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6 A FORMAÇÃO CALCADA NO ESTADO MAIS CONSCIENTE

38 FERNANDES, 2016 39 OECD, 2018.

desde que pontualmente observáveis e de alguma forma mensuráveis. Essa é uma regra básica de gestão amplamente conhecida nos meios acadêmicos e sobretudo empresariais. Dentro dessa premissa, apuraram-se os dados existentes de todos os resultados do PISA40 que foram

agrupados pelos destaques que importam à análise do desempenho dos alunos brasileiros em comparação aos demais países, conforme pode ser visto na Tabela 1.

Neste comparativo apresentado na Tabela 1, o Brasil está confrontado com a Finlândia (5º lugar) e Coreia do Sul (6º lugar). A justificativa para trazer esses dois países a esse comparativo é que ambos participaram das seis edições e os que estão do quarto lugar para cima participaram de apenas uma ou duas edições.

Tabela 1 – Desempenho comparativo do Brasil

Fonte: Adaptado pelo autor (PISA, 2015)

Os números dos resultados de cada país representam a média aritmética simples entre a avaliação da matemática, leitura e ciências de cada edição do exame.

40 O Programme for International Student Assessment (Pisa) − Programa Internacional de Avaliação de

Estudantes − è uma iniciativa de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa dos quinze anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. O programa é desenvolvido e coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em cada país participante, há uma coordenação nacional. No Brasil, o Pisa é coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Quadro 1 – PISA – Histórico Global

Fonte: Adaptado pelo autor (PISA, 2015).

Em seguida, obteve-se a mesma média aritmética simples de cada edição pelo total, considerando-se o número de participações de cada um, respectivamente. Através das

observações das áreas avaliadas, pode-se observar os caminhos e des(caminhos) das políticas educacionais. O número total de países que participaram do exame foi de 82, sendo que na primeira edição 31 participaram, enquanto em 2015 chegou a 70, sendo a edição com o maior número de países.

O Quadro 1 traz o resultado consolidado do PISA, em todas as suas publicações, apresentando em ordem de resultado global acumulado, apurado com a soma dos indicadores de matemática, ciências e leitura e transformado em média aritmética, para cada uma das seis edições, sendo após aplicada a mesma fórmula para se chegar à média geral acumulada de todos os exames aplicados entre os anos de 2000 até 2015.

Nesse mesmo quadro, constata-se que, na primeira edição, em 2000, o Brasil ficou em último lugar. Depois, sucessivamente, ficou em antepenúltimo. Em 2006, quatro países ficaram em posições piores; em 2009, onze ficaram atrás; e, em 2012 e 2015, oito países ficaram com o desempenho inferior ao do Brasil. Destaca-se que, praticamente todos os países com piores desempenhos que o Brasil são de economias mais fracas e apenas Qatar participou de quatro das seis edições, tendo os demais uma ou duas participações, o que lhes dá menor consistência no resultado absoluto de todas as edições, pois, ao contrário do Brasil, não participaram de todas as avaliações. De qualquer forma, para não omitir essa informação, os países que ficaram atrás do Brasil, em ordem decrescente, são: Líbano, Qatar, Macedônia, Panamá, Kosovo, Algéria, República Domenicana, Quirguistão, Costa Rica e Trinidad e Tobago.

Nessa perspectiva consolidada dos resultados do exame do PISA, o Brasil surge na posição 72º de um total de 82 países participantes. Um dos aspectos positivos é a constatação de que o Brasil é um dos 31 países que participaram de todas as edições do exame do PISA. O ponto negativo principal fica por conta de ser o último colocado entre os países com todas participações, ou seja, com resultados mais consistentes.

É importante ressaltar, por um lado, tal e qual o exame do PISA, assim como em quase a totalidade de outros resultados de pesquisas isoladas realizadas por organismos internacionais, invariavelmente o Brasil sempre está nas piores colocações. Outrossim, reitera-se o aspecto importante de que nenhuma avaliação é completa, e que o exame do PISA é totalmente descontextualizado e segue determinados interesses. Salienta-se, também, que tais investigações não contemplam medidas do conhecimento da área de humanidades, como Filosofia e Sociologia, por exemplo.

Um dos fatos questionáveis, com relação à técnica de gestão de se trabalhar com metas, é de uma utilidade indiscutível, visto que é um instrumento consagrado na ciência administrativa já há um bom tempo, em todo o mundo. Isso está sendo incorporado pelo MEC

em suas mais diversas áreas de atuação. Entretanto, pode-se verificar nas empresas ou organizações pioneiras que, com essa estratégia, elas descobriram a necessidade de se implementar, também, uma meta que equilibrasse a pressão com as demais por resultados positivos.

