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3 A CIDADE DO RECIFE

FIGURA 26– 3 º PAVIMENTO FIGURA 27 – CORTE ESQUEMÁTICO

Fonte: AASB- Freguesia de Afogados

Fonte: AASB- Freguesia de Afogados

A partir dos anos 70 do século XX, quando se deu o boom imobiliário na Zona Sul da cidade, com destaque para Boa Viagem, estas residências Art Déco, que eram inicialmente para veraneio, foram sendo demolidas, processo que continua ainda hoje, restando poucos edifícios, a maioria deles no bairro do Pina.

Ainda nos anos 20 foram feitos aterros nos bairros do Espinheiro e Campo Grande e surgiu o bairro do Derby, o que possibilitou a expansão urbana (SILVA & BITOUN,

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2007). Foram feitos jardins e praças públicas e a arborização de parte da cidade, além dos planos de saneamento básico e abertura de vias que levavam ao interior do estado. O Engenheiro Domingos Ferreira havia proposto um plano para remodelar a cidade, principalmente o centro e o bairro de Santo Antônio, em 1926. Sua ideia inicial previa a abertura e alargamento de vias e foi conjugada a um plano de esgotamento sanitário feito depois, no ano seguinte. Previa-se também o “embelezamento” do bairro (PONTUAL, 1999). Um fator importante neste processo foi a vinda de vários arquitetos de outros lugares do país e do mundo, para trabalharem e lecionarem no Recife, assim

como a criação de um curso superior de Arquitetura35.

Já existiam obras Art Déco no Recife quando o Modernismo aqui foi implantado, pelo arquiteto mineiro Luiz Nunes, que dirigiu a Diretoria de Arquitetura e Urbanismo (DAU) entre 1934 e 1937, autor do edifício que hoje é ocupado pelo IAB-PE, citado anteriormente. Com ele trabalharam Roberto Burle Marx, como diretor dos Parques e Jardins e Joaquim Cardozo, que anos depois faria parte da equipe de Oscar Niemeyer, como engenheiro calculista. Várias destas obras que já existiam foram feitas pelo arquiteto Abelardo de Albuquerque Gama, fundador da Escola de Belas Artes do Recife, em 1932, junto com o arquiteto francês Georges Munier, autor das chamadas “casas Puristas”, no bairro de Santo Amaro e do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, no bairro da Soledade. Estes dois arquitetos participaram também da remodelação de Campina Grande, feita na década de 30. Outros arquitetos que fizeram obras Art Déco foram Jorge Martins, autor de várias salas de cinema (Cine Boa Vista, hoje descaracterizado, atual Atacadão de Papelaria) e também Heitor Maia, Heitor Maia Filho e Fernando da Silva Almeida, todos considerados precursores do Modernismo. E ainda o carioca Hugo de Azevêdo Marques (FREITAS & SMITH, 2008).

Segundo Melo (2001) estes arquitetos buscaram o moderno na composição plástica e nas formas dos edifícios, mas não na essência, na planta baixa, nos partidos. É uma afirmação que pode ser contestada, verificando-se as plantas baixas do Edifício Almare, por exemplo, citado adiante, obra de Hugo de Azevêdo Marques. Ou ainda do Clube Náutico Capibaribe, obra de Heitor Maia Filho ou mesmo do Edifício dos Correios e Telégrafos, na Avenida Guararapes.

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Foi criado na Escola de Belas Artes de Pernambuco (EBAP), em 1939. O da Universidade Federal de Pernambuco foi criado em 1958.

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Em relação à profusão das salas de cinema que se multiplicavam pelos bairros da cidade, esta foi palco de uma produção cinematográfica bastante intensa. Havia uma efervescência intelectual, com o lançamento de revistas literárias e circulação de revistas específicas sobre cinema, além de filmes que aqui eram feitos, como os do

chamado “ciclo do Recife” (BARROS, 1985)36

. Para Conde e Almada (in CZAJKOWSKI, 2000), os “três pilares da modernidade”, em cujo bojo se inclui o Art

Déco, são justamente o disco37, o rádio e o cinema falado. A maioria destas salas de

cinema hoje está descaracterizada, servindo como igrejas, supermercados ou lojas. Outras já foram demolidas, como o antigo Cine Torre, no bairro do mesmo nome, para dar lugar a um edifício de apartamentos.

