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PARTE III ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

FIG.21 APRESENTAÇÃO NO II ENCONTRO DE ARTES E CULTURA SURDA.

Fonte: A autora, 2016. 6.1.2 Alfabeto Musical Visual

O recurso metodológico aqui denominado alfabeto musical visual foi o segundo passo dado pelo educador no grupo ao construir a Metodologia MusiLibras. O alfabeto utiliza a língua de sinais para ensinar sobre as figuras de tempos musicais, onde cada figura representa um tempo. O educador compreende que trabalhar com recursos visuais pode resultar em maior aprendizagem com os alunos surdos, ele sempre está a dizer: “Eu quero focar mais na parte sensorial e visual deles”. Essa compreensão do surdo como um ser visual é corroborada por Skliar (2015):

As potencialidades e capacidades visuais dos surdos não podem ser entendidas somente em relação ao sistema linguístico-próprio da língua de sinais. A surdez é uma experiência visual, [...] e isso significa que todos os mecanismos de processamento da informação, e todas as formas de compreender o universo em seu entorno, se constroem como experiência visual (SKLIAR, 2015, p.28).

Segundo o educador, com as figuras representadas no alfabeto musical visual “a gente consegue construir uma frase rítmica através dela, uma frase do maracatu”. E ainda disse que com as figuras ele consegue que eles toquem qualquer ritmo.

Indagamos ao professor se houve participação dos alunos na construção desse alfabeto, no início da construção do grupo, já que utiliza a LS, natural destes, mas ele nos respondeu:

Não, porque eu era um cara que não sabia falar nem oi em LIBRAS, e [...], acho que um mês depois que eu tive esse contato com os surdos, eu tive essa ideia de criar o alfabeto. Então eu achei que seria é, botar o carro na frente dos bois, se eu tivesse pedido a consultoria deles, pra construir o alfabeto. Eu achava, eu achei na hora, que se eu dissesse eu quero construir sinais pra representar essa figuras, ainda tava no aprendizado, um pouco distante dessas figuras, de chegar na parte da teoria, porque eu tava fazendo dinâmica de percussão corporal, a coisa tava um pouco distante ainda da teoria musical. [...] aí foi pura intuição e acompanhando um pouco o formato que essas figuras já tem no universo ouvinte. [...] (Educador, transcrição de entrevista em 29 de abril de 2017).

Em outras conversas informais com o professor perguntamos se agora que os alunos já entendem sobre a prática musical se ele não achava interessante construir em conjunto com eles outras figuras para o alfabeto musical e, ele nos disse que nunca pediu a participação deles e nem pensa no momento em fazer isso, mesmo porque disse que a metodologia foi ele quem criou, e que pode no futuro fazer qualquer coisa com ela, inclusive vender, e que se houvesse participação deles eles achariam que a metodologia também é deles.

Nesse sentido, fica complexo e improvável vislumbrar inovação nas práticas pedagógicas estabelecidas no grupo Os Batuqueiros do Silêncio, uma vez que não existe a participação dos alunos na construção de novos recursos e nem nas atividades desenvolvidas. Para Fino (2016), “A inovação pedagógica passa exclusivamente pela Matética, o que implica a autonomia e o protagonismo do aprendiz e a redefinição do papel do professor” [...] (FINO, 2016, p. 5). Nas práticas do grupo observamos que o protagonismo continua sendo no educador, e não no aprendiz.

Consultando a internet sobre registros em LIBRAS de outras figuras musicais, encontramos uma dissertação de mestrado intitulada: Glossário Bilíngue da Língua de Sinais

Brasileira: Criação de sinais dos termos da música, (Universidade de Brasília), de Daniela Prometi Ribeiro (2013), surda, bilíngue, que começou a estudar música aos doze anos de idade, e foi percebendo a dificuldade dos surdos na falta de sinais-termos ligados ao universo musical.

O glossário criado é bilíngue, pois a pesquisadora surda entende que assim deve ser a educação dos surdos. Foram selecionados cinquenta e dois termos, em português e depois

foram criados os sinais-termos e por fim foram validados por surdos. O glossário conta com fotos e descrições detalhadas sobre as figuras. Já no grupo Os Batuqueiros do Silêncio, não existe registro das figuras criadas, que poderia ser mais um recurso utilizado nas práticas musicais deles.

Entregamos ao educador uma cópia impressa desse glossário, e perguntamos se alguma figura criada por ele era semelhante ao do material, mas ele disse que não. Também perguntamos se era possível ele utilizar alguma figura do glossário bilíngue e ele nos disse:

Sim, tem umas figuras ali que a gente pode aproveitar, mas tem outras que, pra o tipo de pesquisa que eu to desenvolvendo, eu acho que as figuras mais atrapalhariam do que ajudariam sabe? Eu, algumas ali eu já to ensaiando pra usar na construção de algumas frases com eles e nas novas oficinas que eu venha a realizar, mas outras ali eu acho que é pra quem quer atingir um nível muito avançado de sensibilização musical [...] (Educador, transcrição do diário em dezoito de junho de 2016).

As figuras musicais visuais criadas pelo educador foram: Colcheia (nota com metade do valor de uma semínima e o dobro de valor de uma semicolcheia); Semicolcheia (nota que tem metade do valor de uma colcheia e do dobro do valor de uma fusa); Semibreve (nota que tem metade do valor de uma breve e o dobro do valor de uma mínima); Mínima (nota que tem metade do valor de uma semibreve e o dobro do valor de uma semínima); Semínima (nota que tem a metade do valor de uma mínima e o dobro de uma colcheia). Como vimos no comentário acima dele, o alfabeto musical visual tende a aumentar à medida que ele vá incorporando novos conceitos musicais. Também aqui percebemos que esse recurso, assim como a metodologia como um todo está em constante adaptação.

6.1.3 Metrônomo Visual

O metrônomo visual (fig. 22) é mais um dos recursos pedagógicos da Metodologia MusiLibras. Segundo o educador, “O metrônomo visual é uma espécie de maestro”. Ele diz que era necessário ficar comandando o grupo durante todo o tempo, e aos poucos verificou que a criação de um novo recurso faria o trabalho de maestro por ele, surgindo assim o metrônomo visual. Com o aparelho, o educador diz que eles tocam “maracatu, frevo, ciranda, caboclinho, ijexá, coco, etc”. Ele explica que o aparelho é simples, mas é reconhecido por muitos músicos e professores como uma ferramenta poderosa no ensino da música, tanto para surdos como para ouvintes, como segue:

[...] foi uma ideia tão simples, mas que tem resultados tão poderosos [...] e os doutores e os professores de música lá, [...] reconheceram que aquela minha parafernália ali, tinha um poder incrível. [...] eu achava que aquilo era só outra ferramenta que somada com o alfabeto, iria me ajudar [...] no Projeto Som da Pele. [...], eu percebi que eu tinha criado um mecanismo que poderia atender outras

pessoas, ouvintes, e do país todo (Educador, transcrição de entrevista em 29 de abril de 2017).