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SUBJETIVIDADE E DA IDENTIDADE: A CONSTRUÇÃO DO

OBJETO DE PESQUISA

“Aquele que pratica um ato de compreensão (também no caso do pesquisador) passa a ser participante do dialógo”

(BAKHTIN, 1992, p. 355).

Na tentativa de participarmos ativamente do diálogo científico, assumimos, nesta tese, uma perspectiva epistemológica segundo a qual a pesquisa é ela mesma uma atividade, o que, certamente, implica uma postura analítica de definir os objetos e de interpretar os dados sobretudo em termos de processo. Sendo assim, como pesquisadores, assumimos, nesta pesquisa, um posicionamento discursivo propositivo a partir de uma polifonia teórica, pela qual pretendemos propor uma nova abordagem da figuração do agir, considerando-a não como um produto, mas sim como um processo de linguagem, subjetividade, ideologia e consciência. Para isso, é como linguistas aplicados interessados em uma Psicologia da Linguagem que desenvolveremos essa abordagem.

Cada vez mais, percebemos que os linguistas aplicados se interessam por aspectos sociais, políticos e históricos relacionados aos usos da linguagem, procurando abordar questões, problemas e contextos em que a linguagem é central. Essa afirmação já justifica antecipadamente o vínculo da nossa pesquisa com a área da Linguística Aplicada, na qual, já alguns anos, temos nos interessado pelas atividades de formação inicial de professores, na tentativa de propormos projetos interventivos, dada a necessidade de uma formação mais produtiva em relação ao desenvolvimento dos profissionais em formação, sobretudo no que se refere ao desenvolvimento de suas capacidades epistêmicas e praxiológicas.

Nossas pesquisas nessa área consideram, então, a função fundamental da linguagem para o desenvolvimento profissional e humano dos sujeitos. Sendo assim, temos nos interessado pela dimensão discursiva da formação inicial de professores.

Para nós, é fundamental, na análise das atividades sociais de formação inicial de professores, considerar os professores em formação como sujeitos situados histórica e socialmente, o que implica considerar, portanto, a relação entre linguagem, pensamento e ação no contexto dessas atividades. É nessa perspectiva, então, que propomos, nesta pesquisa, a necessidade de se considerar, na análise da figuração do agir, questões fundamentais como subjetividade, consciência e ideologia, para tentarmos compreender efetivamente como se

produzem e se ressignificam representações sobre o agir que emergem do e no processo de figuração do agir.

Sob essa perspectiva, o objeto de pesquisa nesta tese é a figuração do agir como processo e produto de linguagem e de subjetividade, sendo esta definida, por nós, como o fenômeno empírico que constitui a consciência, a ideologia e a identidade do sujeito. Não se trata, contudo, de uma tese sobre subjetividade nem sobre ideologia, mas sim sobre a figuração do agir como processo interpretativo cuja análise empírica implica considerar questões outras, como a da relação entre linguagem, ação, pensamento e subjetividade.

A distinção entre a figuração do agir como processo e como produto é fundamental para nós e implica importantes questões epistemológicas, teóricas, metodológicas e até mesmo questões éticas e políticas, todas elas questões bastante abrangentes e complexas. Frequentemente, temos percebido que as pesquisas sobre a figuração do agir parecem desconsiderar os sujeitos que interpretam o seu agir.

Para nós, essas pesquisas que tratam da figuração do agir como produto são, inquestionavelmente, mais do que legítimas, porém, ao que nos parece, dificultam ou limitam a compreensão dos efeitos formativos e desenvolvimentais da figuração do agir. Se quisermos considerar os efeitos desenvolvimentais da figuração do agir, teremos que considerá-la, inevitavelmente, como um processo que implica a constituição sociossubjetiva dos sujeitos, que, ao interpretarem, na e pela linguagem, o seu agir no mundo, mobilizam e ressignificam conhecimentos e representações que constituem sua ideologia como sistema gnosiológico constitutivo da sua subjetividade.

Nessa perspectiva, podemos destacar que a maioria das pesquisas sobre a figuração do agir, na área da Linguística Aplicada, se interessam pela linguagem do actante ou, mais especificamente, pelo discurso do actante sobre o seu agir, mas parecem esquecer o próprio actante como um sujeito empírico, real, sociohistoricamente constituído e situado, relegando-o a outras áreas/disciplinas científicas. Precisamos, então, nas pesquisas sobre os efeitos desenvolvimentais da figuração do agir, considerar os actantes como sujeitos que agem na e pela linguagem, a partir da qual representam o seu agir.

