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2 ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

2.3 Estratégia e procedimentos de recolha de dados

2.3.2 Fidelidade e validade do instrumento de recolha de dados

Reconhecemos não ser objetivo deste trabalho o desenvolvimento de um estudo metodológico. Não obstante, importa avaliar algumas propriedades psicométricas do instrumento, nomeadamente a sua fidelidade e validade, para que se possa saber se os resultados são fidedignos, contribuindo para o valor da investigação.

Segundo Fortin (2003) a fidelidade e a validade são atributos essenciais para determinar a qualidade de qualquer instrumento de medida, avaliando-se em graus e não apenas pela presença ou ausência.

De acordo com a autora, “a fidelidade é uma condição prévia à validade, isto é, se um instrumento de medida não dá scores ou valores constantes de uma vez para a outra, não pode ser útil para atingir o objetivo proposto” (Fortin, 2003, p. 225). Contudo, por outro lado, “a fidelidade não é uma condição suficiente para estabelecer a validade”, uma vez que “um instrumento pode medir um fenómeno de forma constante e não ser válido, isto é, não medir o fenómeno que se quer medir” (Fortin, 2003, p. 225).

A validade refere-se, então, à capacidade de o instrumento medir aquilo que propõe a medir, isto é, “diz respeito à exatidão com que um conceito é medido” (Fortin, 2003, p. 228), pelo que se valida não exatamente o instrumento, mas sim as inferências e as conclusões que dele se podem extrair.

A validade pode ser estimada de diferentes formas, nomeadamente a validade de conteúdo ou de conceito, a validade de critério e a validade de construto (Fortin, 2003). A validade de conteúdo ou de conceito refere-se à representatividade do conjunto de enunciados que constituem o conceito a medir, estando ligada à conceptualização do construto, isto é, garante que o instrumento de medida e os enunciados que ele contém representam adequadamente o domínio ou conceito estudado (Fortin, 2003). A validade de construto, por outro lado, refere-se ao grau de validação da estrutura teórica subjacente ao instrumento de medida, implicando identificar os comportamentos relacionados com o construto a medir, extrair hipóteses da teoria subjacente ao conceito e verificar as hipóteses formuladas. Por último, a validade de critério refere-se ao grau de correlação entre um instrumento de medida ou uma técnica e uma outra medida independente suscetível de tratar do mesmo fenómeno ou conceito (Fortin, 2003).

A fidelidade corresponde à precisão e constância dos resultados, isto é, quando um determinado instrumento de medida, em situações semelhantes produz resultados idênticos (Fortin, 2003), indicando até que ponto as diferenças encontradas são atribuíveis a verdadeiras diferenças entre os sujeitos.

A fidelidade de um instrumento pode ser estimada atendendo a três aspetos: a reprodutibilidade ou estabilidade temporal, o grau de concordância entre observadores e a consistência interna.

A reprodutibilidade é determinada pela concordância das respostas obtidas aquando das avaliações repetidas nas mesmas condições e nos mesmos sujeitos estimando-se através da técnica de teste-reteste, e avaliando-se a correlação dos resultados obtidos em momentos diferentes, nas mesmas condições de medição. A concordância entre observadores refere-

se ao grau de concordância entre os resultados de dois ou mais observadores independentes que utilizaram os mesmos instrumentos junto dos mesmos sujeitos. Já a consistência interna corresponde à homogeneidade dos enunciados de um instrumento de medida. Esta é estimada pelas correlações ou pelas covariâncias de todos os enunciados de um instrumento examinados simultaneamente, indicando de que modo um enunciado está ligado aos outros enunciados da escala. O coeficiente alpha de Cronbach assume-se como uma das principais técnicas para apreciar a consistência interna de um instrumento de medida.

Como foi anteriormente exposto, no nosso estudo os dados são recolhidos junto do indivíduo num único momento, com um investigador para todos os casos. Isto invalida a possibilidade de aplicar testes de reprodutibilidade, bem como a concordância entre observadores, pelo que, neste contexto, a consistência interna se releva de extrema importância.

