• Nenhum resultado encontrado

2 ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

2.5 Procedimentos de análise dos dados

“O objetivo do investigador quando se debruça sobre um conjunto de dados é verificar da existência e da natureza das relações entre variáveis” (Pais-Ribeiro, 2010, p.49), pelo que os dados necessitam ser metodicamente analisados, de forma que as tendências e os padrões de relacionamentos possam ser detetados.

Aquando a recolha de dados, a cada participante foi atribuído um número, por ordem de entrada no estudo, de forma a ser garantido o anonimato.

Finalizada a recolha dos dados, procedeu-se à transposição dos mesmos para uma base de dados, através de leitura ótica. Este procedimento permite evitar os erros associados à introdução manual, implicando, contudo, a realização de um pré-teste de leitura, associado a uma validação com os formulários originais, a partir dos quais de realizou a exportação dos dados.

Procedemos, de seguida, à análise dos dados utilizando como suporte o programa IBM® SPSS® Statistics versão 25, recorrendo a procedimentos que se mostrassem adequados à

natureza da amostra e das variáveis em estudo e que fossem capazes de responder aos objetivos do estudo.

Os dados resultantes da aplicação do instrumento foram, primeiramente, sujeitos a análise estatística descritiva, englobando um conjunto de medidas de tendência central e dispersão, a fim de caraterizar da amostra. Procedeu-se também à estatística inferencial, o que nos permitiu encontrar as diferenças e associações entre as variáveis desta amostra. A análise da fidelidade do instrumento foi realizada por via da computação da estatística alpha de Cronbach.

Como referido, relativamente à identificação do estilo de gestão de regime terapêutico, e tratando-se de uma variável latente, a análise dos resultados do instrumento não é imediata. Com base na teoria dos estilos de gestão do regime terapêutico (Bastos, 2012) foram associados, a cada estilo de gestão do regime terapêutico, um conjunto de itens específicos de cada um dos estilos. Assim, a aplicação do instrumento possibilita a determinação de um score em cada um dos estilos, sendo a análise desses quatro scores que nos proporciona a identificação do estilo de GRT final (Meireles, 2014).

Os itens da primeira parte do instrumento (Questionário dos traços identitários e das atitudes face à doença e ao regime terapêutico) foram identificados com o número do item, precedido por 1 (por ex.: 102, 103), sendo os itens da segunda parte do instrumento (Perceção de comportamento face ao regime terapêutico - autorrelato) identificados com o número do item, precedido por 2 (por ex.: 201, 202), de modo a que mais facilmente se identifique a que parte do formulário o item corresponde.

Importa salientar, neste ponto, que com vista a aumentar o potencial de discussão e comparabilidade dos resultados apurados no nosso estudo, seguimos a mesma lógica usada nos estudos de Meireles (2014) e Mota (2017). Assim, procedemos à caracterização do estilo de gestão do regime terapêutico dos participantes com base nos itens específicos de cada estilo de GRT, calculando um score médio para cada um dos estilos de GRT. Desta forma, para cada um dos estilos, cada participante passou a ter um score compreendido entre 0 e 4.

Tabela 2: Itens específicos por estilo de gestão de regime terapêutico (adaptado de Meireles, 2014)

Estilo de GRT Itens

Responsável 17 itens: Q103; Q105; Q106; Q107; Q108; Q109; Q116; Q118; Q121; Q123; Q127; Q129; Q133; Q134; Q139; Q141; Q201

Formalmente guiado 14 itens: Q101; Q102; Q104; Q110; Q111; Q114; Q120; Q122; Q142; Q143; Q144; Q210; Q211; Q212

Independente 5 itens: Q125; Q140; Q145; Q202; Q208

Assim, para se calcular o score no estilo independente, por exemplo, calcula-se a média, ignorando os nulos, dos itens Q125, Q140, Q145, Q202 e Q208 do instrumento, assumindo- se que um participante com um estilo de GRT independente deverá ter um score elevado (mais próximo de 4) neste estilo e scores mais baixos nos três restantes.

À semelhança dos estudos supracitados, consideramos que o estilo de gestão do regime terapêutico é “puro” quando o score é ≥3,5 no perfil específico e <2 nos restantes estilos, considerando-se, por outro lado, que o estilo é “predominante” nos casos que possuam um score ≥ 3 num determinado estilo e um score <2,5 nos restantes (Meireles, 2014; Mota, 2017).