Nas Ciências, todo objeto do conhecimento tem uma história própria (de objetivos, de características, de métodos)21 e é nessa perspectiva que precisamos entender os objetos e os

21 A contribuição de Bulea (2010) para a análise da figuração do agir pode ser considerada a partir de, pelo menos,

duas perspectivas: a primeira refere-se às teses formuladas e às análises satisfatoriamente desenvolvidas; a segunda constitui as proposições sugeridas, anunciadas, que implicam a consideração de outras questões teóricas e de outras análises. As duas perspectivas, sem dúvida, implicam, para nós, desafios contínuos, na tentativa de

fenômenos dentro da sua totalidade concreta. Com base no materialismo dialético, assumido por Vigotski, defendemos que todos os fenômenos devem ser estudados como processos em movimento e em mudança. É por isso, então, que precisamos considerar questões como as de subjetividade, de consciência e de ideologia na análise da figuração do agir como processo interpretativo constitutivo da ontologia humana. Sendo assim, não podemos, por exemplo, isolar, dos outros aspectos constitutivos do fenômeno da figuração do agir, o aspecto da subjetividade. Isolar, para fins teóricos e analíticos, um ou alguns dos seus elementos é, para nós, refutar a própria natureza do fenômeno.

Certamente, muitos dos fenômenos empíricos de linguagem, se não todos eles, demandam uma abordagem essencialmente interdisciplinar, e a figuração do agir é, para nós, um desses fenômenos, que constitui um objeto de pesquisa multifacetado, para o qual devem convergir diferentes orientações disciplinares, pelas quais possamos considerar a subjetividade, a ideologia, a consciência e a identidade, termos que, para nós, implicam tanto processo quanto produto e que estão implicados tanto teórica, quanto empiricamente.

Assim, nesta tese, nos interessamos pelo objeto/fenômeno “figuração do agir” como processo, para cuja definição e análise recorreremos às categorias teóricas de linguagem, ação, subjetividade, consciência, ideologia (conhecimento e representação) e identidade.

Esses termos estão presentes em diversas disciplinas científicas, constituindo objetos próprios de conhecimento científico, o que, certamente, justifica a impossibilidade de uma definição consensual. O constante emprego popular e leigo desses termos certamente colabora para a sua diversidade conceitual e, portanto, para a sua imprecisão conceitual.

Essa imprecisão não é característica apenas das atividades leigas, mas é também das disciplinas científicas que se interessam por eles, como a Psicologia, a Sociologia, a Linguística, a Filosofia, a Antropologia, que ainda não estão de acordo quanto uma definição comum, dada a multiplicidade de perspectivas teóricas e de interesses metodológicos, que impõem até mesmo objetos de análise distintos. A importância atribuída a esses conceitos e o interesse científico por eles foram significativamente variáveis ao longo do percurso das ciências humanas e sociais, já que se priorizavam apenas ora questões relativas ao individual, ora questões referentes ao social.

Nesta pesquisa, para tratarmos, então, de questões relacionadas à subjetividade, à ideologia, à consciência e à identidade, assumiremos muitas das teses mais gerais e

compreendermos o complexo problema empírico da figuração do agir, mas é sobretudo pela segunda perspectiva que nos interessamos nesta tese.

paradigmáticas do ISD (BRONCKART, 2009), como a tese de que a linguagem - e mais precisamente as atividades e ações de linguagem - desempenha função central para o desenvolvimento humano, ou seja, para o desenvolvimento das capacidades epistêmicas (ordem dos saberes) e praxiológicas (ordem do agir) dos seres humanos. Baseados nessa abordagem teórico-epistemológica geral, desenvolveremos uma abordagem fundamentada, sobretudo, em duas grandes perspectivas, para nós relacionadas: a primeira consistirá nas contribuições da filosofia da linguagem e da psicologia da linguagem e a segunda, das ciências da linguagem.

Na primeira dessas perspectivas, assumiremos a abordagem sócio-histórico-cultural de Vigotski, embora muitas das questões e dos problemas que nos interessam nesta tese não tenham sido considerados nessa abordagem. Contudo, acreditamos que as teses defendidas por Vigotski quanto, sobretudo, ao pensamento consciente e o desenvolvimento humano podem nos ajudar a compreender essas questões, de acordo com os nossos interesses teóricos e metodológicos.

