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4. METODOLOGIA

4.4 Ferramentas utilizadas na pesquisa

Como descrito anteriormente, a proposta inicial desta pesquisa abarcava a participação de outros serviços da RAPS e, após a qualificação, foram utilizados como campos satélites para compreensão do macro contexto.

Desta forma, as ferramentas descritas abaixo contemplam minha inserção nestes outros campos – com exceção do diário de pesquisa, que também foi utilizado na pesquisa-intervenção.

4.4.1 Observação participante

A observação participante foi realizada no espaço de reunião de equipe do Ambulatório de Saúde Mental Adulto, sendo 4 encontros consecutivos, uma vez por semana. O instrumento utilizado para registro das informações foi o diário de pesquisa. Utilizou-se, também, um modelo de agenda (Apêndice 4), criado por mim, para que os profissionais descrevessem suas atividades durante a semana. Este instrumento se fez necessário porque, nas reuniões de equipe, era possível visualizar o movimento do serviço como um todo, mas não era possível identificar as atividades de cada profissional dentro deste sistema (via-se o todo, mas não se via as partes que o compõe).

4.4.2 Diário de pesquisa

O diário de pesquisa é uma técnica utilizada na investigação e nos processos de intervenção.

Hess93 afirma que “o diário é uma escrita de fragmentos. A redação do

vivido é sempre limitada. Não é possível dar-se conta de forma exaustiva do cotidiano” e continua, “o diário é uma escrita transversal (...) mesmo centrado sobre um tema, sobre uma pesquisa, o diário não impede jamais a implementação da perspectiva transversal”.

Sobre o questionamento a respeito da cientificidade do diário, o autor faz a seguinte analogia:

“A arqueologia se interroga para saber se um martelo é científico? Não. Ela o utiliza inteligentemente ou não, no seu trabalho de escavação. Em matéria de diário, a ciência se encontra numa relação adequada com esta técnica de coleta de dados. E uma dimensão desta relação se encontra na distância com que se constrói o diário, quando da releitura, e na exploração que se faz nos dados recolhidos nos escritos mais elaborados”93.

No diário também tomamos distância, a partir da compreensão de dois momentos: o da leitura e o da releitura. O primeiro acontece no ato da escrita, pois, ao nos recordamos de pontos já escritos sobre determinado tema e, ao procurar estes pontos, passamos a reler as várias passagens registradas. No caso da releitura, consideramos o diário como um todo e, desta forma, projetamo-nos para o futuro, a partir de eventos do passado, emergindo uma tomada de consciência que, no momento do relato, não era possível, passando de “uma consciência comum a uma consciência filosófica das coisas, compreendendo de onde vêm as ideias, como se formou a consciência, como ela conseguiu ultrapassar certos erros, etc”93.

Lourau(2004a, 1993, pp 51 e 77 citado por Jesus, Pezzato e Abrahão94)

afirma que o diário “seria a narrativa do pesquisador em seu contexto histórico-social (...) trata-se de uma técnica capaz de restituir, na linguagem escrita, o trabalho de campo, possibilitando produzir um conhecimento sobre a temporalidade da pesquisa”. Hess93 descreve inúmeras possibilidades de construções de diário: diário

íntimo, diário de viagem, diário filosófico, diário de formação, diário institucional, diário dos momentos e, por fim, diário de pesquisa, no qual “o pesquisador registra suas hipóteses e seus achados (...) visa a reunir informações que o autor e seus colaboradores pretendem explorar ou tratar de uma maneira ou de outra em um tempo posterior”.

Assim, podemos inferir que o diário é um instrumento singular e imprescindível para quem pretende vivenciar o campo da pesquisa qualitativa. O ato de escrever não é um mero registro dos acontecimentos externos, mas, também, o contato e a descrição de nossas subjetividades, pensamentos, sentimentos que nos mobilizam ou paralisam e, a partir deles, podemos analisar nossa implicação. Desta forma, como afirmam Jesus, Pezzato e Abrahão,94 “a cada escrita corresponde um

código em uma escala que se inicia de uma escrita mais íntima para uma mais pública”.

4.4.3 Entrevistas semiestruturadas individuais

Realizei uma entrevista individual com os coordenadores dos seguintes serviços: dos dois ambulatórios citados, do SRT, do Consultório na Rua, das ESFs e da Coordenação de Saúde Mental.

Os conteúdos destas entrevistas foram gravados em áudio e, posteriormente, transcritos de forma integral (os áudios foram deletados após a transcrição, conforme acordado com os entrevistados). Os roteiros das entrevistas encontram-se nos Apêndices 1, 2, 5, 6, 7 e 8.

4.4.4 Entrevista semiestruturada coletiva

Realizada com os gestores da Atenção Básica do município, incluindo a coordenadora geral e apoiadores territoriais. Este encontro foi coletivo por duas razões: primeira, para otimização do tempo; e, segunda, porque havia conteúdo a ser explorado em todos os territórios. O roteiro da entrevista encontra-se no Apêndice 9.

4.4.5 Questionário eletrônico

Utilizei a ferramenta ‘Google Formulários’ em três situações: 1) para acessar os profissionais médicos dos ambulatórios pesquisados – como última tentativa de aproximação, uma vez que o acesso presencial se fez impossível, dada a dificuldade de encontrá-los e sensibilizá-los para a pesquisa (Apêndice 11); 2) objetivando ampliar minha leitura sobre o contexto municipal, criei dois formulários: a) como descrito anteriormente (Apêndice 3), um deles contemplou os serviços da Política de Saúde Mental, que não puderam ser acessados presencialmente; b) o outro foi direcionado à gestão da AB (Apêndice 10).

Para facilitar a compreensão a respeito das abordagens e ferramentas utilizadas nesta pesquisa (técnicas e dispositivo de intervenção) apresento, a seguir, um quadro ilustrativo.

Quadro 7 – Abordagens e ferramentas utilizadas na pesquisa, por serviço e participantes

Fonte: Elaboração própria

Serviços da RAPS Abordagens e

Ferramentas Periodicidade Participantes Ambulatório Saúde Mental Adulto Observação participante 4 encontros Trabalhadores, incluindo a coordenação e excluindo os médicos Ambulatório Saúde Mental Infanto-juvenil Pesquisa- intervenção (dispositivo de intervenção) 5 encontros de intervenção Trabalhadores, incluindo a coordenação e excluindo os médicos 2 encontros de restituição (um gravado e o outro registrado em diário de pesquisa) 3 encontros de intervenção Supervisora clínico- institucional e trabalhadores (exceto coord. e médicos) eCR Entrevista individual 1 encontro Coordenador SRT Coordenadora Atenção Básica Entrevista coletiva 1 encontro Coordenadora e apoiadores territoriais Questionário eletrônico Entrevista

individual Coord. PSF/ESF

Saúde Mental Entrevista

individual 1 encontro Coordenadora

Medicina Questionário

eletrônico 1 aplicação 2 médicos

Outros serviços Questionário

eletrônico 1 aplicação

Ambulatório de Saúde Mental para Adultos, Ambulatório de Álcool e

outras Drogas e CAPS II.

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