A prática dá conta de que não se pode ficar somente na dependência de posturas éticas por parte do seu corpo gerencial ou funcional. As imensas dificuldades para se construir diferenciais competitivos e alcançar resultados necessários, somadas à pressão das metas, acabam criando um desequilíbrio. A forma de resolver essa situação é inserir uma meta de conformidade41 no IDEP42, para blindar contra distorções éticas que possam desvirtuar os

resultados. É uma alternativa importante para os gestores fazerem a sua parte no intuito de resolver essa questão. Se não houver esse cuidado, a pressão demasiada e desiquilibrada pode levar a resultados contrários aos desejados, pela tendência de desvios de conduta. Nesse sentido, pode-se evidenciar os ranqueamentos e as formas de utilização dos processos avaliativos que, ao invés de servirem para um aprimoramento do processo, são utilizados quase que exclusivamente do ponto de vista mercadológico.

Também os avanços extraordinários das tecnologias e suas inúmeras utilidades não podem ser postergados, muito menos ignorados, enquanto ferramentas no contexto escolar. Seria um distanciamento injustificável com a realidade predominante em escala global. Os recursos tecnológicos precisam servir como extensões ao professor. Ideias abstratas tornam-se passíveis de visualização; o microscópico torna-se amplo, o passado transforma-se em presente, facilitando o aprendizado e decompondo o conteúdo em elementos significativos. É capital que as aulas sigam uma sequência lógica de ideias e que ofereçam orientação em relação ao que estão tratando. No site Grupo A, Souza43 refere que: “Cada aula não é uma aula, e sim uma aula

que veio antes de uma aula e depois de outra. O aprendizado deve ser interligado.”44

Moran (2015) defende as tecnologias como apoio para a inclusão social destacando que a estimativa é de que há 650 milhões de pessoas que convivem com algum tipo de deficiência. Isso equivale a quase 10% da população mundial. Um amplo conjunto de

41 Conformidade é um termo utilizado pela ciência administrativa para se referir à dimensão das metas de

eficiência, em que o foco absoluto é por procedimentos totalmente éticos.

42 O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) foi criado em 2007 e reúne, em um só indicador, os

resultados de dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações (INEP, 2018).

43 Renata Beduschi de Souza é graduada em Letras, professora de língua portuguesa da rede municipal de Campo

Bom (RS) e de língua inglesa do Centro de Idiomas da Universidade FEEVALE, de Novo Hamburgo (RS).

problemas e questões afeta o acesso dessas pessoas com necessidades, as quais as tecnologias podem em muito auxiliar.

Antigamente, utilizava-se o ábaco45, por exemplo. Então, não é novidade a utilização

de tecnologias na educação, porém há que se considerar que, na atualidade, sua importância aumentou significativamente, na mesma medida do progresso extraordinário nessa área.

O estudioso destaca ainda:

A aquisição da informação dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor – o papel principal – é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná- los, a contextualizá-los. O papel do educador é mobilizar o desejo de aprender, para que o aluno se sinta sempre com vontade de conhecer mais. (MORAN, 2015, p. 18).

São significativas as observações de Moran, pois, embora essas mudanças estejam escancaradas e, de alguma forma já estão acontecendo, ainda muito pouco se pode encontrar de material de pesquisa, espaço no qual pensadores e pesquisadores devem se aprofundar no intuito de tentar identificar os melhores caminhos para se processar sobre esse novo papel do professor, que pode ser transformador. Seja como for, observa-se que cada vez se consolida, nas pesquisas de educação, a ideia de que uma das maneiras de a modificar é por meio de metodologias ativas. A Figura 4 apresenta, de forma didática, os princípios formadores das metodologias ativas de ensino.

Figura 4 – Princípios que constituem as metodologias ativas de ensino

Fonte: Diesel, Baldez e Martins (2017, p. 273).

45 Quadro que permite representar e operar os números por meio das configurações de argolas que deslizam em

Observe-se que metodologia(s) ativa(s) tem como objetivo mudar a perspectiva do docente (ensino) para o aluno (aprendizagem), estratégia corroborada por Freire (2015), quando ele defende que a educação não é um processo realizado por outro ou pelo sujeito, mas através da interação entre sujeitos históricos, por meio de suas palavras, ações e reflexões.

