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2.3. Ecoeficiência

2.3.2. Ferramentas e Procedimento de Avaliação de Ciclo de Vida

A Avaliação de Ciclo de Vida, tal como descrita no subcapítulo anterior, define uma análise de um sistema de produção, o que envolve obter conhecimento sobre o funcionamento da cadeia de processamento e do conjunto numeroso de dados dos diferentes elementos do sistema. De forma a agilizar a avaliação, foram sendo desenvolvidas diversas metodologias, ferramentas digitais e bases de dados, que permitem uma uniformização na avaliação, com vantagens ao nível de procedimentos padrão, comparação com diferentes casos de estudo e resolução de problemas comuns.

A metodologia da Avaliação do Ciclo de Vida, como anteriormente referido, envolve uma quantificação de todos os produtos ou recursos de entrada (inputs) e de saída (outputs) no decorrer do ciclo de vida do produto ou serviço, tendo em conta as fronteiras estabelecidas (ILCD, 2012). Desse processo de inventariação, parte-se para uma agregação de todas essas entradas e saídas para avaliar a sua contribuição em categorias de impactes ambientais (EcoWater, 2012a).

Assim, exemplificando com uma simplificação de uma parte do sistema de produção estudado neste trabalho, apresenta-se a entrada no sistema de um produto fertilizante e um produto fitossanitário, que devem ser traduzidos nos compostos químicos que os compõem. Nessa situação, devem ser calculadas as saídas sob forma de emissões para os diferentes compartimentos ambientais, como ar, solo e água. De forma a efetuar o cálculo das emissões será necessário consultar fontes bibliográficas e trabalhos específicos para o tipo de produtos em causa. Neste caso, esta informação compõe o inventário relativo às ações diretas da empresa, definido como Foreground.

Após a inventariação de recursos consumidos e compostos químicos recebidos e emitidos, ocorre a etapa de processamento dos mesmos, enquadrando-os com categorias de impacte ambiental. Tal como definido no procedimento normativo, o enquadramento do inventário com as categorias deve ser baseada em fatores de caracterização. Estes fatores de caracterização irão definir a influência de cada composto recebido ou emitido pelas diferentes fases do sistema na conceção das categorias de impacte. Neste passo, é comum utilizar metodologias como CML-IA, ReCiPe 2008 e Ecoindicador 99, que possuem diferentes fatores de caracterização.

No presente trabalho, optou-se por utilizar a metodologia CML-IA desenvolvida pelo Institute of Environmental Sciences (CML) da Universidade de Leiden, na Holanda, (CML, 2015), por se tratar de uma metodologia recente e atualizada. Foi colocada também em consideração, a utilização da metodologia ReCiPe 2008, uma vez que integra fatores de caracterização de análise de categorias de várias abordagens e níveis, além do nível médio pretendido para este trabalho, no entanto essa característica não traria benefício, porque apenas se pretende um estudo nesse nível médio. Além disso, a metodologia

escolhida tem a vantagem de ser também a utilizada por outros trabalhos desenvolvidos sobre o setor vitivinícola, com os quais se pretende efetuar algumas comparações (PRé, 2014).

Apresentando um exemplo prático, pela metodologia escolhida neste trabalho, CML-IA, a categoria de Aquecimento Global é expressa em kg CO2 equivalente. Sabendo que um processo exemplificativo estudado emite CO2 e CH4 para a atmosfera, efetua-se a consulta dos dados da metodologia e verifica-se que os fatores de caracterização são de 1kg CO2 eq. por 1kg CO2 e de 25 kg CO2 eq. por 1 kg CH4. Assim, conhecendo as quantidades emitidas dos dois compostos, estas são traduzidas na unidade da categoria estudada, obtendo o resultado referente a essa categoria (CML, 2015).

Softwares como o SimaPro, GaBi ou OpenLCA podem servir de apoio à Avaliação de Ciclo de Vida, nesta etapa, uma vez que permitem organizar o inventário, ter acesso aos fatores de caracterização das metodologias e apresentar resultados de Avaliação de Ciclo de Vida (EcoWater, 2012a).

Com esta etapa definida, tendo intenções de estudar o ciclo de vida de um sistema de produção, devem ser avaliados os processos de Background que podem envolver a produção e transporte dos produtos utilizados, gestão e tratamento de resíduos, entre outros.

Para esta etapa são normalmente utilizadas bases de dados, como a Ecoinvent, de origem Suíça e que contém informação acerca dos inventários de diversos processos, sendo considerada uma das mais completas. Contém descrição do inventário para diversos processos nas mais diversas áreas, como a agricultura, construção, processamento de materiais e tratamento de resíduos (Ecoinvent, 2015). Com a vantagem de serem de livre utilização destacam-se a European reference Life-Cycle Database (ELCD) e a U.S. Life Cycle Inventory Database (USLCI) que apresentam dados baseados em processos europeus e norte-americanos, respetivamente (ELCD, 2014; USLCI, 2013). Tal como o Ecoinvent, têm informação de inventário sobre um largo espectro de processos, desde a produção de materiais e energia, transporte e tratamento de resíduos. Entre outras, podem ser identificadas a GaBi Databases e a Agri-footprint, sendo esta última especialmente direcionada para processos do setor agrícola (Agri-footprint, 2015). Para a obtenção dos valores de processos de Background, podem ser utilizadas mais do que uma base de dados como fonte de informação.

Estas bases de dados podem ser acedidas e processadas pelos softwares já referidos, SimaPro, GaBi e OpenLCA, sendo esta última de acesso gratuito mas com menor número de funcionalidades. Estas bases de dados servem de apoio à inventariação, na procura de informação sobre fases do sistema acerca das quais, as empresas não possuem informação completa, nomeadamente fases do sistema de Background. Estes softwares funcionam como ferramentas úteis para a Avaliação de Ciclo de Vida, uma vez que integram a funcionalidade de gerir o inventário do sistema de produção em estudo, agregá-lo a processos de Background por consulta das bases de dados citadas e integrar todo o cálculo das categorias na metodologia escolhida.

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