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2. Revisão de literatura

2.3. Ferramentas tecnológicas

Nesta seção serão apresentadas as principais tecnologias disruptivas que estão sendo discutidas no meio científico atualmente. O propósito é passar uma breve contextualização sobre a tecnologia, seu funcionamento e focar mais em exemplos de

aplicações, sendo na área de gestão pública ou não. O propósito dessa seção é apresentar algumas tecnologias que podem ser utilizadas como ferramentas na construção de políticas públicas para o desenvolvimento de cidades inteligentes.

2.3.1. IoT

A IoT (Internet of Things) é uma tecnologia que permite que diversos dispositivos consigam trocar dados. Para isso, basta que o dispositivo esteja conectado à internet e tenha sensores que transmitam dados. Esses dispositivos são chamados de inteligentes, pois são capazes de aprenderem preferências sem que tenham sido programados (Chivers, 2021). A IoT tem sido muito utilizada para monitoramento de dispositivos, tornando possível acompanhar padrões de uso do cliente e o desempenho do produto.

A figura 3, ilustrada abaixo, explicita os níveis de funcionamento de um sistema IoT. Primeiramente é realizada a coleta de dados, que pode ser feita a partir de diversos dispositivos, tais como sensores, antenas e microcontroladores. Depois, ocorre a transferência desses dados por meio de dispositivos concentradores. Por fim, os dados são recebidos pelo Back-End de sistemas, interfaces de fácil visualização do usuário ou por aplicações para análise, para que assim a tomada de decisão possa ser feita de forma mais embasada.

Figura 3 - Exemplo de funcionamento de um sistema IoT

Fonte: Whats Is. Tradução da autora.

Essa tecnologia funciona de forma articulada e complexa, unindo elos de uma cadeia. Sung et al. (2020) utilizaram sensores inteligentes para coletar mais informações sobre pedidos de clientes, de posse de mais informações, aplicaram um algoritmo para tratar esses dados, a partir de então conseguiram prever ações e apresentaram como consequência positiva a diminuição de custos, pois conseguiram implementar a logística reversa. Essa tecnologia permite que mais dados sejam coletados, isso é feito de forma bastante precisa e com praticamente nenhuma intervenção humana necessária.

O uso da IoT também tem permitido um grande aumento dos níveis de flexibilidade e tem viabilizado a reconfiguração instantânea dos processos, garantindo menor latência e maior confiabilidade (MALDONADO et al., 2021). Isso porque esses sensores de dispositivos conectados à rede podem receber comandos de ação caso uma ou mais condições definidas previamente sejam alcançadas. É justamente essa automatização de processos que tem sido utilizada por muitas empresas em suas linhas de produção e em muitas soluções digitais, fazendo que o tempo de reação e resposta seja consideravelmente menor que se o processo tivesse sendo realizado com intervenção humana. Em um mundo cada vez mais conectado, esse ganho de latência é garantia de maior eficiência, estabilidade de serviços e melhor experiência para o usuário (MALDONADO et al., 2021)..

A IoT traz benefícios também para a urbanização, de acordo com Kashyap et al. (2020), a tecnologia facilita a identificação e mitigação de falhas nos sistemas de transporte, ponto estratégico para uma cidade inteligente. Isso porque sabe-se que o setor de mobilidade urbana é um dos mais críticos para uma cidade, pois reflete muito de sua eficiência e capacidade produtiva. A área de transportes caracteriza-se por possuir fontes de dados muito heterogêneas e dinâmicas, além da variação da qualidade das informações e requisitos complexos (PUIU et al., 2017). Sendo assim, o uso de tecnologias como a IoT pode trazer muitos benefícios para a Gestão Pública quando se tem objetivos bem definidos, seja no campo de gestão de tráfego com semáforos inteligentes, monitoramento de infrações ou na própria melhoria do serviço para o usuário.