Sendo assim, considerando as possibilidades de diálogo e assumindo uma atitude responsiva e ativa perante muitas das teses da Psicologia Socio-histórico-cultural, nos será possível fundamentar nossa abordagem sobre a relação entre linguagem, ação, subjetividade, ideologia, consciência e identidade, considerando essa relação fundamental para a compressão do desenvolvimento profissional e humano. Nesta tese, então, não trataremos de Vigotksi, mas, na verdade, dialogaremos com ele na tentativa de analisarmos nossas próprias questões de pesquisa.

Dentro da abordagem da Psicologia Sócio-histórico-cultural, consideraremos também, algumas das teses de Leontiev22 sobre a categorias dialéticas que constituem o psiquismo humano: a atividade, a consciência e a personalidade.

Ainda na primeira das perspectivas teórico-epistemológicas que mencionamos acima, a da Psicologia e Filosofia da linguagem, assumiremos a proposta sócio-ideológica de Bakhtin [Volochínov], à qual, resguardadas algumas diferenças epistemológicas gerais23, queremos

22 Muitos estudiosos preferem distinguir as abordagens de Vigotski e de Leontiev, referindo-se à obra de primeiro

como histórico-cultural e à do segundo como sócio-histórica. Bronckart, diferentemente, inclui os dois autores numa abordagem epistemológica geral a que denomina de Interacionismo Social. Nesta tese, quando quisermos nos referir especificamente às abordagens de Vigotski e/ou de Leontiev, adotaremos o termo “perspectiva/abordagem sócio-histórico e cultural”.

23 Para nós, Bakhtin [Volochínov] (2009) e Vigotski são compatíveis, pelo menos parcialmente, pois ambos

assumem uma perspectiva marxista, a partir da qual poderemos considerar o homem em todas as suas particularidades como um sujeito ativo que age no mundo.

relacionar a proposta histórico-cultural de Vigotski. Bakhtin [Volochínov] nos será importante para tratarmos do dialogismo, da polifonia e da ideologia.

Na segunda das perspectivas epistemológicas que assumiremos nesta tese, a das Ciências da Linguagem, admitiremos a proposta de Saussure quanto aos signos linguísticos, a de Benveniste quanto à subjetividade na linguagem e à enunciação e a de Bronckart quanto às ações de linguagem e aos textos.

Nossa adesão à psicologia da linguagem desenvolvida sob as orientações interacionista social e interacionista sociodiscursiva justifica nosso interesse em abordar as representações em sua relação com a linguagem, ou seja, em sua dimensão linguística, enunciativa e discursiva. Em nossa abordagem, não podemos prescindir, então, dos textos nem dos discursos, pois é no nível dessas unidades que se manifestam, se produzem e circulam representações. Assumimos, então, a concepção do ISD segundo a qual os textos e os discursos são as únicas manifestações empiricamente observáveis das ações de linguagem. Sendo assim, se quisermos relacionar, analiticamente, ações e representações, teremos que partir – inevitavelmente - da análise de textos e de discursos e das relações entre as ações de linguagem e o contexto social em que se desenvolvem.

Para nós, os mecanismos implicados na produção, na circulação e na negociação de representações estão relacionados inevitavelmente às operações de linguagem, responsáveis pela produção dos textos e dos discursos, o que certamente não significa que as condições de produção dos textos sejam as mesmas da produção das representações.

Quanto aos textos, podemos considerar que, quando interagimos e, portanto, agimos socialmente na e pela linguagem, produzimos, inevitavelmente, textos (sempre pertencentes a gêneros) e discursos. Aliás, são a partir deles que conseguimos interagir. Os textos e os discursos são, portanto, produtos e processos sociais.

A partir dessas abordagens, a da Psicologia da Linguagem (VIGOTSKI, 2008; LEONTIEV, 1983), a da Filosofia da Linguagem (BAKHTIN [VOLOCHÍNOV], 2009) e a das Ciências da Linguagem (SAUSSURE, 1916; BENVENISTE, 2005; BRONCKART, 2009), poderemos assumir nosso objeto de estudo como um processo e, assim, poderemos propor a figuração do agir como um processo interpretativo que implica linguagem, subjetividade, ideologia, consciência e identidade, proposta que, conforme tentaremos demonstrar, apresenta coerência epistemológica, teórica e metodológica.