Neste momento, a modernidade no Recife, segundo Menezes (2006), eram as modificações introduzidas com a nova técnica do concreto armado, embora para alguns autores, as transformações que estavam acontecendo não causaram grande impacto na época, durante o governo de Carlos de Lima Cavalcanti (1930-1937). Segundo Melo (2001), havia um modelo a ser implantado, baseado no movimento Racionalista e foi o próprio governador Carlos de Lima Cavalcanti quem interferiu para que isto acontecesse, por causa das suas ideias progressistas.

O novo Código de Obras de 1936 previa um mínimo de 12,00 m de altura para edifícios que viriam a ser construídos nos bairros de Santo Antônio e de São José. Dois anos mais tarde, em 1938, aprovou-se por um decreto (75/1938) o novo gabarito mínimo para estas áreas centrais de oito pavimentos (PONTUAL, 2011).

Nos anos 30, ocorreram modificações significativas nas habitações da classe média no Brasil, com o advento dos edifícios de apartamentos (VERÍSSIMO & BITTAR, 1999). Surgiram também edifícios com usos mistos, apartamentos construídos sobre pontos comerciais e de serviços, o que parecia ser uma novidade em termos de moradia. Os chamados “arranha-céus” causaram a transformação radical da paisagem, notadamente nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Uma novidade relativa, porque desde o período Colonial, os chamados “sobrados” funcionavam com o seguinte arranjo: o pavimento térreo era a oficina, loja ou depósito

36 Foram feitos treze filmes de ficção e também documentários. Em 1923, foi fundada a Aurora Filmes, por Edson Chagas e Gentil Roiz.

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ou ainda abrigo para escravos e o que “sobrava” (o sobrado), o pavimento superior, era habitado pela família (REIS FILHO, 1976). Na época do Art Déco, estes apartamentos eram ocupados por pessoas que não necessariamente tinham ligação com o comércio localizado embaixo e muitas vezes eram para aluguel. Eles se encontram principalmente nos bairros de Santo Antônio, Bairro do Recife e na Boa Vista. O bairro do Recife, na primeira metade do século XX, era um local de moradia nobre. Só depois entrou em decadência.

Segundo Raul Córdula, em entrevista para a Revista Continente (a. 11, n. 125, Maio de 2011), a Revolução de 1930 foi de fundamental importância para a modernização dos edifícios, a começar pelas platibandas, cuja influência foi depois levada das capitais para as cidades do interior pelos mestres de obra e pedreiros. Não faziam isto através de estudos e sim de forma intuitiva, copiando o que viam nas grandes cidades.

O estilo Art Déco foi utilizado em diferentes tipos de edifícios, mas principalmente nas residências unifamiliares e edifícios mistos, estes com uma maior diversidade dentro dos programas de necessidades, na parte funcional. Os edifícios mistos conjugavam comércio, serviços e moradias. De todos os vinte e três tipos de edifícios encontrados nesta pesquisa, só estes dois se encontram presentes em todas as áreas do Recife, embora as residências unifamiliares sejam em maior número.

Vários planos urbanísticos foram feitos desde então38, como o de Nestor Figueiredo

para remodelação do Recife, em 1930, 1932 e 1934 e a sugestão do arquiteto Fernando Almeida à Comissão do Plano da Cidade, em 1938 (BALTAR, 2000).

Segundo Guerra (2001), apesar da longa vigência do Código de Obras de 1919, dezessete anos, findo este período, encontrava-se já obsoleto por conta destas grandes mudanças ocorridas na cidade durante as décadas de 20 e 30. Quando foi substituído pelo novo Código de Obras, a divisão em quatro zonas se manteve: a Principal, a Urbana, a Suburbana e a Rural. O prefeito era então João Pereira Barros. A novidade introduzida neste documento era a necessidade de parcelamento e ordenamento do solo, por causa do aumento da população e do crescimento da cidade.

Este Código de Obras foi implantado durante o auge do estilo Art Déco no país. O Clube de Engenharia foi o encarregado da elaboração do documento, que trazia uma

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nova lei para construções e reconstruções. Foram tomadas medidas importantes em relação às moradias. O gabarito dos edifícios diminuiu, por se entender que para garantir a salubridade era apenas necessário providenciar ventilação e iluminação e não aumentar o volume. Surgiu uma nova tipologia: a casa ficava solta no lote e isto propiciava uma preocupação com as fachadas laterais e nos edifícios, o escalonamento dos andares mais altos. Guerra (2001) enfatiza que neste momento a população queria a modernidade, com a adoção de uma nova técnica construtiva, o concreto armado. O mapa a seguir mostra a cidade em 1933 (Mapa 2).