A internet das coisas permite que os dispositivos estejam interconectados, podendo ser rastreados e monitorados (LEE et al., 2018), podendo auxiliar, por exemplo, na comunicação de viaturas policiais, ambulâncias e caminhões do Corpo

de Bombeiros de forma conjunta, automatizada e precisa. Conforme descrito por Fraga-Lamas et al. (2017), com maior comunicação entre as tecnologias, é possível fornecer um aconselhamento ágil ao motorista, seja por segurança ou para diminuir os tempos de deslocamentos, oferecendo uma capacidade maior de resposta da cidade a emergências. Apesar da implementação possuir diversas vantagens, o contraponto é a maior fragilidade, já que qualquer dispositivo eletrônico contido na rede pode ser utilizado em um ataque ou conter parte de um código mal intencionado, além dos desafios para desenvolver sistemas de missão crítica cada vez mais complexos (Fraga-Lamas et al., 2017), que precisarão, portanto, de profissionais cada vez mais qualificados para desenvolvimento e manuseio dessas tecnologias.

Por fim, conclui-se que a tecnologia IoT se baseia na utilização de sensores para gerar dados que podem continuar a acionarem outros dispositivos e assim realizarem processos inteiros. O que deixa claro o seu caráter de integração entre ações. Como ponto negativo podem ser citados: custo inicial de aquisição de equipamentos que geralmente são importados ou fabricação própria que passa por ter mão de obra qualificada nesse tipo de engenharia eletrônica.

2.3.2. Big Data

Segundo Loon (2017), Big Data é um conceito que considera uma grande variedade de dados, sendo recebidos com grande volume e alta velocidade. Essa tecnologia tem sido utilizada para tentar prever comportamentos de consumo e assim balizar decisões de negócios nas mais diversas áreas. Uma grande vantagem de trabalhar com Big Data é a possibilidade de realizar mais simulações e analisar dados de forma automatizada. A Figura 4 representa o entendimento de que o Big Data é um conjunto muito grande de dados dispersos, que quando analisados começam a tomar uma forma e indicar um cenário mais completo, para que, por fim, possa ser definida uma decisão final com clareza e precisão.

Figura 4 - Representação Big Data

Fonte: Datafloq. Traduzido pela autora.

O uso de sensores e máquinas inteligentes gera um grande volume de dados que gera a demanda por análises Big Data (WANG et al., 2016). Então, sim, pode-se dizer que, em muitos cenários, uma análise de Big Data foi precedida de uma tecnologia IoT, responsável pela coleta e comunicação desses dados. De acordo com Moreno-Vozmediano et al. (2019), a análise de Big Data em tempo real permite a implementação de serviços mais elásticos e, como consequência, ocorre uma redução do SLA, fator extremamente importante para garantir a confiabilidade dos serviços entregues. Esse tipo de análise pode ser extremamente útil, por exemplo, para avaliar o sistema de segurança pública de uma cidade ou de educação.

Ainda segundo Moreno-Vozmediano et al. (2019), a implementação do Big Data representa uma capacidade preditiva de escalonar o recebimento e atendimento de clientes. Essa capacidade preditiva foi exemplificada no artigo de Byrd et al. (2019), que utilizou o Big Data para identificar pacientes com tratamento para HIV em andamento que pararam de realizar novos pedidos. Essa lógica de uso citada poderia ser aplicada em diversos setores da gestão de uma cidade de forma a otimizar a entrega de serviços de melhor qualidade para a população, como, por exemplo, para organizar o atendimento na rede pública de saúde, podendo realizar exames de forma mais proativa, priorizar melhor os casos e até mesmo direcionar a utilização de recursos.

O principal desafio para aplicação do Big Data, segundo Byrd et al. (2019), é a permissão para a concessão de dados de cada uma das partes envolvidas e demais

acordos para compartilhamento de informações. Isso porque há diversas legislações e normas de compliance que precisam ser obedecidas e, muitas vezes, sobrepõem-se, como, por exemplo, a de que dados sensíveis das empresas de saúde que atuam em território nacional não podem ser migrados para servidores instalados em outros países e, dependendo de onde essas aplicações rodam, estando em rede, é difícil oferecer essa garantia de forma transparente e auditável.