Sem a pretensão de propormos uma discussão exaustiva sobre esses conceitos, o que, certamente, não seria possível, dados os nossos interesses de pesquisa e os nossos limites

teórico-epistemológicos, precisamos identificar, entre as perspectivas teóricas que assumimos, um denominador comum, do qual possamos partir na proposição de uma abordagem da figuração do agir como processo. Para nós, esse denominar pode ser assim enunciado: a constituição sócio-histórica da ontogênese humana, ou seja, a constituição histórico-social do homem e a linguagem como processo de (inter)ação.

Embora de orientações epistemológicas distintas, todos os autores que mencionamos anteriormente defendem a função social da linguagem, como sistema constitutivo da ontologia humana. Sendo assim, assumiremos, para a nossa proposta, essa tese, que parece haver de comum na obra dos autores. Ademais, defendemos a pluralidade teórica, que tanto tem a contribuir para o progresso da Ciência, sobretudo no que se refere ao relativismo científico, a partir do qual estamos constantemente questionando e problematizando - positivamente - pressupostos teóricos e procedimentos metodológico.

Seja para as ciências da linguagem, seja para as disciplinas psicológicas, a aproximação desses autores pode ser bastante produtiva, ao permitir perspectivas teóricas e possibilidades analíticas que um e outro autor não contempla, dados os seus objetivos. Para nós, todos esses autores consideram o sujeito e a sociedade como indissociáveis e defendem que é na interação social que se pode elaborar e produzir formas de conhecimentos que estão diretamente relacionadas ao cotidiano e que escapam ao registro formal das ciências. São a esses conhecimentos que classificaremos, mais adiante, em nossa proposta, como representações discursivas sociossubjetivas ou, simplesmente, representações discursivas.

Esses autores, que assumimos como fundamentos para a nossa abordagem teórica, foram, à época, originais em suas propostas. Como pesquisadores, podemos continuar a desenvolvê-las, seja aprofundando-as, seja ressignificando-as, no que for necessário. Dada a densidade das obras de todos esses autores, há algumas possibilidades interpretativas e, nesta tese, ofereceremos a nossa compreensão das abordagens desenvolvidas por eles. Trata-se, na verdade, de pensarmos a partir deles, considerando as diferentes possibilidades de compreensão de suas obras.

Gostaríamos de destacar que a nossa proposta não é o efeito teórico da soma das perspectivas epistemológicas apresentadas. É, ou pelo menos pretende ser, uma produção teórica desenvolvida a partir da ressignificação de algumas das teses dos autores destacados, sobre as quais desenvolveremos, como pesquisadores, nossa ação propositiva, na tentativa de apresentarmos uma alternativa para a abordagem de questões como linguagem, ação e desenvolvimento profissional.

Muitas das questões que assumimos nesta tese são abordadas principalmente na Psicologia. Estamos cientes, então, de que estamos pisando num terreno consideravelmente desconhecido para nós, o que certamente nos causa – mais ainda – calafrios, porém acreditamos que não nos será possível propor uma abordagem logocêntrica de representações sem nos esforçarmos a propor, antes, uma abordagem logocêntrica da subjetividade, que, para nós, é o que torna humano o homem.

Durante o doutorado, nos esforçamos em aprofundar o estudo das questões relacionadas ao psiquismo humano, sobretudo na perspectiva da Psicologia Sócio-histórica. Foi a partir desse estudo que conseguimos sistematizar a abordagem que apresentaremos nesta tese. Certamente, trata-se de uma proposta que confronta algumas das principais teses da cultura disciplinar da Psicologia.

Uma dessas teses, que foi assumida por Vigotski e por muitos de seus sucessores e que aqui refutamos, é a de que a consciência é o objeto válido de análise da Psicologia. Para nós, é a subjetividade que deve ser o objeto analítico legítimo de qualquer psicologia que se denomine social. Não é, para nós, a consciência que implica os modos de pensar e agir do homem, mas sim a ideologia, como um produto da subjetividade, que implica as formas de significação pelas quais os homens pensam e agem na e pela linguagem.

Certamente, trata-se de conceitos transversais, o que implica, para a análise, questões de diferentes ordens, sob orientações epistemológicas distintas, de disciplinas e áreas de pesquisa próximas, e o que, certamente, é do interesse das diferentes Ciências Humanas e Sociais. É a partir dessa perspectiva interdisciplinar que tentaremos, nesta tese, apresentar e propor uma abordagem logocêntrica de análise das representações, que, a partir de agora, mesmo sem uma discussão inicial, passaremos a denominar de representações discursivas sociossubjetivas. Sendo assim, adiantamos que o nosso objetivo neste trabalho é propor uma abordagem24 de análise linguística, enunciativa e discursiva de representações, que constitui o objeto de estudo que tanto nos interessa há algum tempo (GURGEL, 2013).