Dado se ter verificado, nos estudos já referidos, uma predominância de estilos ‘combinados’, e com vista a aumentar a possibilidade de identificação do estilo de gestão de regime terapêutico dos participantes, optámos, também no nosso estudo, por definir critérios para os casos nos quais existe predominância de mais do que um estilo de gestão de regime terapêutico, conforme apresentado na tabela seguinte (tabela 3).

Tabela 3: Scores por estilo de gestão de regime terapêutico combinado (adaptado de Meireles, 2014)

Estilo de GRT combinado Scores Responsável Formalmente guiado Independente Negligente Responsável/Formalmente guiado ≥3 ≥3 <2,5 <2,5 Responsável/Independente ≥3 <2,5 ≥3 <2,5 Responsável/Negligente ≥3 <2,5 <2,5 ≥3 Formalmente Guiado/Independente <2,5 ≥3 ≥3 <2,5 Formalmente Guiado/Negligente <2,5 ≥3 <2,5 ≥3 Independente/Negligente <2,5 <2,5 ≥3 ≥3 Responsável/Formalmente guiado/Independente ≥3 ≥3 ≥3 <2,5 Responsável/Formalmente guiado/Negligente ≥3 ≥3 <2,5 ≥3 Responsável/Independente/Negligente ≥3 <2,5 ≥3 ≥3 Formalmente guiado/Independente/Negligente <2,5 ≥3 ≥3 ≥3 Responsável/Formalmente guiado/Independente/Negligente ≥3 ≥3 ≥3 ≥3

Todos os casos que não podem incluir-se em nenhuma das categorias anteriores foram classificados como estilo indeterminado.

Do instrumento emergem 7 dimensões teóricas fundamentais para caraterizar a gestão do regime terapêutico, sendo estas: locus de controlo interno, tomada de decisão, autodeterminação, atitude face à doença, atitude face ao regime terapêutico, autoeficácia e interação com os profissionais de saúde (Meireles, 2014; Bastos et al.,

2017). O score de cada uma das dimensões é calculado com recurso a média, ignorando os nulos, do valor obtido em cada um dos itens de cada dimensão.

Tabela 4: Indicadores específicos de cada dimensão do estilo de gestão de regime terapêutico (adaptado de Meireles, 2014)

Dimensões Itens

Locus controlo interno 6 itens: Q101; Q102; Q114; Q120; Q122; Q133 Tomada de decisão 5 itens: Q103; Q104; Q105; Q109; Q110

Autodeterminação 6 itens: Q106; Q107; Q111; Q113; Q123; Q132

Atitude face à doença 17 itens: Q108; Q112; Q115; Q116; Q117; Q118; Q119; Q121; Q124; Q125; Q126; Q128; Q140; Q203; Q208; Q211; Q212

Atitude face ao regime terapêutico

13 itens: Q127; Q135; Q136; Q137; Q138; Q139; Q144; Q145; Q202; Q204; Q206; Q209; Q210

Autoeficácia 3 itens: Q129; Q130; Q131

Interação com os profissionais 5 itens: Q141; Q142; Q143; Q201; Q213

Estas dimensões foram a base da construção das propriedades dos estilos de GRT: controlo e flexibilidade, que, como já referido neste trabalho, variam entre campos semânticos opostos: flexibilidade/rigidez e controlo/tentação (Bastos, 2012).

Os indicadores específicos de cada propriedade do estilo de gestão de regime terapêutico é calculado com recurso à média, ignorando os nulos, dos itens que compõe cada um dos indicadores (tabela 5).

Tabela 5: Indicadores específicos de cada propriedade do estilo de gestão de regime terapêutico (adaptado de Meireles, 2014)

Propriedades Itens

Flexibilidade 19 itens: Q105; Q106; Q109; Q115; Q116; Q121; Q124; Q128; Q130; Q131; Q132; Q134; Q136; Q137; Q138; Q139; Q140; Q143; Q144

Locus de controlo 16 itens: Q101; Q102; Q104; Q103; Q108; Q110; Q114; Q117; Q120; Q122; Q123; Q127; Q129; Q133; Q141; Q142

No capítulo relativo à apresentação e discussão dos resultados faremos referência mais específica às opções estatísticas realizadas. Contudo, antes de avançarmos para a apresentação e discussão dos resultados, parece-nos relevante expor as preocupações éticas que pautaram o desenvolvimento do presente estudo.