2.3.3. Blockchain

Blockchain é uma base compartilhada e imutável para registrar transações, onde é possível rastrear ativos tangíveis ou intangíveis. Nesta base, as transações são registradas apenas uma vez, o que a torna mais confiável e uma alternativa otimizada para evitar a duplicação de esforços característica das redes de negócios tradicionais. O Blockchain pode ser utilizado como um sistema de gerenciamento de direitos digitais, concedendo permissões de acesso e armazenamento de dados do usuário de acordo com seus termos, condições e uma duração específica, segundo site institucional da IBM (https://www.ibm.com/topics/what-is-blockchain?), empresa de tecnologia.

Segundo Pierro (2017), o Blockchain não é apenas a base de todas as criptomoedas, mas também um complexo sistema distribuído de documentos com carimbos de data e hora. Para o autor, é assim que essa tecnologia estabelece a confiança entre todas as partes interessadas. Além de todos os aspectos relacionados à autenticidade dos conteúdos, não é possível apagar dados históricos e há maior proteção por criptografia (Ashley e Johnson, 2018). A própria estrutura do Blockchain, que tem uma lista de blocos descentralizados ao invés de uma autoridade centralizada, com uma chave privada e uma chave pública por usuário, permite diminuir o número de ações fraudulentas (THIO-AC et al., 2019). Tais fatores relacionados à própria estrutura dessa tecnologia podem melhorar muito a transparência das transações, tornando as verificações muito mais eficientes (RADANOVIĆ e LIKIĆ, 2018).

Muitos autores têm estudado a aplicação do Blockchain no ramo da Gestão Pública. Dentre as indicações está a adoção de contratos inteligentes, isto é, contratos com mais níveis de verificação e controles de acesso, onde além da maior confiabilidade há a automatização de processos normalmente bastante demorados

(HANG e KIM, 2020). Esses contratos estabelecem-se a partir de novos tipos de relações de confiança entre as partes envolvidas e para o caso de negócios sociais, pode catalisar seu crescimento (DEVINE et al., 2021).

Para Ashley e Johnson (2018), o Blockchain favorece a aplicação de contratos inteligentes, mais seguros e transparentes e, por consequência, a implementação de programas de crédito mais assertivos. Thio-ac et al. (2019) citaram, também, que a tecnologia tem a capacidade de incorporar dados muito pequenos às transações para diversas finalidades, como a representação de ativos digitais, uma vez que o sistema conta com uma espécie de impressão digital de cada ativo. Assim, é possível ter contratos cada vez mais inteligentes, principalmente em áreas como a construção civil (KIM et al., 2020). Sendo assim, pode colaborar para a diminuição da corrupção no âmbito do poder público (MYEONG e JUNG, 2019).

Há também uma grande oportunidade de aplicação do Blockchain na sustentabilidade, uma vez que a tecnologia pode apoiar o processo de transição de uma cadeia de suprimentos tradicional tornar-se uma cadeia verde, com a redução do consumo de energia e eliminação eficiente de resíduos (PELLEGRINI et al.,2020).

Para Rane e Thakker (2019), o Blockchain pode ser utilizado para checar o histórico de fornecedores e garantir uma cadeia mais verde do início até o fim, rastreando o descarte final do resíduo com o auxílio de sistemas IoT. Isso porque ocorre uma melhoria no enriquecimento de informações nas atividades de registro, coleta e rastreabilidade, o que causa um desenvolvimento enxuto no ciclo de vida dos materiais garantindo maior precisão da elaboração e acompanhamento das metas ambientais (PELLEGRINI et al.,2020).

Como pode se observar, essa tecnologia possui muitas formas de ser utilizada para melhorar a gestão de uma cidade, sendo a principal delas: aumentar a segurança e transparência. Esse é um fator que normalmente vem associado ao aumento de investimento externo e melhoria do acesso ao crédito. Então, pode-se dizer que o Blockchain, principalmente se associado a outras tecnologias, tem o poder de trazer mudanças estruturas para a gestão financeira das cidades.

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