Para tratarmos cientificamente desse objeto, devemos, antes, apresentar nossa proposta da figuração do agir como processo, tomando alguns cuidados conceituais, para que os conceitos apresentados não sejam aparentemente superpostos, como os de homem, indivíduo, sujeito, pois eles precisam ser distintos. Sendo assim, devemos definir com mais precisão os

24 Evidentemente, não é nosso interesse - nem nos atreveríamos a tanto - apresentar uma teoria particular das

representações, que, para nós, são sociossubjetivas discursivas. Pretendemos apenas propor, com base parcialmente em Gurgel (2013), uma abordagem de análise que considere os aspectos linguísticos, enunciativos e discursivos da constituição e da manifestação de representações em textos.

conceitos e as categorias teóricas que julgamos necessários para a abordagem da figuração do agir como processo e para a abordagem logocêntrica de representações sociodiscursivas. Sendo assim, apresentaremos, mais adiante, uma seção específica na qual nos dedicaremos a tratar de cada um desses conceitos, na tentativa de esboçarmos uma proposta logocêntrica das representações, que, nesta tese, consideramos como representações sociossubjetivas discursivas ou apenas representações sociodiscursivas.

Para a proposição dessa abordagem, não poderemos esquecer a nossa formação acadêmica nem a filiação desta tese à grande área da Linguística Aplicada, o que impõe que nosso interesse de análise seja, sobretudo, a linguagem sobre o agir, em uma perspectiva discursiva. Contudo, julgando legítima e necessária uma abordagem transdisciplinar que considere a figuração do agir como objeto de pesquisa, nos interessamos pelas dimensões subjetivas, ideológicas e identitárias do processo de figuração do agir.

Acreditamos que esta nossa abordagem, desenvolvida a partir da confluência ora harmônica, ora conflituosa de diferentes orientações teórico-epistemológicas, que já antecipamos, é bastante pertinente para a constituição de uma área de estudo e pesquisa que considere a relação entre linguagem, ideologia, consciência e ação. Essa área de pesquisa deve abranger as pesquisas que pretendem intervir nas atividades formativas a partir das possibilidades de organização dessas atividades, com base, sobretudo, nos textos interpretativos e avaliativos produzidos pelos sujeitos que participam desses contextos. Essas pesquisas não devem assumir o objetivo de prescrever modelos de agir; mas sim o objetivo de compreender, para intervir, o agir dos sujeitos a partir das representações e dos conhecimentos que eles produzem e mobilizam quando interpretam e avaliam suas ações em contexto de formação profissional.

Para nós, os sujeitos, ao refletirem sobre as suas ações, podem desenvolver novas capacidades de ação, que podem contribuir para o seu desenvolvimento profissional e humano. Essa é uma concepção emancipatória, e não regulatória, das capacidades de ação. Emancipatória, porque amplia as possibilidades de ação, garantindo o pleno desenvolvimento profissional.

Certamente, as categorias teóricas e os conceitos que mobilizamos na proposição de nova abordagem logocêntrica das representações estão relacionados ao posicionamento teórico- epistemológico a partir do qual tentamos compreender o fenômeno, pelo menos de acordo com nosso recorte de pesquisa e com nossas opções teóricas e metodológicas. Sendo assim, desenvolveremos, nesta tese, apenas uma estratégia de sistematização, na tentativa de

compreender o complexo objeto de estudo pelo qual nos interessamos: a figuração do agir como processo.

Sob essa perspectiva, devemos reconhecer que a descrição exaustiva dos processos de constituição da subjetividade e da identidade excede a finalidade desta pesquisa e, por isso, apresentaremos esses conceitos apenas sumariamente, para fundamentar teoricamente a abordagem da figuração do agir que aqui propomos. Reconhecemos que toda e qualquer tentativa de esgotar esse tema seria demasiadamente pretensiosa e frágil. Contudo, pretendemos, nesta tese, demonstrar, mesmo que minimamente, uma alternativa teórico- analítica de como tratar a dimensão da subjetividade no debate científico e social sobre o agir e o trabalho do professor. Minimamente, porque atender satisfatoriamente a esse objetivo demanda esforço teórico e analítico não compatível com o objetivo de propor inicialmente os