instrumento que possibilita obter uma diversidade de descrições e até mesmo interpretações que as pessoas têm acerca da realidade em estudo. Bell (1997) considera que a entrevista é “(...) uma conversa entre o entrevistado e o entrevistador que tem o objectivo de extrair determinada informação do entrevistado

(...)” (p. 118), possibilitando extrair a informação pretendida de forma direta e imediata. Esta técnica assume-se como uma das principais técnicas de trabalho em quase todos os tipos de pesquisa utilizados em Ciências Sociais (Ludke e André, 1986). Bell (1997) refere que “A grande vantagem da entrevista é a sua adaptabilidade. Um entrevistador habilidoso consegue explorar determinadas ideias, testar respostas, investigar motivos e sentimentos, coisa que o inquérito nunca poderá fazer” (p.118).

Alguns autores distinguem diferentes tipos de entrevistas: a estruturada, a semiestruturada e a não estruturada. De acordo com Belei et al. (2008), a entrevista estruturada é aquela que se estrutura através de questões fechadas, assemelhando-se aos formulários, pelo que não permite flexibilidade aos entrevistados. Já a entrevista semiestruturada confere maior amplitude na resposta do entrevistado, isto é, é guiada por um plano previamente realizado, constituído por questões abertas. Por sua vez, a entrevista não estruturada possibilita uma enorme liberdade aos entrevistados, uma vez que também o entrevistador dispôs dessa enorme liberdade aquando da formulação das questões. Durante o curso da entrevista, o entrevistador limita-se a reforçar as declarações do inquirido.

Face a estas considerações teóricas, privilegiou-se a entrevista semiestruturada, conferindo ao entrevistado livre iniciativa nas respostas produzidas. Foi elaborado um Guião da entrevista (Anexo), o qual visou descortinar e aprofundar aspetos considerados determinantes para a questão de partida e os objetivos da presente investigação. A entrevista foi realizada no dia 15 de junho de 2017 durou 1h e 48m e foi gravada, mediante a devida autorização do entrevistado. Posteriormente, de acordo com a informação recolhida, foi elaborado um texto e remetido ao Presidente José Calixto para eventuais correções ou adendas à informação recolhida.