Assim, o sentido legítimo de universidade, na educação, pressupõe a agregação de todo tipo de conhecimento, seja paradoxal, seja similar. Cabe ao aluno ou acadêmico receber as informações e processá-las por meio do seu olhar e das suas reflexões, quando se produzirá o conhecimento próprio, através da liberdade e do direito inalienável de receber todas as informações existentes. O tempo de colocar fogo em livros é de uma época sombria e passada, da qual só se espera ter o exemplo de como não se deve proceder.

Destarte, cabe afirmar que a ideologia, no conceito filosófico46, é a ciência proposta

pelo filósofo francês Destutt de Tracy (1754-1836), que atribui a origem das ideias humanas às percepções sensoriais do mundo externo. Entretanto, no conceito sociológico47, trata-se de um

sistema de ideias sustentadas por um grupo social, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos, sejam econômicos. Ora, essa é uma questão muito simples, visto que se a proposta for defender ideias de um grupo, isso se equivale à doutrina, que, por sua vez, é a antítese da educação. Outrossim, educação provém da academia que se tornou universidade que é qualidade ou condição de universal.48

Portanto, nesse exercício lógico, fica muito claro os malefícios dogmáticos que ideologias fragmentadas ou isoladas provoca na educação. É como um vírus poderoso, que distorce, altera e até elimina a possibilidade de uma educação livre, ampla, democrática, social e desenvolvimentista do ser humano, na direção da virtude e do infinito, que se não for um destino programado, deve ser um desejado e planejado.

A educação deve cuidar de todos, destarte não deveria faltar defensores de uma educação com características próprias, de acordo com os seus preceitos. Assim, assiste-se à reivindicação de uma educação tradicional, liberal, progressista, conservadora, etc. Esses olhares distintos acontecem em todas as esferas da sociedade, inclusive entre os próprios pedagogos.

Todas essas defesas corporativas de ideias próprias, particulares, se forem fechadas a outras perspectivas, caminham na direção da doutrinação, ou seja, a antítese do significado

46 Ibid., p. 58. 47 Ibid., p. 58. 48 Ibid., p. 58.

amplo, próprio e verdadeiro do que é a educação. Roth (2014, não paginado)49 diz que a

“educação protege contra a tirania cega e privilégio arrogante”.50 Salienta, também, que a

“aprendizagem liberal em nossa tradição não é apenas a formação; é um convite a pensar por si mesmo”.51 Além disso, Roth adverte para se ter cuidado com os críticos da educação que

disfarçam sua vontade de proteger privilégio (e desigualdade) nas vestes da reforma educacional.

Essa própria defesa de uma aprendizagem liberal, de Roth, pode ser objeto de crítica, caso essa liberdade não respeite a tradição ou o conservadorismo. Tudo deve estar inserido dentro dos processos educativos, pois esse é o sentido da academia, esse é o sentido da universidade com o seu intuito de universalizar informações e conhecimentos.

É preciso trazer para esse contexto o fato de que o mundo que o ser humano construiu está absolutamente subordinado ao que se configurou como o maior poder do planeta: o econômico. Infelizmente, essa é uma realidade presente em todo lugar, salvo raríssimas situações de algumas posturas individuais. Assim, a advertência de Roth para se ter cuidado com os críticos da educação é totalmente pertinente, visto que a virtude está completamente deslocada do topo, que é, naturalmente, o seu lugar de origem e fim. Isso se traduz como um flagrante comportamento primitivo e ignorante.

Roth (2014, não paginado) trouxe uma importante manifestação de W.E.B. Dubois, que escreveu no início do século XX: “Se fizermos com que o dinheiro seja o objeto de treinamento do homem vamos desenvolver fabricantes de dinheiro, mas não necessariamente homens”.

A partir disso, é importante que se traga mais elementos para compreender a educação como produto de mercado e os impasses diante do capitalismo neoliberal.

1.4 A EDUCAÇÃO COMO PRODUTO DE MERCADO: IMPASSES DIANTE DO CAPITALISMO NEOLIBERAL

Ainda sobre a educação, há também um ponto crucial para o debate, que é o da própria educação como produto de mercado. Tratar-se-á, a partir de agora, sobre uma Educação pautada nos pressupostos do capitalismo neoliberal sob o ponto de vista de pesquisadores da área de ciências sociais aplicada, questionando-se sobre a viabilidade ou não de ela ser um artigo que possa ser deixado, de fato, para o mercado.

49 ROTH, 2014.

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