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Festa de São Sebastião e o Dia da Independência do Brasil

CAPÍTULO 3 – FRENTE DE EXPANSÃO EM PIMENTAL: OS EVANGÉLICOS

3.6. Festa de São Sebastião e o Dia da Independência do Brasil

De acordo com os moradores entrevistados, até meados da década de 1980, o principal evento público da região era católico, a Festa de São Sebastião, referência em toda a região do Alto e Médio Tapajós:

“Meu marido era seringueiro. Depois de alguns anos que me casei, na boca do Rio Crepori, no Alto Tapajós, ele se endoidou com outra mulher e me deixou. Nessa época já tinha um filho e fiquei por lá mesmo. Pouco tempo depois, me juntei com outro e tive mais três filhos. Este foi embora para o garimpo. Quando eu fui saber que não tinha mais marido, ele já estava morto fazia tempo, morreu assassinado por causa do ouro.

Eu continuei vivendo até saber da Festa de São Sebastião. Isso era em 1961. Uma comadre me convidou e eu nunca mais saí daqui. Vim para passar a festa e não saí mais de Pimental95”.

Havia baile dançante, leilão de gado e comidas variadas, procissão por toda a comunidade, missa na igreja principal e muita alegria entre as centenas de pessoas que durante os 11 dias de festa comemoravam o Dia de São Sebastião em Pimental.

O cenário acima foi descrito por 14 entrevistados que puderam participar do evento, em meados da década de 1970, quando a Festa de São Sebastião era um dos acontecimentos mais importantes da região:

“Tinha festa de são Sebastião, o povo do alto do Tapajós participava, a população católica era bem maior. Tinha leilão, festas, mas era um povo mais animado, mas participativo. Eram 11 noites com bastante festejo. Era aqui a igreja, na rua, em frente à escola. Era bem mais movimentado, organizado. Visitas de padre... quando vinha padre na comunidade nem aula na escola tinha, paralisava tudo. A turma de católico era bem maior e bem mais praticante96”.

“Fui para a festa de São Sebastião e nunca mais saí daqui97”.

“Antigamente é que era bom, quando eu tinha entre 14 e 18, até o início da década de 1980. Era bom porque tinha a Festa de São Sebastião, quando ela ainda durava mais de uma semana. Havia muita comida, festa, leilão98.”

95 Entrevista nº 40, realizada em 2/03/ 2013. 96 Entrevista nº 32, realizada em 28/2/2013. 97 Entrevista nº 40, realizada em 2/3/ 2013.

Durante a pesquisa de campo, fiquei sabendo que, de todos os eventos festivos que existiam em Pimental, a Festa de São Sebastião e a comemoração do dia 7 de setembro eram os únicos a permanecerem após a chegada da Igreja da Assembleia de Deus. Porém, esses dois eventos vêm se transformando.

Com diversas atrações como procissão, leilões, baile dançante, entre outras, a Festa de São Sebastião, até meados da década de 1980, como já dito, durava 11 dias, e atraía visitas de moradores do Alto e Médio Tapajós. De acordo com os entrevistados, atualmente, a festa dura um final de semana e não é capaz de reunir sequer todos os moradores, uma vez que a Assembleia de Deus proíbe a participação de seus adeptos em eventos de outras religiões.

“Antigamente, todo o povo do Alto do Tapajós participava da festa de São Sebastião. Naquela época, a população católica era bem maior. Tinha leilão, festas, o povo era mais animado, mas participativo. Eram 11 noites com bastante festejo. A igreja ficava aqui, em frente à escola. Era bem mais movimentado, organizado99”. Ao mesmo tempo em que a festa de São Sebastião foi perdendo relevância, depois da chegada da igreja evangélica em Pimental, outro evento que antes se restringia apenas a comemorações no espaço escolar vem ganhando mais importância, a ponto de ser a única celebração capaz de reunir toda a comunidade, a comemoração da Independência do Brasil.

Entre as atividades, estão os desfiles por toda Pimental com temas pátrios e a apresentação do Hino Nacional Brasileiro. Participam todos os alunos da escola, com trajes em verde e amarelo.

Visando participar da celebração do dia 7 de setembro e ter seus filhos no principal desfile, que passa por toda a comunidade, os moradores guardam suas economias para poderem comprar os trajes para o evento. Nesse momento, ser a porta-bandeira da escola se torna um símbolo de distinção, e muitos são os que lutam para conquistar o posto.

98 Entrevista nº 14, realizada em 13/2/2013. 99Entrevista nº 32, realizada em 28/3/2013.

O que está proposto nessa mudança de valores em relação às festas não é somente uma questão religiosa, mas essa transição evidencia a entrada de aspectos da modernidade apoiada pela igreja evangélica.

Essas duas festas são a representação do que acontece em Pimental: uma festa de São Sebastião, e tudo o que ele significa – movimento messiânico, agente de expansão que está em constante deslocamento pelo território-, que vem sendo substituída por um evento pátrio que patenteia, definitivamente, a integração de Pimental ao País. Portanto, ao invés do deslocamento constante, constituído pelo santo, a integração territorial expressa na exaltação ao Hino Nacional Brasileiro.

Essa substituição ocorre, como expusemos, com a chegada da igreja evangélica em Pimental e com o crescente apoio que vem tendo desde sua instalação. O recado, ainda que simbólico, que a Assembleia de Deus passa, a partir do apoio que ela confere à festa do Dia Sete de Setembro, é a integração primeira à civilização do que então estava à margem do mundo moderno, constituindo-se claramente como frente de expansão. Assim, a Igreja Assembleia de Deus dá o primeiro passo para a expansão da frente pioneira que, durante a pesquisa de campo, figurou-se na chegada da hidrelétrica em Pimental. É a Igreja evangélica integrando o território marginal de Pimental ao território brasileiro e ao mercado econômico, ao capital.