Reportando-nos a este estudo, importa analisar as propriedades psicométricas de cada uma das partes de constituem o instrumento de medida: Caracterização do Estilo de Gestão do Regime Terapêutico, Competências de Gestão do Regime Medicamentoso e Medida de Adesão aos Tratamentos.

O instrumento de caraterização dos estilos de gestão do regime terapêutico, conforme descrito anteriormente, assenta numa teoria sólida desenvolvida por Bastos (2012), sendo o instrumento desenvolvido através de um processo complexo, organizado em três fases, o que garante a validade de conteúdo e de construto do instrumento (Bastos et al., 2014). Além disso, têm vindo a ser desenvolvidos estudos de investigação que reforçam a validade da teoria que está na base do instrumento (Meireles, 2014; Mota, 2017). Não obstante, dada a relativa novidade do conceito em estudo, e não existindo um outro instrumento que avalie os estilos de gestão do regime terapêutico, neste estudo, a validade de critério não será analisada.

Relativamente à fidelidade, estudos anteriores apontam, na avaliação conjunta da primeira e segunda partes do instrumento original, para valores dos coeficientes alpha de Cronbach entre 0,695 (Meireles, 2014) e 0,86 (Mota, 2017), o que remete, na perspetiva de Fortin (2003) para uma variação aceitável dos coeficientes de fidelidade, que devem situar-se entre 0,70 e 0,90.

A opção de análise conjunta da primeira e segunda parte do formulário, em ambos os trabalhos mencionados, relacionou-se com o facto de, teoricamente, as duas concorrerem para a avaliação do mesmo fenómeno (Mota, 2017). Esta opção será mantida no desenvolvimento do presente trabalho uma vez que, como mencionado, foi excluída a terceira parte do instrumento original, considerando-se apenas a inclusão das duas primeiras componentes do mesmo.

Quanto às competências de gestão do regime medicamentoso, estas assentam, como referido, em 14 atividades definidas atendendo à Classificação dos Resultados de Enfermagem (Moorhead et al., 2010). Esta é uma classificação que reúne grande consenso, sendo de elevado reconhecimento pela comunidade científica, em cuja origem estão metodologias de investigação altamente rigorosas e auditadas (Mota, 2017). As atividades definidas foram posteriormente submetidas a uma validação por parte de um grupo de peritos no âmbito da gestão do regime terapêutico e/ou gestão da dor pelo que nos parecem ter sido cumpridos os requisitos para salvaguardar validade de conteúdo desta componente do instrumento de recolha de dados.

A última parte do formulário, corresponde à versão portuguesa da Medida de Adesão aos Tratamentos (MAT) de Delgado e Lima (2001). Esta apresenta, no estudo dos autores, uma consistência interna traduzida por um valor de alpha de Cronbach de 0,74, (superior à medida de adesão original, de Morisky et al., que apresentou um alpha de Cronbach de 0,5), verificando-se que este valor não aumenta com a exclusão de nenhum item da escala (Delgado et al., 2001). Os autores procederam ainda à validação concorrente da medida, através da correlação entre esta e o nível de adesão aos tratamentos obtido pelo método de contagem de medicamentos, obtendo uma relação elevada e significativa (Delgado et al., 2001).

Num estudo posterior, numa amostra de 164 doentes crónicos com prescrição médica de pelo menos um medicamento indicado para tratamento da sua doença crónica, a MAT revelou um alpha de Cronbach de 0,72, próximo de 0,74, valor obtido no estudo de validação do instrumento (Dias, 2014). Já no estudo de Martins e colaboradores (2017), em que se avaliou a adesão ao regime medicamentoso antes e após intervenção de sensibilização terapêutica numa amostra de 228 indivíduos, este valor sobe para 0,98, indicando uma forte consistência interna do instrumento.