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Fig 27 Marcel Esperante, Lágrimas ilhas, 2017, 50 x 50 cm, serigrafia.

3.4 ESFERAS & CONSTELAÇÕES

A experiência humana sempre foi fascinada pela relação do que pertence à terra e o que pertence ao céu. Quando se trata de representações do firmamento, dividimos as observações em dois grupos distintos: os mapas celestiais ou de constelações, que buscam a partir dos meios disponíveis uma localização mais exata das posições e relações entre as estrelas e suas constelações e os mapas cosmológicos, que implicam uma concepção de conjunto do universo ou cosmo.

No período pré-histórico, devido às dificuldades de se obter um contexto antropológico preciso e a escassez de registros, em alguns casos – onde nada há além de fragmentos de petróglifos – há muita controvérsia em torno da interpretação do material. Segundo critérios definidos pelos estudiosos do assunto, pouco do que foi encontrado pode ser considerado um mapa estelar.

No caso dos mapas celestiais, argumenta-se que, na maioria das vezes, não se pode concluir que resultem de uma concepção sofisticada e verticalizada, como é o caso dos mapas, mas apenas um mero retrato feito a partir da observação do ambiente. Outro ponto que inviabilizaria tal concepção é o fato de que naquele contexto a observação e representação mais precisa do firmamento, com finalidades astronômicas, estaria distante de objetivos práticos e concretos (HARLEY,1987, p. 83- 84)

Fig. 28 Star stone ( Pedra da estrela), desenho. 33 Fonte: Geestkunde, Klaus

Albrecht, Malta's temples.

33O petróglifo é de proveniência desconhecida. Pode ter propósito religioso ou astronômico e, apesar da polêmica e da opinião divergente de muitos estudiosos, não pode ser considerado um mapa.

Já em relação aos mapas cosmológicos, temos na Babilônia talvez as tentativas mais antigas de uma concepção de um todo racional do universo. Porém, egípcios, chineses e indianos também desenvolveram suas cosmologias, seus mapas cosmológicos e suas constelações.

Nesta incrível imagem (Fig. 29) observamos a deusa Nut, que representa o céu estrelado reclinada e protegendo o deus da Terra Geb, e no espaço localizado entre a terra e o céu o deus Shu em forma humana. Houve muita influência cruzada entre Egito, Babilônia e Grécia no que diz respeito tanto às observações astronômicas das constelações quanto à mitologia e astrologia:

Fig. 29 Mapa cosmográfico. A terra do Egito com a deusa

Nut, esculpido em rocha no sarcófago de Saqqara 350 a.C. Fonte: Alien explorations 34

Localização em Valetta, Malta (3600-2500 a.C.). Disponível em: https://www.geestkunde.net/tabula- smaragdina/malta-tempels-aardgodin.shtml . Acesso em: 3 de fevereiro, 2019.

34 Disponível em: http://alienexplorations.blogspot.com/2008/01/secrets-of-life-cycle-tableau.html . Acesso em: 3 de fevereiro, 2019.

Uma imagem circular do céu, datada do final do período ptolomaico reproduz planetas e constelações com algum grau de precisão na relação entre eles, ocorre no teto da capela de Osíris no telhado do templo de Dendera, atualmente no Louvre. Representa uma imagem sintética do céu em que as constelações e decanos, tradicionalmente egípcios, se misturam aos doze signos do zodíaco, importados da Babilônia, mas egípcios em suas formas.35 (HARLEY,1987, p. 121, tradução nossa)

Os humanos sempre observaram o céu por simples prazer ou por motivos práticos, tais como: usar corpos celestes para traçar rotas; para a contagem do tempo; para prever fenômenos naturais, como a cheia ou vazante dos rios; o melhor tempo para plantar ou para colher; fazer presságios e previsões astrológicas; dialogar com os deuses; selar a paz ou iniciar uma guerra.

Fig. 30 Reprodução em gravura em metal do Dendera zodiac,

Zodíaco de Dendera, 29,1 x 28,8 cm. Planisfério do templo de Hathor em Dendera, Alto Egitto.36 Fonte: Linda Hall Library37

35 Although in the later period there was cross-fertilization of Babylonian and Greek ideas and astronomical observation was necessary for astrology, the same mythical figures were retained. A circular picture of the sky, dating to the end of the Ptolemaic period, which reproduces planets and constellations with some degree of accuracy in their relation to one another, occurs on the ceiling of the chapel of Osiris on the roof of the temple of Dendera, now in the Louvre. It depicts a synthetic image of the sky in which traditional Egyptian constellations and decans are mingled with the twelve signs of the zodiac, imported from Babylonia but Egyptianized in their forms.

36 Vivant Denon publicou o primeiro desenho do Zodíaco em sua Viagem na Basse et Haute Égypte (Paris, 1802). Como o zodíaco estava no teto de uma capela escura, ele teve que deitar de costas e desenhar à luz de velas.

Os gregos do Mediterrâneo, por meio do comércio e das conquistas e guerras de Alexandre, o Grande, trocaram muitos conhecimentos astronômicos e astrológicos. Filósofos gregos como Thales, Pitágoras e Platão, passaram algum tempo com estudiosos no Egito, onde foram expostos às tradições egípcias e babilônicas.

Em 800 a.C. Homero concebeu a terra como uma superfície plana, circundada por um rio chamado de oceano. Acima, a terra plana era coberta por uma espécie de domo, que por sua vez era envolvido pelo éter flamejante que daria origem ao brilho das estrelas no céu noturno. Abaixo do domo teríamos o ar e as nuvens, e abaixo da terra o temível Tártaro, lugar de todo o mal.