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CAPÍTULO 6 – DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS

6.2 AS DIMENSÕES DO CONTEÚDO DENTRO DAS CARACTERÍSTICAS DO SPORT

6.2.5 Festividade

A festividade é uma das características do Sport Education Model, que representa o envolvimento dos alunos e da professora numa constante troca de saberes. Ela se intensifica a partir das relações aluno-aluno e professora-aluno, uma das reflexões apresentadas por Coll et al. (2000) ao tratarem da dimensão atitudinal. Essa situação pode ser identificada na capacidade da turma observada em prover momentos de alegria e interação no desenvolvimento dos conteúdos da unidade didática, como também na preparação para a apresentação de sistematização dos conhecimentos produzidos.

De forma específica, a festividade fica evidente nos momentos protagonizados pela professora e pelos alunos na produção da apresentação para o evento culminante. Ao trabalhar com as Danças Gaúchas, os discentes foram desafiados a ter um contato próximo com seus colegas, ou seja, para que os saberes procedimentais fossem alcançados, a dança deveria ocorrer em pares. Mas, essa interação superou a reprodução formal no instante em que não apenas pares faziam os passos, conforme observamos nas aulas:

Dentre os movimentos a serem realizados, destaca-se a utilização de pares e também de trios, de maneira que os alunos participam efetivamente na apresentação (Fragmentos dos Diários de Campo, 05-09-2017).

Além disso, podemos analisar a seguir outra situação que caracteriza a relação de diálogo existente entre os sujeitos envolvidos na elaboração da coreografia:

Fato observado e evidenciado no momento da fala da professora e escuta dos alunos, como também da fala dos alunos e escuta da professora. Na observação dessa cena é difícil registrar falas dos alunos, pois o ginásio é grande e a fala não fica tão clara. Além de a fala ser realizada também de maneira demonstrativa, ou seja, enquanto falam, já demonstram os novos elementos que fazem parte da apresentação, em um sentido de explorar o acervo de conhecimento dos alunos, tanto conceitual como procedimental e atitudinal no decorrer da aula (Fragmentos dos Diários de Campo, 05-09-2017).

Dentro da cena observada, interpretamos uma relação das três dimensões do conteúdo presentes na aula. Contudo, as dimensões atitudinais se apresentam com maior eficácia na relação professora-aluno no desenvolvimento das intervenções e diálogos, pois existe uma interatividade mútua entre ambas as partes.

Essa interatividade provocada pela festividade e desenvolvida pela comunicação professora-aluno motivava a sequência, mesmo na ausência da professora. No fragmento a seguir, comentamos sobre esse fato:

Para finalizar a aula, a professora relata aos alunos que não se fará presente na escola na semana seguinte, pois participará de um evento da Coordenadoria Regional de Educação (CRE); sobre sua ausência e continuidade do planejamento, a docente profere a seguinte fala: “eu não estarei na escola, vou estar em um evento da CRE com os alunos do terceiro ano do ensino médio. Mas vocês irão se organizar e realizar uma semana de ensaio para a apresentação e postarão no grupo um vídeo de vocês ensaiando nesse dia” (Fragmentos dos Diários de Campo, 05-09-2017).

Outras cenas sobre os elementos festivos ocorridos durante a unidade didática puderam ser observadas após o evento culminante. No diálogo dos alunos e da professora sobre a forma como os conhecimentos se desenvolveram na unidade e sua sistematização, percebemos duas situações interessantíssimas. Uma trata do comparativo das danças trabalhadas na escola com as reproduzidas na sociedade, e, a outra, da relação e participação dos alunos na elaboração da apresentação.

Os alunos e a professora começam um diálogo comparativo entre as danças do CTG e as danças trabalhadas nas aulas de Educação Física. Nesse momento, a docente fala aos alunos: “Tem espaço para vocês criarem, eu dei o básico”. E questiona a turma: “Fui eu que criei a apresentação/coreografia?” “Eu disse a coreografia para vocês?”. Antes dos alunos responderem, a professora complementa: “A apresentação foi uma interação professor-aluno, nós produzimos a coreografia juntos durante as aulas”. Alguns alunos comentaram: “Sim, quase todos nós participamos da montagem da apresentação” (Fragmentos do Diário de Campo, 03-10-2017).

Fica percebível, a partir das observações realizadas e dos fragmentos aqui apresentados, que as aulas de Educação Física não trataram de uma reprodução de conhecimentos práticos externos à aula, mas sim de uma criação conjunta a partir do acervo cultural das capacidades procedimentais de cada aluno. Essa interpretação ganha destaque nesse momento do trabalho pela interação festiva, ou seja, o prazer e a alegria dos alunos e da professora por terem desenvolvido esses conhecimentos de maneira conjunta. Sobre esses fatos, apresentamos mais um fragmento que nos auxilia nessa interpretação:

A professora retoma a comparação entre as danças do CTG e as danças trabalhadas nas aulas de Educação Física. “No CTG, todos que dançam têm que ter uma postura

muito séria, aqui nas aulas nós podemos fazer de maneira mais descontraída”. Sobre isso, uma aluna comenta: “Eu já dancei no CTG e lá eles eram muito chatos, eles cobravam de nós postura, tinha uma professora que cutucava nós para sempre ter a postura correta da dança. Aqui nas aulas de Educação Física, nós dançávamos mais à vontade, é mais legal” (Fragmentos do Diário de Campo, 03-10-2017).

Outra informação interessante de ser relatada nesse espaço é a interação de ambos os gêneros nas aulas de Educação Física para praticar as Danças Gaúchas. Sobre isso, em outro fragmento, verificamos um diálogo da professora e dos alunos sobre a participação de meninas e meninos:

A professora retorna a comentar: “Mas dessa turma todos os meninos participaram da apresentação”. A aluna fala “Mas poderiam participar mais, durante as aulas, às vezes tínhamos que ficar puxando os meninos para dançar”. Um menino responde: “é que somos mais envergonhados”, e a professora comenta: “Os meninos poderiam ter se envolvido um pouco mais, mas ao menos todos participaram” (Fragmentos do Diário de Campo, 03-10-2017).

Diante desse fato, reconhecemos duas situações observadas e comentadas pelos alunos e pela professora. A primeira é a percepção, por parte da professora, de que as aulas de Educação Física oportunizaram um ambiente festivo e a integração de meninos e meninas nos momentos procedimentais da unidade didática. A segunda é o reconhecimento de todos os alunos sobre esse fato. As meninas destacaram a participação dos meninos, mas ressaltaram que poderiam ter sido mais ativos. Os meninos concordam, porém destacam que a vergonha dificulta um maior envolvimento.

Portanto, podemos interpretar, aqui, que os elementos conceituais, procedimentais e atitudinais se fizeram presentes de maneira interativa entre os alunos e a professora no decorrer da unidade didática, sendo essa produção desenvolvida de maneira profícua por meio da festividade, promovendo um prazer mútuo no desenvolvimento e apresentação dos saberes. Talvez, se esse planejamento não apresentasse essas características, as três dimensões do conteúdo ficariam desarticuladas e os alunos não teriam se envolvido de maneira significativa nas aulas de Educação Física.